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CAPÍTULO 2: Fundamentação teórica

2.4. A teoria funcionalista em conjunto com a teoria variacionista (variação e

No campo dos estudos lingüísticos, vem-se postulando a relevância da função social da linguagem, já que o homem utiliza a língua em convívio social,

pois sente a necessidade de interagir com os seus semelhantes, por meio do ato comunicativo, passando, assim, a linguagem a ser vista como uma forma de ação.

A utilização da língua em diversas situações comunicativas gera as alterações sofridas pelos elementos lingüísticos à medida que o tempo transcorre, avivando a presunção de que existem fatores de ordem cognitiva, social, cultural e comunicativa que direcionam possíveis mudanças e variações.

A mudança lingüística deve ser entendida com um fenômeno tridimensional, ou seja, a trajetória de mudança de um elemento lingüístico é um reflexo de, pelo menos, três aspectos diferentes: tempo e, sobretudo, cognição e uso. [...] Nesse sentido, a mudança ocorre pela necessidade diferenciada da atuação desses fatores cognitivos, que é ditada no contexto de cada distinta situação de comunicação. (MARTELOTTA, 1994, p.69)

A linguagem, como meio de interação social, apresenta um dinamismo comunicativo, conhecimento compartilhado com outros falantes e nível de organização dos constituintes lingüísticos. Na escolha das formas lingüísticas, de acordo com Labov (1994), a alternância entre formas lingüísticas está intimamente ligada às motivações funcionais, o que ratifica a manutenção do sentido daquilo que o falante quer dizer, embora saibamos que, na fala, o falante seleciona aquilo que se torna mais fácil dizer e de se fazer compreender.

A Teoria da Variação e Mudança e o Funcionalismo possuem implicaturas teóricas e metodológicas que se fundem em um campo visionário

mais amplo no que se refere a pesquisas de cunho lingüístico; haja vista que a primeira teoria pega para si o estudo da estrutura da língua e das variáveis que condicionam o comportamento social e lingüístico que intervém na escolha de uma forma ou outra no discurso, enquanto que a segunda teoria associa a estrutura lingüística à sua funcionalidade. A título de ilustração do que acabamos de dizer, citamos os pressupostos teóricos de uma abordagem sociofuncionalista propostos por Tavares (2003, p. 137):

1. A função a que serve a gramática é prioritária e determinante de seu uso pelos falantes. A gramática é um processo em andamento, sempre emergindo rumo a sua constituição, mas nunca chegando a constituir-se de fato, pois sofre constantes alterações por conta das características do manancial de onde deriva e onde existe: seu uso por falantes. 2. Focaliza relações de diferentes graus entre funções e formas. Cabe ao estudioso buscar estratégias recorrentes de organização do discurso, mapeando, dessa forma, as regularidades. São feitas análises das inter-relações entre os condicionamentos internos e externos à língua, considerando- se uma gama de motivações que age a cada situação comunicativa, contribuindo com as constantes emergências e enraizações sofridas pela gramática.

3. As estruturas tendem a refletir e a serem alteradas por causa da pressão exercida por motivações funcionais.

4. Recebem destaque a história e a coexistência de diferentes

formas, investigadas como camadas/variantes que convivem

em um mesmo domínio funcional, gerando o que pode ser definido como uma situação de estratificação/variação. Também são investigados estágios de gramaticalização, com a hipótese de que a situação de estratificação/variação é influenciada pelo que aconteceu no percurso de gramaticalização de cada item até a chegada ao domínio em questão.

Ao enfocarmos o processo comunicativo como um fenômeno social da interação verbal, e que língua e sociedade caminham juntas, estamos assegurando que os aspectos funcionais da linguagem norteiam as diversas formas existentes nas construções lingüísticas, para desencadear um discurso intencional por parte do emissor. É com base nestes pressupostos que acreditamos que a Teoria Funcionalista e a Teoria Variacionista compõem um conjunto de máximas para a explicação dos mais diversificados fatos na língua.

2.5. Considerações finais do capítulo

Nesta parte, enfatizamos as correntes teóricas que embasam o estudo do fenômeno em questão, quer dizer, o fenômeno da alternância das formas verbais imperfeito do indicativo e futuro do pretérito nas orações nucleares das hipotaxes adverbiais condicionais. A Sociolingüística Variacionista de Willian Labov e o Funcionalismo Givoniano se complementam, pois a teoria da variação e mudança coloca língua e sociedade como inter-relacionadas quando se observa o real uso dos elementos lingüísticos na fala, ao passo que o funcionalismo de Givón assinala a concepção de língua como uma atividade sociocultural, servindo para funções cognitivas e comunicativas, em que variação e mudança caminham juntas. Na concepção de Labov (1972) de língua como estrutura, a idéia de contexto social exerce influência na sua função comunicativa.

Paralelamente, no funcionalismo, toda explicação lingüística deve ser apanhada na relação entre linguagem e uso. Givón (1995) estabelece uma correspondência entre gramática e comunicação, em que o uso da língua concorda com os padrões comunicativos da gramática. Esta, por sua vez, se altera conforme os parâmetros cognitivos, comunicativos e discursivos do uso. Os falantes, pressionados pelo próprio ato comunicativo de um sistema lingüístico, elegem certas formas, o que equivale afirmar que a gramática não é um conjunto de regras fixas no tempo e no espaço. Os postulados teóricos como regra variável, iconicidade e marcação são de suma importância, tendo em vista que serão testados em nossa análise da escolha das formas verbais do imperfeito do indicativo e do futuro do pretérito.