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A teoria marxista clássica sobre o imperialismo 

No documento P ROGRAMA DEP ÓS -G (páginas 66-115)

Para compreender uma determinada realidade é necessário que se possa refletir a seu respeito e assim apreender teoricamente seus determinantes. É justamente no momento atual em que predominam, seja no cenário nacional ou internacional, as interpretações e teorias que dizem que estamos caminhando para o auge da evolução capitalista, para a integração dos povos através da globalização, que o resgate das teorias críticas que possam desmascarar o discurso ideológico se faz ainda mais necessário.

É nessa perspectiva que a teoria marxista pode desempenhar um papel fundamental. A clarificação dos conceitos e a contribuição para o desenvolvimento de aportes teóricos a esta teoria, como são as “teorias” do imperialismo e da dependência, também é uma tarefa que reserva particular importância. O entendimento da configuração da economia capitalista mundial, de suas características e de suas determinações e da relação necessária entre os países centrais e periféricos é fundamental para que seja possível a ação transformadora dessa realidade.

Este capítulo tem por objetivo resgatar a teoria marxista, mais especificamente os seus desenvolvimentos com relação à teoria do imperialismo, na medida em que considera-se esta teoria como um valioso manancial para o entendimento da realidade. Para isto, serão retomados principalmente os clássicos do marxismo que abordam este tema: Lênin, Rosa Luxembug e Bukharin.

   

2.1 – Os clássicos do imperialismo 

É com vistas a tentar definir um conceito sobre o que seria imperialismo que se retoma a teorização marxista clássica sobre este tema. Para que, a partir daí, seja possível analisar a eventual atualidade de tal formulação teórica, suas falhas e acertos para a aplicação no século XXI. Desse modo, pode se tornar possível inclusive a análise de eventuais alterações e precisões que precisem ser feitas em tal formulação.

Segundo Del Roio (2005), caracterizaram-se como duas as principais vertentes de interpretação crítica do imperialismo do início do século passado até a metade da I Guerra

Mundial, uma reformista e outra revolucionária. A formulação crítica reformista tende a observar a política imperialista como um desvio ou uma deformação temporária do processo civilizatório capitalista, que deveria ser corrigido, até para que se preservasse o potencial democrático, supostamente contido na ordem burguesa. A leitura reformista do imperialismo está vinculada ao debate iniciado na Alemanha, no seio do movimento socialista, em torno das idéias de Bernstein sobre a necessidade de revisão da teoria socialista marxiana por conta das importantes novidades trazidas pelo desenvolvimento capitalista recente15.

A primeira obra marcante sobre a questão do imperialismo foi o famoso livro Imperialismo, de John Hobson, escrito em 1902. O livro critica as guerras imperialistas e entende o imperialismo como um desvio que surge das condições de luta por territórios e mercados. Em 1910, Rudolf Hilferding lança o seu livro O capital financeiro, no qual o autor percebia na formação e afirmação dos cartéis e dos trustes a particularidade do capitalismo do início do século XX, que tendia a monopolizar o mercado. Destaca importância para os bancos e sua fusão com o capital industrial e para a capacidade organizativa que adquire o Estado, na medida em que a concorrência no mercado mundial demanda o apoio e a presença constante do Estado junto ao capital, de modo que se estreitam as relações entre Estado e burguesia. Outro autor importante que tratou da questão do imperialismo foi Karl Kautisky16, com diversos artigos escritos na metade dos anos 1910. A posição de Kautisky, que vai ser alvo de contraposição por parte principalmente de Rosa Luxemburg, Lênin e Bukharin, era a de que a guerra e o imperialismo representavam um desvio no processo civilizatório conduzido pelo capitalismo (e pela burguesia) e que poderia ser contornado dentro da ordem burguesa17.

      

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Bernstein fora bastante influenciado pelo social-reformismo fabiano da Inglaterra (vertente urdida no seio do protestantismo).

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Pertencia à mesma corrente centrista que Hilferding no seio do movimento socialista do início do século XX.

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Para abordar o tema Imperialismo é importante destacar que este termo não é de origem marxista e, mesmo sendo por vezes utilizado para se referir a períodos mais antigos, segundo Pistone (1983:611), sua origem data da Inglaterra vitoriana em 1870. Pistone (1983:611-621) destaca que existem diversas correntes teóricas que se apropriaram deste termo, o utilizado das mais diversas formas. Esse autor, agrupa estas teorias em quatro correntes fundamentais: as teorias de inspiração marxista, a orientação social-democrata, a interpretação liberal e, a interpretação baseada na teoria da razão do Estado. A primeira destas teorias é o objeto deste capítulo. Pistone (1983:615) diz que a interpretação social-democrata do Imperialismo tem como elementos característicos: “a) rejeição (comum, aliás, a todas as teorias não marxistas sobre o Imperialismo) da tese

relativa ao nexo orgânico entre Imperialismo e capitalismo, de onde se deduz que só com a abolição deste sistema sócio-econômico será possível eliminar o Imperialismo e as guerras; b) convicção de que as tendências imperialistas existentes no capitalismo (aliáveis às tendências imperialistas provenientes de grupos sociais pré- capitalistas, como as castas militares, por exemplo) podem ser eliminadas, com reformas democráticas e reformas econômico-sociais”. Incluídos nesta vertente estão autores como Hobson, Hilferding e Kautsky. Deve-

se destacar como um dos elementos centrais dessa teoria o fato de que “o Imperialismo agressivo constituí, não

uma fase necessária do capitalismo, mas uma de suas políticas, que pode ser substituída por outra [...] A classe operária há de ter, por conseqüência, interesse em favorecer a evolução nesse sentido, com uma política que favoreça as tendências mais pacíficas do capitalismo, que debilite o militarismo (fortalecedor das tendências imperialistas do capitalismo) e abra perspectivas a progressiva criação de vínculos federativos entre os Estados” (PISTONE, 1983: 615). Relativamente à teoria liberal, Pistone (1983:616) afirma que “se as doutrinas

Quando a vertente centrista “ortodoxa” do SPD compôs uma nova maioria com as tendências mais à direita (e que nada tinham em comum com a cultura marxista), uma nova esquerda teve origem no movimento socialista alemão. Logo em seguida, na Rússia, a vertente bolchevique tomou a decisão de promover a cisão teórica e orgânica com o reformismo menchevique. Ainda que minoritária, as esquerdas conseguiram fazer passar uma declaração do movimento socialista internacional contra a guerra que se aproximava, ameaçando a burguesia com a revolução. O problema do imperialismo ganhava uma forte premência nesse contexto, ainda mais acentuado com o espocar da guerra (DEL ROIO, 2005).

A teoria revolucionária surge então neste contexto, e é sobre ela que se dará a análise deste trabalho, centrada nas contribuições entendidas como as mais relevantes para a discussão da teoria marxista clássica do imperialismo (do início do século XX), a qual Del Roio chama de teoria revolucionária do imperialismo.

El estudio del imperialismo en los clásicos del marxismo constituye una tarea imprescindible, en cuanto permite la obtención de un conjunto de categorías conceptuales y elementos teóricos necesarios en la estructuración de un nuevo marco teórico de compresión de las relaciones económicas internacionales (CAPUTO & PIZARRO, 1970:147).

Tendo como base estas considerações, serão retomadas as contribuições de Rosa Luxemburg, Bukharin e Lênin e, em seguida, será feita uma tentativa de compreensão mais geral da teoria do imperialismo, embasada nesses autores.

      

social-democratas se afastam claramente de alguns princípios basilares do marxismo ortodoxo ou revolucionário, porquanto tendem a considerar possível a correção de aspectos imperialistas do capitalismo, a teoria elaborada por Schumpeter num ensaio de 1919, representa completamente o oposto da posição marxista. [...] o Imperialismo moderno, longe de ser um produto do modo capitalista de produção, é, ao contrário, o resultado de condições políticas, culturais, psicológicas, sociais e econômicas pré-capitalistas, que o desenvolvimento capitalista não conseguiu ainda eliminar. Em resumo, o capitalismo (que, para Schumpeter, na época em que escrevia o seu ensaio, não existindo interferências políticas contrárias, devia tender naturalmente a um equilíbrio fundado na livre concorrência e no livre mercado, e não, ao invés, no monopólio e no protecionismo) é, por sua natureza, essencialmente pacífico, na medida em que lhe é intrínseca uma forte tendência à racionalização – no sentido racional dos custos e dos lucros –, que estende progressivamente a sua influência a todos os aspectos da vida social”. A outra interpretação do Imperialismo seria aquela baseada na

teoria da razão de Estado. Segundo Pistone (1983:617), inserem-se nesta linha a doutrina alemã do Estado- potência (com autores como Paul Rohrbach, Max Weber, Otto Hintze e Hermann Schumacher) e a corrente federalista (principalmente Lionel Robins, Lord Lothian, Luigi Einaudii, Ernesto Rossi, Altiero Spinelli, Ludwig Dehio e Marcio Albertini). “O elemento distintivo desta orientação assenta na tese da autonomia da política

externa em relação às estruturas internas dos Estados, tese que se contrapõe à do primado da política interna sobre a externa, que constituía, ao contrário, o fundamento teórico das tendências interpretativas anteriores e é elemento característico do internacionalismo. Em resumo, enquanto para estas tendências o Imperialismo deriva fundamentalmente das estruturas políticas internas e/ou econômico-sociais dos Estados, podendo, por isso, só ser superado com a transformação de tais estruturas (obviamente em diferentes direções, segundo os diversos pontos de vista), a orientação que analisamos vê no Imperialismo, em última análise, uma conseqüência da estrutura anárquica, porquanto fundada na soberania estatal absoluta, das relações internacionais. [...] A anarquia internacional estabelece entre os Estados, qualquer que seja o seu sistema econômico-social e o seu regime político, a lei da força, transformando, por isso, inexoravelmente, a diversa distribuição do poder entre os Estados em domínio dos mais fortes sobre os mais fracos e, conseqüentemente, em possibilidade de exploração econômica destes por aqueles. [...] Em tal situação o único modo de eliminar pela raiz o Imperialismo, assim como em geral as guerras, está na superação da anarquia internacional por meio de uma Constituição federal mundial, que substitua a política de potência pela defesa jurídica da independência das nações” (PISTONE, 1983: 617).

2.1.1 – A contribuição de Rosa Luxemburg – 1913 

A produção capitalista é, segundo Rosa Luxemburg (1984a:24-25), considerada no mundo inteiro e desde o início, o próprio depósito dos tesouros das forças produtivas. De modo que em sua ânsia de apropriação das forças produtivas com vistas à exploração, o capital esquadrinha o mundo inteiro, procura obter meios de produção em qualquer lugar e os tira ou os adquire de todas as culturas dos mais diversos níveis, bem como de qualquer forma social. Para Luxemburg, a questão dos elementos materiais da acumulação do capital estaria longe de encontrar-se resolvida pela forma material da mais-valia realizada, pois seria necessário que o capital dispusesse cada vez mais do globo terrestre todo a fim de que tivesse uma oferta qualitativa e quantitativa ilimitada no condizente aos respectivos meios de produção.

Luxemburg dá destaque à existência de países e setores não capitalistas como importantes para a existência do próprio capitalismo18:

[...] O aspecto decisivo é que a mais-valia não pode ser realizada nem por operários, nem por capitalistas, mas por camadas sociais ou sociedades que por si não produzam pelo modo capitalista. [...] A produção capitalista fornece meios de consumo acima das próprias necessidades (ou seja, as dos operários e as dos capitalistas), cujos compradores pertencem às camadas ou países não-capitalistas (LUXEMBURG, 1984a:19-20).

Segundo a autora, seja sob o ponto de vista da realização da mais-valia, seja sob o ponto de vista da obtenção dos elementos do capital constante, o capital comercial seria, por princípio, uma condição histórica da existência do capitalismo, comércio este que, nas condições concretas existentes, seria, por natureza, uma troca que se verificaria entre as formas de produção capitalistas e as não-capitalistas.

Para Luxemburg, o capital, mesmo em sua plena maturidade, não pode prescindir da existência concomitante de camadas e sociedades não-capitalistas. Essa relação não esgota com a mera questão do mercado não excedente existente para o “produto excedente”. Também é imprescindível ao capital a presença dos meios de produção e da força de trabalho por toda a parte; para o desenvolvimento pleno de seu movimento de acumulação, ele necessitaria de todas as riquezas naturais e da força de trabalho de todas as regiões do globo. Segundo Luxemburg e em sua maioria estas riquezas se encontrariam ligadas às formas de

      

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“[...] o capital, mesmo em sua plena maturidade, não pode prescindir da existência concomitante de camadas

e sociedades não-capitalistas. Essa relação não esgota com a mera questão do mercado não excedente existente para o ‘produto excedente’, como formulavam Sismondi e posteriormente os críticos da acumulação capitalista e os céticos que dela duvidavam” (LUXEMBURG, 1984a:28).

produção pré-capitalistas – que constituem o meio histórico de acumulação do capital –, daí resultaria a tendência incontida do capital de apossar-se de todas as terras e sociedades.

Segundo Luxemburg (1984a:28), “em função de suas relações de valor e de suas relações de natureza material, o processo de acumulação do capital está vinculado por meio do capital constante, do capital variável e da mais-valia às formas de produção não- capitalistas”. Essas formas são o meio histórico desse processo. O domínio efetivo das relações sociais não-capitalistas dos países em que se estabelecem esses ramos da produção provoca no capital a tendência de trazer à sua tutela todos esses países e sociedades, em que, além do mais, as relações primitivas permitem intervenção mais rápida e violenta da acumulação que a imaginável em condições sociais puramente capitalistas.

[...] O mercado interno e o mercado externo desempenham, sem duvida, papel importante e inconfundível na evolução do desenvolvimento capitalista, não como conceitos de Geografia Política, mas como conceitos de Economia Social. Do ponto de vista da produção capitalista o mercado interno é mercado capitalista, uma vez que essa produção é consumida por seus próprios produtores e fonte geradora de seus próprios elementos de produção. Mercado externo é para o capital o meio social não-capitalista que absorve seus produtos e lhe fornece elementos produtivos e força de trabalho (LUXEMBURG, 1984a:29).

Para Luxemburg, no intercâmbio capitalista interno pode-se, no melhor dos casos, realizar apenas partes determinadas do produto social total: o capital constante utilizado, o capital variável e a parte consumida da mais-valia. De outra forma, a parte da mais-valia que é destinada à capitalização teria de ser realizada “externamente”. Com o desenvolvimento internacional do capital, a capitalização da mais-valia se torna, a cada instante, mais urgente e precária, a base de capital constante e variável se torna cada vez maior, seja de modo absoluto enquanto massa, bem como em relação à mais-valia. Isso explicaria o fato contraditório dos antigos países capitalistas representarem, um para o outro, mercados cada vez maiores e imprescindíveis, competindo mais fortemente e em função de suas relações com os países não-capitalistas. Como um reflexo da lei da taxa decrescente de lucro, as condições de capitalização da mais-valia e as condições de renovação do capital total cada vez mais entram em contradição.

Para existir e poder desenvolver-se o capitalismo necessita de um meio ambiente constituído de formas não-capitalistas de produção. Mas, não é qualquer forma aleatória que o satisfaz. Ele necessita de camadas sociais não-capitalistas como mercado, para colocar sua mais-valia; delas necessita como fontes de aquisição de seus meios de produção e como reservatório de força de trabalho para seu sistema salarial. As formas de produção da economia natural de nada servem, no entanto, ao capital para a realização de qualquer um destes fins. [...] a produção que se destina à satisfação das próprias necessidades é a característica determinante dessas economias. [...] O mais importante no entanto é o seguinte: em todas as formas de produção de cunho econômico-natural existe sempre algum vínculo com os meios de produção e com a mão-de-obra. Tanto a

comunidade camponesa comunista como a propriedade agrícola feudal e outras formas congêneres estabelecem como base de sua organização econômica a sujeição dos principais meios de produção – terra e força de trabalho – ao direito e à origem. Nesse sentido, a economia natural cria dificuldades sérias às exigências do capital. Eis porque o capitalismo, onde quer que seja, procura sempre destruir a economia natural sob todas as suas formas históricas com as quais possa vir a deparar-se: luta contra a escravatura, contra o feudalismo, contra o comunismo primitivo e contra a economia camponesa patriarcal (LUXEMBURG, 1984a:31-32).

Na luta contra a economia natural, o capitalismo teria os seguintes objetivos: apossar- se diretamente das principais fontes de forças produtivas, tais como terras, caça das florestas virgens, minérios, pedras preciosas e metais, produtos vegetais exóticos, como borracha, etc.; “libertar” força de trabalho e submetê-la ao capital, para o trabalho; introduzir a economia mercantil; e separar a agricultura do artesanato.

A dominação capitalista se configura no cenário mundial na medida em que, primeiro, expulsa os camponeses da Inglaterra, depois de lhes arrancar a terra; a seguir, empurra-os para o oeste dos Estados Unidos; do oeste os empurra para o leste a fim de (sobre as ruínas da economia indígena) fazer deles, de novo, pequenos produtores mercantis; do leste os desloca para o norte e os arruína outra vez; as ferrovias abriram o caminho e o capital fazia o resto19. Destaca Luxemburg (1984a:59) que “assim o capital lidera o movimento e também o encerra como seu carrasco”.

[...] o capitalismo expande-se cada vez mais graças a suas relações recíprocas com os círculos sociais e com as nações não-capitalistas, acumulando seu capital à custa destes; ao mesmo tempo que corrói a cada instante a outra entidade à qual se associa, procurará desalojá-la e assumir seu lugar. E à medida que vai crescendo o número de participantes dessa caçada em busca de novos campos de acumulação de capital e diminuindo o número de regiões não-capitalistas ainda abertas à expansão universal do capital, mais acirrada se torna a luta, ou a competição, visando à conquista dessas regiões de acumulação; tanto mais freqüente também se tornam, no cenário mundial, as incursões do capital, as quais acabam constituindo verdadeiras cadeias de catástrofes (de ordem econômica ou política), representadas pelas crises mundiais, pelas guerras e pelas revoluções (LUXEMBURG, 1984b:113).

Segundo Luxemburg, a hipótese de Marx, adotada no esquema de acumulação, corresponde à tendência histórica e objetiva do movimento acumulativo e o resultado teórico final. Desse modo, o processo de acumulação tende sempre a substituir, onde quer que seja, a economia natural pela economia mercantil simples, e esta pela economia capitalista, levando a produção capitalista ao domínio absoluto em todos os países e ramos produtivos. O resultado da luta entre o capitalismo e a economia mercantil simples seria que, depois do capital ter       

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“[...] Os índios tiveram de ceder lugar aos fazendeiros; agora era a vez do fazendeiro ceder lugar ao capital e

ser ele mesmo empurrado para o outro lado do Mississipi. (LUXEMBURG, 1984a:54) ; O mesmo processo, se bem que referente a um quadro histórico totalmente diferente e desenvolvido na África do Sul, nos mostra mais claramente ainda os ‘métodos pacíficos’ da concorrência capitalista em relação aos pequenos produtores mercantis” (LUXEMBURG, 1984a:59-60).

substituído a economia natural pela economia mercantil simples, ele mesmo toma o lugar desta última. “Se o capitalismo, portanto, vive de formas econômicas não-capitalistas, vive, a bem dizer, e mais exatamente, da ruína dessas formas” (LUXEMBURG, 1984a:63). Como a acumulação se realizaria obrigatoriamente por absorção ela consistiria na mutilação e absorção dos meios não-capitalistas, resultando que ao mesmo tempo em que a acumulação de capital não pode existir sem as formações não capitalistas, também não permite que estas sobrevivam a seu lado20.

E é nesse ponto que começa o impasse. Alcançado o resultado final – que continua sendo uma simples construção teórica –, a acumulação torna-se impossível: a realização e a capitalização da mais-valia transformam-se em tarefas insolúveis. No momento em que o esquema marxista corresponde, na realidade, à reprodução ampliada, ele acusa o resultado, a barreira histórica do movimento de acumulação, ou seja, o fim da produção capitalista. A impossibilidade de haver acumulado significa, em termos capitalistas, a

impossibilidade de um desenvolvimento posterior das forças produtivas e, com isso, a

necessidade objetiva, histórica, do declínio do capitalismo. Daí resulta o movimento

contraditório da última fase, imperialista, como período final da trajetória histórica do capital (LUXEMBURG, 1984a:63, grifos meus).

Rosa Luxemburg sustenta a hipótese de que o esquema marxista de reprodução ampliada não corresponde às condições da acumulação enquanto ela progride. Não seria possível mantê-la dentro do quadro estrito das relações e dependências recíprocas e fixas que

No documento P ROGRAMA DEP ÓS -G (páginas 66-115)

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