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TERAPIA OCUPACIONAL

2.2 A TERAPIA OCUPACIONAL NO BRASIL

As primeiras iniciativas brasileiras de tratamento pelas ocupações, basearam- se no modelo do Tratamento Moral.

Em 1852, foi fundado o Hospício D. Pedro II no Rio de Janeiro, que foi pioneiro no Brasil na utilização do trabalho como forma de tratamento.

Próximo à cidade de São Paulo, foi fundado em 1898 o Hospital do Juqueri onde foram incentivadas as atividades de agropecuária, que além de suprirem as necessidades da instituição, também eram comercializadas.

A Colônia Juliano Moreira no Rio de Janeiro e o serviço de Terapia Ocupacional criado pela Dra. Nise da Silveira em Engenho de Dentro, foram inaugurados no início do séc. XX.

Baseada na Psicologia Analítica de Carl Jung, Nise da Silveira propunha a realização de atividades plásticas e artesanais como forma de expressão do inconsciente. Em 1952, foi criado o Museu do Inconsciente com os trabalhos produzidos nessas sessões de Terapia Ocupacional, coordenadas por ela.

O marco inicial da produção científica sobre o tratamento pelas ocupações foi a tese inaugural da cadeira de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo redigida por Henrique de Oliveira Matos. Chamada Labortherapia nas Afecções Mentaes, essa tese de 1929 era um estudo sobre a experiência do Hospital do Juqueri.

No nordeste, Ulisses Pernambucano criou em 1931 o Modelo de Assistência a Psicopatas no qual introduziu a ocupação terapêutica, baseada na obra de Simon, já abordada anteriormente.

Um fato inovador da sua proposta foi a indicação da atenção multiprofissional intra e extra-hospitalar que deveria integrar a atenção preventiva e a curativa. Ulisses Pernambucano foi responsável pela criação do primeiro serviço ambulatorial público do país.

Em meados dos anos de 1940 e 1950, o Brasil recebe a influência do Movimento Internacional de Reabilitação. A Organização das Nações Unidas (ONU) mantinha estratégias para a implantação de serviços de reabilitação física nos quatro continentes.

De Carlo e Bartalotti (2001) relatam que enquanto o Movimento de Reabilitação se originou principalmente nos países que participaram das Duas Grandes Guerras, como conseqüência do aumento de incapacitados físicos, no Brasil a preocupação maior era com os pacientes crônicos como os portadores de tuberculose, deficiências congênitas, acidentados de trabalho, de trânsito, ou portadores de doenças ocupacionais. Nesse panorama é que surgem no Brasil profissões como a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional.

Soares (1986) analisa que a promoção da reabilitação no Brasil teve uma relação primordial com a base econômica e identifica alguns fatores que incentivaram esse processo como a reabilitação profissional visando ao

aproveitamento da capacidade interna de produção, já que havia uma diminuição das importações bloqueadas pela guerra.

Outro fator apontado pela autora foi a absorção no Brasil da polêmica norte americana sobre o alto custo dos leitos de longa permanência para doenças crônicas que eram mais prevalentes em idosos e que poderia ser amenizado com a criação de hospitais especializados.

No campo da Saúde Mental, a Terapia Ocupacional brasileira sofre grande influência de dois movimentos: a Psicodinâmica e a Socioterapia.

As influências socioterápicas sobre a Terapia Ocupacional estiveram fortemente presentes nas propostas de Luiz Cerqueira.

Cerqueira considerava que as ações desenvolvidas pela Terapia Ocupacional poderiam constituir o principal eixo estruturador de mudanças no ambiente e práticas institucionais. Nessa perspectiva ele propunha o desenvolvimento de grupos operativos, oficinas, ateliês, e do “clube terapêutico”. Recomendava a Terapia Ocupacional para os pacientes agudos, numa perspectiva praxiterápica. (MÂNGIA e NICÁCIO, 2001 p.71).

Alguns autores brasileiros têm aprofundado os pressupostos da abordagem Psicodinâmica da Terapia Ocupacional, ou seja, a relação triádica estabelecida entre o paciente, a atividade e o terapeuta; a dinâmica dessa relação e o processo estabelecido. Outro aspecto aprofundado por esses autores é a dinâmica do uso das atividades em grupos.

Benneton (1984) defende a Terapia Ocupacional que busca no processo terapêutico e não no produto final a verdadeira integração do homem. Afirma que os estudos de Psicodinâmica das relações terapeuta-paciente acrescidos das pesquisas das atividades e a conseqüente compreensão da linguagem da ação possibilitaram a formação da tríade terapeuta x paciente x atividade como foco principal da abordagem psicodinâmica. Acrescenta ainda, que a aquisição desses conhecimentos proporcionou a autonomia profissional do terapeuta ocupacional, pois permitia o abandono do conceito de reabilitação.

Ferrari (1997) ressalta o valor da atividade desde a mais simples até a mais complexa como forma de expressão, informação e comunicação, como elemento

fundamental na constituição do vínculo terapêutico. Salienta ainda que a sugestão de materiais e a indicação de atividades, por parte do terapeuta, incentivam o paciente à experimentação de novas formas de criar, de captar o mundo, trocar, de relacionar-se com a sua produção e com os outros. Propõe que o terapeuta coloque- se como facilitador dessa produção, tornando-se um instrumento importante na validação e na significação da mesma.

Maximino (1995) afirma que a Terapia Ocupacional trata de re-estabelecer uma potência produtiva, de possibilitar uma produção significativa.

Refere-se à “potência de provocação” das atividades e dos grupos, definindo provocação “como aquilo que afeta, [...] no sentido de um aumento de estímulos, que pede uma ação e pode conectar idéias, [...] transformar-se através do fazer junto, fazer parte de um grupo e construir uma representação interna desse grupo”. (MAXIMINO, 1995, p. 30).

A função do terapeuta ocupacional, segundo a autora, seria a facilitação e a compreensão do que surge dessa provocação.

Castro; Lima e Brunello (2001) registram que nos anos 1970 e 1980 ocorreram dois movimentos na área da saúde que questionaram o papel dos técnicos nas instituições e as populações por eles atendidas.

O primeiro foi a organização das pessoas portadoras de deficiência física que reivindicavam as mesmas oportunidades de outros cidadãos, assim como a melhoria das condições de vida e do ambiente.

O segundo movimento apontado pelas autoras foi o da Luta Antimanicomial que foi caracterizado pelos direitos civis do doente mental e a construção de propostas alternativas à institucionalização dos mesmos, pleiteando a construção da cidadania.

Influenciados e participantes desses movimentos, os terapeutas ocupacionais passam a questionar e a repensar as práticas e concepções do uso das atividades que já estavam determinadas e que propunham a adaptação do sujeito a uma realidade dada e “o espaço de contradição que ele próprio ocupa, entre uma função terapêutica, de um lado, e uma função de controle social, de outro.” (CASTRO; LIMA e BRUNELLO, 2001, p.44).

[...] que tem como sentido a construção dos direitos substanciais (afetivos, relacionais, materiais, habitacionais, produtivos e culturais) dos pacientes e um interesse, de fato, em pesquisar a transformação ocorrida nas dinâmicas sociais, culturais, econômicas dos doentes mentais, dos deficientes e das populações chamadas “excluídas”. (CASTRO; LIMA e BRUNELLO, 2001, p.45).

A saúde, então, deixa de ser pensada como reparação de danos ou como genérico bem-estar físico-psíquico-social e assume o sentido de produção de vida, centrada no fazer humano e no estabelecimento de um contínuo agir sobre o mundo.

Essa nova concepção de saúde produz uma nova vertente na forma do uso das atividades em Terapia Ocupacional. Outros caminhos são traçados além da assistência pautada na doença ou deficiência e no raciocínio causa-efeito.

Durante muito tempo a Terapia Ocupacional limitou-se à utilização da atividade (seu instrumento básico), como meio para tratar alguma doença ou disfunção. Sua história mostrou-lhe, a partir da complexidade própria da atividade humana, que ela (a atividade) não pode ser apenas um meio, mas um fim em si mesma. Ou seja, a Terapia Ocupacional construiu a possibilidade histórica de tratar o fazer através deste mesmo fazer! (FERIOTTI, 2001, p. 391).

As produções teóricas passam a retomar o termo atividades humanas baseadas no conceito de práxis, abandonando o termo atividades terapêuticas.

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