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2.2 A TERRITORIALIZAÇÃO DO COOPERATIVISMO NO ÂMBITO LEGAL

Mesmo considerando as características específicas de gestão e de organização das cooperativas agropecuárias no Brasil, foi de fundamental importância o papel do Estado na expansão do cooperativismo agropecuário. Um conjunto de medidas permitiu a formação de cooperativas voltadas para atividades agroindustriais em decorrência da modernização da agricultura, assunto a ser debatido a seguir.

4 A “territorialidade humana” é definida, segundo Raffestin (1993, p. 160), como "[...] um conjunto de

relações que se originam num sistema tridimensional sociedade-espaço-tempo em vias de atingir a maior autonomia possível, compatível com os recursos do sistema".

No Brasil, podem ser definidos dois grandes momentos em relação ao movimento cooperativo. O primeiro representa as cooperativas tradicionais e mais antigas, formadas em meados do século XX, que são organizadas pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), com foco econômico e estabelecidas no mercado, e, por outro lado, estão as chamadas cooperativas sociais, que fazem parte da Economia Solidária, que possui Secretaria Especial no governo federal e fica vinculada ao Ministério do Trabalho, portanto com foco social.

O cooperativismo no Brasil se consolidou a partir do surgimento do sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), que promove o setor mediante a representação sindical, presença política, informação, monitoramento e promoção social. As leis e os programas de governo denominados I, II e III Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) formaram as tessituras do cooperativismo empresarial para mediar a modernização do campo que até então era tido como espaço de atraso para o país.

De acordo com a mencionada OCB, o cooperativismo surgiu no Brasil em 1889, com a cooperativa chamada Sociedade Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, em Ouro Preto, estado de Minas Gerais, e foi se expandindo, com diversos ramos, para outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Segundo Pinho (1982a), mesmo no período anterior a 1888 haviam surgido intenções de implementação do cooperativismo, dado que a maioria da mão de obra era escrava e alguns poucos trabalhadores europeus sentiam a necessidade de organizar associações mutualistas e reivindicativas, isso em razão de que, na sociedade, marcadamente patriarcal, a mão de obra livre não dispunha de amparo previdenciário nem trabalhista.

Os imigrantes, principalmente alemães e italianos, que chegaram ao Brasil com a experiência adquirida em seus países de origem, começaram a formar Organizações Comunitárias, principalmente na região Sul do país, para resolverem problemas relacionados à produção, ao consumo e ao crédito. As cooperativas de crédito e de consumo são as principais nos primeiros anos do século XX, mas logo deram lugar, em termos de importância, às cooperativas agropecuárias. Apesar do estilo rural, foi no setor de consumo e de crédito dos centros urbanos que se formaram as organizações cooperativas, como mostra o Quadro 3.

Quadro 3 – Primeiras cooperativas brasileiras

COOPERATIVA ANO ESTADO

Cooperativa de Consumo dos Empregados da Cia. Paulista de Campinas

1887 São Paulo

Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto

1889 Minas Gerais

Associação Cooperativa dos Empregados da Companhia Telefônica de Limeira

1891 São Paulo

Cooperativa Militar de Consumo 1894 Rio de Janeiro

Cooperativa de Consumo de Camaragibe 1895 Pernambuco

Caixas Rurais Raiffeisen 1902 Rio Grande do Sul

Fonte: (PINHO, 1982a; OCB, 2014). Elaborado por Marilúcia Ben dos Reis

Com a Proclamação da República no Brasil (1889), as terras devolutas e a responsabilidade de colonização passaram para os estados. No Rio Grande do Sul desenvolveu-se a imigração espontânea e a colonização particular. Logo o Planalto Gaúcho foi transformado em zona colonial, com a instalação das novas colônias a partir de iniciativa pública e privada, colônias essas atraídas pelas possibilidades de exploração do comércio de terras.

Foi nesse cenário que surgiu em Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul, em 1912, a Volksverein ─ Sociedade União Popular, para apoiar os imigrantes alemães católicos após a sua chegada da Europa. É desde então que o cooperativismo mantém relações muito próximas com o aspecto religioso. Essa sociedade foi idealizada pelo jesuíta suíço, radicado no Brasil desde 1885, padre Theodor Amstad. O principal objetivo da associação era o de congregar os descendentes de imigrantes alemães, incentivando-os para uma vida comunitária intensa e ativa, sob os parâmetros da solidariedade cristã, que os conduzisse ao desenvolvimento das comunidades nos aspectos religioso, social, político e econômico. Nesse sentido, os padres da Igreja Católica serviram como um instrumento de “Reforma Agrária”, para ampliar a fronteira agrícola brasileira em favor dos imigrantes alemães e de seus descendentes no Brasil. O Volksverein buscou formas autônomas de desenvolvimento, formas que representariam a conquista da liberdade e da cidadania dos teuto-brasileiros e a legitimidade social da Igreja, incrementando, fomentando e territorializando a educação, a difusão cultural, a assistência social, o cooperativismo de crédito e organizando novas colônias.

O modelo de desenvolvimento no Brasil era agroexportador, marcado pela exportação como variável exógena, que gerava importante parcela da renda nacional, e também pelas importações, que supriam significativamente parte da demanda interna. As normas cooperativistas estavam então contidas no contexto constitucional, no Código Civil e em uma legislação especial, que é a Lei das Sociedades Cooperativas. Primeiro as sociedades cooperativas foram formadas e somente depois elas foram reguladas por lei. Agora merecem destaque as Constituições Federais brasileiras e sua influência no cooperativismo.

A Constituição Federal de 1824, a primeira após a proclamação da independência nacional, não faz referência ao cooperativismo, em razão de que se trata de uma fase embrionária da nacionalidade brasileira. Posteriormente, o ato que deu origem à Constituição Federal de 1891 foi a Proclamação da República em 1889. A Constituição aborda o cooperativismo, mais especificamente, em seu artigo 72, parágrafo 8º, autorizando e reconhecendo o direito de associação em sindicatos e cooperativas por parte de trabalhadores.

Alguns autores consideram esse momento brasileiro como pré-cooperativo, e que o progresso da prática cooperativa no Brasil tem marco efetivo a partir de 1932, motivado pelo estímulo do poder público central reconhecendo o cooperativismo como instrumento de reestruturação das atividades agrícolas ─ principalmente depois da crise de 1929 ─, sob a ótica agroexportadora e também pela promulgação da lei básica do cooperativismo brasileiro, em 1932, passando a definir melhor as especificidades daquele movimento diante de outras formas de associação (PINHO, 1996).

As primeiras referências ao cooperativismo na legislação brasileira foram no início do século XX e diziam respeito às primeiras cooperativas agrícolas e de crédito rural. Segue o Quadro 4, que representa as mudanças legislativas do cooperativismo no Brasil.

No Centro-Sul do Brasil surgiam ótimas experiências cooperativas trazidas pelas colônias europeias, como as cooperativas de crédito e de consumo, ao lado das cooperativas agropecuárias com controle estatal. Em 1906, surgiram as cooperativas agrícolas também no Rio Grande do Sul, fundadas geralmente por imigrantes de origem alemã e italiana, que traziam as territorialidades no trabalho associativo dos seus países de origem e buscavam acabar com os intermediários na comercialização das safras agrícolas.

Quadro 4 – A legislação brasileira referente ao cooperativismo no Brasil Principais Leis e Decretos do Cooperativismo

no Brasil

Características

Decreto 799/1903 Marco inicial do cooperativismo no Brasil.

Decreto 1.637/1907 – revogado em 1932 Não continha normas específicas para o cooperativismo.

Lei 4.984/1925 e o Decreto 17.339/1926 Organiza as Caixas Rurais Raiffeisen e os Bancos Populares Luzzatti.

Decreto 22.239/1932 – revogado em 1934, reestabelecido em 1943, revogado em 1943 mesmo, e reestabelecido em 1945 até 1966. Promulgado Decreto-Lei 59/1966

Consolidação parcial do cooperativismo. Consagra e classifica os princípios cooperativistas.

Constitui a lei fundamental do cooperativismo no Brasil.

Decreto-Lei 59/1966, regulamentado pelo Decreto 60.597/1967

O cooperativismo passa a sofrer maior controle estatal e a perder parte dos estímulos fiscais.

Revogado o Decreto-Lei 59/1966 em 1971 Período conhecido como Centralismo Estatal.

Lei 5.764/1971 Renovação da estrutura cooperativista.

Fonte: (PINHO, 1982b). Elaborado por Marilúcia Ben dos Reis

Em 1907, o movimento cooperativista ainda era fraco, mas passou a ganhar expressão com os chamados defensores de associações cooperativas e sindicais, dentre eles cabendo mencionar Joaquim Inácio Tosta, Wenceslau Belo, Carlos Alberto de Menezes e Cristiano Cruz, que acabaram elaborando um projeto de regulamentação que originou o Decreto nº 1.637/1907, revogado 25 anos depois, substituído pelo Decreto nº 22.239/1932, este formulado por Adolfo Gredilha, Fábio Luz Filho e Saturnino Brito, agora amparados nos princípios do rochdaleanismo.

De acordo com Vera Lúcia Oliveira Daller (2006, p. 8-9), em a “Evolução do Cooperativismo no Ministério da Agricultura”,

Com o crescimento do número de cooperativas, a Diretoria assumiu a responsabilidade de fiscalização e defesa das modalidades clássicas, Raiffeisein e Luzzatti, pelo decreto n° 17.339, de 2 de julho de 1926, de conformidade com o art. 40 da lei n°4984, de 31 de dezembro de 1925. Essa lei foi conquistada pelos interessados para atrair as cooperativas de crédito amparadas no decreto n° 1637, de janeiro de 1921, que criava a fiscalização bancária sobre as cooperativas, vistas pela Inspetoria Geral dos Bancos como casas bancárias comuns, com fins puramente mercantes.

O Decreto de 1932 ordenou o cumprimento do cooperativismo baseado no Rochdalismo, dando maior liberdade de formação e funcionamento ao cooperativismo. Em 1933 a 1938 houve a tentativa de suspender a lei, porém não houve sucesso. No período de transição do primeiro decreto para o segundo, cabe informar que, em 1920, as cooperativas de erva-mate e madeira assumiram

destaque na economia paranaense, enquanto no Rio Grande do Sul eram fundadas cooperativas de produtores de leite e de suínos e, também, de madeireiros.

Em 1930, o Estado começou a interferir na dinâmica e funcionamento das cooperativas, iniciando a incorporação de medidas para planejar o novo modelo econômico. Assim, o Estado passa a desenvolver relações de poder que resultaram em ações coordenadas axiomáticas de reprodução e de acumulação de capital privado.

A partir das Revoluções Constitucionalistas de 1930 e 1932 surge a Constituição Federal de 1934. Essa Constituição aprofunda o tratamento destinado ao cooperativismo. Um dos principais destaques é a garantia da liberdade de associação e a não dissolução das sociedades cooperativas. Segundo Serra (2013, p. 7), “Toda uma legislação começa a ser criada para ajustar as cooperativas já fundadas e fomentar o surgimento de novas cooperativas às políticas públicas gestadas em função delas”. O Brasil passa, nesse momento, para o modelo de desenvolvimento de substituição de importações e o cooperativismo vai auxiliar nesse processo. Isso fez com que as cooperativas passassem a ter parte de sua autonomia controlada pelo Estado. Assim, segundo Benetti (1988, p. 6), a intervenção do Estado no cooperativismo “[...] tem por objetivo apoiar não só as atividades propriamente cooperativistas, mas principalmente os setores produtivos agrícolas a ela vinculados”. O setor agrícola era tido como obstáculo para o desenvolvimento do país.

O então governo do presidente Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951 - 1954) dá início a um o sistema político-econômico voltado para o modelo agroexportador. Isso representa grandes transformações no setor agrícola brasileiro, transformações essas iniciadas no Rio Grande do Sul com programas voltados para o desenvolvimento das pequenas unidades de exploração familiar. Em tal conjuntura, o Estado passa a apresentar crescente regulamentação das relações econômicas, abrangendo, desde as relações de trabalho até o cooperativismo. Segundo Silva et al. (2003), as cooperativas agropecuárias se destacaram no movimento cooperativista brasileiro, tendo em vista que a própria estrutura econômica do país era eminentemente agrícola.

Nos anos de 1930 a 1950, a estrutura econômica basicamente agrícola se alterou. Esse novo período ficou marcado pelas crises internacionais (a começar

pela queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929) e, então, a oligarquia agrária cafeeira e do modelo agroexportador que vai estruturar o modelo industrial.

A política de substituição de importações foi baseada na internalização do Departamento de Bens Básicos, que, segundo Graziano da Silva (1998), é chamado de D¹ (Departamento produtor de bens de capital e insumos para a agricultura, que são: setor industrial urbano, bens para lavoura, internacionalizar a produção). Trata- se do modelo, segundo Tavares (1972), que consiste na passagem de uma economia “para fora” dos ciclos agroexportadores para uma economica “para dentro” da indústria. O caminho vai sendo aberto para a função econômica do espaço urbano com a importação das fábricas de tratores e a fixação de capital externo no país. Segundo Serra (2013, p. 17), o novo modelo econômico voltado à substituição de importações busca

[...] acumulação de capital internacional; incentivo a uma política de desenvolvimento industrial voltada à produção de bens duráveis; aceleração do desenvolvimento do Complexo Agroindustrial (CAI), com a participação de capitais nacionais e internacionais.

Nesse sentido, na relação dialética entre o Estado e cooperativismo, segundo Benetti (1988), o cooperativismo é o instrumento institucional utilizado pelo Estado para o repasse das políticas de fomento às atividades agropecuárias. O Estado necessitava sair da grande depressão criada pela crise de 1929 e transformar o rural, que dependia essencialmente da exportação do café, para um rural diversificado e moderno. Ainda segundo Benetti (1988, p. 8), esse grupo de políticos

‘[...] transformava o cooperativismo num instrumento de intervenção estatal na sociedade agrária e numa instituição com funções substitutivas do Estado capitalista [...]’, transformando o cooperativismo em uma instituição corporativa para fomentar o processo de modernização da agricultura. O Estado não dispunha de condições ou de formas políticas de planejamento e desenvolvimento para assegurar o processo de modernização em todo o território nacional, contudo a ação cooperativista no Sul do país, mais especificamente no oeste paranaense, foi de grande relevância para o crescimento, expansão e ajuda mútua de seus cooperados.

Com a territorialização política do capital, o cooperativismo passou a ser configurado como alternativa “dentro” do sistema e não mais como alternativa “ao” sistema (SERRA, 1986). Isso mostra que o processo histórico do cooperativismo agropecuário brasileiro seguiu as diretrizes de políticas econômicas adotadas pelos governos ao longo do século XX.

A Lei Federal nº 23.611/1933 instituiu o consórcio profissional cooperativo, instrumento jurídico que regulariza a situação dos sindicatos fundados. O artigo 1º permite aos profissionais-cooperativos (agrários, proletários, liberais e funcionários públicos) a realização de suas finalidades econômicas em cooperativas de consumo, de crédito, de produção e modalidades derivadas. O início do governo militar do presidente Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954) marca o ato da Constituição Federal de 1937. Essa Constituição garantiu a liberdade de associação e atribuiu aos Estados competências para legislar nos pontos que não foram contemplados pelo legislador federal. O modelo cooperativista até 1937 foi chamado, segundo Benetti (1988), de cooperativismo corporativista, era regido pelo Decreto nº 23.611/1933, em razão de se tratar de um movimento tenentista5 que adotava o modelo corporativista do sindicalismo cooperativista baseado no fascismo italiano de Mussolini6.

No governo do presidente Getúlio Vargas foram desenvolvidas políticas para o fortalecimento da pequena unidade produtiva para aumentar a diversificação na agropecuária. Segundo Benetti (1988), esse governo acreditava que a solução da questão agrária se resumiria no fortalecimento da pequena produção agrícola, porém o principal problema da pequena produção seriam os comerciantes e o despreparo profissional dos camponeses. Então, o Estado volta-se para políticas econômicas e sociais para resolver o problema da comercialização da produção através do cooperativismo e de programas de ensino profissionalizante para combater a desqualificação profissional.

Na década de 1960, com a reforma bancária, promovida pelos governos do regime militar, reforma essa baseada na Lei Federal nº 4.595/1964, o cooperativismo de crédito declinava e necessitava ser reestruturado, sendo que, a partir de então, muitas cooperativas foram extintas. Em 1966 foi instituído o Decreto-Lei Federal nº 59/1966, depois regulamentado pelo Decreto Federal nº 60.597/1967, que criou o Conselho Nacional do Cooperativismo e revogou as leis anteriores. A Constituição Federal de 1967 foi marcada pela influência e pelo controle do Estado em relação às

5 Para aprofundar análise sobre o movimento tenentista, verificar: CARONE, Edgard (Org.). O tenentismo. Rio de Janeiro: Difel, 1975.

6 Mussolini foi um dos fundadores do fascismo, baseado no nacionalismo, corporativismo,

sindicalismo nacional, expansionismo, progresso social e anticomunismo, combinado com a censura de subversivos e de propaganda do Estado. Para maior aprofundamento sobre o tema, ler a obra de

cooperativas. Nesse caso, o Estado autorizou a formação das cooperativas e controlou os atos praticados pelas cooperativas, provocando o declínio do cooperativismo. Nesse último decreto mencionado, em seu artigo 5º, as cooperativas podiam adotar qualquer gênero de serviços, operações e atividades.

Com a normatização, o cooperativismo foi submetido a um maior controle estatal e perdeu parte de estímulos fiscais. Esse período ficou conhecido como

centralismo estatal. Segundo Serra (2013), o cooperativismo se submete ao controle

do Estado na implementação ou alteração de políticas, porém paga um preço por isso, uma vez que as cooperativas recebem recursos financeiros.

O CAI estruturado no início de 1960, principalmente o dos estados do Sul e do Sudeste, passa a se sustentar, segundo Serra (2013, p.17),

[...] em três pilares interdependentes: a montante o setor responsável pela produção de bens para o setor agrícola (tratores e outras máquinas agrícolas), ao centro uma agricultura altamente tecnificada e a jusante a indústria de transformação ou agroindústria, segmento que passaria a ter a efetiva participação das cooperativas.

Nesse contexto, segundo Delgado (1985), surgiram e se fortaleceram as multicooperativas, apresentando-se similares às demais empresas controladas por grupos empresariais, embora dadas as diferenças, segundo Costa (1992), que se distinguem pela definição de cooperativa, por se tratar de uma associação de pessoas e não de capital.

Com a Constituição Federal de 1988 aconteceu o renascimento e a expansão do cooperativismo, dado o novo texto constitucional, que, em seu artigo 5º, inciso XVIII, prevê a liberdade de associação e a criação das sociedades cooperativas, sendo vedada a interferência do Estado em seu desenvolvimento. Ainda nessa Constituição ─ atualmente em vigor ─, em seu artigo 146, inciso III, é promovido o ato tributário diferenciado em relação às cooperativas.

No artigo 174 da Constituição de 1988 é normatizado o papel do Estado como agente fiscalizador, incentivador e planejador para o setor público e privado, e determina que o ato cooperativo seja incentivado e fomentado por meio de outras leis e de outras políticas públicas. O artigo 187 trata da política agrícola, que deve ser planejada e executada com a participação efetiva do setor de produção, envolvendo produtores e trabalhadores rurais, bem como os setores de comercialização, de armazenagem e de transporte, levando em conta o

cooperativismo e outros tipos de serviços. Por sua vez, o artigo 192 insere as cooperativas de crédito no sistema financeiro internacional. Com essas normativas e as mudanças do setor agroexportador o país, planeja medidas direcionadas ao desenvolvimento do CAI e, consequentemente, cria condições para a formação das multicooperativas, que então vão alavancar o setor agroexportador.

As diversas normas instituídas para dar um novo formato ao cooperativismo nacional acabaram por culminar, em 1971, na Lei Geral do Cooperativismo (Lei Federal nº 5.764/1971), no governo do presidente Médici (1969 – 1974), lei que renovou e fixou o princípio cooperativista baseando-se principalmente na diminuição da intervenção estatal. A Lei Geral do Cooperativismo manteve as linhas doutrinárias anteriores, mas ampliando/adaptando seu campo de atuação e flexibilizando a modernização estrutural, o que possibilitou às cooperativas brasileiras atuarem como empresas modernas e dinâmicas, transformando-as nas chamadas “multicooperativas”. Nesse período ocorreu a reestruturação, permitindo a definição das especificidades das cooperativas no Brasil, muito embora tenha perpetuado a ingerência do Estado no funcionamento dessas organizações. Nessa lei, foi criado um órgão de representação, ao nível nacional – a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) − e as Organizações Estaduais de Cooperativas (OCEs), como representação em cada unidade da federação.

Assim, a Lei Geral do Cooperativismo, de 1971, define a Política Nacional de Cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, sendo suas disposições distribuídas em 18 capítulos, estes assim intitulados: 1. Da Política

Nacional de Cooperativismo; 2. Das Sociedades Cooperativas; 3. Do Objetivo e Classificação das Sociedades Cooperativas; 4. Da Constituição das Sociedades Cooperativas; 5. Dos Livros; 6. Do Capital Social; 7. Dos Fundos; 8. Dos Associados; 9. Dos Órgãos Sociais; 10. Fusão, Incorporação e Desmembramento; 11. Da Dissolução e Liquidação; 12. Do Sistema Operacional das Cooperativas; 13. Da Fiscalização e Controle; 14. Do Conselho Nacional de Cooperativismo; 15. Dos Órgãos Governamentais; 16. Da Representação do Sistema Cooperativista; 17. Dos Estímulos Creditícios; 18. Das Disposições Gerais e Transitórias. Essa é, portanto, a

lei que rege o cooperativismo até a atualidade. O legislador imprimiu nessa lei o cooperativismo como estratégia para o desenvolvimento do país e, para isso, reconhece a existência de um sistema cooperativista nacional com natureza jurídica constitucionalmente formalizada.

O cooperativismo agropecuário vem apresentando importante crescimento no Brasil e no mundo todo. Nos últimos anos esse cooperativismo tem se dedicado à agroindustrialização da produção, para agregar valor à produção de seus cooperados. Com isso se abre o leque de serviços que a cooperativa oferece aos seus cooperados, oferecendo desde assistência técnica, armazenamento,