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4 CAPÍTULO III ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA UFSC E

4.1 A UFSC e a estruturação da assistência estudantil

O processo de reestruturação e expansão da Educação Superior vivenciado pelo Brasil principalmente após a implantação do REUNI; o Programa Nacional de Ações Afirmativas (Decreto nº 4.228/2002); o desenvolvimento acelerado de diferentes áreas do conhecimento; os números que evidenciam indicadores sociais que requerem melhorias imediatas e as crescentes desigualdades sociais e econômicas que perpassam o país nas últimas décadas têm seus reflexos diretos na assistência estudantil e na forma como este setor está estruturado nas Instituições de Ensino Superior (IES). A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) não ficou a parte deste processo de mudanças macroestruturais presenciadas pela sociedade, as quais atingiram de forma veemente a assistência estudantil, onde podemos dizer que nos últimos anos o sucateamento dos serviços; a queda nas condições de trabalho; a redução da equipe profissional; a escassez de recursos financeiros para a concessão de benefícios, se comparado a ampliação da demanda; e o crescente número de atendidos, são elementos diários

que constituem o fazer profissional do assistente social que atua na Coordenadoria de Assistência Estudantil (CoAEs) da UFSC.

Para se compreender um pouco como está estruturada a assistência estudantil na UFSC é necessário primeiro situar e descrever como é o espaço Institucional da Universidade Federal de Santa Catarina, fundada em 1960 e realizadora de uma série de atividades de ensino, pesquisa e extensão, as quais estão correlacionadas diretamente com a assistência estudantil, haja vista que grande parte dos estudantes da universidade necessitam acessar os benefícios de assistência estudantil para poderem concluir seus cursos de graduação.

A UFSC consolida-se como uma das melhores Instituições de Educação Superior do Brasil e da América Latina40, constituída por cinco Campi (Florianópolis, Joinville, Araranguá, Blumenau e Curitibanos); onze centros de ensino; sete pró-reitorias e quatro secretarias institucionais41, sendo considerada, também, de acordo com a Revista UFSC 45 anos, o maior centro de pós-graduação do Estado.

Nossos cursos de graduação encontram-se nos patamares mais respeitáveis de avaliação, nosso corpo docente alcança o invejável índice de mais de 90% de Mestres e Doutores e nosso corpo técnico e administrativo tem obtido cada vez mais formação em todos os níveis (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2005, p. 3).

Dando destaque aos diferentes tipos de atividades que desenvolve e aos setores que compõem a Universidade, citamos o Hospital Universitário; Escritório Modelo de Assistência Jurídica gratuita (EMAJ); Editora, Biblioteca, Museu, Rádio e Restaurante Universitário; o Colégio de Aplicação e o Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI); o Centro de Cultura e Eventos; projetos voltados à terceira idade, meio ambiente, cultura, esporte e desenvolvimento tecnológico, social, político e econômico; assistência odontológica à comunidade; laboratórios e grupos de pesquisa, dentre tantos outros serviços que garantem um universo acadêmico dinâmico, onde a cada ano são desenvolvidos e incluídos novos projetos e ações em prol da comunidade externa e dos estudantes. A UFSC também possui ações de Educação à Distância, com infraestrutura e parcerias junto a outras

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Informação disponível na Revista UFSC 45 anos.

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Informações retiradas do site institucional www.ufsc.br, acessado em 11/04/2016.

instituições de ensino, perfazendo, atualmente, 85 pólos de ensino, sendo 26 em Santa Catarina42.

Ao lado de iniciativas envolvendo humanização do atendimento no Hospital Universitário, tratamento odontológico e assistência jurídica, resgate da cultura indígena e em prol dos direitos da saúde das mulheres, figuram trabalhos para a geração de conhecimento e respostas a problemas que exigem investigações de ponta. Entre eles, estudos sobre energia solar, vacinas contra o câncer de colo de útero, alternativas para conservação e uso sustentável de florestas nativas, geração de trabalho e renda para pequenos agricultores (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2010, p. 3).

A Universidade Federal de Santa Catarina tem a missão de “produzir, sistematizar, e socializar o saber filosófico, científico, artístico e tecnológico, ampliando e aprofundando a formação do ser humano para o exercício profissional, a reflexão crítica, solidariedade nacional e internacional, na perspectiva da construção de uma sociedade justa e democrática e na defesa da qualidade de vida” 43

. Rumo ao cumprimento de sua missão e buscando atingir o objetivo de investir em ações e programas que promovam a inclusão social a UFSC, aprovou, em 2007, a implantação de um Programa Institucional de Ações Afirmativas, adotando critérios sociais e raciais em seu processo seletivo.

O Programa, de acordo com o artigo 3º da Resolução Normativa nº 52/CUn/2015, de 16 de junho de 2015, destina-se a vagas reservadas para estudantes que: I - tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, com recorte de renda e autodeclarados pretos, pardos e indígenas, na forma prevista pela Lei nº 12.711/2012; II - pertençam ao grupo etnicorracial negro, conforme consta nesta Resolução Normativa; III- pertençam aos povos indígenas residentes no território nacional e nos transfronteiriços; IV- pertençam às comunidades Quilombolas. O recorte de renda utilizado pela legislação

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Informações disponíveis no Relatório Social 2010 da Universidade Federal de Santa Catarina.

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Missão que consta no Estatuto da UFSC, disponível no site legislação.ufsc.br, acessado em 11/04/2016.

em vigor é de até um e meio salário mínimo per capita, sendo que as vagas que ficam ociosas são redirecionadas à classificação geral dos vestibulandos. Destaca-se, ainda, que a UFSC cumpre o que dispõe a Lei 12.711/2012, determinando que todas as instituições públicas federais de ensino (universidades, institutos federais e escolas técnicas) passassem a reservar, a partir de 2012, 50% de suas vagas, em todos os cursos e turnos, para estudantes egressos da escola pública. Na Universidade Federal de Santa Catarina as Ações Afirmativas são entendidas como

medidas especiais de políticas públicas e/ou ações privadas de cunho temporário ou não. Tais medidas pressupõem uma reparação histórica de desigualdades e desvantagens acumuladas e vivenciadas por um grupo racial ou étnico, de modo que essas medidas aumentam e facilitam o acesso desses grupos, garantindo a igualdade de oportunidade. É importante também não perder o foco, pois entre os fatos que nos levam a pensar na implantação das ações afirmativas existe o agravante do baixo nível de formação e capacitação do ensino fundamental e médio nas escolas públicas do Brasil. Ainda que essa problemática esteja arraigada em nossa historicidade, necessitamos de algumas respostas imediatas a essas demandas, por isso a importância de discutir e debater as causas faz-se necessária. Entender de forma ampla e consciente as Ações Afirmativas é também questionar o passado, efetivar o presente e planejar o futuro de forma consciente44 (Destaque do autor).

A manutenção e continuidade dos projetos que promovam a inclusão social e garantam a eqüidade nas formas de acesso à UFSC fica também expressa no documento da Universidade intitulado “Plano de Desenvolvimento Institucional 2015 a 2019”, o qual determina como metas para a área de ensino as propostas de “Avaliar os diferentes mecanismos de ingresso à disposição das universidades federais e definir novas opções institucionais de ingresso à UFSC” e “Aprimorar

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Definição retirada do site institucional http://acoes-afirmativas.ufsc.br, acessado em 11/04/2016.

constantemente as Políticas de Ações Afirmativas, procedendo à sua avaliação e à proposição de mecanismos relacionados às distintas dimensões e aos seus resultados” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2015, p. 41). Já o “Plano de Desenvolvimento Institucional 2010 a 2014” também coloca, em seu item referente a inclusão social, que as Políticas de Assistência Estudantil da UFSC avançam no sentido de atender a legislação federal, respeitando o que determina o PNAES e entendendo que o acesso e permanência do estudante na Universidade representam fator imprescindível à conclusão do curso superior.

Em virtude da nova realidade de estruturação da Universidade, com sede central em Florianópolis, mas tendo também quatro outros campi e haja vista ainda a ampliação das formas de acesso, tem crescido anualmente a preocupação com um padrão de qualidade para a assistência e a permanência dos estudantes que ingressam na UFSC. Esta preocupação, segundo o “Plano de Desenvolvimento Institucional 2015 a 2019” versa para a concessão de benefícios que vão desde bolsa, auxílios, moradias e alimentação, até a ampliação das possibilidades de representação e convivência estudantis. Destaca-se, também, a importância de promover mecanismos de prevenção às situações de retenção e evasão decorrentes da insuficiência de condições financeiras.

Desse modo, é imperioso que a Universidade propicie assistência estudantil para além das garantias mínimas, proporcionando aos estudantes que ingressam, por meio de políticas afirmativas, o acesso às condições necessárias ao bom desempenho intelectual e acadêmico. Sob tal perspectiva, a assistência estudantil é entendida como uma política de apoio que viabiliza e amplia a formação integral do estudante (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2015, p. 83).

O “Plano de Desenvolvimento Institucional 2015 a 2019” determina, ainda, as metas para o apoio à permanência, que devem ser buscadas nos próximos cinco anos:

a) socializar as informações necessárias para a permanência do estudante na UFSC;

c) cadastrar alunos com interesse em ministrar aulas particulares;

d) oferecer bolsas para a realização de curso extracurricular de línguas estrangeiras;

e) oferecer disciplinas pelo Centro de Filosofia e Ciências Humanas na área de orientação profissional e planejamento de carreira para todos os alunos da UFSC (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2015, p. 83-84).

Com esta finalidade, para além de apenas viabilizar o acesso destes estudantes à Universidade, a UFSC tem procurado investir em ações e programas que garantam a permanência deles dentro do campus e nos cursos superiores que optaram por realizar. A ampliação destas ações e programas também já estavam previstas no “Plano de Desenvolvimento Institucional 2010 a 2014” sendo que, a Universidade vem oferecendo aulas de apoio pedagógico; serviços de acessibilidade; atendimento psicológico; bolsas de estágio e extensão; bolsas estudantis; bolsas para cursos extracurriculares de língua estrangeira; mecanismos de acesso à informática; vagas gratuitas em atividades desportivas; atividades de lazer e cultura; auxílios emergenciais; auxílio moradia; isenção do RU; auxílio creche e vagas na moradia estudantil. Na direção de ampliar e reformular os programas e benefícios de assistência estudantil oferecidos o “Plano de Desenvolvimento Institucional 2015 a 2019” cita o objetivo de “Aprimorar a Assistência Estudantil”, traçando as seguintes metas:

• Ampliar o número de vagas em Moradia Estudantil no campus de Florianópolis;

• Ampliar a capacidade do Restaurante Universitário em Florianópolis;

• Construir restaurantes universitários e unidades de moradia estudantil nos demais campi;

• Estruturar os Núcleos de Assistência Estudantil nos campi, visando à descentralização e à ampliação do apoio estudantil segundo demandas específicas;

• Estruturar e implantar programas institucionais de atenção à saúde, especialmente no âmbito psicossocial;

• Estruturar e implantar programas institucionais de apoio a atividades culturais, de esporte e lazer

segundo demandas específicas de cada campus. (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2015, p. 49).

No entanto, embora as metas acima descritas prevejam a ampliação dos serviços de assistência estudantil, conforme prescrito no referido Plano de Desenvolvimento Institucional, o que tem se observado atualmente é que a Universidade enfrenta dificuldades para atingir estas metas, haja vista a falta de orçamento para esta área, o número de recursos humanos insuficiente para prestar os serviços necessários e a demanda expressiva, que é muito maior do que a possibilidade que a UFSC hoje tem de atender, para garantir formas dignas de permanência e conclusão dos cursos superiores aos usuários da assistência estudantil.

O rompimento de barreiras arquitetônicas, culturais e intelectuais também é uma preocupação dos projetos e ações que a UFSC busca desenvolver em prol da inclusão social. Sabe-se que as pessoas com deficiência necessitam e têm direito a um tratamento diferenciado, que possibilite não apenas o acesso delas à Instituição mas, sobretudo, a permanência plena, com todos os recursos adequados para garantirem o término de seus cursos superiores. Referente a um atendimento de qualidade às pessoas com deficiência, o “Plano de Desenvolvimento Institucional 2010 a 2014” assim se posiciona, mantendo também a mesma postura no “Plano de Desenvolvimento Institucional 2015 a 2019”:

[...], requerem um atendimento diferenciado que possibilite [...], a disponibilização de recursos didático-pedagógicos, como audiolivros, material em LIBRAS, braille, ampliações, e similares; um atendimento especial no Serviço Social, que crie bolsas diferenciadas para estas pessoas se manterem em período integral em atividades compatíveis com a sua condição física; a oferta de moradia diferenciada, com as adaptações que a situação exija; a criação de um setor especial na Biblioteca que ofereça material adaptado e atendimento especializado (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, 2010a, p.45).

Neste sentido, alguns destes auxílios citados anteriormente, os quais pretendem assegurar a permanência dos estudantes, são operacionalizados pela Coordenadoria de Assistência Estudantil (CoAEs), foco da pesquisa de campo deste trabalho e diretamente vinculada à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE). É sobre a estrutura desta Coordenadoria, os benefícios que operacionaliza e o trabalho da equipe que a compõe, que se discorre no próximo tópico.

4.2 Coordenadoria de Assistência Estudantil da UFSC e a