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4.2 Relações com os Países Desenvolvidos

4.2.2 A União Europeia

As parcerias comerciais entre a União Europeia e o Brasil datam de longa data e são consideradas tradicionais no âmbito das relações bilaterais entre o Brasil e seus membros individualmente, antes mesmo dos arranjos institucionais atuais. Com o surgimento do Mercosul, os países europeus, agindo em conjunto, buscaram estreitar as relações entre os blocos.

O equilíbrio das relações comerciais com parceiros considerados mais importantes aos interesses brasileiros sempre foi encarado com preocupação. A estratégia tradicional é a de barganhar por vantagens sempre que possível e com relação à Europa não é diferente (CERVO; BUENO, 2002). A relação com os países do bloco, assim como a relação com os Estados Unidos, são igualmente vistas como essenciais. Além disso, compõem com o Brasil alianças estratégicas, bem como uma alternativa, ainda que não excludente, aos Estados Unidos.

Na visão da diplomacia lulopetista, a Europa contrabalancearia as perdas prováveis no excesso de assertividade do governo Lula em relação aos Estados Unidos. Isso realmente ocorreu, com o velho continente consolidando-se como o segundo maior parceiro comercial do Brasil; o fluxo comercial bilateral saltou de US$ 36 bilhões, em 2003, para US$ 74 bilhões, em 2009, o que coloca a Europa como o segundo parceiro comercial do Brasil, atrás da Ásia e pouco à frente da América Latina e Caribe (BALANÇO DE POLÍTICA EXTERNA, 2010).

Entretanto, deixou-se de considerar que a pauta exportadora do Brasil para os Estados Unidas é caracterizada, de maneira geral, pela venda de commodities industriais de médio valor agregado, enquanto a Europa importa produtos agrícolas de baixo valor agregado, os quais são amplamente prejudicados pelo efeito dos subsídios regionais advindos da Política Agrícola Comum Europeia.

Ou seja, o padrão de relacionamento comercial eleito como benéfico no trato com os países desenvolvidos pauta-se mais pela lógica de laços ideológicos históricos do que pelos interesses comerciais nacionais. Tanto a União Europeia quanto os Estados Unidos não abrem mão do protecionismo e dos subsídios agrícolas, ao mesmo tempo em que demandam do Brasil concessões, tais como no setor de bens industriais, serviços e isenção de impostos, consideradas prejudiciais ao desenvolvimento industrial brasileiro.

Porém, após um período de afastamento, a União Europeia reconhece a insuficiência do diálogo político com o Brasil, não condizente à participação crescentemente ativa do país no cenário externo. O anúncio em Julho de 2007 da parceria estratégica entre Brasil e União Europeia buscou, assim, reverter o período de ausência de políticas efetivas voltadas para a América Latina59, aumentando o número de encontros políticos, embora o saldo do intercâmbio bilateral tenha caído de US$ 13,7 bilhões em 2007 para US$ 2,3 bilhões em 2010 (BALANÇO DE POLÍTICA EXTERNA, 2010).

Esta nova nova aliança é considerada de grande importância para o governo Lula, ante a possibilidade do diálogo individualizado com um importante ator da política internacional contemporânea. Na visão europeia, o Brasil

[…] as a key country in the region, is an indispensable ally in meeting global challenges related to climate change, human rights, intellectual property, industrial policy, and other economic and social issues. The European decision was based on specific data and on expectations: Brazil accounts for approximately 80 percent of Mercosur’s GDP; while the European Union accounts for 22 percent of the Brazilian foreign trade, it directs only 1.8 percent of its foreign trade to Brazil. European investments in Brazil are significant, but business would increase should there be a better regulatory framework and lower customs duties – if adopted, these measures would facilitate European Union’s relations with South America” (SARAIVA, 2010, p.27).

Como exemplo, o Brasil e a União Europeia estabeleceram parceria para a internacionalização de pequenas e médias empresas brasileiras. Trata-se de um projeto de cooperação bilateral iniciado na última década, com um investimento de 22 milhões de euros pela União Europeia e na prestação de 12 mil horas de consultoria, a fim de capacitar estes empreendedores para os novos investimentos (BALANÇO DE POLÍTICA EXTERNA, 2010).

No âmbito das relações bilaterais entre o Brasil e os países da Europa, individualmente, destaca-se a Alemanha como importante parceiro do Brasil, sobretudo, em projetos de cooperação técnica internacional. Em 2009/2010, foi responsável por 50,5% dos programas implementados nos setores de energia, meio ambiente, saúde, programa regional e

59 Para maiores informações, ver a declaração da parceria estratégica em: <http://www.consilium.europa.eu/ueDocs/cms_Data/docs/pressData/en/er/95167.pdf>

desenvolvimento integrado60. Em porcentagens menores estão também Espanha e França com 10,1% e Itália em 2%. A Alemanha é também o quinto principal parceiro comercial do Brasil, atrás da China, Estados Unidos, Argentina e Países Baixos61.

Diante disso, verificamos que as relações com a União Europeia são bastante valorizadas pela diplomacia brasileira. A partir da administração Lula estas relações receberam um novo impulso, condicionado pelo novo papel que o Brasil buscou desempenhar no sistema internacional e pela percepção da União Europeia deste novo comportamento. Nos termos da reciprocidade, a União Europeia enxergou o Brasil também como um importante parceiro e carente de políticas que estreitassem estas relações. Apesar de a União Europeia não ser o foco do discurso, a política externa do governo Lula demonstrou-se sempre aberta às negociações nos mais diversos temas. Diferentemente daquilo que ocorreu com os Estados Unidos.

Diante disso, mantiveram-se os termos da reciprocidade, sob a perspectiva compensatória que, na opinião do governo, deveria guiar as negociações, bem como as decisões dos países desenvolvidos, em relação aos países emergentes. Ademais, a diplomacia do governo Lula acreditou nas relações com a União Europeia como uma possibilidade de reforçar o multilateralismo, bem como fortalecer um espaço para desempenhar o papel de ator global que vinha buscando através da assertividade, ao ser tratado como um parceiro estratégico.

Entretanto, parece-nos que a Europa pretende manter o Brasil em sua posição política menor como líder regional na América Latina, exportador de matérias primas de qualidade e receptor econômico de exportação de alto valor agregado e capitais financeiros europeus em busca de alta valorização.

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