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1. UMA VIAGEM HISTÓRICA NO UNIVERSO NEOPENTECOSTAL DA IGREJA

1.9 A Universal na Paraíba e em Campina Grande

Infelizmente, a Igreja Universal na Paraíba não dispõe de publicações e nem de acervos históricos que resgatem as memórias históricas e relatem as suas origens no Estado e muito menos na cidade de Campina Grande, como é comum nas Catedrais do Rio de Janeiro e de São Paulo. As escassas informações que obtive, foram adquiridas mediante relatos orais dos fiéis pioneiros desta denominação religiosa no Estado.

A IURD foi fundada na Paraíba em 1985, pelo próprio bispo Edir Macedo. Tendo o seu primeiro templo no bairro de Cruz das Armas, na capital paraibana, em um espaço simples e alugado. No início da sua chegada à cidade, a Igreja sofreu grandes perseguições e críticas de outras instituições religiosas, tais como a Igreja Católica e da Confederação Espírita Paraibana, além do próprio governo do Estado. (ALVES, 2005, p. 103 apud ARAÚJO, 2009, p. 65,66).

Segundo o relato de uma obreira, pioneira da IURD em João Pessoa, quanto a fundação da Igreja na Paraíba,

O meu início na obra não foi em Campina Grande, eu fui obreira em João Pessoa e em Cabedelo. [...] cheguei na época onde o milagre era uma coisa natural. Isso há 36 anos atrás. Evangelizávamos com uma mesinha na rua. A primeira Igreja Universal de João Pessoa não foi aquela perto da lagoa, era um prédio cor de rosa, perto da estação de trem, em um primeiro andar. O primeiro pastor que veio era Pr. Marcelo, um dos olhos verdes. E nós víamos ele com extrema santidade, pois era muitos milagres. Cheguei na Igreja com onze anos e com seis meses depois, me batizei nas águas. O batismo era feito em Cruz das Armas, pois a Igreja mais próxima que foi aberta foi lá e fizeram um batistério. O prédio da primeira Igreja era de taipo de madeira e o altar de caixote de madeira coberto com carpete. Com treze anos fui levantada obreira e estou até hoje, graças ao meu amigo que nunca me abandona, Deus. Estou há 33 anos, já vou fazer 34 na obra. Hoje as pessoas querem que Deus apareça para elas, mais o rosto delas não aparece para Deus. Por falta de santidade e respeito com Deus e com a autoridade de Deus. Você sabia que já tivemos um uniforme bege na Universal? Pois é, e foi o primeiro uniforme que conheci. Os obreiros eram um por todos e todos por um. Não havia separação. A Igreja perto da lagoa era em cima e em baixo era uma loja de móveis. Ficamos em cima até comprar o prédio grande de baixo. Então, em cima ficou para alojamento de pastores. Aí começou a luta, depois de sete anos na obra queríamos a Igreja em Cabedelo. Em 1989 quando tivemos a maior Concentração de Fé do Estado, foi divulgado em todo mundo, pois andou 34 paralíticos de uma só vez nesse dia! Algo que só a fé poderia explicar. Pessoas curadas de câncer, de AIDS, cegos viam na mesma hora. Vários milagres e hoje se repete. A concentração foi na estreia. Hoje as coisas estão mais fácil, mas no início da obra os recursos eram poucos […].(Obreira, 45 anos, na IURD há 34 anos).

A partir do relato desta fiel, pioneira do período da fundação da Universal na cidade de João Pessoa e que atualmente é obreira na cidade de Campina Grande, percebo que os primeiros passos da Igreja de Macedo na Paraíba, não foram fáceis, dificuldades financeiras, além das perseguições e oposições que sofreram de líderes religiosos e do próprio Estado, para se firmarem como instituição religiosa.

No entanto, mesmo com todas essas adversidades relatadas, o depoimento da obreira demonstra entusiasmo e saudosismo ao falar que, no início de tudo, haviam muitos milagres, que até paralíticos voltavam a andar e “cegos” a enxergar, mas ao mesmo tempo demonstra um certo desapontamento com a postura espiritual dos fiéis na atualidade, mesmo hoje a Igreja estando mais estruturada e com melhores condições materiais. Ela dar a entender que a fé daqueles fiéis do período da fundação da Igreja era diferente dos fiéis atuais, como se estes não buscassem mais a Deus com tanto fervor e santidade como os de outrora. Com isso, fiquei a pensar, será que é por isso que em nenhuma das minhas visitas à IURD presenciei milagres da magnitude dos que essa obreira relatou quando das origens da Igreja na Paraíba?

No relato desta obreira, também fica evidente uma mudança de comportamento entre os obreiros, ela demonstra que os obreiros do período da fundação da IURD neste estado, eram mais unidos e partilhavam dos mesmos sentimentos, o que dá para inferir que os atuais obreiros não agem mais da mesma forma, é como se não possuíssem mais o mesmo espírito, como se não houvesse mais a mesma unidade de décadas atrás.

Ela relata um evento que era muito comum na Universal nos primeiros anos da sua fundação nacional, era uma programação realizada em todo o Brasil e no mundo, onde houvesse presença da IURD, e em alguns Estados como no Rio de Janeiro e em São Paulo, quando aglutinavam multidões de fiéis, lotando ginásios e estádios de futebol, era a Concentração de Fé e Milagres, dirigida pelo próprio Edir Macedo.

Nestas programações públicas, realizadas em espaços abertos, havia momentos de louvor, de oração, da palavra bíblica com o bispo Macedo, e assim como nos templos, havia o recolhimento de dízimos e ofertas, porém o que mais atraia as multidões para estes locais eram as demonstrações de “milagres” operados por intermédio das orações de Macedo. Desse modo, a Universal ganhou visibilidade e simpatia das massas, em sua maioria composta por pessoas pobres e necessitadas de ajuda (física, material e espiritual).

Neste momento, a Igreja Universal desponta no cenário nacional como aquela que leva “socorro e ajuda” aos necessitados e aflitos deste mundo, aquela que está preocupada em suprir as necessidades cotidianas e práticas do povo e não apenas em falar-lhes sobre perdão, salvação ou vida eterna, temas subjetivos e distantes da realidade e das necessidades imediatas do povo, além de serem temas já pregados e benefícios já prometidos pelas demais Igrejas evangélicas.

Atualmente, a Igreja Universal já se expandiu por toda Paraíba, tanto em número de templos quanto em número de fiéis. A Catedral da Fé (templo sede da Universal) inaugurada em 2007, na cidade de João Pessoa, e que segundo a própria Igreja, é o segundo maior templo construído no Nordeste, está atrás apenas do templo de Salvador (BA) com capacidade para 6.800 pessoas.

Os números da Catedral da capital paraibana são imponentes: a Igreja tem capacidade para 5.100 fiéis, possui inúmeras salas departamentais, alojamentos para pastores, três andares, dois imensos estacionamentos, um na lateral do templo e outro no subsolo do prédio, uma livraria própria, um belo jardim, sala de reuniões, sala de atividades bíblicas para crianças, além do amplo salão do templo onde ocorrem os cultos.

Atualmente a Catedral conta com vinte e cinco (25) pastores titulares, oitenta (80) pastores auxiliares, quinhentos e trinta (530) obreiros e quatro mil (4.000) membros. Esta Catedral da Fé, fica localizada no bairro dos Expedicionários, na av. Epitácio Pessoa em João Pessoa, área nobre e central da capital paraibana.

Quanto a presença da Universal na cidade de Campina Grande, a partir de diálogos com os fiéis mais veteranos da Igreja, constatei que a IURD iniciou os seus trabalhos nesta cidade, no mesmo ano em que chegou em João Pessoa, em 1985, oito anos após a sua fundação nacional. Seu primeiro templo, foi alugado no antigo cinema da cidade (prática comum da IURD, escolher este tipo de estrutura física para instalar os seus templos) conhecido como Cine Avenida, localizado na av. Getúlio Vargas, próximo ao centro da cidade. Local onde ela funcionou até recentemente, como sede administrativa da Igreja Universal do Reino de Deus em Campina Grande, saindo de lá quando o prédio foi vendido.

Atualmente a sede da Igreja nesta cidade funciona também em um prédio alugado localizado na rua Siqueira Campos, no centro desta cidade.

Recentemente a Universal comprou um terreno para a construção da sua futura

Catedral da Fé na cidade de Campina Grande. O terreno fica localizado também numa

região central da cidade e é considerado um espaço cobiçado por construtores e empresários da cidade, por estar situado ao lado do teatro municipal, próximo ao Parque do Povo e ao principal terminal de integração de passageiros da cidade e cercado por importantes pontos comerciais. Em diálogo com um obreiro, fui informada de que o início da construção deste templo está previsto para muito breve, porém, necessitam de uma autorização da prefeitura municipal da cidade, para o início das obras, autorização que a Igreja já aguarda há alguns anos.

Na cidade de Campina Grande, atualmente a Universal possui vinte e oito (28) templos, quarenta e dois (42) pastores, trezentos e vinte (320) obreiros e quatro mil e oitocentos (4.800) membros. Comparando com os números anteriores, correspondentes a ao templo sede de João Pessoa, percebo que um só templo da capital paraibana supera em números de fiéis, de pastores e de obreiros, o total correspondente a todas as Igrejas da cidade de Campina Grande.

A partir destes dados pude perceber que o crescimento da IURD atualmente, em Campina Grande, está muito tímido, porém, na capital paraibana a Igreja apresenta uma maior adesão de fiéis. No entanto, é importante considerar que em João Pessoa, a Igreja

investe em programas televisivos, aumentando a propagação da sua mensagem e ampliando o seu alcance missionário, chegando nos lares em que um obreiro ou pastor não chegaram. Enquanto que em Campina Grande, que não há programas de TV da Igreja Universal local, ainda existem moradores que nunca ouviram falar na Igreja Universal.52 Portanto, é visível que o investimento midiático da Igreja lhe proporciona um maior alcance de fiéis, e também, um retorno imediato no número de membros e consequentemente um maior retorno financeiro.

52 Esta informação foi adquirida informalmente em diálogo com um obreiro da Igreja em Campina Grande,

2. PRÁTICAS MÁGICAS E A UTILIZAÇÃO DE OBJETOS MÁGICOS NA