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A Utilização da Terra e o Trabalhador Rural

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A fazenda Vera Cruz é símbolo do começo de um império familiar presente na cidade de Goianésia. Sua riqueza é originada nos pés da cana e criação bovina na forma de confinamentos. Essa fazenda é registrada em cartório como Fazenda Vera Cruz Agropecuária LTDA e pertence à família Lage de Siqueira. Percebe-se a formação de uma agroindústria dentro de um mesmo espaço territorial. Neste momento se enfocará o uso dessas terras para o plantio da cana e mais adiante, se tratará sobre a pecuária.

Quando inicia o processo de preparação do solo para o plantio da cana que seria usada na destilaria Jalles Machado, Otávio reparte parte das terras de sua fazenda para produção canavieira e torna-se um dos principais fornecedores de matéria prima para a usina, junto a ele, outras 26 pessoas compunham a cooperativa produtora de cana que tinham a função de plantar e vender a matéria prima para a indústria.

A princípio, as terras eram arrendadas pelos acionistas minoritários que possuíam na empresa função de conselheiros. Esses recebiam em torno de 20% a mais pelo uso de suas terras em relação ao produtor não sócio da empresa. O valor pago está relacionado com a quantidade de hectare destinado ao plantio, sendo que o pagamento é efetuado até hoje anualmente, sendo realizado após o término da colheita.

A Usina Jalles Machado não faz arrendamentos de terras, o que é feito é um contrato de dois ciclos de cana que pode chegar a um período de até 12 anos. Nos contratos firmados é estabelecido que o proprietário tenha o direito de receber sobre a quantidade produzida de qualquer espécie cultivada em suas terras. Essa claúsula é assim estabelecida pelo fato de que antes da primeira plantação da cana é feito o preparo da terra e instalado o plantio da soja; posteriormente, entre o primeiro e o segundo ciclo da plantação é realizado novamente outro plantio de soja. A Jalles Machado utiliza do plantio da soja para refazer a fertilidade do solo.

O aspecto físico da área a ser firmado contrato também pesa sobre os valores a serem pagos, pois, ali é observada a fertilidade do solo, a presença ou não de nivelamentos da área plantada, a distância da destilaria, a presença de água para facilitar a irrigação. Salienta-se que as terras planas propiciam o

uso de colheitadeiras, enquanto que as terras de terreno irregular necessitam primordialmente do uso braçal. Segundo informações fornecidas, a empresa paga até 15% do valor por contrato feito aos produtores que se adequam a esses requisitos, já os agricultores que não se enquadram recebem cerca de 10% do valor da produção por hectare plantado.

Atualmente, o complexo Otávio Lage possui uma área plantada de mais de 35 mil hectares entre sócios e não sócios. Esse dado é a somatória de terras que plantam para a destilaria e produção de álcool e cana, sendo que uma quantidade de pouca extensão é destinada à alimentação do gado que está em processo de confinamento. Outro dado a ser informado é que esses valores citados também correspondem a UOL (Usina Otávio Lage), que passará a funcionar a partir de 2010, mas as terras necessárias para plantação já estão sendo utilizadas na produção da primeira usina fundada. Observe o quadro:

Quadro em Ha. que formam o complexo Otávio Lage

Em Ha. Matriz UOL Totais Porcentagens

Próprias 4.339,83 --- 4.339,83 12,19 Acionistas 17.065,99 432,58 17.498,57 49,19 Não acionistas 12.331,42 1.440,15 13.771,57 36,67 Totais 33.73,24 1.872,73 35.609,97 100,00

Fonte: Relatório Anual Administrativo 2008/09 Jalles Machado

O sistema, portanto, torna-se vantajoso para os proprietários inseridos nesse acordo, os quais não são acionistas da empresa. Tendo áreas de plantação de 50 a 300 hectares e desprovidos de capital para investir em suas terras, esse meio de ter renda torna-se antes de qualquer coisa, modo de sobrevivência. Enquanto que para a empresa verifica também a presença de grandes vantagens com os contratos firmados, afinal os proprietários da usina não possuem terras suficientes para produzir matéria prima para produção da destilaria e a compra de terras é algo quase que inviável, sendo assim, o capital que vem de acordos firmados torna-se capital de giro dentro de todo esse processo.

O desenvolvimento do sistema capitalista na cidade vai ganhando espaço a cada instante, pois, com o rodízio de capital que se observa na cidade com os empregos gerados pela usina, observa-se o nascimento de mais lojas ligadas ao setor varejista, indústrias de laticínios, indústrias do ramo de móveis, cerâmica e concreta. Quando se observa a cidade no seu cotidiano percebe-se implícita a presença do dinamismo que a usina provoca na economia de Goianésia.

O trabalhador rural que presta serviço à usina é chamado no município de rurícola, há alguns anos atrás o nome bóia fria foi deixado de ser usado na região. Todos os anos são contratados centenas de rurícolas para prestarem serviço à empresa durante a safra, e muitos destes, permanecem com o trabalho durante todo o ano devido às outras funções que devem ser desempenhadas no cotidiano da agricultura da cana. O salário de um rurícola é determinado por um acordo coletivo que acontece todos os primeiros meses de cada ano.

O valor a ser pago para um rurícola é estabelecido entre representantes dos sindicatos dos trabalhadores rurais, especificamente do bóia-fria, e representantes da Indústria de álcool do Estado de Goiás (SIFAEG), que no caso, representam os empresários da indústria sucroálcooleira. Ali são estabelecidos os valores a serem pagos aos trabalhadores, variando este valor de acordo com a cana a ser cortada. Explicando em outras palavras, a cana quando tem aspectos ralos e está toda em pé, facilita o corte e o rendimento do trabalho, ou seja, o valor pago pela produção do cortador é menor, já a cana quando apresenta aspectos mais densos e sentido horizontal necessita de maior esforço físico, consequentemente dá mais trabalho ao cortador, que ao final, recebe mais pelo serviço prestado.

É necessário pontuar que os valores não pagos ao rurícola não sofrem alteração pelo trabalho realizado ou não, ou seja, ele não recebe mais ou mesmos em espécie. Isso quer dizer que a área a ser limpa se torna maior ou menor, enfim é estabelecido o aumento ou não da área a ser cortada no local onde o serviço está sendo prestado. No ano de 2009, a Jalles Machado pagava a seu rurícola o valor de R$ 556, 67. Seguindo as leis trabalhistas era descontado o INSS (8.73%), além do plano de saúde no valor de 2% ; há também um desconto referente ao Clube de Lazer, o qual é facultativo, sendo

descontado somente daqueles que querem ser associados, no valor de R$1,45 ao mês. O valor aplicado pela usina em benefícios de seus funcionários pelo Plano de Assistência Social (PAS) no ano de 2008/9, segundo relatório anual apresentado aos sócios no fim desse mesmo ano, foram:

Gastos em assistência social 2008/2009

ÁREA VALOR APLICADO R$

Médico Hospitalar 2.227.193,98 Odontológico 84.873,83 Farmacêutico 272.878,14 Educacional 804.038,85 Recreativo 51.763,48 Sociais Diversos 177.420,94 Total 3.618.079,22

Fonte: Relatório Administrativo Anual 2008/2009

Quando feita a pesquisa de campo e a busca do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Goianésia, que por sinal possui sede própria no município, foi exposto que a Usina segue todos os parâmetros legislativos, ou seja, não havia nenhuma reclamação quanto aos funcionários que prestaram serviços à empresa que não tivessem carteira de trabalho assinada ou mesmo que não tivessem seus direitos garantidos. A contratação de serviços é feita na própria usina, e normalmente no período da safra é seguido um parâmetro de recontratação.

Além do salário base que é estipulado anualmente em convenção, o funcionário da empresa recebe um incentivo, é distribuída uma cesta básica quinzenalmente, ou seja, o rurícola que alcançou a meta estabelecida na primeira quinzena do mês recebe uma cesta básica, e no fim do mês quando alcança a última meta estabelecida recebe outra, caso esta não seja alcançada, o funcionário ainda recebe uma cesta, só que com menos itens. É interessante fazer outra consideração a esse respeito, os rurícolas são divididos em equipes e cada coordenador de equipe também recebe o mesmo

incentivo, sendo assim, é quase que nula a possibilidade de não conseguir alcançar a meta estabelecida.

O transporte dos trabalhadores da usina é feito através de ônibus, que são locados de forma terceirizada, estes iniciam sua saga de pegar os funcionários em locais estabelecidos a partir das 5 horas da manhã, pois às 6 horas da manhã o ônibus passa no ponto de distribuição para saber qual o destino do dia. O expediente encerra às 16 horas com retorno à cidade. Atualmente a jornada de trabalho na Jalles é de oito horas de trabalho, em que o rurícola inicia às 7 horas e termina às 16 horas, e no sábado a jornada vai das 7 horas às 11 horas.

Sua alimentação no campo é feita com o uso tradicional da marmita. O trabalhador possui uma hora para fazer sua refeição no próprio local que está sendo feita a colheita da cana. Ao retornar do almoço e mesmo cumprida a meta estabelecida para o dia, o rurícola deve permanecer no local até o horário estabelecido de retorno para cidade. Outra observação a ser pontuada é que a grande maioria dos funcionários da Jalles Machado são moradores da própria cidade de Goianésia.

3.3 - Importância da Usina Jalles Machado para o desenvolvimento

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