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A utilização de experimentos no estudo sobre formação de conceitos

1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 A FORMAÇÃO DE CONCEITOS CIENTÍFICOS

1.1.1 A utilização de experimentos no estudo sobre formação de conceitos

Os estudos sobre a formação de conceitos em crianças e adolescentes realizados por Vygotsky (1991) foi basicamente pautado através de experimentos. Ainda hoje, várias pesquisas voltadas nessa área têm como referenciais seus trabalhos para explicar a formação dos conceitos, como também utilizam metodologias baseadas nesses experimentos realizados pelo mesmo para se chegar a conclusões parecidas e verificar as possibilidades de facilitar a formação destes conceitos. Mas para se criar método ou subsídios para instrução das crianças em idade escolar no conhecimento sistemático, é necessário entender o desenvolvimento desses conceitos científicos na mente da criança. Diante disso, é fundamental diferenciar os conceitos cotidianos dos científicos com base nas fases

básicas da trajetória da construção de conceitos pela criança proposta por Vygotsky (1991) e caracterizar os processos envolvidos na formação de conceitos numa perspectiva do ensino na escola.

A pesquisa na COOPEC está balizada nesses pressupostos com a perspectiva de oferecer aos docentes subsídios para a realização de uma prática escolar voltada para a realidade dos alunos.

A dificuldade do estudo da formação de conceitos até há pouco tempo se dava pela falta de um método experimental que permitisse a observação da dinâmica interna do processo. Os métodos tradicionais relacionados à formação de conceitos não deram conta de atender esse processo. O método de definição verbal dos conteúdos, centrado apenas na palavra, não considera a percepção e elaboração mental do material sensorial sobre o objeto. O Método da abstração, centrado nos processos psíquicos, não leva em conta a importância da palavra nas etapas de formação de conceitos. O material sensorial e a palavra são partes indispensáveis da formação de conceitos (VYGOTSKY, 1991).

A criação de um novo método, centrado na investigação das condições funcionais da formação de conceitos permite a combinação dos métodos anteriores. Este novo método pode ser usado para crianças e adultos e independe do conhecimento de experiências anteriores destes sujeitos. Este método introduz, em situação experimental, palavras sem sentido e conceitos artificiais que liga cada palavra a uma combinação de atributos do objeto para os quais ainda não existem conceitos definidos. A palavra gatsum adquire gradualmente sentido de “grande e pesado” nos experimentos de Ach; a palavra fal, “pequeno e leve”. Suas pesquisas mostraram que a formação de conceitos é uma atividade criativa, de operação complexa, seguindo objetivos voltados para a resolução de algum problema e que a ligação entre a palavra e o objeto não é suficiente para a criação de um conceito.

O grande desafio da escola é transpor essas experiências para o plano da sala de aula, uma vez existem alguns obstáculos para a transposição de tais pesquisas: os professores (as) têm pouco acesso às experiências voltadas para a sala de aula; a falta de compreensão dos professores (as) sobre a temática relacionada à formação de conceitos; resistência da escola em relação à pesquisa e exigência das famílias por uma educação viabilizada pela transmissão de conteúdos. Usamos como suporte para o desenvolvimento das experiências e/ou atividades de ensino sobre microorganismos, plantas e animais, na COOPEC, os

métodos da definição verbal dos conteúdos e da abstração. O uso do primeiro está relacionado às impressões teóricas dos conteúdos por parte dos alunos; o segundo se refere ao momento de envolvimento dos estudantes com as atividades de intervenção nas quais eles emitiam suas formas de percepção e compreensão dos assuntos estudados.

As crianças (até 12 anos) são capazes de realizar experimentos, entretanto, se mostram incapazes de formar novos conceitos. Elas diferem dos adolescentes não pela compreensão dos objetivos, mas sim pelo modo como suas mentes trabalham para alcançá-los. Udinaze, citado por Vygotsky (1991), em experimentos minuciosos, mostrou que a criança (pré-escolar) aborda os problemas relacionados aos conceitos da mesma forma que os adultos, entretanto, com modos diferenciados de resolvê-los.

Este autor salienta que as crianças começam cedo a utilizar palavras e a estabelecer, com ajuda destas, uma compreensão mútua com os adultos e entre elas próprias, enquanto os conceitos definitivos aparecem tardiamente nelas. A criança é capaz de compreender um problema e visualizar o objetivo colocado por esse, assim como os adultos o fazem. Elas apresentam equivalentes funcionais de conceitos em relação aos adultos, todavia, com formas de pensamentos diferentes na execução das tarefas, em sua composição, estrutura e modos de operação. Estas formas de pensamentos quão são elevadas a depender dos meios pelos quais o homem organiza e dirige suas ações. Nas palavras de Vygotsky:

A questão central quanto ao processo de formação de conceitos (...) é a questão dos meios pelos quais essa operação é realizada. (...) Todas as funções psíquicas superiores são processos mediados, e os signos constituem o meio básico para dominá-las. O signo mediador é incorporado á sua estrutura, como parte indispensável, na verdade, a parte central do processo como um todo (VYGOTSKY, 1991, p 14).

Na formação de conceitos, esse signo é a palavra, que em princípio tem papel de meio na formação de um conceito e, posteriormente, torna-se o seu símbolo. O processo de formação de conceitos não pode ser reduzido à associação, à atenção, à formação de imagens ou à inferência. Tudo isso é indispensável, no entanto, insuficiente sem o uso do signo, ou palavra, como meio de condução das operações mentais, de controle de seu curso e canalização em direção à solução do problema a ser enfrentado. As tarefas realizadas pelos jovens ao ingressar no seu mundo cultural, profissional e cívico dos adultos são fatores importantes para o surgimento

do pensamento conceitual. Estas tarefas afetam o conteúdo e o método de raciocínio envolvido na formação de conceitos auferindo a transformação intelectual na adolescência (causa psicológica) mediante a construção de novo significado com o uso da palavra. Nessa fase, aprender a direcionar os próprios processos mentais com a ajuda da palavra ou signo é uma parte integrante da formação de conceitos.