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ESSA OPORTUNIDADE?

4.5. A verticalização do Ensino nos IF: por que não?

A partir do subtítulo acima podemos assumir que somos a favor: 1) da implementação, expansão e de- senvolvimento dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia; e 2) da verticalização do Ensino, que, de forma estrita, consideramos o encontro entre a Educação Básica (no caso do Ensino Médio Técnico) com o Ensino Superior (especialmente com as Licen- ciaturas, as graduações de base tecnológica e pós-gra- duações nessa direção). Não obstante, somos a favor de que esse seja um caminho a ser construído de for- ma crítica, para que não se precarize nem a EB nem a ES. Um depoimento poderia até servir como epígrafe dessa parte porque expressa um pouco do princípio (daquilo que queremos) diante daquilo que construí- mos ou não construímos:

A relação entre os níveis de ensino é possível. (Espero não estar equivoca- do.) Para de fato construirmos esta relação, precisamos nos dedicar. E isso não me parece que esteja sendo feito (Espero estar equivocado) [Pro- fessor com mais de 6 anos de Insti- tuto, com experiência que vai desde o Médio Técnico até a pós-lato, pas- sando pela gestão, com participação

efetiva na política sindical interna].

Pela passagem, assume-se cautelosamente (atra- vés dos parênteses) que há uma mescla de percepção e esperança, permitindo inferir que o projeto dos IF só vai prosseguir se houver aderência e dedicação. Que- remos a verticalização?

Não adiantará, seguindo nossa linha de argumen- tação, defender os IF e seu projeto de verticalização em cima dos supostos defeitos das Universidades, comu- mente acusadas de encasteladas, distantes da Educa- ção Básica, ausentes das regiões periféricas (item que a expansão dos IF pretendeu encarar), insuficientes para atender a uma enorme demanda etc. Mesmo por- que, embora considerando as distorções e/ou incapa- cidades das Universidades, por que não implementar políticas em seu interior em vez de transferir essas ta- refas para os IF?

Também não seria conveniente justificar em cima das deficiências da Educação Básica no Brasil, espe- cialmente para o Ensino Médio, pois poder-se-ia pro- por que os investimentos nos IF fossem para outras Escolas que não fossem os IF. Por fim, considerando a novidade que é essa proposta dos IF e considerando a reflexão cautelosa que estamos fazendo aqui, melhor do que justificar categoricamente os IF, a pergunta que nos propomos fazer é: por que não?

Há um ingrediente inovador no Projeto dos IF, não entendido como aventureiro, que pode ser seu diferen- cial. Algo que já foi, inclusive, exposto por um dos inte- lectuais orgânicos envolvido no projeto dos IF, Eliezer

Pacheco:

Inicia-se a construção de uma ins- tituição inovadora, ousada, com um futuro em aberto e, articulada com as redes públicas de educação bási- ca, capaz de ser um centro irradiador de boas práticas. Os centros federais de educação tecnológica (Cefets), as escolas agrotécnicas federais e as escolas técnicas vinculadas às uni- versidades que aceitaram o desafio desaparecem enquanto tais, para se transformarem nos campi espalha- dos por todo o país, fiadores de um ensino público, gratuito, democráti- co e de excelência. Com os Institutos Federais iniciamos uma nova fase, abandonando o hábito de reproduzir modelos externos e ousando inovar a partir de nossas próprias caracte- rísticas, experiências e necessidades (PACHECO, 2011, p. 15).

Mesmo para quem, no início, se opôs legitimamen- te ao projeto dos IF, o fato é este foi instalado, vai para um década de existência, adentrou em regiões (geo- gráfica e filosoficamente) não exploradas pelo sistema educacional formal e tem um potencial de expansão, maior do que as Universidades, de levar a Educação Cientifica para mais pessoas. Isso se dá por conta das

peculiaridades de sua estrutura, mas muito, também, por essa proposta formalizada de verticalização e opor- tunidade de materialização de uma ideia: de que é pos-

sível realizar educação de qualidade, por conta de uma relação simbiótica (benéfica para os dois) entre a Edu- cação Básica e a Educação Superior, através de uma Educação Científica do Ensino Médio até a pós-gra- duação stricto sensu dentro de uma mesma Instituição.

Aqui, há um pouco da concepção da “Escola Unitária”.

4.6 Considerações finais

Por fim, viemos até aqui tentando argumentar a favor desse projeto dos IF, muito acompanhado pela experiência concreta. Experiência essa que tentamos desvelar com os depoimentos, com o paralelo da lei e com uma breve contextualização. Evitamos, até aqui, compartilhar os referenciais teóricos (nosso backgrou- nd) que nos dão aporte. Essa foi uma estratégia para que nossos argumentos partissem daquilo que é mais importante para a compreensão do fenômeno socioló- gico: a própria materialidade. Uma estratégia compar- tilhada por um de nossos referenciais teóricos, Acácia Kuenzer, afirma:

(...) vemos os trabalhos caracteriza- dos por tal nível de generalidade que não nos permite avançar nem no en- tendimento de como as relações se dão concretamente, com sua dina- micidade e especificidade, nem como

estas dimensões se articulam e reci- procamente se relacionam em uma totalidade em processo permanente de reconstrução, nem na definição de formas de intervenção na realidade como estratégia de sua transformação (...) (KUENZER, 1998, p. 63).

É muito comum pesquisadores, mesmos os que par- tem do “materialismo histórico”, discorrerem por muito tempo sobre suas ideias (e muitas vezes exclusivamente ideias), mesmo com um denso diálogo com diversos au- tores, para só num final pequeno tentar apreender a rea- lidade. Aqui, embora tivéssemos uma base teórica pres- suposta, que tem a “escola do trabalho e do trabalhador” como horizonte, o “trabalho como princípio educativo”, a “escola unitária” e “escola ‘des-endereçada’ do traba- lho” de Gramsci, a “educação politécnica marxista” ou a “escola integral” (não-dual), nos propomos partir de uma realidade concreta, dessa experiência que começa a ser refletida, aqui, por nós, com nossos entrevistados. Não obstante, o pressuposto é sempre de como horizonte:

(...) uma escola (...) que não (...) ne- gue [aos trabalhadores] seu saber produzido coletivamente no interior do processo produtivo, nos movi- mentos de luta por seus interes- ses, nas diferentes manifestações culturais, mas que, pelo contrário, seja um lócus onde este saber seja

mais bem elaborado e se constitua num instrumento que lhes faculte uma compreensão, mais aguda, bem realidade e um aperfeiçoamento de sua capacidade de luta (FRIGOTTO, 1993, p. 200-201).

Para nós, os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia são o que mais se aproxima dessa orientação de Escola (ainda que com suas variações de termos), mas que ainda está longe de se realizar. Está longe porque não pode ser para poucos, porque tem de ser para a maioria, tem de ser para a classe trabalha- dora!

Nosso desafio é continuar essas reflexões nessa di- reção. Delineamos aqui, neste trabalho, uma “hipótese de trabalho”: de que dentre os sujeitos participantes do

Projeto dos IF, especialmente para verticalização de en- sino, os gestores seriam uns dos mais importantes, mas exatamente eles são os que podem mais obstaculizar seu desenvolvimento. Essas são as cenas de um próxi-

mo capítulo.

Eppur si Muove!15

O ENSINO MÉDIO TÉCNICO