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A vigilância eletrónica

No documento Dissertação pronta a imprimir (páginas 99-104)

O progresso científico e tecnológico espetacular que se tem verificado, tem por seu turno influenciado o desenvolvimento da nossa sociedade, no seu «modus vivendi». Numa sociedade em que cada vez mais a questão das medidas e/ou penas privativas da liberdade é discutida, legisladores e juristas tentam encontrar soluções e medidas alternativas para a mesma. Neste âmbito, a revisão do CPP operada pela Lei n.º 59/98 de 25 de Agosto trouxe para o panorama jurídico a possibilidade de utilização de dispositivos técnicos de controlo à distância, vulgarmente designados por vigilância eletrónica (VE), para fiscalização da medida de coação de obrigação de permanência na habitação prevista no art.º 201.º do mesmo código.

A utilização destes meios técnicos de controlo à distância, nomeadamente, para efeitos de aplicação da medida de coação de obrigação de permanência na habitação, encontra-se atualmente regulada pela Lei n.º 33/2010, de 2 de Setembro47.

A vigilância eletrónica surge assim em Portugal como um mecanismo de controlo à distância para fiscalizar a medida de coação de obrigação de permanência na habitação, na esperança de que esta medida se apresente como uma alternativa fiável à prisão preventiva. Contudo, atualmente e para além de ser usada na fiscalização da medida de coação de obrigação de

46Dr. Vitor Teixeira de Sousa - Juiz de Instrução Criminal. Entrevista (não presencial)

– enviada por correio eletrónico em 05-05-2014 e rececionada em 23-05-2014 (cfr. Anexo 4).

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Esta matéria surgiu inicialmente regulada pela Lei n.º 122/99, de 20 de Agosto (entretanto revogada pela Lei n.º 33/2010, de 02 de Setembro).

permanência na habitação, prevista no artigo 201.º do Código de Processo Penal, pode ser utilizada na execução da pena de prisão em regime de obrigação de permanência na habitação, prevista no artigo 44.º do Código Penal; na execução da adaptação à liberdade condicional, prevista no artigo 62.º do Código Penal e ainda para fiscalização da modificação da execução da pena de prisão, prevista no artigo 120.º do Código da Execução das Penas e Medidas Privativas da Liberdade e da aplicação das medidas e penas previstas

no artigo 35.º da Lei n.º 112/2009, de 16 de Setembro48 (usada na fiscalização

da proibição de contactos entre vítima e agressor no âmbito do crime de violência doméstica).

Tratando-se de um mecanismo legal de vigilância, acentuadamente invasivo do direito à reserva da vida privada, o artigo 3.º, n.º 1 da Lei n.º 33/2010, de 2 de Setembro, veio densificar o princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio da proporcionalidade, já consagrados na Constituição da República Portuguesa. Outro reflexo da natureza invasiva do meio em causa é a exigência que resulta do referido diploma em se obter o consentimento do arguido, conforme determina o artigo 4.º, n.º1, da Lei n.º 33/2010, de 2 de Setembro. Este consentimento, do arguido, é prestado pessoalmente perante o juiz, na presença do defensor, e reduzido a auto, conforme prescreve o n.º 2, do mesmo artigo e diploma.

Decorrido o programa experimental de vigilância eletrónica foi objetivamente possível observar a progressiva adesão das magistraturas a esta medida. Os responsáveis pela estrutura de missão para o sistema de monitorização eletrónica de arguidos referem que a experiência acumulada e todos os indicadores existentes apontam, com elevado grau de segurança, para que estejamos perante um sistema fiável, atendendo à adequabilidade dos procedimentos adotados para controlo dos arguidos, apresentando-se deste modo a medida de coação de obrigação de permanência na habitação fiscalizada por vigilância eletrónica como uma efetiva alternativa à prisão preventiva.

Face ao exposto é de considerar que esta medida é vista como um meio de controlo penal seguro e credível. A medida permite que os arguidos

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Estabelece o regime jurídico aplicável à prevenção da violência doméstica, à proteção e à assistência das suas vítimas

mantenham uma vida social participada (os arguidos em obrigação de permanência na habitação fiscalizada por vigilância eletrónica podem beneficiar

de autorizações de ausência regular para várias finalidades)49, evitando o seu

contato com o universo prisional.

A aplicação da medida de coação de obrigação de permanência na habitação fiscalizada por vigilância eletrónica configura-se como uma alternativa à prisão preventiva já que na maior parte dos casos é aplicada em substituição da prisão preventiva constituindo esta a medida de coação prévia. Por seu turno, a vigilância eletrónica tem-se revelado como um meio de controlo fiável e eficaz da referida medida de coação.

A medida de coação de obrigação de permanência na habitação com

vigilância eletrónica apresenta-se como uma solução vantajosa,

essencialmente, porque não tem o efeito criminógeno das prisões, permitindo ao arguido a preservação da liberdade (ainda que de forma diminuída) e dos seus laços familiares e sociais.

Por seu turno, a vigilância eletrónica ao permitir a fiscalização permanente do cumprimento pelo arguido da obrigação judicial, faz com que a ação de controlo seja bem percecionada e interiorizada pelos indivíduos vigiados, o que se torna à partida um fator inibidor de violações. Paralelamente às vantagens sociais já apontadas e ao proclamado controlo e efeito de contenção de comportamentos, a medida de coação de obrigação de permanência na habitação com vigilância eletrónica apresenta ainda vantagens económicas. A este propósito a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) refere que «todas as experiências mostram que a vigilância eletrónica permite a diminuição de custos relativamente à solução prisional, pois não implica infraestruturas pesadas, recursos humanos intensivos e elevados encargos de funcionamento».

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Aplicação da prisão preventiva em

Portugal e na União Europeia

1. População prisional, em Portugal, segundo a

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