• Nenhum resultado encontrado

A violência prisional sob o olhar da Comissão de Direitos Humanos

2. A VIOLÊNCIA DA PRISÃO NO BRASIL

2.2 VERIFICANDO A VIOLÊNCIA NAS UNIDADES PRISIONAIS

2.2.4 A violência prisional sob o olhar da Comissão de Direitos Humanos

OABES

156

Processo 142423/2009: O Delegado de Polícia plantonista do Departamento de Polícia Judiciária de Vila Velha – ES [simplesmente conhecido como DPJ de Vila Velha] solicitou ao juiz plantonista no TJ-ES, em 09 ago 2009, que “As situações flagrâncias apreciadas no curso deste plantão, até `as 8:00h do dia 10.08.2009, cujos delitos sejam praticados sem violência ou grave ameaça, independentemente da pena prevista e da extensão da lesão, sejam RELAXADAS [...]”. Esta foi a alternativa escolhida por aquele delegado para que a superlotação pudesse ser pelo menos um pouco aliviada. Ora, a carceragem daquela delegacia atingira a marca de 280 presos, significando 2.33 presos por metro quadrado.

Relatório – CDH – OAB-ES. Sistema Prisional do Espírito Santo: seguem excertos dos relatórios que compuseram este relatório desta comissão de direitos

humanos: Relatório de Inspeção Sanitária feito pela Secretaria municipal de Saúde

de Vila Velha: O presídio contém 06 celas de 9.0 m2, mas, na data desta inspeção

sanitária, havia 248 presos. Portanto, havia uma média de quase 28 presos por cela. Somente uma única cela possui vaso sanitário funcionando. “O local é insalubre, sem ventilação suficiente, e a aglomeração possibilita propagação de doenças respiratórias e infecto-contagiosas; observou-se também queixas dos internos com relação à dor de cabeça, prurido no corpo e presença de tuberculoso”. Não há banho de sol. “Ressalta-se a necessidade do banho do sol para ativação de processos fisiológicos vitais (relacionada à síntese de proteínas)”. “[...] o Estado não garante a integridade física dos presos, sendo comum a ocorrência de assassinatos com requintes de crueldade, como, por exemplo, no noticiado no dia 23 de maio de 2006, [quando um indivíduo preso foi ] morto durante o banho de sol, tendo sua cabeça decapitada e seu coração arrancado”; Relatório do CDDPH, de abr/2006: Sobre a CASCUVI: “O ambiente em torno do pavilhão 1 assemelha-se a ‘chiqueiro para porcos’ tal o volume de lixo amontoado ao redor [...]”. Verificou-se a existência de sistema de esgoto a céu aberto e vasos sanitários cheios de dejetos, por falta de água, e, ainda, celas infestadas de baratas. Sobre a Casa de Passagem de Vila Velha: São 757 presos para 250 vagas, muitos dormindo nos corredores, em razão da falta de espaço.

Processo 144799/2010: Em ofício ao presidente da OAB-ES, em 28 ago 2009, o delegado chefe do DPJ de Vila Velha afirma: “Tendo em vista que a população carcerária chegou ao limite absurdo de 300 presos, sendo que a capacidade normal Vossa Excelência tem conhecimento que é de 36 presos” (grifo no original). Causa espanto esta superlotação, a maior verificada nesta pesquisa. Como se verifica no relato acima deste mesmo delegado, que solicitara autorização para “relaxar” as prisões daquele plantão, a fim de amenizar a superlotação, naquela época havia 280 presos. Parecia ser fisicamente impossível pôr mais gente no interior desta unidade prisional.

Processo 155988/2010: Na, representação, protocolizada na Procuradoria Geral de Justiça do Estado do Espírito Santo, lê-se, na página 11: “[...] crianças e até bebês têm sido submetidos à Revista Íntima, sendo que há relatos de manipulação dos órgãos genitais das crianças”.

Breve relatório para a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção ES157 (maio de 2009):

a) Centro Prisional Feminino de Cachoeiro de Itapemirim: há 02 suítes para os encontros íntimos, mas, mesmo após quase 06 meses da inauguração da unidade, nunca puderam ser utilizados, pois não lhes dão acesso ao seu direito. Segundo informação da diretora adjunta, por ordem da juíza, os filhos menores de idade só podem entrar, no presídio, acompanhados de quem possua sua guarda judicial. E, mais grave: se não há alguém não preso que possua a guarda, as mães são estimuladas a transferi-la para outra pessoa. Com isso, há mães sem contato com seus filhos há bastante tempo. No berçário, acompanhados das mães, os filhos só podem permanecer até os 06 meses de idade. Após isso, os bebês devem deixar o presídio. “Ora, enquanto se faz campanha pela amamentação infantil, o sistema prisional limita-a a 06 meses”. Isto afronta o inciso L, do artigo 5˚ da CF, que prescreve: “às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação”.

As presas podem escrever, em formulário oferecido pela unidade prisional, cartas uma vez por mês. O formulário pode ser utilizado na frente e no verso. Todavia, informou-nos a diretora adjunta, que cada carta que sai e que chega é devidamente aberta e lida, constituindo-se em verdadeira prática de controle total da vida daquelas mulheres.

Isto é uma violação do sigilo, prática inconstitucional - Art. 5˚, XII, da CF: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal” (grifo meu).

Segundo a diretora adjunta, as presas têm conhecimento deste procedimento. Ao informar isto, esta autoridade pensa (?) que o consentimento das presas legitima o ato. Ora, como imaginar que possa haver um consentimento livre de indivíduos presos [...]

157

Relatório enviado por e-mail à Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção Espírito Santo, em 30 maio 2009.

b) Penitenciária Regional de Linhares: A visita íntima é permitida, mas ela só alcança cerca de 10% dos presos.

Há muitas presas cujos maridos ou companheiros estão presos neste mesmo presídio (há uma ala grande para os homens e uma pequena ala, distante cerca de 30 metros da ala dos homens, para as mulheres) e, embora no passado elas pudessem realizar seus encontros íntimos com eles, hoje elas são privadas dos encontros para a atividade sexual. Tão próximas e, afetivamente, tão distantes dos seus companheiros!

Para o berçário, a regra é a mesma do presídio anterior: presença do filho até completar 06 meses de idade. Havia, neste berçário, 07 mães com seus bebês. O próprio diretor e a assistente social nos informaram que “[...] cada carta que sai e que chega é devidamente aberta e lida, constituindo-se em verdadeira prática de controle total da vida daquelas mulheres e homens”. Isto é uma grave violação do sigilo de correspondência, uma prática inconstitucional.