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2 ANÁLISES POSSÍVEIS DA IMPLEMENTAÇÃO E DA OPERACIONALIZAÇÃO

2.2 O PROEMI NO CONTEXTO DA PRÁTICA

2.3.5 A visão do Coordenador Institucional do ProEMI

Neste tópico, será apresentada a visão do Coordenador Institucional do ProEMI, cujas percepções foram obtidas por meio de entrevista com roteiro semiestruturado, conforme descrito na metodologia desta dissertação.

A Coordenadora Institucional é professora efetiva do quadro de magistério estadual. Ingressou na SEDUC em 2002, atuando em uma escola de Ensino Médio da capital. Em 2013, passou a fazer parte do grupo de trabalho de Língua Portuguesa da Gerência de Ensino Médio. Em fevereiro de 2015, começou a exercer a função de coordenadora do ProEMI.

O Apêndice D contém os recortes dos dados obtidos na investigação junto à Coordenadora Institucional.

O objetivo, ao analisar o depoimento da Coordenadora Institucional, é compreender as etapas operacionais do ProEMI, que abrangem desde a seleção das escolas pela SEDUC, passando pelo monitoramento até a avaliação do programa.

Em seu depoimento inicial, a Coordenadora Institucional mencionou que a indicação para exercer a função de coordenadora foi em razão de ter o ProEMI como objeto de investigação de sua dissertação de mestrado. Também mencionou não ter recebido nenhuma capacitação para o exercício da função e que sua apropriação da regulamentação da base legal do programa foi adquirida por meio

das pesquisas realizadas para a construção do seu caso de gestão de um mestrado profissional.

Quando questionada sobre como acontece a seleção das escolas para participarem do programa, a Coordenadora Institucional mencionou que, segundo informação recebida da antiga coordenadora, a seleção acontece por indicação do Secretário de Educação em conjunto com as coordenadorias da capital e do interior.

No tocante à adesão das escolas ao ProEMI, a Coordenadora descreveu que foi relatado a ela que o processo inicia com a assinatura do Termo de Adesão ao programa pelo Secretário da SEDUC e, em seguida, as escolas são cadastradas no PDDE Interativo. Vale destacar que nesses depoimentos não foi mencionado o cuidado da SEDUC em orientar as escolas quanto ao preenchimento das ações do PRC no PDDE Interativo e também fica nítido que os procedimentos não são sistematizados, tanto que a fala da coordenadora é baseada em informações de pessoas envolvidas no programa.

Já quando questionada em relação ao que a SEDUC faz para capacitar a equipe gestora das escolas que aderiram ao programa, a coordenadora relatou o que lhe foi repassado pelas antigas coordenadoras:

[...] a SEDUC/AM convocava uma reunião envolvendo setores da SEDUC-SEDE, ligados ao programa, como GEM, GACE e Financeiro e as escolas aprovadas, na figura de seus Gestores e Presidentes de APMCs para informação do modo de

operacionalização do programa (ENTREVISTA COM A

COORDENADORA INSTITUCIONAL DO PROEMI, 2015).

Pelo que percebemos, a capacitação se resume em uma reunião com Gestores e Presidentes das APMCs, para a qual os professores articuladores não são convidados, somente os presidentes da APMCs. Logo, podemos inferir que o aspecto administrativo do programa é privilegiado em relação ao pedagógico e que uma reunião não tem sido suficiente para que os gestores compreendam o programa.

Nesse sentido, Schneckenberg (2000) orienta que a implementação de uma reforma educacional exige um trabalho profundo, não se trata apenas de uma questão de cursos, reuniões ou treinamentos. Na verdade, segundo a autora, “a mudança está fundamentada nos valores dos indivíduos que compõem o contexto escolar” (SCHNECKENBERG, 2000, p. 121).

Em relação à sua atuação na implementação e na operacionalização do ProEMI, a coordenadora afirmou não ter tido a oportunidade de participar de nenhum processo de implementação, pois, em 2015, não houve adesão de novas escolas ao programa. No tocante à operacionalização, afirmou estar envolvida em atividades de troca de senhas e liberação dessas aos gestores, na identificação das escolas que não fizeram uso dos recursos oriundos do ProEMI, além de ter iniciado levantamento da trajetória do programa e do desempenho educacional das escolas executoras do programa, a partir de uma linha do tempo. É válido ressaltar o fato dela “ter iniciado” o levantamento da trajetória, o que significa que na SEDUC não havia qualquer acompanhamento dos resultados educacionais das escolas envolvidas no programa.

Quando foi solicitada que apontasse as maiores dificuldades encontradas na execução do programa, a coordenadora respondeu que é o fato de as escolas, mesmo tendo seus PRCs aprovados, não terem clareza sobre seu aspecto pedagógico e também mencionou a falta de documentação sistematizada sobre o ProEMI.

Já quando questionada sobre as maiores dificuldades identificadas por ela, enquanto coordenadora, na operacionalização do ProEMI, elencou:

a) o entendimento do processo aos poucos, ainda estou aprendendo a parte prática do programa, devido ao fato da prática ser diferente do que consta no documento orientador do ProEMI; b) ficar quase que 100% envolvida em questões administrativas e financeiras em detrimento do aspecto pedagógico;

c) estar sozinha no programa, quando o Documento Orientador cita uma equipe;

d) a percepção cada vez mais clara de que as escolas não entendem o que é ProEMI, o que me angustia muito;

e) o desconhecimento das escolas da parte normativa da educação básica, ou seja, parece que as escolas não conhecem a Diretriz Curricular do Ensino Médio de 2012, não conseguindo fazer um link entre ela, o Projeto Político Pedagógico e os Macrocampos. Como não sou pedagoga, sinto falta de um olhar pedagógico para análise dos PRCs já aprovados em 2013 e 2014 (ENTREVISTA COM A COORDENADORA INSTITUCIONAL DO PROEMI, 2015).

Esse depoimento deixa claro os desvios por parte da SEDUC e das escolas na operacionalização do programa. Nele, a coordenadora afirma que a prática é diferente do que consta no Documento Orientador do ProEMI. De um lado, as

escolas que, pela pouca compreensão que têm do programa e pelo desconhecimento das DCNEMs, não conseguem fazer as articulações necessárias ao redesenho curricular. Por outro lado, a SEDUC por não fazer valer na prática a composição do Comitê Gestor do programa e por cuidar exclusivamente dos aspectos administrativos e financeiros do ProEMI, deixando para segunda análise os PRCs das escolas aprovadas.

Sobre esse campo de conflito entre teoria e prática, já que uma realidade não é transformada apenas por uma determinação legal, Schneckenberg (2000, p. 113) assevera que “políticas públicas são definidas, implementadas, reformuladas ou desativadas, com base nas representações sociais que cada sociedade desenvolve sobre si própria”. Assim, “uma coisa é o que se estabelece e outra o que se consegue realizar” (SCHNECKENBERG, 2000, p. 113).

Em relação à orientação dada às escolas quanto ao preenchimento do PRC no PDDE Interativo, a coordenadora respondeu que pelo que observou, esse repasse se deu em reuniões promovidas pelos setores ligados ao programa. Mais uma vez, percebemos a falta de sistematização dos procedimentos, ela apenas relatou o que observou, o que não garante a efetividade do procedimento.

Foi perguntado a ela, ainda, se, depois da adesão ao programa, as escolas buscam a GEM para esclarecimentos e se as dúvidas estão mais relacionadas aos aspectos pedagógicos ou financeiros do ProEMI. A coordenadora respondeu que um quantitativo expressivo de escolas procura a GEM para esclarecimentos, mas todas as dúvidas estão relacionadas aos aspectos financeiros, nenhuma escola buscou informações pedagógicas. Segundo ela,

Existe uma demanda de escolas que procuram a GEM. Entretanto, o que vivenciei de fev 2015 até a presente data foram dúvidas relacionadas aos aspectos financeiros, nenhuma escola buscou

informação da parte pedagógica (ENTREVISTA COM A

COORDENADORA INSTITUCIONAL DO PROEMI, 2015).

Aqui podemos depreender que as escolas, mesmo não tendo a real clareza dos objetivos do programa, mostram-se mais preocupadas com a prestação de contas dos recursos financeiros do que em compreender de que forma essa verba pode transformar seus trabalhos pedagógicos.

A respeito dos PRCs cadastrados no PDDE Interativo, foi questionado à coordenadora se o MEC realiza análise desses projetos e o que tem sido identificado nesse processo. Foi dito por ela que

A análise do MEC iniciou nos PRCs do ano de 2014, porém, não consigo identificar a data precisa que começou essa dinâmica, já que o PDDE Interativo não traz essa informação, o que acho uma falha do MEC. Os avaliadores MEC têm identificado incoerências na elaboração dos PRCs, indo desde ação considerada inadequada que não cumpre com o proposto pelo programa, ou seja, a articulação do eixo do Ensino Médio Trabalho, Cultura, Tecnologia e Ciências, até

duplicidade de itens financiáveis (ENTREVISTA COM A

COORDENADORA INSTITUCIONAL DO PROEMI, 2015).

Segundo Correia e Melo (2014, p. 9), “as mudanças curriculares são parte de uma política de desenvolvimento do país, e, portanto, o currículo deve expressar coerência e articulação com esse projeto”. Destacam ainda que, essas políticas não podem ser consideradas apenas nos documentos inscritos, mas sobretudo na reorganização do trabalho pedagógico.

Também foi perguntado a ela se a SEDUC vem realizando essas análises. A coordenadora respondeu que ainda não teve tempo de iniciar as análises dos PRCs das escolas aprovadas nos anos de 2013 e 2104 e que tem feito apenas levantamento das análises feitas pelo MEC para futuro agendamento de visita às escolas para prestar esclarecimentos dos pareceres exarados pelo MEC. De acordo com ela,

como são um total de 57 escolas no ProEMI, incluindo as aprovadas nos anos de 2013 e 2014. Destas, já foram analisadas 40 pelo MEC, entretanto, ainda não tive tempo de iniciar a análise individual das mesmas. O que estou fazendo no momento é cadastrando com a ajuda da Estagiária da GEM as análises dos PRCs por coordenadorias e por municípios para futuro agendamento de visita “in loco” para esclarecimentos das situações constantes nas

avaliações (ENTREVISTA COM A COORDENADORA

INSTITUCIONAL DO PROEMI, 2015).

Interessante aqui destacar o uso do verbo iniciar, a partir do qual podemos perceber que, nesses anos de ProEMI, as análises não vêm sendo feitas.

Dessa forma, podemos compreender o porquê das escolas continuarem com dificuldades de apresentar propostas coerentes ao redesenho curricular, como não estão recebendo retorno da SEDUC sobre as ações cadastradas no PDDE

Interativo, não percebem a necessidade de revisá-los. Outro fato que inibe que as escolas revisem as incoerências contidas no cadastro do PRC está no fato de que essas inconstâncias não impedem a liberação de recursos pelo FNDE.

Além disso, foi dito pela coordenadora, quando questionada sobre como a SEDUC faz o monitoramento das escolas que aderiram ao ProEMI, não ter encontrado qualquer registro na GEM que indicasse esse acompanhamento.

Segundo Condé (2011, p. 81),

Decidida a política, ela deve ser monitorada para o conhecimento sobre se o previsto vem sendo executado e, finalmente, ela pode (ou deveria) ser avaliada ex post para conhecer seus parâmetros e resultados, seus indicadores de eficiência e efetividade.

Já quando questionada sobre a avaliação do programa junto às escolas, alegou que, em razão do número reduzido de servidores no programa, a avaliação não vem sendo realizada. Outro posicionamento da coordenadora que ilustra a falta de cumprimento da SEDUC na condução das etapas operacionais do programa está no fato de que nenhuma das escolas com mais de três anos de execução do ProEMI, até o momento da realização da pesquisa, ter seu PRC aprovado no CEE.

Em relação à estrutura organizacional do Comitê Gestor do programa e as atividades desenvolvidas por ele, a coordenadora mencionou que

nos anos de 2009 até 2011, há um documento formal com a composição do Comitê Gestor do ProEMI. Porém, a partir de 2012, não consegui localizar documentação acerca do Comitê. Atualmente, estou sozinha na Coordenação Institucional. Conheço as atividades desenvolvidas pelo comitê pela leitura dos Documentos Orientadores

do programa (ENTREVISTA COM A COORDENADORA

INSTITUCIONAL DO PROEMI, 2015).

Este relato também comprova que, na prática, a SEDUC desconsidera as orientações do MEC na condução do programa.

Em relação ao que ela tem percebido no uso dos recursos do programa pelas escolas, a coordenadora tem observado que as instituições vêm investido em materiais (papel, máquina de xerox e tonner), sem a devida conexão com o aspecto pedagógico. Isto é, não consegue perceber a relação deles com as ações cadastradas nos macrocampos.

Silva (2014) assevera que o modo como as propostas de mudança curricular se institucionalizam nos textos escolares, às vezes se aproximando das formulações originais e às vezes se distanciando, e a percepção de que muitas dessas proposições foram incorporadas apenas formalmente sem que gerassem mudanças na prática, demonstram a necessidade de perceber o processo de instituição de políticas curriculares como um movimento, nunca acabado, que varia de escola para escola em função dos sujeitos e das práticas consolidadas.

Para finalizar, foi solicitado à coordenadora que apresentasse sugestões de melhorias ao ProEMI. As sugestões foram: A efetiva composição e capacitação do Comitê Gestor, o monitoramento das escolas, com acompanhamento mais criterioso no preenchimento dos Diagnósticos e dos PRCs e a criação de uma rede de trocas de experiências entre as escola com o ProEMI.

Em geral, a entrevista da Coordenadora Institucional expressa que as etapas operacionais do ProEMI não são sistematizadas; há escassez de registros das ações realizadas de 2009 até 2015 e que o foco tanto da SEDUC quanto das escolas envolvidas no programa parece estar voltado aos aspectos administrativos e financeiros em detrimento dos aspectos pedagógicos.

Concluída a exposição e análise das questões propostas nos instrumentos de coleta de dados, em cujas respostas ou na ausência delas foi possível captar o grau de compreensão dos atores envolvidos na implementação e operacionalização do programa, pelas quais também foi possível perceber que, no contexto da prática, não se tem conseguido alcançar os objetivos do programa. Por essa razão, há necessidade de se apresentar contribuições para que se consiga diminuir o hiato entre aquilo que se decreta e aquilo que realiza. Nessa perspectiva, será apresentado, no Capítulo III, um Plano de Ação Educacional (PAE).

3 PLANO DE AÇÃO EDUCACIONAL PARA A MELHORIA DA IMPLEMENTAÇÃO E OPERACIONALIZAÇÃO DO ProEMI NAS ESCOLAS DA REDE ESTADUAL

Este capítulo tem por objetivo principal a apresentação de um Plano de Ação Educacional (PAE). Porém, entendemos ser necessário resgatar alguns dos principais aspectos da descrição do caso de gestão e da pesquisa de campo descritos anteriormente.

3.1 PRINCIPAIS ASPECTOS DO CASO DE GESTÃO DESCRITO E DA PESQUISA