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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.5 A VISÃO DOS ESTUDANTES

Foram aplicados vinte e um questionários aos estudantes voluntários, conforme Apêndice C, concluintes do 3º ano do ensino médio da unidade escolar pesquisada, que tinha em média dezessete anos de idade, sendo nove do gênero masculino e doze do gênero feminino, sendo que apenas um deles afirmou ter sido atendido pela Ronda Escolar, na condição de vítima. Os resultados obtidos seguem representados graficamente com as respectivas análises.

Gráfico 2 – Percepção dos estudantes das atividades realizadas pela Ronda Escolar

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

Os estudantes foram questionados acerca das atividades desenvolvidas pela Op. Ronda Escolar com o objetivo de analisar suas percepções quanto ao serviço prestado e seu impacto naquela comunidade. Assim, conforme os dados do Gráfico 2, as ações mais percebidas “às

vezes” são as visitas, as rondas internas e no entorno, orientações de segurança e condução à delegacia. Entre as que “nunca” são percebidas, as mais assinaladas foram a palestra, a abordagem, a busca pessoal, a participação em reuniões, em projetos e nas atividades desportivas, além da mediação de conflitos. A se considerar que a abordagem e a busca pessoal se aplicam às situações críticas mediante fundada suspeita e em local reservado nas circunstâncias extremas de modo que não venham a causar maiores constrangimentos, é compreensível que não sejam percebidas. Contudo, analisando as demais alternativas, a exemplo das palestras, a mediação de conflitos e a participação junto aos estudantes, fica evidente a baixa atuação no aspecto preventivo do policiamento realizado pela Op. RE.

Entre as ações “sempre” percebidas, estão a mediação de conflitos, a participação em reuniões, as orientações de segurança, a abordagem, as rondas internas e as visitas, além da participação em projetos e em atividades desportivas, sendo esta última atuação geralmente referente à presença do policiamento para garantia de segurança na realização de eventos, e não a uma atividade integradora e/ou socioeducativa.

Assim, percebe-se a falta de conexão entre as prescrições do policiamento comunitário quanto à prevenção mediante a aproximação e parceria para a resolução dos problemas, com o baixo potencial de resolutividade e de ressignificação da relação PM e comunidade, reforçando a percepção repressiva da atuação policial, visto que os estudantes mantêm as impressões da imagem comprometida dos profissionais de segurança do imaginário popular, acentuando a desconfiança, o medo e o afastamento.

Restando demonstrado, dessa maneira, o desvirtuamento e a desconexão entre o planejamento e os resultados, além da falta de participação dentre as dificuldades na implementação da política pública, explicitadas por Oliveira (2008), Rua (2012) e Secchi (2013), afora o descrédito, a falta de legitimidade, desconfiança e frustração social acerca do policiamento comunitário, abordadas por Muniz e outros (1997), Balestreri (1998), Silva (2014), entre outros.

Na busca dos atos de violência que mais afligem a comunidade escolar pesquisada, foram assinaladas as principais ocorrências percebidas pelos estudantes no Gráfico 3 adiante.

Gráfico 3 – Percepção dos estudantes das ocorrências mais comuns em sua escola

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

Percebe-se que as ocorrências mais comuns no ambiente escolar, entre aquelas “sempre” observadas pelos estudantes, são o dano/vandalismo, a agressão verbal/desacato, a embriaguez, além de furtos, roubos, invasões a escola e ameaças. Já entre as ocorrências “nunca” percebidas, figuram a agressão física/vias de fato, a presença de arma de fogo/arma branca, o uso/tráfico de drogas e a embriaguez.

Esses dados coadunam com as análises anteriores quanto à desinformação e à falta de participação nas questões de segurança que afetam a comunidade escolar. Por certo os atos de violência de imediato são isolados e gerenciados junto à direção e aos prepostos da Ronda, se for o caso, contudo, percebe-se pela dispersão dos resultados que não há uma informação ou diálogo acerca do tema entre os estudantes, sendo que os respondentes eram concluintes do

ensino médio e de uma mesma turma. Transparecendo que o desconhecimento, o pouco envolvimento e o diálogo acerca da violência no âmbito escolar caracterizam a comunidade pesquisada, comprometendo o potencial de resolutividade e acentuando as resistências pela imposição de uma ação pública a partir da oferta, sem a participação e o envolvimento dos principais interessados, conforme comentado por Muniz e outros (1997), Rua (2012) e Secchi (2013).

Na tentativa de registrar as percepções do impacto pelos estudantes quando da presença dos policiais da Op. RE na unidade de ensino, foi questionada a sensação de segurança e do atendimento prestado a esses atores, consoante disposto no Gráfico 4.

Gráfico 4 – Sensação dos estudantes com a presença da Op. Ronda em sua escola

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

Nesse item, dentre os 21 (vinte e um) voluntários a participar da pesquisa apenas um não respondeu. Dos respondentes 60% afirmaram sentir-se tranquilo na presença dos policiais da Ronda, 25% se disseram preocupados, 10% sentem-se seguros e 5% angustiado. Apesar de não haver um contato diário e mais próximo entre os estudantes e policiais para a difusão do conhecimento quanto a filosofia de policiamento comunitário, seu caráter preventivo e protetiva no atendimento escolar, respaldando a presença dos PMs na unidade de ensino independente da ocorrência de um ato relacionado à violência, os estudantes pesquisados em sua maioria sentem-se tranquilos. O que no dizer de Fung (2006 apud SECCHI, 2013), Secchi (2013) e Balestreri (2014) quanto à participação social e a cidadania necessárias à construção de uma cultura para a paz mostra-se comprometida, apesar da aceitabilidade e sensação de segurança a partir das considerações apresentadas no Curso Nacional de Promotor de Polícia

Gráfico 5 – Percepção dos estudantes quanto ao atendimento prestado pela Ronda Escolar

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

Quanto à percepção dos estudantes acerca do atendimento prestado pela Ronda Escolar (Gráfico 5), 56% dos respondentes não souberam informar. Compreensível considerando que o contato entre os estudantes e os policiais da RE geralmente só acontece quando do atendimento de ocorrências de violências, já no âmbito repressivo, logo a maioria deles não tiveram nenhum contato; 28% disseram sentir-se respeitado e 17% consideraram ter sido bem tratados. Três estudantes não assinalaram nenhuma das alternativas proposta.

Nesse sentido, constata-se a falta de aproximação e a subutilização do potencial preventivo e ressignificativo da relação PM e comunidade na atuação da Op. Ronda, contudo, como assevera Balestreri (1998), mesmo a atuação repressiva oferta uma visão pedagógica, que não deve ser desprezada pelos agentes de segurança e que favoreça então a reflexão e a mudança de comportamento dos autores pela qualidade do atendimento prestado, especialmente pela especificidade do público (crianças e adolescentes) em formação.

Buscou-se ainda as sugestões dos estudantes para a melhoria do serviço prestado pela Ronda Escolar sendo agrupadas conforme o Gráfico 6 adiante.

Gráfico 6 – Sugestões na forma de atuação da Ronda Escolar

Fonte: Pesquisa de campo (2015).

Percebe-se que as sugestões reforçam a necessidade da presença da Ronda no espaço escolar e entorno com a atuação mais efetiva e preventiva (visitas) com maior frequência. A maioria dos estudantes não apresentou sugestões, o que reflete em certa medida o desconhecimento acerca do serviço prestado pela RE, e/ou ainda o pouco envolvimento com a questão da segurança no ambiente escolar, talvez resultante da ausência do senso de pertencimento e responsabilidade coletiva decorrente da falta de participação no planejamento e implementação da ação realizada.

Nesse sentido, parece não haver por parte da instituição de ensino projetos ou programas voltados à prevenção da violência e/ou atividades de engajamento para os estudantes enquanto estímulo ao exercício da cidadania e promoção da cultura para a paz, reforçando a percepção de que a violência é um problema a ser resolvido pela polícia, sem preocupação com a prevenção, conforme argumentam Abramovay e Rua (2002), Fung (2006 apud SECCHI, 2013), Cano (2006 apud BRASIL, 2015), M. Freire (2009), Rua (2012), Silva (2014), Waiselfisz (2015), entre outros.

Segue-se as percepções dos pais ou responsáveis pelos estudantes acerca da visão desses atores quanto a segurança no ambiente escolar, presença e atuação da Ronda.

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