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Antes de iniciar as análises críticas das séries fotográficas é preciso entender o que acontecia em Porto Alegre, qual era o seu ambiente político e cultural. Como a cidade se desenvolvia naquele cenário de alterações, nos rumos políticos e econômicos internacionais e nacionais, na passagem da década de cinquenta para sessenta do século vinte.

Porto Alegre entrava nos anos sessenta, década de grandes mudanças comportamentais, se confronta com novos dilemas e contrariedades. Da pacata província emergia uma quase metrópole. A infra-estrutura urbana começava a se tornar insuficiente para a população que subiu de 380 mil para 635.125 habitantes entre 1950 e 196096. A cidade se alastra desordenadamente em direção à zona norte e à zona leste, as falta de água e gás e os cortes de energia elétrica começam a atormentar os porto-alegrenses. O custo de vida e a inflação, devido a uma confusa política econômica dos governos JK e JQ, subiram para um patamar assustador, causando prejuízos enormes para a economia gaúcha.

Em Porto Alegre a população reagindo a carestia de agosto de 1961, provocou uma intensa mobilização das lideranças sindicais e estudantis. No dia 14, foi criado o grupo de trabalho contra a fome. Era formado pelo conselho

sindical estadual, intersindical, comando sindical, união dos servidores públicos, federação dos estudantes da UFRGS, união dos trabalhadores da zona marítima, associação das donas-de-casa e associações de bairros. O grupo era contrario aos aumentos dos cinemas, da farinha de trigo e aumento do leite. E ainda foi marcada para o dia 28 de agosto, quando o presidente Jânio Quadros estaria em porto alegre uma assembléia geral do comitê que pretendia iniciar uma grande mobilização popular. Ao mesmo tempo em que várias categorias profissionais apresentam suas campanhas salariais os portuários, os alfaiates, os motoristas de ônibus, os eletricitários, o funcionalismo público.

No entanto a renúncia de Jânio Quadros surpreendeu a todos. Porto Alegre já vinha se mobilizando, conforme demonstra o panorama anterior, e direcionou a tensão social para a campanha da legalidade, não sendo por acaso que, esta campanha, foi apoiada por muitos dos porto-alegrenses.

Em termos de uma Cultura visual o início dos anos sessenta se apresentam no imaginário local como uma passagem entre, um legado visual dos anos cinquenta, em que a fotografia e a grande fonte visual com o desenvolvimento do fotojornalismo das revistas ilustradas, para uma perspectiva nos anos sessenta, de uma nova abordagem fotográfica no jornalismo, já com a influencia da difusão cada vez maior da televisão. Entretanto o tema abordado no trabalho é percebido dentro de uma perspectiva que se aproximada mais dos anos cinquenta, mas que cria as condições para que as transformações aconteçam. Em um cenário mais ampliado, é pelos anos sessenta que o mundo começa, realmente, a tornar-se a "aldeia planetária" de que McLuhan97 falava, pelo menos no sentido de uma maior familiaridade das pessoas com as ocorrências que agitam o Planeta. E neste sentido a fotografia tem muito que colaborar trazendo para perto e para do público, imagens de culturas e lugares remotos. A fotografia já tinha sido utilizada em todas as partes do mundo98. A televisão inicia o seu reinado enquanto medium dominante na Europa, alguns anos após os EUA. No rádio, é a revolução do transistor, com a consequente miniaturização e barateamento do equipamento. Novos meios de comunicação,

97 McLUHAN, Marshall. A galáxia de Gutenberg: a formação do homem tipográfico. São Paulo: Nacional, 1972.

de mais fácil acesso e mais baratos do que nunca, começam a surgir ou a serem investigados.

Os anos sessenta são também uma década de crescimento econômico. Atinge-se um nível de vida nunca visto embora frequentemente à custa do ambiente. Cresce também a mestiçagem cultural, de dominante americana. A expansão máxima do imaginário da liberdade, com a revolução sexual, o movimento estudantil e a contracultura; eram os anos rebeldes. A revolução Cubana em 1959, com Fidel Castro e Ernesto Guevara, que com uma revolução socialista assustam as democracias liberais capitalistas do continente americano e da Europa ocidental. Mas sobre todos os Estados Unidos. Mergulhados na guerra fria com a União Soviética.

No Brasil os anos sessenta iniciam embalados pela inauguração da nova Capital Brasília, e por uma nova onda a “bossa nova”, onde o músico Tom Jobim era um dos seus principais expoentes. Entre outras atitudes e novidades musicais, revelou um olhar sobre o cotidiano nas cidades principalmente do Rio de Janeiro.

Na música “Desafinado”99, Tom destaca a câmera fotográfica Roleiflex, como um objeto de desejo que ficou marcada no imaginário brasileiro como diz o trecho de sua música: [...] Fotografei você com a minha Roleiflex e revelou-se a sua enorme ingratidão [...].

Conferindo à fotografia um lugar no imaginário social naquele momento. Também a Música de Protesto, baladas com letras contundentes que expressavam as realidades do campo e da cidade dando voz às massas populares através de artistas politizados, do centro popular de cultura o CPC100 .

99 “Desafinado" foi composto no segundo semestre de 1958, numa noite de segunda-feira, que era quando Newton Mendonça folgava na boate. Aditivados por muita cerveja e conhaque, Tom e Newton resolveram tirar um sarro dos cantores menos afinados da noite carioca, deixando claro que a galhofa, assim como a desafinação, era "bossa nova" e "muito natural". Site oficial de Tom Jobim.

100 NAPOLITANO, Marcos. Cultura Brasileira. O Centro Popular de Cultura - CPC é criado em 1961, no Rio de Janeiro, ligado à União Nacional de Estudantes - UNE, e reúne artistas de distintas procedências: teatro, música, cinema, literatura, artes plásticas etc. O eixo do projeto do CPC se define pela tentativa de construção de uma "cultura nacional, popular e democrática", por meio da conscientização das classes populares. A ideia norteadora do projeto diz respeito à noção de "arte popular revolucionária", concebida como instrumento privilegiado da revolução social.

O fenômeno eleitoral Jânio Quadros no ritmo do jingle “Varre, Varre Vassourinha” que embalou sua vitória para nossa presidência em 1961. Assim o imaginário, político e social, brasileiro se encontrava, na sofisticada Bossa Nova, nas politizadas Baladas de Violão e nos jingles no ritmo das marchinhas carnavalescas que se popularizavam nas campanhas dos políticos. E é pelo rádio que a maioria da população brasileira se atualizava naquele momento..101