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Abelardo Luz: conflitos e conquistas – 1980 a 1990

No documento 2009TerezinhaPagoto (páginas 90-92)

1 A REFORMA AGRÁRIA EM SANTA CATARINA E OS CONFLITOS

2.10 Abelardo Luz: conflitos e conquistas – 1980 a 1990

Figura 09 Mapa da Microrregião da Amai do Oeste Catarinense com destaque para Abelardo Luz Fonte: www.turismo.tur.br/mapas: Acesso em 12 de março de 2009.

Analisaremos as condições que tornaram o município de Abelardo Luz, nas décadas de 1980 e 1990, ponto estratégico para grandes ocupações de terras.

O município de Abelardo Luz foi fundado em 1958. Localizado na região Oeste de Santa Catarina, limita-se a Oeste pelos municípios de São Domingos e Ipuaçu; ao Sul, com Ouro Verde, Faxinal dos Guedes e Bom Jesus; a Leste, com Vargeão e Passos Maia; ao Norte com Palmas e Clevelândia, do estado do Paraná, e é integrante da região da AMAI137:

O município de Abelardo Luz possui uma superfície de 1055 km², correspondendo a 20,8% do território da região da AMAI e 1,1% da área do Estado. É o maior município da região da AMAI em extensão territorial. Possui atualmente 17000 habitantes, sendo 9000 habitantes na zona urbana e 8000 na zona rural. Situado a 760 metros acima do nível do mar e uma distância da capital do Estado – Florianópolis - de 615 km. Grande produtor de grãos o município de Abelardo Luz tem na soja sua principal atividade agrícola, e em razão disso, é que se encontram neste espaço territorial três empresas produtoras de sementes: Sementes Stefani, Boa Ventura e Olvepar138

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Associação dos Municípios do Alto Irani com sede em Xanxerê – AMAI – subdivisão regional do Oeste catarinense, com objetivo de fortalecimento dos municípios.

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Para entendermos o processo de ocupação em Abelardo Luz, se torna necessário contextualizarmos a constituição o município dentro da região Oeste, com latifúndios formados por terras improdutivas.

O processo de colonização da região inclui o município de Abelardo Luz, como integrante dos contratos de colonização e arrendamento acordado entre o governo e as companhias colonizadoras. Diga-se também que a exploração, por parte de companhias riograndense da venda das terras, redundou num quase colonialismo expoliador, ainda que transitório. As populações emigradas do Rio Grande do sul, estabelecidas porém numa outra comunidade, por elas mesmas criada, que deveriam trabalhar longos anos, remetendo o fruto de seus esforços, para Companhias Colonizadoras Centrais, algumas delas situadas no vizinho Estado.Como falamos, nos itens anteriores, só após muitos anos, o Oeste se integrou política e economicamente ao Estado catarinense, se constituindo em região de muitas fazendas de criação de animais e de muitas serrarias. (indústria madeireira)

Estes foram alguns dos fatores que contribuíram para que a área do município possuísse grandes extensões de terras improdutivas.

A região Oeste, tem como característica de grande parte de seu território, constituir- se por relevo acidentado. Segundo alguns estudiosos, esta constatação inclui-se o município de Abelardo Luz, visto que, o relevo foi considerado entrave para o desenvolvimento da agricultura, porém, favorável ao desenvolvimento da monocultura e a criação de animais; contribuiu para a expansão do latifúndio, o baixo preço das terras que pela topografia e também foram consideradas esgotadas, e a riqueza proporcionada pela extração da madeira, usufruídas pelas companhias.

Outro fator que contribuiu para a formação do latifúndio improdutivo e, que parece ser o principal alvo das ocupações era a existência no local de grandes extensões de terra, pertencente as políticas de concessão de terra pelo governo federal, (as chamadas terras devolutas) que foram doadas e muitos desses proprietários, não efetivaram a posse, muitos nem conheciam as terras. Existia também, e terras de agricultores que foram arrebatadas pelos bancos para saldar dívidas. A informação seguinte encontra-se no BIM139:

Por se constituir de grande extensão territorial e possuir igualmente grandes áreas improdutivas é que o município foi também alvo de frequentes ocupações. É no município de Abelardo Luz que se encontra atualmente o maior assentamento do Sul do Brasil. São aproximadamente 1.500 famílias de pequenos agricultores, distribuídas em 23 núcleos, hoje todos assentados.

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A visualização das terras do município fazia parte da organização do MST. No contexto, ocupações no município de Abelardo Luz desencadearam questões preocupações internas, consideradas complexas pela municipalidade. De repente, a população do município foi praticamente duplicada. E por ser um município pequeno, a situação tornou- se praticamente insustentável. Os moradores despreparados sentiam-se ameaçados pelos acampados em seus direitos de ir e vir. O preconceito em relação aos acampados era enorme. Sem entender o que estava acontecendo, a sociedade civil reagia, exigindo do poder público, a expulsão dos acampados, justificando que a presença deles no município constituía-se em uma ameaça à paz e à ordem dos munícipes. A rotina do município mudou completamente, e seu foco passou a ser as ocupações. A situação movimentou a cidade e passou a ser notícia nos meios de comunicações de tal maneira, que de ameaçados pelas invasões, tornaram-se ameaçadores. R. T. S.140 diz:

As autoridades tratavam a gente como marginais. A gente estava lutando por terra para trabalhar, e as autoridades não entendiam, que nós não queríamos mal de ninguém, a gente só queria tirar o sustento nosso e de nossos filhos. A gente lutava por comida, não por esmolas. O poder público do município, também, foi contra nós. Mais nem por isso, baixemos nossa cabeça. A gente sabe que Deus deixou terra pra todos.

O fenômeno das ocupações de terras no Oeste catarinense chamou a atenção do País inteiro, mexeu com o brio de autoridades e outras pessoas reconhecidas no Estado de Santa Catarina, que não acreditavam na força de organização dos trabalhadores e nem conheciam realmente a necessidade desses sujeitos. A mobilização assustou os catarinenses, principalmente os grandes proprietários de terras.

No documento 2009TerezinhaPagoto (páginas 90-92)