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Porto Alegre – Brasil, 27 de Janeiro de 2003

Na plenária realizada no dia vinte e seis de janeiro do ano de dois mil e três, logo após o término da oficina “Visibilidade Lésbica”, foi fundada a LBL – Liga Brasileira de Lésbicas. Formada por lésbicas independentes e grupos de mulheres bissexuais e de mulheres homossexuais, unidas pela luta por maior visibilidade e espaço político mais abrangente para as mulheres em toda a sociedade, seja no âmbito dos movimentos sociais como nas questões de cunho econômico e governamental do Brasil. A LBL pretende estender-se a ser uma liga Latino-americana e/ou quiçá intercontinental, contando com o apoio de partidárias de toda a Latino-América e Alemanha.

A reunião surgiu dos vários problemas ocorridos antes, durante e após o III Fórum Social Mundial, como problemas com agendamento de temáticas, locais para a execução de oficinas e discussões, e a participação das lésbicas nas conferências em geral. Esse fato retrata a marginalização existente às mulheres lésbicas no Fórum Social Mundial e no movimento GLTB.

Entendemos que não se pode construir um Fórum Social Mundial: “Um Mundo Outro é Possível” se não estamos pontuadas nas principais discussões do evento: gênero, saúde, educação, fome, problemas econômicos, diversidade cultural e tantos outros necessários e relevantes. Estarmos incluídas nos amplos debates aponta o reconhecimento de estarmos aqui e sermos muitas. Queremos que a marcha mundial de mulheres incorpore a luta contra a homofobia. E, inseridas nessas mesmas, reivindicamos NÃO À ALCA, NÃO AO MASSACRE NA PALESTINA, NÃO AO FMI, NÃO AO IMPERIALISMO, NÃO Á VIOLÊNCIA MANISFESTA EM QUAISQUER FORMA.

Não basta termos um Planeta Arco-íris, mas sim ações afirmativas e construção de políticas públicas nas diversas agendas e eixos. É preciso lésbicas nas mesas, conferências e plenárias dos diferentes eventos do FSM. Sabemos que o mundo capitalista clama ao consumo para o aumento do PIB e o enriquecimento de grandes empresas e somos recordadas apenas de quatro em quatro anos como eleitoras. Não pode haver sociedade justa com a opressão e invisibilidade de vários grupos, em grande partes invisibilizados por outras minorias. Além de homossexuais somos mulheres e incrivelmente nem os movimentos de mulheres, nem os movimentos GLBT, nem o movimento de afro-descendentes, em grande parte do tempo, dão respeito e atenção às nossas questões.

Fundamos a LBL para explicitar nossas questões e reivindicações como visibilidade, saúde, direitos humanos, direitos econômicos, diversidades e vários outros. Entendemos o FSM com o espaço de luta e busca pela conquista de possibilidades para um mundo melhor, chamamos com urgência os Comitês Organizacionais do Fórum Social Mundial a incluir, a partir do IV FSM, as questões LBTTG- Lésbicas, Bissexuais, Transgêneros, Travestis e Gays no eixos de discussão.

Liga Brasileira de Lésbicas - LBL

Carta aberta aprovada na oficina de visibilidade lésbica ao Fórum Social Mundial. Porto Alegre, janeiro de 2003. Disponível na lista do grupo de discussão virtual http://br.groups.yahoo.com/group/visibilidadlesbiana

Aqui, através da afirmação “homossexuais” e “mulheres” as militantes fixam-se novamente pela binariedade que informa a sociedade heterossexual para construir o sujeito político “lésbicas”. E é exatamente tal fixação que expõe a dinâmica androcêntrica dos movimentos sociais, que invisibilizam a lesbianidade nos seus discursos e práticas, apontando que o silêncio também atua na produção de sentidos.

O discurso das militantes reunidas na oficina que daria impulso à formação da LBL denuncia então a apropriação dos lugares de fala pelos homens e fixa-se em um sujeito mulher, reivindicando sua diferença de “homossexuais”. Os sentidos que compõem a carta estão informados pelo atrelamento ao contexto do evento - o Fórum Social Mundial, que seria, segundo as pessoas responsáveis por sua organização,

“um espaço de debate democrático de idéias, aprofundamento da reflexão, formulação de propostas, troca de experiências e articulação de movimentos sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo. Após o primeiro encontro mundial, realizado em 2001, se configurou como um processo mundial permanente de busca e construção de alternativas às políticas neoliberais (...) O Fórum Social Mundial se caracteriza também pela pluralidade e pela diversidade, tendo um caráter não confessional, não governamental e não partidário. Ele se propõe a facilitar a articulação, de forma descentralizada e em rede, de entidades e movimentos engajados em ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de um outro mundo, mas não pretende ser uma instância representativa da sociedade civil mundial. O Fórum Social Mundial não é uma entidade nem uma organização” (http://www.forumsocialmundial.org.br, consultado em março de 2007)

É possível identificar uma proximidade ideológica entre esta produção das militantes e os diferentes grupos e movimentos presentes no Fórum, os quais orientam- se a partir das representações de um “outro mundo possível”, isento de desigualdades pela superação do sistema capitalista. A maioria das militantes lésbicas presentes na oficina possuía histórico de atuações em movimentos engajados nesse ideal e não é difícil perceber que o processo de organização da Liga Brasileira de Lésbicas é frequentemente visitado por ele.

A carta de princípios da Liga Brasileira de Lésbicas foi construída a partir de três propostas elaboradas em três eventos regionais: I Encontro Regional da LBL da Região Sul (setembro de 2003), I Encontro Estadual da LBL São Paulo (abril de 2004) e

Primeira Reunião da LBL Nordeste (novembro de 2004). A proposta da carta, segundo o relato da Reunião da LBL Nordeste, era importante porque:

Para a afirmação do movimento de mulheres lésbicas e bissexuais como sujeito político é necessário que o maior número de lésbicas e bissexuais compartilhem da carta de princípios a ser consolidada durante o I Encontro Nacional da Liga Brasileira de Lésbicas, realizado em São Paulo no período de 5 a 7/11 de 2004. Compartilhar dos princípios presentes na carta coletiva significa incorporar na prática política, na fala pública. A discussão precisa ser enfrentada politicamente, nos espaços coletivos de discussão. Para isso, é fundamental também que criemos uma cultura de sistematização dos nossos fóruns de discussão para ir contribuindo para a visibilidade de nossa história. (Relato da Reunião da LBL Nordeste. Terezina, 2006)

As propostas que intrumentalizariam a construção da Carta de princípios foram então apresentadas e discutidas no I Encontro Nacional da Liga Brasileira de Lésbicas, ocorrido em novembro de 2004 na cidade de São Paulo, ficando com a seguinte redação:

CARTA DE PRINCÍPIOS DA LIGA BRASILEIRA DE LÉSBICAS

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