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Abertura Econômica e Privatizações

3. PLANO REAL

3.3. Abertura Econômica e Privatizações

A abertura da economia brasileira iniciada na década de 1990 buscava reduzir as tarifas de importação e facilitar a entrada de empresas internacionais para que o excesso de demanda por produtos e serviços não causasse o desabastecimento e a remarcação de preços, pressionando a inflação, como aconteceu nos planos anteriores de estabilização. Além disso, esperava-se um aumento da produção no longo prazo, baixando preços e forçando o aperfeiçoamento da indústria nacional com a concorrência (CARDOSO, 1994).

O Brasil sempre necessitou de recursos, investimentos e financiamentos estrangeiros. Ao menor indício de crise, os investidores buscavam refúgio em moedas fortes ou especulavam contra a moeda brasileira na intenção de obter altos lucros em pouco tempo, esvaziando as reservas brasileiras em moedas estrangeiras e influenciando na desvalorização da moeda nacional.

As incertezas quanto à desestabilização macroeconômica, o desmantelamento do aparelho produtivo, a degradação do tecido social e deterioração político-institucional, resultam em crescente vulnerabilidade externa e surgimento de graves problemas econômicos e sociais, mesmo com a redução da taxa de inflação (GONÇALVES, 1998).

A liberalização comercial brasileira ocorreu de forma unilateral. Em 1994 foram feitos ajustes tarifários com a intenção de impor disciplinas mais rígidas aos preços internos. Durante o período inicial de implementação do Plano Real houve redução da tarifa média nominal de importação para 11,2%. Essa tarifa havia sido de 57,5%, em 1989, depois 32,2%, em 1990, e 14,2%, no início de 1994. Em 17 de dezembro de 1994 foi assinado o Protocolo de Ouro Preto estabelecendo uma Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul (Mercado Comum do Sul), que previa exceções para produtos incluídos em listas nacionais, bens de capital e bens de informática e telecomunicações (ABREU; WERNECK, 2014).

A abertura econômica visava a redução gradual de tarifas de importação e facilitação da prestação de serviços internacionais. Pois havia temor de que o excesso de demanda por produtos e serviços causasse o desabastecimento e a remarcação de preços, pressionando a inflação. Existia também a necessidade de forçar o aperfeiçoamento da indústria nacional, expondo-a a concorrência, o que permitiria o aumento da produção no longo prazo, e essa oferta maior de produtos tenderia a acarretar uma baixa nos preços.

Junto com a abertura comercial intensificou-se o programa de privatização com reformas estruturais, sob comando do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento), para reforçar a credibilidade do esforço de estabilização e ajudar a atrair capitais ampliando as possibilidades de financiamento externo.

As privatizações resultaram em troca na propriedade de grandes empresas brasileiras, eliminando a obrigação pública de financiar investimentos que causavam inflação se fossem realizados pelo governo através da emissão de moeda sem lastro. E possibilitou a

modernização de tais empresas, que sob controle estatal tinham barreiras impeditivas para tal progresso, como burocracia e falta de recursos (CARDOSO, 2013).

A privatização de empresas de serviços públicos precisou de reformas institucionais. Para isso foram criadas diversas agências reguladoras setoriais, com destaque para as agências reguladoras de serviços de telecomunicações (Anatel), energia elétrica (Aneel), petróleo (ANP), águas (ANA), vigilância sanitária (ANVISA) e saúde suplementar (ANS), transportes aéreos (ANAC), aquaviários (ANTAQ) e terrestres (ANTT) e cinema (ANCINE).

A Constituição foi alterada, em 1995, para flexibilizar o monopólio da Petrobras e para a entrada de empresas privadas em setores como telecomunicações e gás. Foi também aprovada a Emenda Constitucional nº 6, que suprimiu distinções no tratamento de empresas nacionais e estrangeiras. O processo de privatização exigiu também mudanças na legislação infraconstitucional. A reformulação da legislação sobre concessões de serviços públicos foi fundamental para viabilizar a privatização nos setores de petróleo, energia elétrica e telecomunicações (WERNECK, 2014).

Entendia-se que a iniciativa privada tinha meios próprios de financiar os investimentos das empresas. E isto não produziria inflação, desenvolvimento porque não envolveria o orçamento do governo. Este deveria alocar recursos para outras áreas importantes. E ainda, na iniciativa privada não havia as regras administrativas orçamentárias e licitatórias que prejudicavam a produção das empresas e a concorrência perante o mercado (FIÚZA, 2006).

Entretanto, as empresas brasileiras instaladas no país não teriam como suportar a queda no consumo de produtos nacionais, além de já estarem debilitadas pelos juros elevados, resultando na destruição de importantes setores da economia nacional ao invés de acontecer a modernização das empresas brasileiras (SOUZA, 2008).

A preocupação de ajuste fiscal e agilidade nos resultados de caixa no curto prazo marcaram a definição das empresas privatizáveis. As privatizações realizadas entre 1995 e 2002 representaram um total aproximado de US$ 93,7 bilhões, sendo US$ 78,6 bilhões provenientes de receita de venda e US$ 14,8 bilhões com redução de dívidas transferidas. Houve um avanço expressivo nos anos de 1997 e 1998 representando cerca de 70% dessa receita total, quando ocorreram as principais alienações das empresas de energia elétrica e de telecomunicações, com 53% de aquisições por empresas estrangeiras (LANDI, 2010).

Da receita total oriunda das privatizações, 80% corresponderam à venda de empresas de infraestrutura, 14% ao setor industrial e 6% a participações societárias. Na infraestrutura, as privatizações das empresas de telecomunicações representaram cerca de 38% das receitas totais e as de empresas elétricas a cerca de 28%, em grande parte distribuidoras estaduais. As privatizações nos setores de mineração e financeiro também tiveram implicações importantes, sendo que a privatização da Companhia Vale do Rio Doce foi emblemática (WERNECK, 2014).

Os lucros dos bancos cresceram em mais de 1.000% no período de 1994 a 2003. É notório que os bancos possuem papel diferenciado na economia capitalista, pois são agentes ativos na centralização capital. A redução do número de instituições na ordem de 36%; o aumento da participação dos bancos estrangeiros; e a redução dos bancos públicos em 50%, confirmam que a concentração e a centralização do setor bancário brasileiro implicaram forte internacionalização e privatização do setor, conforme a tabela 1. Ocorreu uma mudança estrutural com participação do capital privado nacional e estrangeiro (GALVÃO, 2010).

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados disponíveis no Banco Central do Brasil (BACEN) https://www.bcb.gov.br/lid/gerop/instituicoesPrivatizadas.pdf

A estabilização fundamentou-se no aumento acelerado das importações e absorção dos recursos externos com abertura comercial, desregulamentação da economia e privatizações. Linhas inteiras de produção e produtos foram desativadas e substituídas pelos importados. Com a desnacionalização da economia a remessa de divisas pressionava a conta de serviços causando prejuízos nas finanças públicas e transferindo parte do efeito dinâmico sobre o crescimento para fora com a privatização da política salarial (MERCADANTE, 1998).

As importações ajudaram a manter a inflação relativamente baixa durante um tempo razoável, mas a supervalorização artificial do real encareceu os produtos brasileiros no exterior, dificultando as exportações. Assim, foi implementado um amplo programa de desestatização da economia para garantir o financiamento do déficit produzido pela âncora cambial com a entrada de capitais externos. A renegociação da dívida externa sinalizou para o capital estrangeiro a abertura da economia para a entrada de produtos e também de capitais aumentando, assim, as privatizações e resultando na alienação de 76% do patrimônio estatal (SOUZA, 2008).

A indústria passou por um momento difícil e doloroso de reestruturação, devido ao desequilíbrio externo financiado pelo programa de privatização que expôs a indústria brasileira à concorrência externa. A abertura da economia brasileira com desproteção cambial teve um resultado contrário ao esperado, pois levou o país a uma especialização regressiva, como no caso do complexo eletrônico (COUTINHO, 1998).

A economia brasileira estava mais exposta à concorrência devido sua abertura comercial, limitando a capacidade de repasse dos choques para os preços. O Plano Real conseguiu reduzir a inflação mantendo-a sobre controle durante um longo período de tempo, apesar das crises internacionais e da crise cambial em 1998 e 1999, mudando o regime de política econômica a deste período de ajustes (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR, 2014).