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2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS COMO PARADIGMA

2.2.3 Abordagem cognitiva das políticas ambientais no Brasil

As políticas públicas, na abordagem de Surel, têm como principal objetivo produzir transformações na sociedade, a partir dos problemas que emergem da própria sociedade, num processo de adaptação às mudanças que acontecem no campo social, promovendo um progresso, uma transformação social, considerando inclusive as crises e rupturas paradigmáticas. A título de conclusão desta exposição teórica:

uma política pública pode ser analiticamente cindida em quatro elementos fundamentais: princípios metafísicos gerais, normas de ação, uma metodologia e instrumentos específicos. Estes diferentes elementos evoluem em três fases, que vão da pré-política pública à crise (podendo ser confundidas estas duas fases) e passam por um período de política pública normal, onde o espaço social considerado se estabiliza ao redor de um paradigma e de um sistema de atores específicos. Finalmente, as funções das políticas públicas estão ligadas simultaneamente aos processos de estruturação do setor concernido, tributárias da definição de um sentido coletivamente legítimo e de uma atribuição do poder, que parecem assegurar uma produção ou, pelo menos, uma adaptação da sociedade a ela mesma. (SUREL, 2008, p. 63)

A seguir, os quatro elementos de um paradigma serão apresentados dentro da área de políticas públicas ambientais no Brasil, tendo como matriz setorial o paradigma da sustentabilidade.

2.2.3 Abordagem cognitiva das políticas ambientais no Brasil

Entende-se por políticas de gestão ambiental a priorização de toda a gestão dos recursos que protejam o ambiente natural e orientem a resolução de conflitos socioambientais, tendo-se em vista o bem-estar social e a conservação de recursos naturais para as presentes e futuras gerações (HAYASHI & SILVA, 2015, p. 53-54).

As políticas de gestão ambiental classificam-se, conforme o caráter, em pública ou privada, e quanto ao nível de abrangência, em internacionais, federais, estaduais ou municipais (KRAEMER, 2012 apud HAYASHI & SILVA, 2015, p. 53-54). Com relação às políticas ambientais, dentro do modelo teórico da sustentabilidade, podem-se identificar os quatro princípios que orientam a estruturação desse paradigma, conforme postulado por Yves Surel e explanado a seguir:

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A partir do desenvolvimento sustentável, os ambientalistas cunham a chamada ética intergeracional [...]. Reafirma-se um imperativo ético baseado na solidariedade sincrônica com as gerações atuais e uma solidariedade diacrônica para com as gerações futuras. Ele poderia ser identificado como um dos princípios metafísicos gerais que informam o paradigma ambiental. (GODOY, 2012, p. 418) [grifo nosso]

No que diz respeito às hipóteses que norteiam as políticas ambientais, em especial as conservacionistas, pode-se considerar

o licenciamento ambiental e a criação e manutenção de áreas protegidas [como] exemplos das formas de atuação que podem ser utilizadas pelo Poder Público e pelos demais atores para atuar em favor da conservação da natureza. É importante dizer que a designação de espaços territoriais a serem especialmente protegidos é uma das ferramentas mais utilizadas no mundo para enfrentar o desafio da conservação da natureza. As áreas protegidas são consideradas um instrumento para amenizar os efeitos da ação humana que gera a perda das espécies, da diversidade biológica, bem como o esgotamento dos recursos naturais. (GODOY, 2012, p. 419)

Já com relação aos instrumentos das políticas públicas de gestão ambiental, especificamente no Brasil, Hayashi & Silva (2015, p. 61) afirmam que a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA), por exemplo, se baseia em cinco instrumentos principais, que se utilizam de ferramentas, sistemas e metodologias específicos, conforme descrito a seguir:

a) Licenciamento: baseado na Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), Estudo de Impacto Ambiental (EIA), Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), Plano de Controle Ambiental (PCA), Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD), Relatório de Avaliação Ambiental (RAA), Relatório de Controle Ambiental (RCA), Análise de Risco (AR), Estudo de Viabilidade Ambiental (EVA), Projeto Básico Ambiental (PBA), Termo de Referência (TR), Audiência Pública (AP), estabelecimento de padrões de qualidade ambiental e no sistema de informações e cadastro técnico ambiental federal;

b) Incentivos econômicos: Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES);

c) Inibições econômicas: Impostos ecológicos (ICM, Taxa de Reposição Florestal etc.);

d) Punição: Lei dos Crimes Ambientais, Código Florestal etc.;

e) Conservação: Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), Corredores Ecológicos, Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), restrição ao uso privado de recursos naturais (impostas pela Lei 4771/65), recuperação ambiental, auto suprimento e reposição florestal. (HAYASHI & SILVA, 2015, p. 61)

E, por fim, sobre o quarto elemento de uma política pública ambiental, Godoy (2012, p. 422-423) explana sobre a metodologia utilizada nessa abordagem, dentro

42 da perspectiva de desenvolvimento sustentável, citando o exemplo de práticas do campo:

No que tange às práticas adotadas no campo e ao tipo de relação estabelecida entre os atores ligados à política ambiental, deve-se destacar o princípio da participação como informador das práticas do campo. Esse princípio é um dos mais importantes do direito ambiental. Ele impõe ao Estado e a outros atores públicos e privados o poder-dever de proteger o meio ambiente. Está contido no art. 225 da Constituição Federal de 1988. Dele derivam o direito à informação sobre as questões relativas à qualidade do meio ambiente, por exemplo, e à educação ambiental. (Cf. FIORILLO et

al., 2011, p. 48). Assim, enquanto elemento informador da política ambiental

como um paradigma, pode-se afirmar que formas de participação e institucionalização identificariam a metodologia adotada por essa política. (GODOY, 2012, p. 422-423)

Feita esta exposição teórica preliminar, inicia-se a seguir a análise das formas de proteção ambiental em período de crise do “paradigma social dominante”, vigente desde o século XVII até meados do século XX, e configuração do “paradigma da sustentabilidade” (de meados do século XX até a atualidade), no que diz respeito às formas de proteção ambiental e aos instrumentos utilizados na gestão ambiental – mais especificamente os de comando/controle e os econômicos.