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Abordagem cognitiva na pesquisa do empreendedorismo 47

CAPÍTULO 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 15

2.5 Abordagem cognitiva na pesquisa do empreendedorismo 47

A abordagem cognitiva para o estudo do empreendedorismo é uma derivação da teoria da cognição social. Seu objeto de estudo é tentar responder às questões de como o empreendedor pensa, decide e se comporta de modo a criar valor e riqueza para a sociedade. O campo de estudos é o “modelo mental” do empreendedor, com a hipótese de que os empreendedores têm uma visão de mundo peculiar (McGRATH e MacMILLAN, 2.000), inclusive os empreendedores em organizações não-governamentais (BERNBAUM, 2007).

Vários são os mecanismos e processos cognitivos que têm relação com a competência empreendedora, como pensamento contra-factual, percepções convenientes, a heurística, a falácia do planejamento, autojustificação, autoconfiança exacerbada, ilusão de controle e crença excessiva na lei dos números pequenos (MITCHELL et al., 2002). Alguns mecanismos são agrupados em processos que parecem contribuir mais que outros e serem recorrentes para a aprendizagem e o desenvolvimento, tais como: a atenção, a categorização, a representação, a ancoragem, a formação de modelos mentais, a simbologia e a linguagem, a capacidade de julgamento, a solução de problemas e a projeção de futuro (ver HAYNIE (2005); KIM (2006); de KONING (1999); TANG (2007), Notadamente no que se refere às pesquisas sobre empreendedorismo, tendo como referencial teórico a abordagem cognitiva, cabe destacar os trabalhos de Corbett e Hmieleski (2007), Corbett (2005); Simon et al. (1999) Markman e Baron (2003) e Krueger Jr (2007), que buscam associar mecanismos cognitivos ao desenvolvimento de competências empreendedoras. Nessa área de conhecimento, alguns autores chegam a postular uma metacognição, que seria típica de empreendedores, como Baron e Ward (2004). Os principais mecanismos cognitivos que parecem contribuir para a formação de competências são:

ATENÇÃO - é o processo pelo qual um indivíduo, na fase de aprendizagem por observação de um fenômeno, seleciona os eventos ou informações que irão contribuir para a construção de novos referenciais cognitivos. Sem atenção, não há aprendizagem e, portanto, mudança. A

atenção é seletiva: selecionamos o que nos interessa aprender. A aprendizagem por observação é uma das formas mais freqüentes de modelagem de competências, daí a relevância da atenção. No entanto, a observação não é suficiente: há de acrescentar sentido ao aprendizado, de forma que haja valorização pelo indivíduo das novas informações e da necessidade de aprendizagem. (BANDURA, 1986).

CATEGORIZAÇÃO - é o processo pelo qual identificamos, registramos e catalogamos diferenças entre estímulos e informação recebida. A importância da categorização no processo de aprendizagem tem relação com a memória, uma vez que dependemos dela para reconhecer quando a mesma categoria de informação novamente surge (REISBERG, 1997). As categorizações geram os protótipos que funcionam como padrões para reconhecimento de estímulos recebidos. Para o tema em pesquisa, a categorização tem relação com o que deve ou não ser objeto de atenção e priorização para o empreendedor, como por exemplo, reconhecimento de oportunidades (BARON, 2006).

REPRESENTAÇÃO - é o mecanismo pelo qual criamos relações entre entidades e informações e deduzimos sentido de um determinado contexto, criando conceitos que serão úteis na modelagem os comportamentos (STUFFLEBEAM, 1999). Pelo mecanismo das representações, conseguimos traduzir eventos e fatos em significados, criando relatos, abstrações e deduzir um todo a partir de informação fragmentada.

ANCORAGEM - é o mecanismo pelo qual certas crenças são aceitas e validadas, mesmo que fatos e informações novas não venham a corroborá-las. Pela ancoragem, fixamos nossos pontos de vista e agimos coerentemente com eles (REISBERG, 1997).

SIMBOLOGIA E LINGUAGEM - são componentes de um processo mais amplo; a comunicação humana acontece por símbolos e pelo uso de uma linguagem. Seres humanos comunicam-se e compartilham afinidades, percepções, modelos mentais ou visão de futuro. Existem linguagens e símbolos por grupo de afinidades, como por exemplo, os médicos, os técnicos em computação, os religiosos etc.

CAPACIDADE DE JULGAMENTO - é o mecanismo cognitivo pelo qual refletimos a partir das evidências, tiramos conclusões e fazemos inferências. O julgamento é fundamental para a tomada de decisões e, portanto, para a execução completa de um papel de liderança nas

organizações. Os julgamentos não dependem somente de fatos ou observações, mas também os padrões de observações; isto é, todo o julgamento tem uma estreita relação com nossos modelos mentais. (REISBERG, 1997).

SOLUÇÃO DE PROBLEMAS - processo cognitivo pelo qual um indivíduo decide como atinge seus objetivos começando do seu estágio atual. (REISBERG, 1997). Alguns problemas são triviais, outros são complexos. Alguns são bem definidos, outros são difusos, tais como reverter o desempenho de uma organização.

PERCEPÇÃO DO FUTURO - Pela teoria cognitiva, a realidade é construída em nossas mentes através dos processos de aprendizagem, ancoragem, crenças e modelos mentais que resumem teorias de causa e efeito. A visão do futuro, portanto, é mais uma escolha do que uma descrição racional de uma realidade concreta. As pesquisas sobre empreendedorismo são quase uníssonas ao identificar uma visão positiva do futuro, nos empreendedores.

Esses mecanismos são formadores e reforçadores dos modelos mentais, isto é: o somatório de conceitos, pressupostos, atitudes e comportamentos, ou seja, uma visão de mundo típica de empreendedores (BARON, 1998; BARON e MARKMAN, 1999; PALICH e BAGBY, 1995; ROBINSON et al., 1991 e WOOD e BANDURA, 1989).

A teoria da cognição, com seus princípios, representa uma rigorosa articulação teórica, testável empiricamente, que explica de forma sistêmica o papel do indivíduo no processo empreendedor, servindo como uma ferramenta efetiva para pesquisas novos insights no campo de estudo do empreendedorismo (MITCHELL et al., 2002). A teoria da cognição também pode explicar por que alguns empreendedores aprendem e se desenvolvem, corrigindo sua ação e obtendo sucesso no negócio que empreende, enquanto outros, não.

Buscando elucidar essa questão, Krueger Jr. (2007) propõe avaliar o efeito das crenças mais profundas de um indivíduo, que podem bloquear ou facilitar seu aprendizado. “Crenças” são assunções que suportam a maneira como um indivíduo percebe e dá sentido ao mundo, o seu mindset. Quanto mais profunda a crença, mais difícil ocorrer uma mudança real. Segundo o autor, uma melhoria na performance de um empreendedor é mais provável de ocorrer depois de uma crise que o obriga a rever suas crenças, conforme abaixo reproduzido. Como decorrência, o autor defende que uma educação empreendedora, para ser efetiva, deve ter uma

base construtivista, ou seja, um processo educacional que afete as crenças que estão subjacentes às intenções, atitudes e visão de mundo.

MUDANÇAS NO CONTEÚDO DO CONHECIMENTO MODELO MENTAL EMPREENDEDOR MODELO MENTAL EMPREENDEDOR EXPERIENTE INICIANTE MUDANÇAS NA ESTRUTURA DO CONHECIMENTO EXPERIÊNCIAS CRÍTICAS

Figura 5 - Construtivismo e desenvolvimento cognitivo do empreendedor

Fonte: KRUEGER (2007)