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Abordagem Comunicativa

No documento ROBERTO DE SOUZA LIMA (páginas 49-55)

2.3 Os Métodos de Ensino em LE

2.3.6 Abordagem Comunicativa

O processo de ensino-aprendizagem de línguas experimentou nas últimas décadas uma enxurrada de métodos e técnicas que mudaram completamente a forma de pensar e agir de muitos teóricos sobre o assunto. O mundo começou a exigir mais do que simplesmente a repetição de estruturas gramaticais baseadas em premissas que vislumbravam o ensino-aprendizagem de línguas como algo que poderia ser concretizado de forma simples sem haver efetiva comunicação entre as partes interessadas. O professor de línguas começou a se acostumar a ser considerado facilitador, e “o papel facilitador do professor (…) é o produto de duas décadas ou mais de lento reconhecimento da importância da iniciativa do aprendiz na sala de aula.” (BROWN, 2001 p. 44). Concluímos, portanto, que o surgimento do que seria conhecido como Abordagem

Comunicativa, vem tentar consolidar de vez o ensino-aprendizagem de línguas como algo factual, no sentido mais amplo do termo, promovendo aquilo que se buscava há anos, mas que esbarrava em uma visão estruturalista exagerada, atrasando o reconhecimento da importância do aprendiz no que diz respeito à sua independência, visando a uma competência mais comunicativa em todo o processo.

Segundo CANALE e SWAIN (1980), a competência comunicativa se traduz como sendo o estado do conhecimento das regras de gramática, vocabulário, e do uso formal e informal da língua, que leva o falante-ouvinte a saber usá-la, de forma adequada, nos mais diversos papéis. De acordo com Brown (2000, p. 246), “O termo competência

comunicativa foi cunhado por Dell Hymes (1967, 1972), um sócio-lingüista que estava

convencido de que a noção de competência de Chomsky era muito limitada.” A Abordagem Comunicativa, conceito que parece ter surgido a partir de Finocchiaro e

Brumfit em 1983, (BROWN, 2001), nasce sob o nome de Ensino Comunicativo de

Línguas. O Ensino Situacional de Línguas (também conhecido como Abordagem

Situacional) era o que representava o que havia de melhor em termos de abordagem no ensino de inglês como língua estrangeira na Grã-Bretanha desde a década de 1930. Ao final dos anos sessenta começou a perder prestígio. Fenômeno semelhante era observado no caso do Método Audiolingual nos Estados Unidos da América, que perdia fôlego desde meados da mesma década. Embora pareça paradoxal, já que seu autor não participou diretamente do movimento comunicativista, o lançamento do livro Syntactic Structures, de Noam Chomsky em 1957, parece ter sido a pedra fundamental para a Abordagem

Comunicativa. Suas críticas às teorias lingüísticas estruturalistas demonstraram que elas não eram capazes, por si mesmas, de explicar as características fundamentais da língua, como a criatividade e a singularidade de cada oração. Não tardou para os lingüistas britânicos destacarem o fato de que o ensino de línguas praticado naquele momento não tratava de forma adequada o seu potencial funcional e comunicativo. Consideravam necessário focar o ensino de línguas na competência comunicativa, relegando a um plano secundário o estudo de suas estruturas. (RICHARDS e RODGERS, 1988).

De acordo com BROWN (2001), a Abordagem Comunicativa é reconhecida como tal no final dos anos 70 e começo dos anos 80, e é de fácil definição. Almeida Filho (1998), diz tratar-se de um conjunto de crenças, conhecimentos implícitos oriundos de experiências prévias, intravisões, pressupostos, princípios e imagens que, condensados e sintetizados, indicam e orientam a maneira de produzir o processo de ensino- aprendizagem. RICHARDS e RODGERS (1988, p. 66), declaram ser a Abordagem Comunicativa para alguns “pouco mais do que uma integração do ensino gramatical com o ensino funcional. (…) Para outros, significa o uso de procedimentos onde aprendizes

trabalham em pares ou grupos empregando recursos disponíveis da língua para tarefas visando à resolução de problemas.” De certo a Abordagem Comunicativa vislumbra uma maior independência de estruturas gramaticais fechadas e entediantes, promovendo um valor mais significativo ao uso da língua enquanto veículo de comunicação, num sentido mais amplo da palavra.

ALMEIDA FILHO (1998) indica que ser comunicativo significa, para o professor de língua estrangeira, ter uma postura condizente com os princípios da Abordagem Comunicativa. De modo geral, significa ver o aluno como sujeito e agente no processo ensino-aprendizagem e privilegiar ações que sejam relevantes para sua vida e que possam fazer diferença para seu futuro como pessoa.

Uma abordagem sempre se materializa num ensinar com qualidade variável, fruto das condições internas de cada professor em sua interrelação com condições externas em que se dá o seu ensino. Para discernir qual abordagem vigora é preciso olhar o jeito de ensinar, as aulas e suas atividades. Mas cada professor exerce a sua função de ensinar num determinado nível de capacidade, poder ou competência (…). Cada professor age a partir de um combinado específico de conhecimentos ou competências desenvolvidas até o momento da observação. (ALMEIDA FILHO, 1999 p. 17).

Mais especificamente, ALMEIDA FILHO (1998) observa alguns aspectos que devem também ser levados em consideração:

- a relevância das mensagens utilizadas em sala de aula de língua estrangeira;

- a tolerância acerca do papel de apoio da língua materna do aluno na aprendizagem da língua estrangeira;

- a aceitação de alguns exercícios de substituição, embora levando a uma aquisição inconsciente;

- a oferta de oportunidades para a aprendizagem inconsciente de tópicos lingüísticos, principalmente quando partem do interesse do aluno;

- a problematização e ação dialógica de temas do universo do aluno;

- a atenção a questões de afetividade;

- a avaliação qualitativa (e não quantitativa) do processo, centrada apenas no produto final.

Ainda segundo ALMEIDA FILHO (1998), não ser comunicativo, por outro lado, significa basear o ensino da língua estrangeira em sua forma, em sua estrutura. Significa não se valer de oportunidades de real uso da língua. Por uso real da língua, entendemos o contato diário em situações do cotidiano que promovam interação suficiente à competência lingüística desejada, ou seja, domínio das habilidades básicas essenciais à comunicação. Para isto, entretanto, acreditamos que o desejo e motivação do aluno-aprendiz é fundamental para o sucesso no processo ensino-aprendizagem comunicativo.

Por interpretações de FINOCCHIARO e BRUMFIT (1983) Apud RICHARDS e RODGERS (1988, pp. 67-68) podemos enumerar algumas características importantes da Abordagem Comunicativa num contraste com o Método Audiolingual:

- O significado é o mais importante.

- Os diálogos, se necessários, devem girar em torno de funções comunicativas e nunca serem decorados.

- Contextualização é a premissa básica.

- Aprender a língua é aprender a comunicar-se. - Busca pela comunicação efetiva.

- A prática de drills pode ocorrer, mas deve ser secundária. - Busca por uma pronúncia compreensiva.

- Qualquer dispositivo que ajude os alunos no processo, resguardadas as diferenças de idade, interesse, etc., será bem vindo.

- Tentativas visando à comunicação devem ser encorajadas desde o começo. - O uso prudente da língua nativa é aceitável, quando possível.

- A tradução pode ocorrer quando os alunos precisarem ou lucrarem com ela. - Leitura e escrita podem começar desde o primeiro dia, se assim for desejado. - O sistema lingüístico alvo será mais bem aprendido se houver uma luta para se

comunicar.

- A competência comunicativa é a meta principal.

- Os professores deverão ajudar os alunos de todas as formas possíveis, que os motivem a trabalhar com a língua.

- Fluência e linguagem aceitável são as metas primeiras. A acuidade será julgada não abstratamente, mas em contexto.

- Espera-se dos alunos a interação com os outros, seja em pares, trabalhos em grupos, ou no que escrevem.

- A motivação intrínseca nascerá do interesse pelo que está sendo comunicado através da língua.

Analisando tais premissas com olhos mais críticos, veremos tratar-se exatamente do que os PCN-LE pregam para que haja sucesso no ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras em nosso país, no que diz respeito às competências e habilidades propostas pelo documento:

Utilizar as estratégias verbais e não verbais para compensar falhas na comunicação (como o fato de não ser capaz de recordar, momentaneamente, uma forma gramatical ou lexical), para favorecer a efetiva comunicação e alcançar o efeito pretendido (falar mais lentamente, ou enfatizando certas palavras, de maneira proposital, para obter determinados efeitos retóricos, por exemplo). BRASIL, 2002 p. 150.

Entretanto, concluiremos que através de nosso estudo e da experiência que temos enquanto docentes, não é exatamente assim que acontece na realidade. O ser comunicativo em salas de aula cuja capacidade supera muito fácil a barreira dos quarenta e cinco alunos, fica prejudicado pelo caráter mais empresarial do que educacional de muitas escolas, fazendo com que docentes e funcionários responsáveis pelo bom andamento das instituições de ensino não consigam levar a cabo as exigências de uma sociedade cada vez mais preocupada no ter do que no ser. A sociedade enquanto comunidade mudou. A educação que os filhos recebem mudou com ela. As necessidades não são mais as mesmas de décadas atrás, quando muitos dos métodos, técnicas e abordagens floresceram e multiplicaram o desejo por um ensino de qualidade. A sala de aula depende muito hoje do que acontece fora dela: “A sala de aula não é uma redoma de vidro, isolada do mundo, e o que acontece dentro da sala de aula está condicionado pelo que acontece lá fora”. (LEFFA, 2001 p. 334). Dessa forma, o autor atesta que o professor de línguas é condicionado

também pelo ambiente externo, e isto influi diretamente sobre sua formação, pelo que impõem diretrizes governamentais (caso dos PCN e PCN-LE), mais do que por diretrizes acadêmicas. A formação do profissional de ensino de línguas não é algo que dure pouco tempo. É preciso dedicação e empenho para que possa ser considerado um bom profissional, e possa atender à demanda daqueles aos quais ensina. Mas o professor de língua estrangeira, na maioria das vezes, não arbitra sobre a própria forma de conduzir seu trabalho.

Sobre os PCN-LE e suas implicações no processo de ensino-aprendizagem é que discutiremos no tópico seguinte.

No documento ROBERTO DE SOUZA LIMA (páginas 49-55)

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