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Abordagem conceitual e contextual da Coprodução de Conhecimento

No documento Rosângela Borges Pimenta (páginas 41-45)

2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Conhecimento: conceito e tipos

2.1.1 Abordagem conceitual e contextual da Coprodução de Conhecimento

condições locais, processos e práticas (FAILING et al., 2007).

O conhecimento agroecológico tem como princípio que os atores envolvidos no processo possuem um acúmulo de conhecimentos histórico e culturais. Na interface entre esses atores, são fortalecidos os discursos em prol de determinados projetos ou práticas sociais, que são incorporados como elementos fundamentais para a estratégia do desenvolvimento rural. (COTRIM, 2013).

2.1.1 Abordagem conceitual e contextual da Coprodução de Conhecimento

O termo coprodução foi originalmente cunhado no final dos anos 1970 por Elinor Ostrom e colegas da Universidade de Indiana, em Blooming, USA, para explicar por que as taxas de criminalidade de um bairro haviam aumentado em Chicago quando os policiais da cidade retiraram-se da batida em carros (OSTROM, 1996). Ostrom observou que desta forma a polícia de Chicago, tornando-se independente das pessoas, acabou perdendo a fonte essencial de informações e cada vez mais difícil para fazer seu trabalho de forma eficaz. Foi o entendimento informal, entre as comunidades locais e os policiais, que ajudou a manter os níveis de criminalidade baixos. Em suma, a polícia precisava da comunidade, tanto quanto a comunidade precisava da polícia (OSTROM, 1996).

No processo de coprodução, os insumos utilizados para produzir um bem ou serviço são contribuídos por indivíduos que não estão dentro da mesma organização. A coprodução implica também na produção pública de um bem ou serviço, na qual o cidadão pode desempenhar um papel ativo no processo (OSTROM, 1996).

Um dos maiores desafios da coprodução de conhecimento transdisciplinar é a integração de saberes. Neste contexto, a integração

tem como objetivo produzir entendimento compartilhado de um problema, bem como suas causas e soluções, mas a integração sendo fraca também pode encontrar através de uma linguagem comum ou mutuamente compreensível para que o problema de objeto de fronteira possa ser discutido (POHL et al., 2010). O objetivo chave da integração é conseguir uma forma mais abrangente ou equilibrada e uma compreensão relevante de um problema do mundo real e suas potenciais soluções (SARKKI et al., 2013).

A coprodução geralmente se refere a um processo de geração de conhecimento colaborativo e dinâmico que mais totalmente fundamenta o entendimento científico em um contexto social, cultural e político. Ela tem a intenção explícita de criar conhecimento utilizável que influencia a tomada de decisão (MITCHELL et al., 2006).

O significado de coprodução do conhecimento é vagamente utilizado pelos especialistas para descrever uma abordagem inclusiva, interativa para criar novas informações. A coprodução do conhecimento é um processo interdependente entre ciência e política e que simultaneamente se produz conhecimento e gera ordem social. A coprodução é distinta por ter seu foco para facilitar interações entre as partes interessadas em desenvolver um entendimento integrado ou de transformação de um problema de sustentabilidade (POHL, 2008; LANG et al., 2012).

A investigação científica gera conhecimento para alimentar debates sobre a criação de regras institucionais, transformar a sociedade através da criação de novos significados e representações do mundo político e social que, por sua vez, geram identidade e legitimidade da atividade científica (LUKS e SIEBENHÜNER, 2007).

A coprodução de conhecimento é uma abordagem de pesquisa que visa à resolução de problemas da vida real. O conhecimento é coproduzido através da combinação de perspectivas científicas com outros tipos de perspectivas relevantes e experiência da prática do mundo real, incluindo a formulação de políticas, administração, negócios e vida comunitária. Coprodução ocorre através de praticantes e investigadores que participam em todo o processo de produção de conhecimento, incluindo a formulação conjunta de problemas,

geração de conhecimento, a aplicação em ambos os contextos do mundo científico e real, e controle de qualidade mútuo de rigor científico, robustez social e eficácia (POLK, 2015, p.111).

As plataformas de investigações internacionais, que lidam com as preocupações relacionadas com as alterações climáticas, estão a mudar para coprodução de conhecimentos inter e transdisciplinares. O desenvolvimento compatível com o clima pode ser descrito como uma ciência social e ecológica com muitas dimensões difíceis de resolver e complexas que surgem na interface do ambiente e das relações da sociedade e práticas sociais. O envolvimento, na produção de conhecimento inter e transdisciplinar, requer novas formas de relacionamento, pensamento e ação (MAUSER, 2013).

Schuttenberg e Guth (2015) enfatizam que se um processo de coprodução é bem sucedido, em integrar ciência e política, depende de uma série de capacidades e competências que devem ser entendidas como capacidades produtivas. Para as autoras, são três fontes de capacidades produtivas. A primeira é o indivíduo, com suas habilidades e vontade de apoiar o processo de coprodução. A segunda fonte é o contexto do sistema socioecológico, que tem sido descrito como um ambiente propício para o desenvolvimento das capacidades. A terceira fonte é o processo de coprodução de conhecimento. O conhecimento disponível na produção coletiva, para ser influente na tomada de decisão, deve ser percebido como relevante, legítimo e confiável por parte da equipe transdisciplinar (CASH et al., 2003; MITCHELL at al.,2006). Para apoiar a integração de conhecimento em projetos da investigação transdisciplinar, Polk (2015, p.114) identificou cinco áreas focais que são fundamentais para o processo de coprodução. As áreas focais são caracterizadas da seguinte forma:

1. Inclusão - Diferentes grupos de partes interessadas na prática e na pesquisa têm direito a todo o processo de produção de conhecimento. 2. Colaboração - Os processos e modalidades de participação, bem como a qualidade e o grau do resultado na participação de contribuições em profundidade de prática e pesquisa.

3. Integração - A assimilação, combinação e síntese de ambas, baseadas em práticas e perspectivas científicas, valores, conhecimento e experiência de forma adequada para capturar a complexidade do problema e as questões a serem abordadas.

4. Usabilidade - Avaliação e reflexão sobre a robustez social e capacidade transformadora de produtos e resultados que ocorrem durante todo o processo de pesquisa.

5. Reflexividade - A abordagem do projeto inclui em curso escrutínio das escolhas que são feitas ao identificar e integrar diversos valores, prioridades, visões de mundo, experiência e conhecimento da prática e da ciência no processo da pesquisa. Polk (2015) enfatiza que essas cinco áreas focais são relevantes para a avaliação de projetos transdisciplinares, pois possibilita a capacidade dos participantes de refletir sobre os conhecimentos necessários para promover a criação de resultados úteis no processo da coprodução.

Guivant (2000) corrobora com a importância de uma das áreas focais, quando enfatiza que as características da reflexividade, assim como as perspectivas de sua transformação, são temas ainda a serem aprofundados nas pesquisas empíricas. Rosendahl et al., (2015) salientam, também, que um dos fatores relevantes é a reflexividade que representa um príncípio importante, mas insuficiente para garantir níveis apropriados de autorreflexão dentro de um processo de coprodução de conhecimento. Lang et al. (2012) ressaltam que a reflexividade tem um papel fundamental para a integração do processo científico de coprodução do conhecimento, para buscar a solução de problemas societais e, concorrentemente, de problemas científicos correlatos, através da diferenciação e integração de vários conhecimentos científicos. A reflexividade possui, na verdade, um caráter em grande medida coletivo, sem prejuízo de seus aspectos individuais (DOMINGUES, 2002, p. 45). Outro fator é a comunicação, que é fundamental para o conhecimento transdisciplinar, pois ela não existe na ausência de diálogo. Sem este diálogo não há transmissão, revisão, gestão, ou expansão, porque ele é inerentemente reflexivo. Se não for compartilhado, qualquer conhecimento será estéril e será condenado ao esquecimento (SERNA, 2015).

Uma das características da coprodução de conhecimento é a colaboração de vários atores da academia e sociedade. Zierhofer e Burger (2007) enfatizam a importância dos projetos transdisciplinares para a produção de conhecimento coletivo. Neste contexto, as redes do

conhecimento são necessárias para o desenvolvimento de projetos em colaboração (CREECH E WILLARD, 2001).

2.2 Transdisciplinaridade: conceito, panorama e distinções

No documento Rosângela Borges Pimenta (páginas 41-45)

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