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ABORDAGEM DAS ROTINAS E RITUAIS FAMILIARES

regulares, individuais ou coletivos expressados pelos membros da família, pelos quais organizam e estruturam suas práticas diárias de cuidado, visando à proteção à saúde e bem-estar. Elas podem variar em freqüência e conteúdo de família para família. Essas regularidades podem ser diárias, semanais ou mensais. (DENHAM, 2002, 2003).

As rotinas familiares são descritas como “comportamentos observáveis, repetitivos que envolvem dois ou mais membros da família e que ocorrem com regularidade previsível no curso de vida familiar”. (BOYCE, et al., 1983 p. 198).

Esta teoria baseia-se na premissa de que todas as famílias possuem algum grau de regularidade comportamental, e de que a continuidade e a estabilidade para atendimento às necessidades dos membros é necessária para manter o convívio social e a saúde (FERNANDES; BOEHS; RUMOR, 2011).

Os termos rotinas e rituais familiares referem-se ao cotidiano da família, porém são diferentes pois rotinas familiares são práticas da família observáveis e rituais familiares incluem um componente de representação simbólica, conduzidos por um grupo de pessoas de forma repetitiva, descritos em celebrações, tradições religiosas ou eventos simbólicos. Práticas familiares e representações fazem parte das rotinas e rituais da família e reforçam que cultura, especificidades familiares e ciclo de vida formam as características da família (BOEHS; GRISOTTI, AQUINO 2007; FIESE, 2002).

A teoria das Rotinas e Rituais Familiares foi publicada em 1950 por James H. S. Bossard e Eleanor S., estudantes da área da sociologia com o título Rituals in Family Living (Rituais na Vida Familiar). Em seus estudos, afirmaram que em praticamente todas as famílias existem regularidades de comportamento e que essa regularidade é importante para o atendimento de suas necessidades, pois as rotinas dão suporte em situações de estresse e transição. Eles afirmam que cada família elabora suas rotinas e as mesmas são alteradas durante o ciclo de vida familiar (FERNANDES, 2011).

Boyce et al. (1983) realizaram estudos de rotinas e rituais domésticos relacionados a doenças, com famílias norte americanas de diferentes etnias e classes sociais. Eles propuseram que as rotinas de família são comportamentos observáveis e repetitivos que envolvem dois ou mais membros e que ocorrem de maneira regular e previsível. Argumentaram que o ser humano tem uma necessidade biológica de ritmo, portanto regularidade de comportamento é uma característica universal das famílias.

Em 1995, Sharon Denham, uma enfermeira norte americana, influenciada pelos estudos citados anteriormente, trouxe esse tipo de estudo para a enfermagem. Doutora em Ciências da Enfermagem pela Universidade do Alabama, a autora desenvolveu seus estudos com ênfase nas influências que a cultura promove nas rotinas familiares e sua relação no processo saúde-doença. Ela afirma que as rotinas familiares podem ajudar no diálogo com as famílias sobre os cuidados, contribuindo com no conhecimento sobre o paciente e também na promoção de estilos de vida saudáveis. O modelo criado por Denham é destinado ao cuidado e promoção da saúde das famílias (DENHAM, 1995, 2002, 2003).

Denham desenvolveu três etnografias com famílias rurais, os Appalachian, que residem na parte sudoeste do estado de Ohio, Estados Unidos da América. Nestes estudos ela objetivou identificar como as famílias Appalachian definiam e praticavam saúde em seus domicílios.Esses estudos contribuíram para o entendimento da saúde da família como um processo de construção doméstica da saúde, dinâmica e sistêmica (DENHAM, 2003, 2003a).

Diversos estudos foram realizados sobre esta temática, podendo citar Fiese (2002), que realizou uma revisão bibliográfica sobre os 50 anos de pesquisa sobre as Rotinas e Rituais familiares e aponta que cada família constrói seu conjunto de rotinas que oferece estrutura em torno das atividades realizadas na família. As definições de rotinas e rituais

possuem um significado para cada indivíduo e cada família, o que caracteriza cada família como única.

No Brasil, existem alguns estudos da enfermagem utilizando este referencial. Boehs, Grisotti e Aquino, 2007, investigaram as rotinas de famílias com filhos lactentes de seis meses a dois anos, com mães que trabalhavam fora de casa e que frequentavam uma Unidade Básica de Saúde de Florianópolis, capital de Santa Catarina. Em 2009, outro estudo foi publicado por Jorge et al., sobre rotinas de quatro famílias com crianças desnutridas ou em risco nutricional, que participavam de um Programa de Suplementação Alimentar, também em Florianópolis.

Na área da psicologia, Silva et al. (2010a) realizaram um estudo sobre as rotinas familiares de famílias ribeirinhas da Amazônia, que possuíam como principal característica isolamento social e geográfico. Esse grupo de pesquisadores elaborou e aplicou um instrumento de coleta de dados qualitativo, o Questionário de Rotinas Familiares. Neste questionário constavam dados referentes aos períodos do dia e as atividades cotidianas realizadas naquele período.

Fernandes, Boehs e Rumor (2011) realizaram uma reflexão teórica sobre a utilização desta teoria na enfermagem familiar, e apontam a importância desta teoria para compreender a complexidade do cotidiano da família e sobre a possibilidade de desenvolvimento de métodos e ferramentas que possam promover a saúde da família. Ainda, Fernandes e Boehs (2013) investigaram sobre as rotinas diárias de famílias na área rural que passaram pela ocorrência de um desastre natural.

Denham (2002) aponta que as rotinas familiares são um importante fornecimento de união, fortalecimento emocional, troca, estabilidade e que mantém a família em contato. Durante a vida, as rotinas familiares adaptam-se de acordo com as mudanças ocorridas na vida, como o nascimento de um filho ou a descoberta de uma doença crônica. As rotinas promovem estabilidade, continuidade, fortalecimento, solidariedade e coesão nos períodos estressantes, como por exemplo, no enfrentamento das doenças.

Esta autora evidencia que as características principais que permeiam as rotinas referem-se a espiritualidade, etnicidade e herança cultural. As rotinas familiares garantem saúde, conforto e bem-estar, porém a interrupção dessas rotinas gera aborrecimento e potencializa o estresse.

As rotinas familiares buscam compreender as práticas diárias familiares e como situações de estresse podem modificar essas rotinas. Diversas situações de estresse podem ser citadas, mas o presente estudo

preocupa-se com a convivência com crianças com deficiência.Rotinas representam processos da família, associados às dinâmicas individuais e inseridos no contexto cultural de vida. Elas contribuem no desenvolvimento da família e de cada indivíduo pertencente a unidade familiar (DENHAM, 2003).

As rotinas familiares trazem satisfação aos pais quando estas são elaboradas de maneira que os mesmos consigam realizar os cuidados de seus filhos. O modo como rotinas e rituais acontecem na família resultam em saúde, bem estar e satisfação para seus membros (FERNANDES; BOEHS; RUMOR, 2011).

Os estudos de Denham contribuíram para o entendimento da saúde da família da como um processo sistêmico e dinâmico, que é influenciado por algumas variáveis, entre elas as rotinas familiares (FERNANDES; BOEHS; RUMOR, 2011).

Denham (2003) descreve ainda sobre a construção social da saúde da família, onde divide em aspectos contextuais, que envolvem membros da família, características dos membros, emprego da família, contexto na comunidade, sistemas envolvidos com a família, recursos, ameaças e tempo; aspectos funcionais, que envolvem desenvolvimento das pessoas,desenvolvimento familiar, relações entre os membros, processos essenciais, domínios ecoculturais e aspectos estruturais, que são referente as rotinas, como tipos de rotinas, características, significados, propósitos, participantes, tempo das rotinas.

As rotinas familiares são uma janela para visualizar a família, que permite a compreensão do seu funcionamento interno, compreendendo as tarefas e papéis dos seus membros e também suas relações externas (JORGE et al., 2009).

Este referencial teórico se adapta na pratica de enfermagem com famílias, pois fornece uma estrutura teórica para a pesquisa, permitindo compreender as relações entre seus membros e a maneira que a família enfrenta o processo saúde-doença (FERNANDES; BOEHS; RUMOR, 2011).

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