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6 DESENHO METODOLÓGICO

6.1 ABORDAGEM DO ESTUDO

em realidade são histórias cotidianas sobre novas formas de vida que nos revelem de que maneira as pessoas confrontam os dilemas éticos e se manejam nas práticas deles (PLUMMER, 2003). Desta forma, acredito que a abordagem qualitativa é a mais adequada para este estudo, pois se baseia no princípio de que “os conhecimentos sobre os indivíduos só são possíveis com a descrição da experiência humana, tal como ela é vivida e tal como ela é definida por seus próprios atores” (POLIT; HUNGLER, 1995, p. 270).

A evolução histórica da pesquisa qualitativa demonstrou o quanto ela pode oferecer formas diferentes e inovadoras de produzir dados (DENZIN e LINCOLN, 2000). Por haver uma diversidade de estratégias qualitativas que, muitas vezes, conseguem ir até onde a pesquisa quantitativa não consegue chegar, elas são comumente utilizadas por pesquisadores dos campos de estudo de gênero e sexualidade, que através dela vem conseguindo trazer questões contemporâneas a serem mobilizadas pela sociedade. Desta forma, pode-se afirmar que a investigação qualitativa consegue trazer um diálogo efetivo entre os terrenos político e acadêmico por dar mais espaço a vozes e experiência que foram socialmente suprimidas, como nos estudos da população LGBT.

Este diálogo é possível pelo fato da pesquisa qualitativa buscar compreender as experiências vividas porque são repletas de significados atribuídos por quem a vivencia, e que emergem do contexto da vida. Assim, “ela trabalha com o universo de significados, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e

dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (MINAYO, 2004, p. 21).

Contudo, cabe ressaltar que a pesquisa qualitativa vai além de coletar relatos. É uma maneira de chegar ao conhecimento de fatos vividos ou vivenciados que os documentos escritos e dados estatísticos por si só não poderiam revelar, pois ela incorpora a questão do significado e da intencionalidade como inerente aos atos, às relações e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas, tanto no seu advento, quanto na sua transformação, como construções humanas significativas (MINAYO, 2004). É importante levar em conta as possibilidades que as pessoas oferecem em sua vida cotidiana.

6.2 ASPECTOS ÉTICOS

A revelação do vivido não é um processo simples, como também não o é a ação de indagar por episódios de natureza tão sensível e delicada. Assim, os cuidados éticos na investigação respeitaram a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde (1996). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo em 17 de abril de 2009, sob o número de protocolo 1913 (ANEXO I).

Foram entregues para cada participante da pesquisa dois termos de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE 2), sendo uma via para a participante e outra para a pesquisadora, as quais foram devidamente assinadas por ambas. Os termos foram preparados com especial cuidado com a linguagem utilizada para deixar bem claros os compromissos de sigilo, privacidade e possibilidade de interrupção da entrevista a qualquer momento. O termo de consentimento foi lido e foram esclarecidos todos os pontos necessários da pesquisa, bem como o fato de que ela não traria danos de qualquer tipo para o entrevistado.

Para preservar a identidade das mulheres participantes desta pesquisa, os nomes verdadeiros foram substituídos por nomes de cantoras brasileiras que são ícones para o público LGBT.

6.3 APRESENTANDO OS SUJEITOS

Para compor o estudo, busquei mulheres lésbicas solteiras ou em um relacionamento que tiveram filhos, por meio de doadores de sêmen, sejam eles conhecidos ou desconhecidos, ou que estão planejando ter.

Encontrar as mulheres lésbicas participantes deste estudo não foi uma tarefa fácil. Primeiramente, fui em busca de Organizações Não-

Governamentais (ONG) que militam pelas causas da população LGBT, visto que eles têm legitimidade nesta comunidade e podem intermediar esse contato, sempre respeitando as questões éticas do sigilo e do anonimato. Contudo não obtive êxito por esse caminho.

Após passar meses sem encontrar nenhuma mulher para participar do estudo, uma companheira de faculdade me passou o contato de duas mulheres lésbicas que ela conhecia. Consegui o contato de outras duas quando participei da Parada Lésbica de São Paulo, realizada em julho de 2009, onde as suas filhas panfletavam sobre o grupo de mães e pais LGBT que elas tinham fundado. A partir daí, comecei a buscar na internet, a partir da lista de discussão do grupo que elas haviam fundado. Foram contatadas oito participantes. Sendo assim, o estudo foi composto por 12 mulheres. No momento da entrevista, três mulheres estavam solteiras e nove em um relacionamento. Dentre as três solteiras, em dois casos as ex-parceiras engravidaram por fertilização in vitro. A outra solteira engravidou por meio de relação sexual com um amigo gay. Das nove mulheres que estavam em relacionamento, dois casais obtiveram êxito nas tentativas de reprodução assistida e as restantes ainda estavam na fase de planejamento e tentativa.

A seguir, o quadro 1 apresenta a caracterização das mulheres lésbicas que participaram deste estudo, onde é possível perceber algumas semelhanças e diferenças desta população estudada.

primeiramente, as mulheres que estavam “solteiras” no momento da entrevista (Ângela, Vange e Cássia) e a participante (Marina) que vivia união estável no momento da entrevista, mas que a parceira não participou do estudo. As demais mulheres são apresentadas em subdivisões do quadro por cores aos pares de casal, dessa forma: Luiza e Zélia, Adriana e Simone, Ana Carolina e Gal, Isabella e Maria.

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