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4 CAMINHOS METODOLÓGICOS

4.1 ABORDAGEM METODOLÓGICA

Esta pesquisa é uma forma de aprofundar conhecimentos e de buscar respostas a perguntas que têm inquietado diferentes educadores em todo o país. Conhecer e compreender mais sobre a aprendizagem de adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade social e pensar sobre as questões sociais que estão implicadas nos processos de aprendizagem humana é imprescindível. Entende-se que a compreensão dos sentidos subjetivos acerca da aprendizagem que são produzidos pelos adolescentes pode contribuir para que sejam pensadas formas de qualificar os processos de aprendizagem desses sujeitos, os processos de ensino e, também, a produção de conhecimento nessa área.

Para Minayo (1994), a pesquisa é a

[...] atividade básica da ciência na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema se não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. As questões da investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias socialmente condicionadas. São frutos de determinada inserção no real, nele encontrando suas razões e seus objetivos. (p. 17- 18)

É justamente a partir das indagações feitas à realidade encontrada — na qual, muitas vezes, a evasão, os conflitos e o fracasso escolar protagonizam os espaços de aprendizagem de adolescentes em situação de vulnerabilidade social — que surge esta pesquisa. Gil (2008) refere que a pesquisa é “o processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos" (p. 42). Subentende o confronto entre “dados, evidências, informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele” (LÜDKE & ANDRÉ, 1986, p. 1).

Apesar de surgir de uma realidade específica e buscar responder a questionamentos que surgem de uma prática no campo socioeducacional, ressalta-se que a pesquisa transcende a ideia de aplicabilidade; a complexidade do campo não pode ser reduzida a respostas simplistas, um cuidado a ser tomado pelos pesquisadores. Assim, não se pretende chegar a respostas prontas, mas instaurar um espaço que pense e discuta questões como aprendizagem, adolescência, sentidos subjetivos e vulnerabilidade social, a fim de que surjam novos questionamentos que impulsionem o campo educacional a buscar novas e diversificadas possibilidades para o enfrentamento dessas questões, bem como a engajar-se em pesquisas que possam promover um diálogo profícuo a respeito dos temas educacionais (ANDRÉ, 2007).

Este estudo está baseado nos pressupostos da pesquisa qualitativa, que prioriza os processos e as relações estabelecidas entre os diferentes sujeitos da pesquisa e a realidade em que estão inseridos. Nesse caso, “a realidade é um ponto de partida e serve como elemento mediador entre os sujeitos” (SÁNCHEZ GAMBOA, 2012, p 45); sujeito e realidade são indissociáveis. Elementos não quantificáveis importam, ao passo que o problema de pesquisa não poderia ser respondido por experimentos com dados quânticos, pois “o termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para

extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível” (CHIZZOTTI, 2003, p. 221).

De acordo com Flick, (2004) existem quatro aspectos essenciais na pesquisa qualitativa, a saber: escolha adequada dos métodos e teorias; reconhecimento e análise das diferentes perspectivas dos interlocutores da pesquisa; reflexão do pesquisador como parte do processo de produção do conhecimento científico; e possibilidade de variedade nas abordagens e métodos. Tais aspectos são fundamentais, pois também corroboram a distinção entre os pressupostos da pesquisa qualitativa e da pesquisa quantitativa.

A pesquisa qualitativa, abordagem aqui adotada, trabalha sobretudo com textos, pois utiliza “métodos para a coleta de informações – como entrevistas e observações – [que] produzem dados que são transformados em textos” (FLICK, 2004, p. 27); logo, os métodos de interpretação partem desses textos. Entretanto, isso não quer dizer que imagens, desenhos, etc. não possam fazer parte do corpus da pesquisa nessa perspectiva. Caminhos distintos podem ser trilhados na pesquisa qualitativa. Cada problema de pesquisa vai demandar uma abordagem diferente; a pesquisa qualitativa permite essa flexibilidade e baseia-se nela, mas não deixa de ter rigor científico.

De acordo com Minayo (1994), o objeto de estudo das ciências sociais é fundamentalmente qualitativo, visto que “a realidade social é o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significados dela transbordante” (p. 15). A própria realidade é, pois, mais rica do que qualquer teoria, discurso ou pensamento que possamos elaborar sobre ela. A pesquisa qualitativa utiliza instrumentos e teorias que possibilitam aproximações da complexidade que é a vida dos seres humanos em sociedade, ainda que de forma incompleta. Para tanto, enfoca o conjunto de expressões encontrado permanentemente nas estruturas, nos sujeitos, nos processos, nos significados e nas representações humanas; “preocupa-se com um nível de realidade que não pode ser quantificado” (MINAYO, 1994, p. 21).

A pesquisa qualitativa trabalha com significados, crenças, aspirações, valores, atitudes, entre outros, que se referem a um lugar mais profundo das relações humanas, das produções, dos processos e fenômenos que não podem ser traduzidos ou interpretados por meio de quantificações, mas exigem um aprofundamento, uma compreensão e imersão muito maior e, portanto, responsabilidade por parte do pesquisador. Outra característica relevante da pesquisa qualitativa é que ela não segue uma sequência tão rígida no que se refere às etapas de realização da investigação; por exemplo, a coleta e a análise de dados não são etapas estanques. Essa modalidade de pesquisa permite que o pesquisador possa, simultaneamente, fazer a coleta dos

dados e as interpretações e, se necessário, realizar novas buscas de dados. Isso é possível porque o pesquisador poderá trabalhar com as categorias e hipóteses que emergirem dos dados coletados (TRIVIÑOS, 1987).

Dessa forma, a construção da fundamentação teórica, realizada na etapa de construção do projeto como uma revisão teórica profunda em torno da temática trazida pelo problema de pesquisa, foi constantemente retomada e redimensionada ao longo da realização da pesquisa. Isso foi feito em face das novas indagações e novas categorias que surgiram durante o processo de pesquisa.

O método dialético, presente neste estudo, propõe-se a pensar no sistema de relações dialéticas construídas entre os interlocutores da pesquisa, o pesquisador, a realidade material e as representações sociais, buscando traduzir os significados e sentidos produzidos socialmente a partir dos fatos e fenômenos vivenciados pelos sujeitos. Dessa forma, considera que os processos sociais precisam ser pensados e compreendidos nas suas transformações dadas pelos sujeitos, uma vez que “compreende uma relação intrínseca de oposição e complementaridade entre o mundo natural e social, entre o pensamento e a base material” (MINAYO, 1994, p. 25).

Com tais perspectivas pretende-se compreender os sujeitos, a realidade em que estão inseridos, os sentidos subjetivos que produzem acerca da aprendizagem, a produção e manifestação da subjetividade social e pessoal, considerando que, num movimento dialético, se constituem os sujeitos que produzem e reproduzem as condições históricas e culturais da existência humana.