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Mapa 5 – Cursos de Licenciatura em Matemática no Sul do Brasil até 1990

3 O ENSINO PÚBLICO EM SANTA CATARINA: DO CENÁRIO NACIONAL À

4.1 DA ABORDAGEM METODOLÓGICA

A pesquisa qualitativa ocorreu simultaneamente em diversas áreas, cada uma com suas características próprias e com embasamento teórico específico, por meio de conceitos de realidade específicos e por seus próprios programas metodológicos (FLICK, 2009).

Com relação à área específica, por seu objetivo e problema, a pesquisa aqui sistematizada coaduna-se à perspectiva metodológica da História Oral (HO), que, segundo Garnica (2004), pressupõe: “a transitoriedade dos seus resultados”; “a impossibilidade de uma hipótese a priori”; “a não neutralidade do pesquisador”; “a possibilidade de reconfiguração dos pressupostos da pesquisa”, e a “impossibilidade de estabelecer procedimentos sistemáticos, prévios, estáticos e generalistas”.

Com origem na transmissão de uma geração a outra de fatos históricos pela tradição oral e pela crônica escrita, a HO torna-se um marco temporal pelo qual “as pessoas comuns procuram compreender as revoluções e mudanças por que passam em suas próprias vidas” (THOMPSON, 1992, p. 21).

Para Meihy (1996), a HO é um recurso moderno usado para elaboração, arquivamento e estudos de documentos referentes à vida social de pessoas, sendo sempre uma história do tempo presente, além de ser uma metodologia de pesquisa.

Contudo, a HO é uma abordagem que vai além de um simples trabalho de natureza historiográfica, uma vez que é um modo de constituição de fontes históricas, importantíssimas para uma concepção de ciência. Para Garnica (2011, p. 10),

[...] a História Oral é uma metodologia de pesquisa que envolve coleta e tratamento de depoimentos e que, como tal, não se presta apenas ao desenvolvimento de trabalho de natureza historiográfica. A História Oral mantém e reforça a vitalidade de uma gama de abordagens chamadas genericamente de “qualitativas”, mas dela se diferenciando quanto a alguns pressupostos e procedimentos. [...] uma das funções precípuas do oralista é a constituição de fontes e que, o uso das fontes produzidas, em investigações específicas, requer que o oralista posicione-se quanto a uma concepção de ciência e, particularmente, de história, concebendo de forma alternativa os conceitos de imparcialidade, subjetividade e objetividade.

O autor enfatiza, ainda, que a opção por seguir esta metodologia implica em constituir fontes historiográficas, usadas ou não, no presente ou no futuro, como tal, e compromete-se com análises coerentes com sua fundamentação (GARNICA, 2011). Existem,

assim, algumas modalidades de HO, quais sejam, História Oral de vida, História Oral temática e tradição oral (GARNICA, 2003).

Como tal, e tendo como tema o ensino de matemática ministrado em escolas públicas pertencentes a 4ª GERED de Santa Catarina, esta pesquisa assenta-se na modalidade de História Oral temática, objetivando “depoimentos orais recolhidos de pessoas particularmente significativas para o problema focado pelo pesquisador, centrando-se mais em um conjunto limitado de temas” (GARNICA, 2003, p. 18).

Com relação à generalização, esta pesquisa não tem tal pretensão, pois compreendemos que estudos baseados na abordagem da HO possibilitam mostrar um horizonte novo que considera a existência de vários significados, ou seja, “diferentes usos de um mesmo termo incorrendo na mobilização de diferentes ações” (SOUZA; GARNICA, 2013, p. 375), ao invés de produzir padrões para um dado fenômeno.

Atualmente a HO é considerada por muitos pesquisadores, especialmente os de Educação Matemática, como uma metodologia de pesquisa, tendo seu marco de criação datado no período pós segunda guerra mundial nos Estados Unidos, por meio da qual é possível “que se recrie a multiplicidade original de pontos de vista” (THOMPSON, 1998, p. 25-26). Garnica (2003, p. 15) acrescenta ainda que nos últimos quinze anos a HO tem se tornado um “campo autônomo de investigação”. Dessa forma, esta dissertação utilizou-se dos conceitos da HO, tomando-a como metodologia, a qual conduziu este estudo.

Meihy e Ribeiro (2011, p. 17) contextualizam a HO em fases, definidas como “um conjunto de procedimentos que inicia com a elaboração de um projeto e que continua com a definição de um grupo de pessoas a serem entrevistadas e o uso futuro dessas entrevistas”.

Para Thompson (1992, p. 303-304), há três modos pelos quais a história oral pode ser construída:

A primeira é a narrativa da história de uma única vida: no caso de um informante dotado de memória excepcional, a segunda forma é uma coletânea de narrativas: é um modo de apresentar um material de história de vida mais típico, e a terceira é a da análise cruzada: a evidência da história oral é tratada como fonte de informações a partir da qual se organiza um texto expositivo.

Garnica (2003), por outro lado, destaca duas instâncias próximas e principais, que caracterizam as investigações: a História de Vida e a História Oral Temática.

Ao trabalhar com a História de Vida, o pesquisador interessa-se pelo que o depoente, previamente selecionado, conta de sua vida como uma totalidade: o depoente narra-se. Infância, adolescência, juventude, velhice, hábitos, vida profissional e pessoal compõem uma trama na qual se desfiam percepções e reconstruções do espaço e do tempo vividos. O trabalho com História Oral Temática, ainda que, como na História de Vida, pautado nos depoimentos orais recolhidos de pessoas particularmente significativas para o problema focado pelo pesquisador, centra-se mais em um conjunto limitado de temas. Pretende-se reconstituir “aspectos” da vida dos entrevistados: pretende-se auscultar partes de experiências de vida, recortes previamente selecionados pelo pesquisador. Certamente que, dada a atmosfera em que se espera transcorra a entrevista, fatos que deslizem para fora do campo temático previamente definido pelo pesquisador são também considerados, mas não terão, necessariamente, papel decisivo na interpretação da narrativa colhida (GARNICA, 2003, p. 18).

Levando em consideração as conceituações de Garnica (2003), percebemos durante o desenvolvimento deste trabalho dissertativo que a abordagem metodológica mais adequada para este estudo, a qual foi se constituindo em face ao problema, aos procedimentos, aos instrumentos, era a HO, uma vez que a questão geradora deste estudo consistia em identificar os desafios de formação e de prática enfrentados pelas professoras de matemática pertencentes a 4ª GERED de Santa Catarina entre as décadas de 1970 e 1990.