• Nenhum resultado encontrado

1 INTRODUÇÃO

1.11 Abordagem na minimização de impactes

Actualmente, a tendência das abordagens de impactes ambientais associados à problemática das águas residuais privilegia a gestão das actividades associadas a este processo, de modo a que seja possível controlar a escala e extensão dos possíveis efeitos

negativos. Assim, verifica-se um melhor reconhecimento dos impactes gerados localmente nos recursos hídricos circundantes, nomeadamente contaminações com nitratos, bactérias, nutrientes, sendo crescente o interesse por sistemas que optimizem o desempenho do tratamento (EPA, 2002).

Verifica-se igualmente uma maior preocupação em desenvolver métodos que permitam a reutilização de subprodutos gerados no tratamento e da própria água tratada (EPA, 2002).

No que respeita à minimização de impactes inerentes à fase de construção, destaca- se a necessidade de manter a população informada de todos os processos e seus desenvolvimentos, evitando a movimentação de veículos durante a noite e minimização da circulação de veículos pesados junto das habitações, dispondo sempre da respectiva sinalização. No que respeita à instalação do estaleiro da obra, é importante atender à localização de linhas de água próximas e à ocupação dos solos adjacentes, quer por explorações agrícolas, quer por habitações. A limpeza das vias públicas e a minimização de emissões de poeiras devem ser tidas em conta na fase de construção, assim como a adequada gestão dos resíduos e águas residuais geradas. A recuperação paisagística e os arranjos exteriores são uma forma de atenuar o impacte que a construção da ETAR representa para a zona em questão.

No que se refere a medidas minimizadoras de impactes associados ao funcionamento de uma ETAR, as abordagens podem ser orientadas para as causas dos mesmos ou para os seus efeitos (Wagner e Strube, 2005).

Durante a inspecção das 118 ETAR nos anos de 2001 e 2002, verificou-se que, em termos de impactes gerados e minimização dos mesmos, 73% das ETAR não apresentava tratamento dos gases gerados, enquanto que 8% possuíam sistemas físico-químicos para a remoção de odores. Em 12% dos casos inspeccionados, efectuava-se reaproveitamento de biogás e 3% das estações reutilizavam as águas residuais tratadas (MAOTDR, 2004).

Perante os principais impactes apresentados pela maioria das ETAR, a respectiva minimização é uma necessidade, assim como a elaboração e aplicação de planos de monitorização.

Assim, no que respeita aos odores e maus cheiros produzidos, é importante que os edifícios, onde estes odores são mais intensos, se encontrem confinados, possuindo sistemas de aspiração e tratamento desse ar. As gorduras, areias e gradados recolhidos, enquanto se encontrarem na estação de tratamento, devem permanecer em contentores ou outros recipientes fechados (Reedley, 2006).

Os equipamentos que mais prejudicam o ambiente sonoro devem ser também confinados, podendo alguns edifícios que os contenham, possuir paredes revestidas com material adequado ao controlo do impacte sonoro (Atkins Portugal e Âmbio, 2006).

No que respeita aos gastos energéticos, a digestão anaeróbia surge como uma importante solução na cogeração de energia, podendo colmatar uma fracção importante dos gastos em energia adquirida. Assim, neste processo produz-se simultaneamente energia eléctrica e térmica a partir do biogás produzido na digestão, aumentando a eficiência energética e minimizando o impacte ambiental da emissão de CO2 e CH4. Deste modo, os GEE produzidos neste processo, são reaproveitados e os seus efeitos nocivos, minimizados (apda, 2007). Numa óptica de optimização deste processo é importante desenvolver meios que permitam controlar as condições de anaerobiose, temperatura, pH e tempo de retenção (apda, 2007). Estudos recentes revelam que o processo de digestão anaeróbia com ozonização parcial da lama digerida alcança eficiências de conversão energética de biogás muito elevadas, segundo Yasui et al, citando Weemaes 2002, Goel 2003.

Com o crescimento populacional e industrial na zona litoral e junto aos grandes centros, prevê-se uma crescente procura de água com locais de origem cada vez mais afastados da zona de consumo, considerando a crescente a produção de águas residuais associada. Isto implicará grandes gastos energéticos no que respeita ao transporte de águas residuais e ao seu tratamento. Assim, soluções como a digestão anaeróbia, podem contribuir para a atenuação destes gastos.

Atendendo aos prazos temporais definidos para a obtenção níveis de tratamento impostos pela legislação, assiste-se a uma crescente construção de ETAR e à sua entrada em funcionamento, levando por isso a um aumento da produção de subprodutos, nomeadamente, lamas, cujo destino final é frequentemente a valorização agrícola ou o aterro sanitário (apda, 2007).

O elevado teor em matéria orgânica e o seu poder alcalinizante confere às lamas uma grande importância para a prática agrícola. No sentido de minimizar os custos e impactes deste processo, é importante que, nas ETAR, as lamas sejam convenientemente desidratadas, de modo a reduzir a água associada, optimizando assim os custos de transporte. Outros aspectos devem ser tidos em conta na gestão das lamas produzidas, como o facto da sua aplicação na agricultura ser de carácter sazonal e dada a necessidade de uma caracterização das mesmas, de modo a assegurar que a lama não contém compostos nocivos para o ambiente em que vai ser aplicada (apda, 2007). Assim, quanto melhor a qualidade da lama que se consegue assegurar, menores serão os impactes negativos decorrentes da sua aplicação no solo. Assim, além da desidratação ou digestão, emergem a necessidade de aplicar métodos como a higienização de lamas e métodos de

monitorização da respectiva qualidade (apda, 2007). Com este controlo de qualidade das lamas e do tipo de solo são aplicadas, é possível identificar e controlar a adição de metais pesados e outros elementos aos solos.

No que respeita à reutilização da água tratada, o conhecimento da sua composição é essencial, de forma a minimizar possíveis problemas a jusante da sua aplicação, nomeadamente no caso da rega. Neste processo, o risco de doenças associado ao consumo de alimentos vegetais cuja rega teve por base água residual tratada, foi analisado e confirmado (Hamilton, stagnitti, Premier e Boland, 2006). Assiste-se actualmente ao desenvolvimento de tecnologias capazes de melhorar a qualidade das águas residuais tratadas, tais como a separação por membranas, com vista a uma minimização de impactes associada à sua reutilização (Visvanathan et al, 2002).

Dadas as consequências da introdução de nutrientes no meio receptor, o desenvolvimento de tecnologias capazes de assegurar uma baixa concentração dos mesmos no efluente final assume grande importância. Os principais pontos a avaliar e a desenvolver centram-se na caracterização das formas de fósforo e azoto presentes no efluente, na gestão da adição de agentes químicos e sua influência no pH, na qualidade e quantidade de lamas produzidas (Pagilla et al, 2006).

No que se refere aos problemas associados às redes unitárias e pseudo-separativas, privilegiam-se medidas que actuem o mais a montante possível da descarga, nomeadamente a partir da construção de bacias de retenção que permitam o tratamento do caudal excedente transportado por este tipo de rede (apda, 2007).

Assim, uma redução significativa dos volumes totais de poluição, só é possível, garantindo tratamentos com eficiências de remoção elevadas nas zonas de maior densidade populacional. Sob o ponto de vista da protecção dos recursos hídricos, as metas a estabelecer, deverão privilegiar o balanço entre quantidade de carga orgânica removida e a capacidade de suporte do meio receptor, ao invés de "níveis de atendimento", que tendem a camuflar a assimetria dos problemas ambientais com esta origem (Matos e Monteiro, 2003).

Com vista ao controlo eficaz de todos os meios sujeitos a impactes das ETAR, o desenvolvimento e implementação de planos de monitorização da qualidade do ar, dos recursos hídricos, do ambiente sonoro entre outros, constitui um procedimento essencial (European Bank for Reconstruction and Development, 2007).

No sentido de assegurar os requisitos ambientais definidos, uma ETAR deve apresentar características estruturais e funcionais orientadas para esse compromisso.

A implementação de um sistema de gestão de risco afecto à ETAR, pode constituir uma contribuição para um melhor funcionamento da mesma. Já aplicado em algumas situações, este tipo de sistema de gestão de riscos reforça a eficiência dos processos,

contribui para um melhor desempenho da operação, assegurando a qualidade da água tratada e a conformidade da sua descarga. A qualidade da água tratada é um ponto vital e delicado nesta problemática pois, quando esta qualidade não é garantida, surgem impactes ambientais significativos no meio receptor, problemas financeiros para o sistema que gere a ETAR e descredibilização da mesma perante autoridades e população. Assim, e segundo Wagner e Strube, 2005, existem 4 tipos de riscos associados a uma ETAR: riscos operacionais, financeiros, legais e de mercado. Os riscos operacionais, visto dependerem quer de factores externos à instalação (chuvas, tempestades, cheias), quer internos (avarias em bombas e outros equipamentos mecânicos e eléctricos) são os que mais podem influenciar a qualidade do efluente final. Um problema associado à operação de gradagem implica entupimentos e obstruções a jusante, assim como avarias no sistema de arejadores podem comprometer o tratamento biológico, não se assegurando a qualidade necessária do efluente final. Se, por exemplo, o problema ocorrer em equipamentos de dosagem de reagentes químicos ou no controlo de temperatura do digestor, a estabilidade das lamas pode ser afectada. Uma falha no sistema de arejamento ou nas bombas de recirculação de lamas, pode implicar problemas na própria remoção de carbono ou azoto das águas residuais. A ocorrência de avarias no sistema de desodorização ou uma fuga de metano produzido na digestão anaeróbia põe em risco a qualidade do ar afecto à ETAR, contribuindo para o desconforto da população.

O planeamento de mais do que uma linha de tratamento ou o funcionamento cíclico e alternado de certos equipamentos, pode minimizar o risco de falhas operacionais. Adicionalmente, o recurso a sistemas de alerta desenvolvidos para níveis gasosos, de pH, temperatura e outros parâmetros, pode prevenir alguns impactes importantes (Wagner e Strube, 2005).

Actualmente, o desenvolvimento de tecnologia capaz de responder efectivamente às exigências de tratamento definidas, reaproveitar recursos e de gerar energia, constitui um dos aspectos mais importantes na despoluição de águas residuais e de minimização dos impactes associados.

Assim, importa cada vez mais avaliar os impactes associados não só à descarga inadequada de águas residuais, mas também aos métodos e meios implicados no seu tratamento, de modo a se obter um balanço sustentável e cada vez mais positivo, deste processo.

Documentos relacionados