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4 PASSOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

4.1 Abordagem qualitativa

Na busca de traçar um caminho metodológico que permita alcançar o objetivo geral desta pesquisa, buscamos, por meio de uma abordagem qualitativa de natureza bibliográfica, análise de documentação e de pesquisa de campo a partir da utilização das técnicas de questionário e entrevistas, nos aproximar das concepções e práticas trazidas pelos sujeitos pesquisados.

A pesquisa qualitativa deixa o pesquisador em contato direto com o sujeito, torna possível “trazer à tona o que os participantes pensam a respeito do que está sendo pesquisado” (MARTINELLI, 1999, p. 21) sem deixar de contemplar a importância de que “não é só a minha visão de pesquisador em relação ao problema”, tornando a tarefa de captar essas informações dos sujeitos um desafio ao pesquisador. Acreditamos que, na presente pesquisa, ao partir de contextos sociais extremamente diferenciados, corremos o risco de fazer julgamentos prévios de uma realidade ou outra, estigmatizando os sujeitos e locais, confundindo os resultados da pesquisa com conclusões que partem de nossos valores e ideias pessoais. Diante desta constatação, concordamos com Szymanski, Almeida e Prandini (2011), que enfatizam a importância do pesquisador cuidar de seus próprios

87 sentimentos, principalmente quando se trata de realidades com as quais não teve muito contato. Tendo ciência desta possibilidade, cuidamos ao realizar as análises dos conteúdos, assunto que trataremos adiante em momento apropriado, para não incorrer nessas eventuais influências que não agregarão à pesquisa, mas sem anulá-lo, tendo clareza de que “o pesquisador é integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado.” (BAPTISTA,1999, p. 35). Portanto, buscamos, no decorrer desta pesquisa, entender nos registros escritos e orais dos sujeitos pesquisados o modo de enxergar e vivenciar o currículo da educação infantil, sendo a importância desta prática reafirmada por Chizzotti (2011, p.28), ao garantir que uma abordagem qualitativa de pesquisa “implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que são somente perceptíveis a uma atenção sensível”. Desta feita, podemos concluir que partindo desta perspectiva há um dever do pesquisador em detectar os significados trazidos nas falas dos pesquisados, fazendo as interpretações de maneira a alcançar o sentido mais real possível.

Tendo clareza dos cuidados e exigências que requerem uma abordagem qualitativa é que fizemos o caminho da presente pesquisa, buscando escrever um texto que, nos dizeres de Chizzotti (2011, p. 29), seja “zelosamente escrito, com perspicácia e competência científicas, os significados patentes ou ocultos do seu objeto de pesquisa” que nos permita ampliar, averiguar e melhor compreender as relações estabelecidas nas práticas curriculares na educação infantil das escolas pesquisadas. Para a recolha de dados, utilizamos como procedimentos questionários e entrevistas.

4.1.1 Questionários e entrevistas

A entrevista, enquanto técnica de pesquisa, traz inúmeras possibilidades de complementar o discurso do sujeito pesquisado com o que está oculto ou não tão explícito, e o questionário foi utilizado como uma maneira de traçar o perfil de cada professora. Desta forma, procuramos, ao longo da pesquisa, obter os significados trazidos pelos sujeitos pesquisados por meio dos questionários e entrevistas.

88 A técnica de pesquisa por meio do questionário define-se como “um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do pesquisador.” (MARCONI; LAKATOS, 1988, p. 74).

Utilizamos primeiro o questionário, para, posteriormente, nas entrevistas de caráter semiestruturado, aprofundar as questões relacionadas ao currículo da educação infantil e suas práticas. Isto posto, a entrevista semiestruturada é constituída por uma “série de perguntas abertas feitas oralmente em uma ordem prevista, mas na qual o entrevistador tem a possibilidade de acrescentar questões de esclarecimento.” (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 333).

De acordo com Szymanski (2011), a entrevista é um encontro em que as expectativas do outro e de si estão em jogo. É um momento de aprendizagem para o entrevistador e o entrevistado, ou seja, é uma “comunicação bilateral” (RICHARDSON, 1999, p. 13). Por vezes, é comum que numa entrevista o sujeito pesquisado nunca tenha entrado em contato com determinadas perguntas, e, de acordo com Szymanski (2011, p. 15), “o movimento reflexivo que a narração exige acaba por colocar o entrevistado diante de um pensamento organizado de uma forma inédita até para ele mesmo”. Um objetivo a mais a ser considerado.

Partindo das reflexões de Szymanski (2011), nesse processo de escuta de elaboração e reelaboração de algumas questões, torna-se necessário, além de uma escuta compreensiva, reflexiva do entrevistador, uma constatação de que a comunicação está sendo clara e, desta forma, há a possibilidade de uma iniciativa da parte do pesquisador em, com outras palavras, expor aquilo que compreendeu na resposta do entrevistado, dando a ele a possibilidade de esclarecer caso não concorde com a interpretação ou aprofundar a questão para ser melhor compreendido.

Propomos, então, também esta técnica, a entrevista, como maneira de captar com maior fidedignidade as respostas dadas pelos entrevistados e aproximar-nos cada vez mais dos objetivos propostos ao realizarmos a análise do conteúdo ali explícito ou implícito.

89 4.1.3 Modalidade de tratamento e análise

A pesquisa numa abordagem qualitativa promove um encontro do pesquisador com o objeto e os sujeitos da pesquisa. Deste encontro, surgem as ideias trazidas de uma parte, sujeito participante da pesquisa, e a análise dessas ideias realizada pela outra, o pesquisador, que tem o papel de interpretar os fatos, sejam eles observados, ouvidos, lidos etc.

A modalidade de pesquisa denominada análise de conteúdo mostra-se “uma metodologia de tratamento e análise constante de um documento, sob forma de discursos pronunciados em diferentes linguagens.” (SEVERINO, 2007, p. 121). Para esta pesquisa, a opção de discutir e analisar os resultadospor meio das respostas aos questionários e entrevistas demonstrou ser pertinente se relacionados aos objetivos elencados inicialmente.

Ao analisar e discutir os resultados das entrevistas e questionários, foi necessário compreender, de maneira abrangente, os contextos nos quais se deram as respostas, buscando “compreender criticamente o sentido manifesto ou oculto das comunicações.” (SEVERINO, 2007, p. 121). Para tanto, tornou-se necessário buscar os significados explícitos e implícitos dos sujeitos e enxergar esta tarefa em seu contexto histórico, social e cultural, pois, de acordo com Faircloug (1992a; 1992b; 1995 apud CHIZZOTTI, 2011, p. 128):

A tarefa de uma análise crítica do discurso é considerar a linguagem conexa com a estrutura social, avaliar a função do discurso, sua ideologia na produção, manutenção e transformação das relações sociais de poder, desmistificar os discursos dominantes e construir uma consciência crítica.

Na busca por compor a discussão dos resultados com o contexto em que se realiza a pesquisa, as ideias trazidas pelo pesquisador e pelo sujeito participante da pesquisa, tendo claro que “toda a análise de conteúdo implica comparações textuais” (FRANCO, 2007, p. 20), podem seguir caminhos diferentes até mesmo dos já planejados pelo pesquisador. Entendendo desta maneira, é importante que se faça corretamente as relações entre o material coletado e o contexto dos sujeitos participantes da pesquisa, pois “esse procedimento tende a valorizar o material a ser

90 analisado, especialmente se a interpretação do conteúdo ‘latente’ estipular como parâmetrosos contextos sociais e históricos nos quais foram produzidos” (p.28).

Com os dados em mãos para a análise do seu conteúdo, um momento importante da pesquisa científica é a categorização do que foi recolhido. Não há um caminho certo a ser traçado neste momento: “em geral, o pesquisador segue seu próprio caminho” (FRANCO, 2007, p. 60), pois tal tarefa demandará grande esforço e também profundo conhecimento na temática pesquisada. Para esta pesquisa, optamos por considerar categorias preestabelecidas e modificá-las ao longo do processo de acordo com outras categorias que emergiram, demandas trazidas nas respostas dos entrevistados e nos questionários respondidos.

91 CAPÍTULO 5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS: O ENCONTRO DO CURRÍCULO PRESCRITO E DO CURRÍCULO EM AÇÃO NAS REALIDADES DIVERSAS

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