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2 A INEFICÁCIA DO TRATAMENTO PENAL APLICADO AOS

2.2. Abordagem sobre a imputabilidade, inimputabilidade e semi-

Para que haja um julgamento de reprovação acerca de uma pessoa, é necessário que esta seja capaz. A capacidade de culpabilidade é denominada de imputabilidade, portanto, o imputável é aquele que consegue chegar à representação de sua conduta e age com plena liberdade de entendimento e vontade.81 Para ser responsabilizado pelo fato típico e ilícito, o agente precisa ser

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MORANA, Hilda. Escala Hare PCL-R Manual. Disponível em: http://www.casadopsicologo.com.br/escala-hare-pcl-r-manual-criterios-para-

pesquisa.html#.VzDuzIQrLIU. Acessado em: 09 maio 2016. 77

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas, o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2008. p. 67.

78 AMBIEL, Rodolfo Augusto Matteo. Diagnóstico de psicopatia: a avaliação psicológica

no âmbito judicial. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712006000200015>. Acessado em: 04 maio 2016.

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Método usado para identificar psicopatas, também conhecido pela denominação escala Hare.

80 AMBIEL, Rodolfo Augusto Matteo. Diagnóstico de psicopatia: a avaliação psicológica

no âmbito judicial. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-82712006000200015>. Acessado em: 04 maio 2016.

81 BRANDÃO, Cláudio. Teoria Jurídica do Crime. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p.153. (Coleção Ciência Criminal Contemporânea, Vol. 1)

imputável, caso contrário, não há que se falar em culpabilidade. Autores como Eugenio Zaffaroni e José Henrique Pierangeli explicam que:

A capacidade de culpabilidade possui dois níveis: um considerado como a capacidade de entender a ilicitude (elemento intelectual), e outro que consiste na capacidade para adequar a conduta a esta compreensão (elemento volitivo). Dessa forma, imputabilidade consiste em um elemento da culpabilidade que exige do sujeito capacidade psíquica suficiente para, no momento da ação ou omissão, entender o caráter ilícito do fato e determinar-se de acordo com esse entendimento. Em suma, é considerado culpável quem possui capacidade de entender e de querer.82

O Código Penal Brasileiro não faz alusão ao conceito de imputabilidade no texto da lei, de modo que, chega-se ao seu significado por via negativa. É que nos artigos 26, 27 e 28 o CPB trata da inimputabilidade, portanto, sempre que o sujeito não se enquadrar como sendo inimputável, será considerado imputável.83

Há três sistemas que são levados em consideração para avaliar a imputabilidade do agente que pratica fato delituoso. São eles, o biológico, o psicológico e o biopsicológico.

O critério biológico considera o sujeito inimputável quando este for acometido por doença mental, possua desenvolvimento mental deficiente ou sofra de transtornos mentais, patológicos ou não. Ao provar esses fatos, o indivíduo é declarado inimputável.84

De acordo com o critério psicológico, o agente será considerado inimputável, conforme seu psiquismo ao tempo da ação. Aquele que não consegue enxergar a ilicitude da sua conduta não terá sua imputabilidade declarada.85

Já o critério biopsicológico, que foi o adotado pelo Brasil, é a junção dos dois critérios citados anteriormente. Existe a inimputabilidade quando há um fato

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ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro. Parte Geral. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. Apud: PIMENTEL, Vanessa Miceli de Oliveira. Psicopatia e Direito Penal. O Lugar do autor psicopata dentro do

sistema jurídico-penal. Disponível em:

<http://nessamiceli.jusbrasil.com.br/artigos/314024342/psicopatia-e-direito- penal?ref=topic_feed>. Acessado em: 22 abril 2016.

83 BRANDÃO, Cláudio. Teoria Jurídica do Crime. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 153. (Coleção Ciência Criminal Contemporânea, Vol. 1)

84 BRUNO, Aníbal. Direito Penal. op. cit., p. 510. Apud: BRANDÃO, Cláudio. Teoria Jurídica do Crime. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 153. (Coleção Ciência Criminal Contemporânea, Vol. 1)

85 BRANDÃO, Cláudio. Teoria Jurídica do Crime. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 154. (Coleção Ciência Criminal Contemporânea, Vol. 1)

biológico, por exemplo, uma doença mental, e em decorrência disto ocasionar um fato psicológico, por exemplo, o indivíduo não compreender a ilicitude da sua conduta.86

Diante análise do Direito Penal Brasileiro, é observada a seguinte norma consoante a inimputabilidade:

Inimputáveis

Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Redução de pena

Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)87

O artigo 26 será objeto do estudo, pois é nele que há previsão legal acerca da doença mental ou do desenvolvimento mental incompleto ou retardado.

Como já se sabe, o Brasil adotou o critério biopsicológico para declarar a imputabilidade de alguém que comete ato em desacordo com a lei. No caso do artigo 26, é necessário que ocorra uma ação e que esta seja consequência de um processo biológico que altere, definitivamente ou momentaneamente, as funções mentais, determinando assim, a perda ou suspensão da capacidade de consciência e vontade do sujeito.

Sendo assim, percebe-se que há um processo biológico, uma situação de anormalidade mental, que acarreta uma doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, que bloqueia a compreensão da condição ilícita do fato, este sendo o elemento psicológico.88

O Direito Brasileiro, no parágrafo único do artigo 26, trata ainda da imputabilidade diminuída. Não há posicionamento definitivo quanto ao que se separa do mentalmente são do insano mental. Há um limite impreciso entre eles, que é preenchido pelos sujeitos denominados fronteiriços.

86 BRANDÃO, Cláudio. Teoria Jurídica do Crime. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 15. (Coleção Ciência Criminal Contemporânea, Vol. 1)

87BRASIL. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del2848compilado.htm>. Acessado em: 12 maio 2016.

88 BRANDÃO, Cláudio. Teoria Jurídica do Crime. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 156. (Coleção Ciência Criminal Contemporânea, Vol. 1)

Fronteiriços são os indivíduos que possua capacidade reduzida de entender o caráter ilícito do fato, por força de um acontecimento biológico (doença mental ou desenvolvimento mental incompleto).89

É importante termos atenção, pois, a lei menciona perturbação e não doença mental. De acordo com Roque de Brito Alves, que afirma que: “toda doença mental implica perturbação da saúde mental, mas a recíproca não é verdadeira. As personalidades psicopáticas, por exemplo, apresentam sinais de perturbação de saúde mental, sem atingir o grau de doença”.90

Quanto à redução da capacidade, nos adverte ainda Cezero Mir que: “redução de capacidade de compreensão dos semi-imputávies pode tanto ser oriunda de um fato natural, quanto da ação de medicamentos no caso de resposta positiva a tratamento médico”.91

Os sujeitos considerados fronteiriços , em regra, são plenamente imputáveis, contudo, caso lhes sejam aplicada uma pena, gozam, obrigatoriamente de redução de pena que varia de um a dois terços. Ainda na hipótese do semi- imputável necessitar de tratamento especial curativo, a pena poderá ser substituída por medida de segurança,92

Substituição da pena por medida de segurança para o semi- imputável.

Art. 98 - Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a 4º. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)93

De acordo com o ordenamento brasileiro, aos inimputáveis não cabe aplicação de uma pena. Dessa forma, medida de segurança só será aplicada aos

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BRANDÃO, Cláudio. Teoria Jurídica do Crime. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 156. (Coleção Ciência Criminal Contemporânea, Vol. 1)

90 ALVES, Roque de Brito. Crime e loucura. Recife: FASA, 1998. pp. 66-67. Apud: BRANDÃO, Cláudio. Teoria Jurídica do Crime. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 158. (Coleção Ciência Criminal Contemporânea, Vol. 1).

91 CEREZO MIR, José. El tratamiento de lossemiimputables. Problemas fundamentalesdelderecho penal. Madri: Tecnos, 1982. p. 142. Apud: BRANDÃO, Cláudio. Teoria Jurídica do Crime. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 158. (Coleção Ciência Criminal Contemporânea, Vol. 1).

92 BRANDÃO, Cláudio. Teoria Jurídica do Crime. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2015. p. 158. (Coleção Ciência Criminal Contemporânea, Vol. 1).

93BRASIL. Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- lei/Del2848compilado.htm>. Acessado em: 12 maio 2016.

inimputáveis por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Assim, quando houver violação de bens jurídicos, por ações que não sejam criminosas, sendo apenas típicas e antijurídicas praticadas por inimputáveis, inseridos às hipóteses do artigo 26 do Código Penal, a consequência aplicada deverá ser a medida de segurança e não uma pena.94

A dúvida que permanece diante do que foi exposto é se o critério para determinar a imputabilidade de um sujeito, desenvolvido pela Ciência Penal, está sendo suficiente diante da complexidade do fenômeno da psicopatia.

Do que já foi analisado dentre características e conceitos sobre o serial killer, percebe-se que se trata de um indivíduo que sabe distinguir o certo e o errado e que sabe o que está fazendo, tendo, inclusive, a capacidade de controlar seus impulsos. Diante disso, da forma como o Direito Penal e o sistema jurídico-penal foram postos, o sujeito psicopata, até então, é considerado culpável pelos atos criminosos que comete.

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