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Capítulo 2 Intervenientes no Processo de Avaliação

2.1. Estilos de Aprendizagem

2.1.3. Abordagem unidimensional dos estilos cognitivos

A explicação para a abordagem unidimensional dos estilos cognitivos prende-se bastante com a dependência vs independência de campo (DIC). Foi Herman Witkin que criou esta teoria com a publicação de “Psychological Differentiation” em 1962 e vários investigadores tomaram como objetivo de estudo o estilo cognitivo por ele apresentado.

Várias hipóteses foram colocadas na elaboração desta teoria como a hipótese da consistência do comportamento. Neste âmbito foram feitas várias investigações sobre a relação do estilo percetivo e cada um com a cognição. Por exemplo, as relações entre as medidas do DIC e a inteligência são bastante elevadas. Outra das hipóteses tida em consideração foi a da estabilidade e os resultados mostram que o teste DIC é estável ao longo do tempo mas não é imutável.

Ao longo dos tempos têm sido publicados vários estudos que destacam as diferenças individuais no estilo cognitivo de independência de campo (IC) e dependência de campo (DC) tendo por base trabalhos de Witkin. Moore, Goodenough e Cox.

Vários aspetos foram avaliados e apresentam-se de seguida os principais resultados relativos às diferenças entre dependência e independência de campo:

Eloísa Isabel Fernandes Guerra 28  A utilização de mediadores: alguns alunos com estilo cognitivo IC têm

mais probabilidades de utilizar processos mediadores como a análise, quando o campo está organizado. A estrutura principal de um texto ou de uma palavra tem de ser transformada numa estrutura secundária em termos de ideia geral. A abordagem analítica do aluno IC que reorganiza a informação selecionada para outra estrutura coerente, deverá também melhorar a realização da leitura, por exemplo.

Processamento hemisférico, estilo cognitivo e leitura: Baker, segundo a obra Cognição e Aprendizagem Escolar, já citada, propõe que o desempenho na leitura ao nível da sua aprendizagem inicial está associada com padrões específicos de processamento da informação. No processo da aprendizagem da leitura podemos distinguir duas fases em que na primeira os alunos utilizam estratégias visuo-espaciais para discriminarem as características das novas formas de letras e para reestruturarem as palavras em termos de imagens. Numa segunda fase os processos da primeira fase automatizam-se e as estratégias de processamento linguístico para uma compreensão do texto tornam-se dominantes. O hemisfério cerebral esquerdo seria o responsável pela execução das estratégias de processamento linguístico. Os alunos IC conseguem uma maior rapidez na leitura e no reconhecimento de palavras soltas do que os DC. Os DC obtiveram maus resultados na iniciação à aprendizagem da leitura.

A interação entre estilo cognitivo e ensino: leva-nos a pensar se a aprendizagem melhorará ou não se o ensino for adaptado ao estilo cognitivo do aluno. Desta forma o estilo cognitivo do aluno poderia servir de base para adequar o contexto de aprendizagem ao seu estilo. Os alunos IC aproveitarão mais num contexto de aprendizagem de baixa estruturação e não são influenciados por alterações na estrutura. Os alunos DC aproveitam mais um contexto altamente estruturado. Para operacionalizar a mudança na estrutura do contexto de ensino pode trabalhar-se a responsabilidade do aluno pelo contexto e definição dos objetivos de aprendizagem, pode ser feita a organização prévia dos materiais de aprendizagem, pode mexer-se com o controlo imposto sobre as atividades do aluno durante a aprendizagem e pode ser

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efetuado um ensino diretivo por parte do professor. Na condição do ensino estruturado pelo aluno os alunos IC tiveram melhores resultados. No caso do ensino ser estruturado pelo professor os alunos DC tiveram melhores resultados do que os alunos IC. Os alunos DC têm uma fraca capacidade para utilizarem mediadores internos e só apresentaram melhores resultados no ensino estruturado pelo professor devido à ordem previamente determinada na aprendizagem de conceitos e pelo controlo imposta nas capacidades de aprendizagem.

Orientação social: muitas investigações com as de Witkin, já referido, têm demonstrado que pessoas dependentes de campo “estão

particularmente interessadas e seletivamente atentas aos aspetos sociais do meio”. Desta forma estas pessoas aprendem mais facilmente

assuntos de conteúdo social. Os alunos IC preferem situações impessoais e os alunos DC preferem o contrário devido à confiança que têm em relação aos referenciais sociais externos. Estudos feitos por Ruble e Nakamura mostraram que os alunos DC fixam mais o olhar no professor durante uma aprendizagem. Os alunos DC preferem estar mais fisicamente chegados às pessoas e são vistos pelos outros como pessoas simpáticas, delicados, generosos, sociais e desejados pelos outros.

Motivação e Aprendizagem: os alunos IC mostram aprender e recordar mais do que os alunos DC em condições de motivação intrínseca. No entanto, os alunos DC aumentam bastante o seu desempenho em relação aos IC nas condições de feed-back negativo ou crítica verbal. No contexto educacional os alunos IC não perecem ser assim tão influenciados por notas ou graus, críticas ou feed-back negativo, como de facto são.

Para além da dependência e Independência de Campo, podem ser referidos outros estilos cognitivos, como os que de seguida apresento de forma breve:

 Reflexividade/Impulsividade: refere-se à forma como as pessoas enfrentam as situações-problema. Os alunos que impulsivos, face a várias hipóteses de solução, selecionam primeiro uma das

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possibilidades e só depois constatam se a escolha são ou não corretos. Outros alunos refletem antes da escolha e quando a fazem já eliminaram, através da reflexão, aquelas que estão incorretas.

 Simplicidade/Complexidade cognitiva: refere-se ao número e à variedade das categorias com que o sujeito conceptualiza o mundo que o rodeia. A complexidade apresenta-se como mais durável e desejável. Podemos concluir com isto que as pessoas são diferentes na forma como aprendem e é muito importante que se conheça, as diferenças individuais na aprendizagem.

Desta forma, a informação deve ser apresentada de diferentes modos, para que todos se sintam confortáveis no processo de aprendizagem. Se forem fornecidas atividades de aprendizagem diversificadas com diferentes possibilidades de escolha os alunos terão a oportunidade de trabalhar e aprender da forma que mais gostam.

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