• Nenhum resultado encontrado

Questions with high adverbial WH-phrases, cartography and the case of interrogatives with ‘como assim’ in BP 1

2. Abordagens cartográficas para interrogativas com advérbios altos

As diferenças interlinguísticas relacionadas ao movimento do operador interrogativo e ao alçamento de I para C, que têm sido estudadas por sintaticistas formais desde pelo menos a década de 1960, foram retomadas dentro da Abordagem Cartográfica. Rizzi (1997) lança mão do Critério-Wh 9 Essas três propriedades parecem se aplicar também às demais leituras de como assim, exceção feita para a possibilidade de encaixamento em interrogativas com leitura de causa e propósito; não encontramos consenso sobre essa característica entre falantes nativos do PB. Nesse sentido, seria interessante realizar um estudo experimental. Neste estudo, olharemos para as três restrições citadas acima apenas no âmbito das interrogativas de incredulidade.

(RIZZI, 1991/1996), o qual exige que um constituinte dotado do traço [+wh] manifeste configuração Spec/núcleo com um núcleo dotado do mesmo traço. Assumindo que em línguas como o italiano a flexão (I) seja o núcleo [+wh], é fornecida uma explicação para os movimentos realizados nos exemplos (1a’), (1b’) e (1c’): o verbo finito, que contém I, e o sintagma-wh se movem para CP (mais especificamente, para Spec de FocP) para entrarem na requerida relação de Spec/núcleo. Por outro lado, em línguas que apresentam movimento do constituinte interrogativo sem ocasionar I para C, como o português, ou em línguas em que não ocorre nem movimento-wh visível nem I para C, como o chinês, I não é dotado do traço [+wh], e outras estratégias são acessadas para a satisfação do princípio do Critério-Wh (cf. RIZZI, 1996, 1997; sobre o PB, vide MIOTO, 2001; 2003)

Para dar conta do contraste relacionado ao movimento de I para C que se verifica, em uma mesma língua, entre interrogativas com sintagmas-wh argumentais/com adverbiais baixos e com wh-adverbiais altos, Rizzi (2001) assume para o sistema CP matriz a hierarquia de núcleos funcionais em (10); para o CP encaixado, a estrutura é a apresentada em (11)10.

(10) [ForceP [TopP [IntP [TopP [FocusP [TopP [FinP

(11) [ForceP [TopP [IntP [TopP [FocusP [TopP [WhP [TopP [FinP

O autor propõe que perché e come mai são gerados diretamente na posição de especificador da projeção de InterrogativeP (IntP), e que Int° seja intrinsecamente dotado do traço [+wh]. Em outras palavras, em interrogativas com perché/come mai o Critério-Wh é satisfeito por meio da configuração Spec-núcleo entre perché/come mai, em Spec de IntP, e o núcleo Int°. Dessa forma, o movimento de I a C não é requerido.

No sistema de Rizzi (2001), a posição Spec de IntP é dedicada a operadores interrogativos sentenciais que podem ser gerados nessa posição, como é o caso de sintagmas-wh correspondentes a advérbios altos. A geração direta em Spec de IntP não é estendível a advérbios baixos, como em (1b-c): nesse caso, come/dove, devido a razões selecionais e interpretativas, são obrigados a se originar em uma posição interna a IP. Consequentemente, come/dove apenas podem satisfazer o Critério-Wh via movimento para o Spec de FocP (posição que aloja sintagmas-wh movidos), o que

10 Essa proposta da hierarquia de sentenças matrizes e encaixadas foi posteriormente reformulada por Rizzi e Bocci (2016) como sendo as representadas em (ia) e (ib), respectivamente. As mudanças propostas com relação à hierarquia de (2001) não influenciam no estudo de como assim, razão pela qual trabalharemos com as propostas simplificadas em (10) e (11).

(i) a. [Force [ Top* [Int [ Top*[ Foc[ Top*[ Mod [ Top* [Fin [ IP]]]]]]]]]]

b. [Force [ Top* [Int [ Top*[ Foc [ Top*[ Mod [ Top*[ Qemb [Fin [ IP]]]]]]]]]]

ocasiona o movimento de I para C.

Dentro dessa perspectiva, a possibilidade de co-ocorrência com um sintagma focalizado para perché e come mai versus a impossibilidade para sintagmas-wh argumentais e advérbio baixos, ilustrada em (4) e (5), é uma decorrência das diferentes posições criteriais com as quais os diferentes sintagmas-wh se envolvem: estes se movem para Spec de FocP (competindo, portanto, com um sintagma-wh), enquanto aqueles se originam em Spec de IntP, uma posição acima do núcleo de Foco, o que possibilita a co-ocorrência com um foco na ordem Wh-Foco.

Ao assumir que elementos-wh adverbiais altos sejam inseridos diretamente na periferia esquerda, Rizzi (2001) partilha de uma visão na qual estão estudos como os de Hornstein (1995), Ko (2005), Stepanov e Tsai (2008), Tsai (2008) e Thornton (2008), segundo os quais elementos-wh adverbiais altos não são associados a uma variável sintática. Porém, como observa o próprio Rizzi (2001), interrogativas podem ser ambíguas no que diz respeito ao escopo do elemento-wh, como mostram os exemplos do italiano e do inglês (12) e (13) adaptados de Shlonsky e Soare (2011):

(12) Perché hai detto che è partito?

‘Por que disse que ele foi embora?’

(13) Why did you say that Daniel left?

‘Por que você disse que o Daniel foi embora?’

Os elementos perché e why podem ser interpretados na frase matriz (leitura matriz), colocando como pergunta a razão de o interlocutor (pro (2a pes.), em (12); you ‘você’, em (13)) ter dito alguma coisa. Além disso, tais sintagmas-wh podem ser interpretados na frase encaixada (leitura encaixada), questionando a razão pela qual o sujeito da frase encaixada (Daniel em (13) e a referência de pro em (12)) partiu. De acordo com Rizzi (2001), na interpretação encaixada, perché/why envolvem movimento para garantir seu escopo baixo. Eles são gerados em Spec de IntP da sentença encaixada e, em seguida, vão para o Spec de FocP da sentença matriz. As análises de perché/why nas leituras matriz e encaixada da sentença em (13), por exemplo, são ilustradas, em seus aspectos relevantes, em (14) e (15), respectivamente.

(14) [ForceP [IntP why … did ... [IP you say [that ... … [IP Daniel left …

A proposta de que na leitura encaixada de perché envolve movimento deriva de dados como os em (16) e (17), que exibem um contraste: enquanto em (16) são possíveis ambas as leituras matriz e encaixada, em (17) apenas a leitura matriz é disponível. Esse fato mostra que a leitura encaixada de why é sensível à negação, que provoca uma intervenção/violação de Minimalidade Relativizada (RIZZI, 1990) na passagem de why da sentença encaixada para a sentença matriz, tal como esquematizado em (18):

(16) Why did you say Geraldine fixed her bike?

‘Por que você disse que a Geraldine consertou a bicicleta dela?’

Leitura matriz: Why did you say so and so?

‘Por que você disse tal coisa?’

Leitura encaixada: Why did Geraldine fix her bike?

‘Por que a Geraldine consertou a bicicleta dela?’

(RIZZI, 1990; 2001 apud SHLONSKY; SOARE, 2011) (17) Why didn’t you say Geraldine fixed her bike?

‘Por que você não disse que a Geraldine consertou a bicicleta dela?’

Assim, o sintagma NegP funciona como uma barreira para o movimento do sintagma-wh why.

Por outro lado, a assunção de que na interpretação encaixada perché se move para Spec de FocP matriz se deve ao fato de perché ser incompatível com um foco. Uma frase como (19), com perché seguido de um foco, não é ambígua: pode ter leitura matriz, mas não leitura encaixada.

(19) Perché A GIANNI ha detto che si dimetterà (non a Piero)?

‘Por que pro GIANNI ele disse que vai se demitir (não pro Piero)?’ (RIZZI, 2001, p. 8) Em estudo sucessivo, Shlonsky e Soare (2011) apresentam um refinamento para a abordagem de Rizzi, tendo como ponto motivador o princípio do Criterial Freezing, identificado no trabalho de Rizzi (2006) sobre a formação de cadeias-A’. Apresentando argumentos baseados na sintaxe de why e de seu correspondente em romeno, de ce, Shlonsky e Soare (2011) assumem uma dissociação entre a posição de merge externo e a posição criterial de why. Eles propõem a existência de uma projeção

não-criterial localizada abaixo de IntP, denominada ReasonP. Essa seria a posição de merge externo de why, assim como de suas contrapartes em algumas línguas. Na leitura local, why se move de Spec de ReasonP para Spec de IntP:

Diferentemente de Rizzi (2001), Shlonsky e Soare assumem a presença de uma projeção WhP para acomodar sintagmas-wh argumentais, seja em frases matrizes, seja em encaixadas. Nessa perspectiva, os autores propõem que, na leitura encaixada, why se move para o Spec de WhP matriz, partindo de Spec de ReasonP encaixado11, 12 (cf. (21)).

Como se observa, as propostas de Rizzi (2001) e de Shlonsky e Soare (2011) se diferenciam em dois aspectos centrais: um é a posição de merge externo de why, e a outra refere-se ao fato de why envolver ou não movimento em contextos matrizes. Independentemente de tais diferenças, ambas as análises compartilham a ideia de que sintagmas adverbiais altos se originam em uma posição alta da estrutura sintática, mais precisamente, na camada CP, seja em contextos matrizes, seja em encaixados.

Em suma, dentro da abordagem cartográfica, sintagmas-wh adverbiais altos como perché/why (cf. (2)) se diferenciam de sintagmas-wh argumentais (tais como che cosa em (1a’)) e adverbiais baixos (tais como dove e come, ilustrados em (1b’-c’)) por nascerem no sistema CP. Todavia, é importante ressaltar que a literatura aponta contrastes entre as próprias interrogativas com sintagmas-wh adverbiais altos. Muitas dessas diferenças têm sido descritas com base no inglês. Como observa Collins (1991), existem importantes contrastes sintáticos entre why e how come. Entre eles está o fato de que interrogativas matrizes com why, mas não com how come, desencadeiam movimento de I para C:

11 Com essa proposta, Shlonsky e Soare (2011) evitam um problema que os autores apontam para a análise de Rizzi (2001): o fato de que, na leitura encaixada, why se origina na posição criterial de Spec de IntP e, em seguida, passa por outro movimento em direção do Spec de FocP matriz, violando, assim, o Congelamento Criterial.

12 Vide seção 5 de Shlonsky e Soare (2011) para uma discussão sobre como é possível dar conta, nessa abordagem, da incompatibilidade entre foco e wh argumental em contextos matrizes, e de por que why se move para Spec de WhP, e não Spec de IntP na leitura encaixada.

(22) a. Why did John leave?

‘Por que o John foi embora?’

b. How come John left?

‘Como assim o John foi embora?’ (COLLINS, 1991, p. 32) Outro contraste é que enquanto uma pergunta como (23a) pode ter leitura matriz ou encaixada, uma sentença como (23b) pode apenas ter escopo sobre a sentença matriz. Tal diferença é verificada também em italiano, entre perché e come mai, como mostra (24).

(23) a. Why did John say Mary left?

‘Por que o John disse que a Maria partiu?’

b. How come John said Mary left?

‘Como assim o John disse que a Maria partiu?’ (COLLINS, 1991, p. 33) (24) a. Come mai ha detto che si dimetterà? (√leitura matriz)

‘Como assim (ele/a) disse que vai se demitir?’ (*leitura encaixada) b. Perché ha detto che si dimetterà? (√leitura matriz) ‘Por que (ele/a) disse que vai se demitir?’ (√leitura encaixada)

(SHLONSKY; SOARE, 2011, p. 665-666) Collins (1991) deriva as diferenças entre interrogativas com why e how come com base na ideia de que why nasce como adjunto de IP e se move para Spec de CP. Isso é representado em (25), em que INFL indica o movimento de I para C. Por outro lado, este mesmo autor propõe que how come ocupa o núcleo de CP, tal como em (26):

A análise de Collins, na verdade, assume que, em alguns casos, why pode ser também inserido como adjunto de VP, sem fazer referência ao tipo de leitura envolvida (se de causa/razão ou propósito, por exemplo). Isso pode ser apontado como um problema para a abordagem, por pelo menos dois aspectos: primeiro, por retirar o caráter de operador sentencial de why quando envolve leitura de causa/razão; em segundo lugar, por obscurecer diferenças importantes entre advérbios altos e baixos, como é o caso da conhecida restrição de agentividade, a qual opera sobre advérbios baixos, mas não sobre elementos como why (cf., entre outros ZWICKY; ZWICKY, 1973; TSAI, 2008).

Shlonsky e Soare (2011), por outro lado, propõem que how come/come mai têm como posição de base Spec de IntP. Portanto, em sentenças como (23b) e (24a), how come e come mai, quando interpretados na sentença encaixada, são inseridos diretamente em Spec de IntP, sendo sujeitos ao Criterial Freezing. Uma das consequências é que tais sintagmas não podem realizar o movimento para a sentença matriz, movimento que possibilitaria a leitura encaixada. Por outro lado, isso não ocorre com why e perché, dado que esses elementos têm como posição de base Spec de ReasonP, uma posição não criterial. A partir dessa posição, why e perché têm a possibilidade de se mover para o Spec de IntP matriz (cf. (20)), gerando a leitura matriz, ou para Spec de WhP matriz, gerando a leitura encaixada (cf. (21)).

Sentenças com como assim em PB parecem ser contraparte de sentenças com how come/come mai, dado que, como essas, veiculam a leitura causal. Porém, perguntas com como assim podem também apresentar outros tipos de leituras aparentemente não identificadas em línguas como o inglês e o italiano. A literatura acerca de sentenças com come mai no italiano é escassa. Para compreender as leituras de como assim, na seção que segue apresentaremos as propriedades semânticas de how come.

Ao mesmo tempo, serão tecidas algumas considerações sobre estruturas interrogativas com zenme, do chinês.