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A distribuição geral dos ovos pelas áreas de coleta demonstrou um gradiente quantitativo ascendente da área 1 para a área 4. Segundo LEIBY (1984), os ovos planctônicos estão à mercê do hidrodinamismo e das correntes superficiais provocadas pelo vento, pois os ovos não possuem movimentação própria.

Segundo UFRJ/PETROBRÁS (1995), o vento Nordeste (NE) é predominante na lagoa Imboassica. O vento NE sopra na direção da área 2 para a área 1 . Além disso, existem ventos que sopram constantemente, em menor grau, do oceano para a lagoa, como é o caso dos ventos Sudeste (SE) e Sudoeste (SO), assim como o vento Leste (L) (PANOSSO et ai., 1998). Naturalmente, apesar de todos os ventos não soprarem simultaneamente, tais direções, podem provocar um conjunto de forças que resultem em um vetor principal direcionado à área 4, que provoca uma corrente superficial no espelho d'água naquele mesmo sentido, o que possivelmente explica a maior quantidade de ovos coletados nas áreas 4 e 3, respectivamente (fig. 65).

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Vento NE

Vento L

Vento SO Vento SE

Vento predominantQ Ventos secundáriosll Corrente superficial criada a longo prazo Fig. 65 - Suposto efeito do vento na distribuição dos ovos na lagoa Imboassica.

PANOSSO et ai. (1998) citam que a lagoa Imboassica, por possuir profundidade reduzida, é um ambiente altamente vulnerável à ação dos ventos, sendo este um importante fator controlador dos padrões de distribuição espacial das comunidades e organismos planctônicos. Portanto, podemos sugerir que o fator que influencia de maneira mais intensa a distribuição espacial dos ovos no interior da lagoa Imboassica são as correntes superficiais provocadas pelo vento.

A 1 ª abertura de barra (Mai/95) não demonstrou grande importância no incremento de ovos para o interior da lagoa. Na 2ª abertura, ocorrida em nov/95, também não houve incremento de ovos para o interior da lagoa, os quais mantiveram valores sempre baixos no período da abertura e no período pós-abertura.

A grande maioria dos ovos (98 %) foi coletada logo após a 3ª abertura de barra do período de estudo, ocorrida em abril de 1996, demonstrando que a época em que esta abertura foi realizada, provavelmente coincidiu com o período de desova de alguma espécie, a qual pode ter entrado na lagoa para desovar ou seus ovos podem ter adentrado a

lagoa pelo canal aberto, em decorrência das marés enchentes. Outro fator que vale a pena ser lembrado é que a entrada da água salgada proveniente das preamares, provoca um aumento brusco da salinidade e pode ter agido como um "estímulo químico" para a desova da população de alguma espécie marinha que porventura já habitava a lagoa durante o período anterior, com a barra fechada. O fato da 3ª abertura ter sido mais importante do que a 1 ª e 2ª aberturas para o ictioplâncton, não coincide, de certa forma, com os resultados obtidos por FROTA (1 997) que comprovou que a abertura de novembro de 1 995 (2ª abertura) foi mais importante, em termos de biomassa de peixes adultos, do que a abertura de abril de 1 996 (3ª abertura). Este fato sugere que, apesar da abertura de Nov/95 ter sido mais significativa em termos de biomassa de peixes, a abertura de Abr/96 foi mais importante, em termos reprodutivos, para algumas espécies que utilizam as águas da lagoa para este fim, fato este corroborado pelos 98 % do total de ovos e 73 % do total de larvas coletadas após aquele período.

Outro fator que pode influenciar na abundância e distribuição de ovos e larvas de peixes é a predação destes por outros organismos planctônicos. Vários grupos taxonômicos estão entre os principais predadores de ovos e larvas de peixes incluindo os quetognatos, sifonóforos, cnidários, crustáceos, moluscos, peixes planctívoros e aves marinhas (AL VARINO, 1 977; BEWER et al. , 1 984; ITTJNTER, 1 984; PURCELL, 1 985). HEMPEL (1 984) afirma que não há predadores planctônicos especializados em ictioplâncton, porém, o grande número de comedores generalistas de plâncton, é que causam a alta mortalidade, por captura, de ovos pelágicos de peixes. Vários autores apresentam os seus pontos de vista no qué diz respeito aos principais grupos predadores de ovos e larvas de peixes. ITTJNTER (1 984) sugere que os peixes planctívoros (recrutas ou adultos), principalmente os Clupeiformes, estão entre os principais predadores, devido à sua abundância, comportamento de formação de cardumes e hábitos alimentares filtradores, e inclui alguns

ctenóforos e dinoflagelados como os principais causadores da mortalidade em ovos de peixes; PURCELL (1985) afirma que pesquisas recentes apontam os cnidários e ctenóforos como importantes predadores. BIGELOW (1926) verificou que os ctenóforos são tão vorazes, que "varrem" praticamente o plâncton da região em que habitam, deixando-a limpa, e conclui que nenhum ser zooplanctônico pode coexistir com eles.

Observamos, nas coletas e triagem de material, que os predadores potenciais existentes na lagoa Imboassica foram provavelmente peixes planctívoros (Clupeidae e Engraulidae) e, principalmente, os ctenóforos, pois sua presença era sempre maciça nos meses subseqüentes às aberturas de barra. Nestes períodos pós-aberturas de barra, a água da lagoa Imboassica apresentava grandes concentrações de ctenóforos, o que prejudicava os arrastos de plâncton, pois a rede ficava completamente cheia destes organismos, obrigando-nos a considerar apenas o conteúdo que permanecia retido no "copo" da rede de plâncton. Segundo PURCELL (1985) muitos cnidários e ctenóforos pelágicos ocorrem em números "epidêmicos", sazonalmente e em ambientes costeiros e o potencial de cnidários e ctenóforos como predadores dos estágios iniciais dos peixes e como competidores por alimento é comprovado e os efeitos combinados de todos os predadores potenciais em uma determinada área é significativo para a mortalidade total de ovos e larvas de peixes

(PURCELL op. cit.).

Pelo que foi discutido acima, sugere-se que um dos fatores que possa ter alterado a composição e distribuição do ictioplâncton na lagoa lmboassica foi a predação. Porém, tal fato não pode ser confirmado, pois nenhum estudo específico sobre a predação de ovos e larvas de peixes por organismos planctônicos foi realizado na região e, segundo PURCELL (1985), estudos sobre a medição da abundância de predadores no plâncton são essenciais para estimar o impacto causado pelos mesmos em populações de larvas de peixes.

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