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Conforme a classificação presente no Código de Processo Civil que, podemos dizer, classifica a acção segundo a pretensão a alcançar, ou seja, quanto à providência jurisdicional invocada, a acção de simples apreciação é uma acção que apresenta efeitos fundamentalmente declarativos.

Nesta acção, toda a pretensão estará satisfeita com a sentença em que se declare a existência ou inexistência de determinada relação jurídica222, direito ou interesse.

O texto legal leva à conclusão de que as acções de simples apreciação visam, simplesmente, provocar a manifestação do Estado, na pessoa do Juiz, sobre a existência ou inexistência de algo.

O autor propõe a acção para obter uma declaração, seja esta positiva ou negativa. A resposta é dada pelo Juiz através da sentença, afastando a incerteza.

Devido às peculiaridades desta acção, diversas teorias tentam definir ou estabelecer a sua natureza jurídica.

Destacamos, entre outras, as seguintes:

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 Teoria do Remédio Preventivo de Direitos:

Tendo em vista o escopo maior da acção de simples apreciação ser a prevenção da violação de direitos, na tentativa de evitar litígios, tal teoria considera esta acção como uma etapa anterior à acção propriamente dita, com natureza jurídica própria.

Hoje em dia, tal teoria está completamente afastada, em face da aceitação unânime no meio jurídico de que o litígio está presente na acção de simples apreciação, uma vez que o autor e réu sustentam posições antagónicas.

 Teoria do Direito Potestativo:

Defende esta teoria que a acção de simples apreciação é um direito potestativo e concreto, dirigido contra o adversário.

Tem predominado, porém, a concepção da acção como direito abstracto enquanto direito à tutela jurídica, quer seja esta favorável ou desfavorável.

O que particularmente define a acção de simples apreciação é o facto de nela a pretensão do autor se exaurir na simples declaração da existência, ou inexistência, de uma relação jurídica, direito ou interesse.

Note-se que qualquer tipo de relação jurídica pode ser declarável, seja de direito público ou privado, contratual ou não.

Na acção de simples apreciação o interesse circunscreve-se à declaração da existência ou inexistência.

O pedido deve-se sustentar na relação jurídica concreta, decorrente de factos precisos e determinados e não em meras conjecturas ou suposições.

Um parêntesis deve ser aqui feito para mencionar o seguinte: não obstante toda a importância que nos merecem todos os pressupostos processuais, especial atenção, a este respeito, deve ser dispensada ao interesse de agir, pois, embora seja entendimento doutrinal consensual de que o conceito de interesse processual há-de ser o mesmo para todas as acções, nesta acção tal requisito confunde-se, não poucas vezes, com o próprio mérito da causa.

Atente-se ao facto do interesse de agir decorrer de uma situação tal que o autor, sem a declaração judicial sofreria um dano injusto. Aqui, a declaração judicial apresenta-se como um meio necessário para o evitar.

90 Não se deve, portanto, procurar um interesse particular ou peculiar na acção de simples apreciação, mas antes identificar, em cada caso, a existência do interesse processual.

Não existe interesse de agir quando se solicita a declaração de relação jurídica futura ou pretérita.

Mas deve-se sim tratar do desenvolvimento futuro de qualquer relação jurídica já existente ou dos eventuais efeitos presentes de uma relação jurídica pretérita.

Feita esta ressalva, digamos que na acção de simples apreciação obtém-se apenas uma pronúncia jurisdicional.

Concluímos verificando que, de entre as vantagens em se lançar mão da acção de simples apreciação, sem margem para dúvidas, a principal consiste na prevenção de litígios futuros.

Para a doutrina não há justificação para o indivíduo solicitar uma intervenção judicial se não fosse com o propósito de obter uma tutela jurisdicional, a qual poderá ser condenatória, constitutiva, de simples apreciação, executiva ou ainda cautelar.

Consideremos, por último, as características básicas das acções.

Nas acções de simples apreciação e de condenação o pedido efectuado pelo autor não leva a modificações: o litígio é solucionado tendo em vista o reconhecimento de uma situação jurídica e de facto existente anteriormente.

Na acção de simples apreciação, basta isso para exaurir-se a tutela jurisdicional e atender-se ao pedido do autor.

Na acção condenatória, peticiona-se uma sentença com este conteúdo acrescida de sanção que restaure o direito violado.

Não há pedido de modificação da situação jurídica que anteceda a propositura da acção. E mesmo na acção condenatória, o que se solicita na sentença, tem por objecto restaurar ou reparar situação anterior que foi atingida indevidamente por acto lesivo do réu.

Em suma, este meio processual tem, necessariamente, uma natureza residual e potencialmente expansiva, na medida em que é susceptível de ser utilizado para a tutela dos direitos e interesses legalmente protegidos, face a uma actividade tributária que pode assumir as mais diversas modalidades.

É o meio processual que privilegia a defesa e reconhecimento dos direitos e interesses dos cidadãos, a par com o acesso à Justiça.

Em muitos casos, a mera declaração pela qual o Tribunal reconhece a posição jurídica subjectiva invocada pelo particular é suficiente para a tutela do seu direito ou interesse.

91 A acção é, então, de apreciação.

Não obstante, o legislador nacional optou por criar um único meio contencioso, residual, em que se pode requerer ao Tribunal, consoante a situação concreta, a declaração de existência ou inexistência de um direito ou interesse.

E frequentemente, a tutela da posição jurídica subjectiva do particular obtém-se mediante uma acção de simples apreciação.

É, precisamente, o carácter residual e abrangente deste meio processual que impede que se considerem estas acções como, necessariamente, de simples apreciação223.

3. Objecto - Direito ou Interesse legalmente protegido em matéria tributária

Partindo da ideia que sustenta e define toda esta acção para o reconhecimento de direitos ou interesses legalmente protegidos em matéria tributária, que é a de se apresentar como a via adequada não só para a defesa e reconhecimento dos direitos e interesses dos cidadãos, bem como para o acesso à Justiça, já analisamos vários dos aspectos proeminentes relativos a este meio processual.

É nossa intenção continuar nesse caminho de descoberta e análise.

Pelo que, destrinçamos, agora, o objecto de tal acção: o conceito de direito ou interesse legalmente protegido em matéria tributária.

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