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CAPÍTULO 3 – O CONCEITO DE EE: A JURISPRUDÊNCIA PORTUGUESA

3. Análise dos Acórdãos

3.4. Acórdão do CAAD de 14-05-2013, processo nº 1/2013-T

No decurso de uma ação inspetiva à sociedade A, ora requerente, promovida pelos serviços de inspeção da AT, foram detetadas diversas situações consideradas indiciadoras de que a respetiva sociedade era uma extensão da sociedade de direito do Panamá, B, consubstanciando a existência de EE em território nacional por parte desta empresa, e, em consequência de tal entendimento, a AT considerou que os valores relativos aos serviços prestados pela B aos clientes angariados pela Requerente deverem ser imputados a esta e, assim, tributados em sede de IRC, nos termos do n.º 3 do art.º 4 do CIRC.

b) Argumentação do requerente

Contesta a liquidação de IRC e respetivos juros compensatórios com base na falta de fundamentação legalmente exigida ao ato de liquidação, porquanto, em suma, no entendimento da requerente, aquela assentará na aplicação da MCOCDE e respetivos comentários, sendo que à data do facto tributário inexistia qualquer convenção em vigor; errónea quantificação dos rendimentos e lucros relativos ao exercício a que respeita o ato de liquidação, pois sempre atuou com independência em relação à sociedade B; bem como a ilegalidade da liquidação por violação do art.º 36 do RCPIT, porquanto terá sido excedido o prazo legalmente fixado para a conclusão do procedimento de inspeção tributária.

c) Contra-argumentação da AT

A AT alega que a requerente pode discordar da fundamentação do ato, mas não da sua existência e que, em todo o caso, o MCOCDE não é fundamento da liquidação impugnada, sendo-o antes o art.º 5 do CIRC; Que B seria responsável por 95% do volume de negócios da requerente; Que nos termos da jurisprudência dominante, a violação de

normas do RCPIT relativas à duração do procedimento de inspeção tributária não gera, por si só, a invalidade da liquidação subsequente.

d) A decisão

A AT utilizou como suporte jurídico do ato impugnado o art.º 5 do CIRC, pelo que não há omissão de referência à legislação aplicável.

Quanto à qualificação dos rendimentos e lucros como rendimentos da requerente foi necessário resolver duas questões: a de saber se a atividade da Requerente pode ser considerada como dando origem a um EE da B, para efeitos do art.º 5 do CIRC; e, em caso afirmativo, se podem ser imputados à Requerente os respetivos rendimentos. Os testes constantes do art.º 5 permitem determinar a existência de um EE com base na existência de uma instalação fixa, de um projeto ou de agência.

Foi posta fora de hipótese o teste do EE instalação física, pois a atividade de B não era desenvolvida através das instalações da Requerente. A natureza da atividade desenvolvida pela sociedade B foi considerada insuscetível de constituir um projeto. No entanto foi dado como provado que existia de facto um EE da sociedade panamiana em Portugal decorrente da agência.

Apesar de se ter concluído que a existência de um contrato de agência, dá azo a um EE em PT da sociedade B, esta será única relativamente à qual poderá ser liquidados os valores em litígio, nunca a Requerente, concluindo-se, assim, que é ilegal a qualificação dada aos rendimentos do EE da B que a Requerente constitui, como rendimentos desta, por violação do preceituado no n.º 3, com remissão para o n.º 2 do art.º 4 do CIRC, pelo que o ato de liquidação enferma de vício de violação de lei por, erro sobre os pressupostos de direito.

e) Comentário

Uma vez colocada de parte qualquer vício que se possa qualificar como «violação ou vício da fundamentação legalmente exigida», com o sentido que lhe dá a Requerente, vamos focar-nos na questão da qualificação dos rendimentos.

Para que os rendimentos e lucros derivados dos serviços prestados aos clientes da

B angariados por A sejam qualificados como rendimentos desta envolve saber se a

atividade de A pode ser considerada como dando origem a um EE da B, para efeitos do art.º 5 do CIRC e em caso afirmativo, verificar ainda se estes podem se imputados à A, ao abrigo do disposto no art.º 4, n.º 3 do mesmo Código.

Começou por se verificar se os testes constantes do art.º 5 permitiam determinar a existência de um EE, tendo sido e bem pôs-to logo de parte a existência de uma instalação física (pois a atividade de navegação não era desenvolvida através das instalações da A, sendo este um requisito obrigatório e cumulativo ao abrigo do n.º 1 do art.º 5 do CIRC) e de um projeto (que dada a atividade desenvolvida pela sociedade B, nunca seria suscetível de ser aplicado o n.º 3 do art.º 5 do CIRC).

Restando apenas o EE que decorre da agência (n.º 6 do art.º 5 do CIRC), foram verificados todos os elementos necessários para que se sustente a sua existência. Conclui- se a existência de um contrato de agência que dá lugar a um EE – existência de um agente (A) que atuava por conta de B, tinha autorização para celebrar contratos, os contratos eram celebrados em nome da empresa e com caráter de habitualidade.

Estando efetivamente comprovado que a atividade de A é considerada um EE de

B, restou apenas saber se os rendimentos relativos aos serviços prestados aos clientes

angariados para B podiam ser imputados a A, ao abrigo do art.º 4, n.º 3, do CIRC. O facto de uma sociedade não residente ter um agente em território nacional poder levar a concluir pela existência de um EE, como é o caso, não implica que seja o próprio agente o EE, que o agente perca a sua individualidade e consequentemente que lhe sejam imputados os lucros daquela.

O próprio Código do IRC, nas várias disposições que se referem ao EE, considera- o sempre com estando ligado ao não residente e não como entidade autónoma (art.º 3, nº 1 al. d) e 55, nº 1) com personalidade tributária distinta da sociedade ou entidade não residente de que faz parte.

Assim sendo, e apesar de se ter concluído que a existência de um contrato de agência, nos termos que se deram como comprovados, dá azo a um EE em Portugal da sociedade panamiana, esta será a única relativamente à qual poderão ser liquidados os valores em litígio, nunca a Requerente.

Perante o que foi enunciado parece clara e correta a decisão do tribunal em concluir que é ilegal a imputação a A, dos rendimentos relativos aos serviços prestados aos clientes angariados para B, por violação do preceituado no n.º 3, com remissão para o n.º 2, do art.º 4, do CIRC.

3.5. Acórdão do CAAD de 01-10-2012, processo nº 44/2012-T