• Nenhum resultado encontrado

3 IDENTIDADE PROFISSIONAL – CONCEITOS E PRINCÍPIOS

4 IDENTIDADE PROFISSIONAL DOS MEMBROS DE UMA ACADEMIA CIENTÍFICA

4.3 ACADEMIA AMERICANA DE ENFERMAGEM

Ainda que os contextos histórico-sociais sejam absolutamente distintos, o processo de criação da American Academy of Nursing – AAN traz muitas semelhanças com os processos das academias brasileiras citadas neste estudo, sejam os motivos que levaram um grupo de pessoas a sentir necessidade de uma organizaçao profissional que contribuisse para melhorar o status quo da profissão, o perfil de seus membros, ou mesmo, a estrutura administrativa interna.

Fundada em 1973, e atualmente sediada em Washington DC, a idéia de sua criação dentro da estrutura da organização profissional de enfermagem, foi primeiramente expressada, quase trinta anos antes, em um relatório para a American Nurses’ Association – ANA. A Academia foi fundada sob a égide da ANA, mas hoje é afiliada independente desta. Busca a transformação das políticas de saúde e das práticas, através do conhecimento de enfermagem (AAN, 2010).

Os responsáveis por este relatório foram a própria ANA, a National League for Nursing Education – NLNE, a National Organization for Public Health Nursing – NOPHN, a National Association of Colored Graduate Nurses – NACGN, a Association of Collegiate Schools of Nursing – ACSN e a American Association of Industrial Nurses – AAIN.

Recomendações deste estudo incluíam a organização do campo da enfermagem em dois planos: uma organização que representasse todo o campo da enfermagem, e uma divisão do campo em duas partes: para professores, os quais seriam representados pela ANA, e, uma para enfermeiros profissionais e não-enfermeiros, representados pela National Organization for Nursing Service, unificados pelo National Nursing Center. Ambos os planos continham propostas para uma Academia Nacional de Enfermeiras (National Academy of Nurses). O comitê organizador do estudo também acreditava que a Academia poderia destacar a autoridade e efetividade da ANA (Mc Carthy, 1985).

Acerca do processo seletivo para entrada na Academia, este seria estabelecido após a definição da proposta da associação. Se a proposta fosse honrar e reconhecer individualmente quem contribuisse para a enfermagem ou cuja excelência na prática, tenha sido excepcional, as idéias propostas para os estatutos de 1966 seriam adequadas, mas se a proposta fosse ser um corpo de trabalho para o avanço da enfermagem, outros métodos de seleção seriam necessários. A opção foi pela segunda proposta, e os estatutos tiveram que ser ampliados (Idem).

O comitê ainda sugeriu acrescentar as seguintes observações ao estatuto:

 A Academia funcionará em um ambiente em que os sistemas atuais, as idéias e práticas poderão ser contestadas, novas idéias em enfermagem e outras áreas exploradas; experimentação e inovação em enfermagem incentivada.

 A academia irá compartilhar as idéias, não precisando implementá-las.

 A academia não deve ter como funções, aquelas que já são existentes em outras organizações.

Entre 1969 e o início de 1970, foi uma época de grande crise para a ANA e o conselho decidiu que apenas as alterações essenciais deveriam ser apresentadas para a House of Delegates. A relação entre a Academia e a Associação Americana de Enfermagem (ANA) estava

especialmente delicada, ainda que a Academia pudesse ter liberdade suficiente para se pronunciar de modo independente (McCarthy, 1985).

No primeiro relatório para House of Delegates, 1972/74, a Academia estava habilitada para proferir que eles tinham estatutos estabelecidos e operava sob regras com os seguintes objetivos:

 identificar e explorar questões na saúde, nas profissões, e na sociedade, e como elas afetam e são afetadas pelas enfermeiras e pela enfermagem;

 examinar dinâmicas dentro da enfermagem, as interrelações entre os segmentos do campo da enfermagem, e a interação entre enfermeiras e o modo como elas afetam o desenvolvimento da profissão de enfermagem;e,

 identificar e propor resoluções para as questões e problemas confrontando enfermagem e saúde, incluindo planos alternativos para implementação.

Em 1974, mudanças no estatuto aconteceram, ratificando os objetivos institucionais propostos anteriormente. A consolidação e o crescimento vieram no final da década de 70 e início dos anos 80, quando a Academia já contava com aproximadamente 300 membros, conhecidos como fellows. Estes têm o direito de se apresentarem utilizando a sigla FAAN – Fellow of the American Academy of Nursing, em um contexto análogo ao uso da condição de imortais para os membros da Academia Brasileira de Letras, fazendo parte da cultura organizacional da associação, a representação simbólica desta condição de membro do grupo.

McCarthy (1985) afirma que a Academia Americana de Enfermagem teve seu início nas idéias de profissionalismo realizadas pelos líderes de seis organizações profissionais de enfermagem, os quais haviam descoberto o seu interesse comum, durante a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945). Levantaram fundos entre seus pares e colegas, dando início ao estudo da estrutura, na esperança de encontrar o melhor arranjo organizacional para profissionais de enfermagem nos Estados Unidos.

Ainda segundo esta autora, hoje, a Academia é vista por seus líderes como uma elite do grupo de enfermeiros clínicos, educadores, administradores e pesquisadores que afirmam sua aceitação de comunhão, e uma vida de compromisso para com a melhoria dos cuidados de saúde das nações, e o progresso da profissão de enfermagem.

O atual estatuto da Academia Americana, datado de 2008, destaca que a organização é composta de duas classes de membros: uma única organização corporativa que é a ANA – Associação Americana de Enfermagem, e os fellows, que podem ser catedráticos, eméritos, internacionais, “legendas vivas”, inativos e honorários segundo a condição de cada um.

Estipula como requisito à condição de membro: estar filiado à ANA, exceto para aqueles que residem fora dos Estados Unidos, ou os honorários; os membros internacionais deverão ser filiados a associações em seu país, quando assim couber; e deverão possuir potencial para contínua contribuição à enfermagem e à Academia. Uma vez membros, possuem direitos e deveres, como em qualquer organização formal.

Hoje, a Academia Americana de Enfermagem possui cerca de 1.500 membros, entre líderes em educação, práticas de gestão e pesquisa. Eles incluem: executivos, reitores e decanos, estaduais e federais, nomeados por políticos, executivos-chefe de hospital e vice-presidentes, enfermeiras consultoras, auditoras e empresários. O convite para a Academia é mais do que o reconhecimento das suas realizações no âmbito da profissão de enfermagem. Seus membros têm a responsabilidade de contribuir com seu tempo e energias para a Academia, e envolver-se com líderes de outros cuidados de saúde fora dela, pela transformação do sistema de saúde dos Estados Unidos (AAN, 2010).