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CAPÍTULO V Os Clusters de Carcinicultura no Rio Grande do Norte e em

5.1 O cluster de carcinicultura no Rio Grande do Norte

5.1.9 O Acaso

Um dos principais ingredientes do cluster de carcinicultura no Rio Grande do Norte parece ter sido mesmo o acaso, pois, apesar de todas as vantagens em fatores básicos, a carcinicultura brasileira só conseguiu evoluir depois da crise pela qual passou o Equador, ex-líder sul-americano e 4º na produção mundial de camarão confinado. Com a falta do produto no mercado internacional, o preço do camarão disparou chegando a mais de US$ 14,00 por quilo210 em 1997. Esse preço espetacular permitiu a expansão da produção, possibilitando entrar no mercado mesmo aquelas empresas que possuíam baixa produtividade. No entanto, a carcinicultura no RN se mostrou vigorosa e mesmo com a queda do preço internacional conseguiu se manter no comércio externo.

Percebe-se que o acaso pode ter desenvolvido a atividade no Rio Grande do Norte, assim como o foi em vários outros casos de cluster pelo mundo afora, como foi visto no Capítulo II. Mas a capacidade de agrupamento dos agentes e o sentido de cooperação entre eles possibilitaram o desenvolvimento da atividade e o avanço tecnológico visto hoje na atividade local. Esse sentimento de cumplicidade em relação ao produto final também possibilitou a superação de problemas tais como fornecimento de ração, legislação inadequada, infra-estrutura, entre outros ainda não totalmente resolvidos.

209 Ver Capítulo III. 210 Fonte: FAO

CAPÍTULO V: Os Clusters de Carcinicultura no Rio Grande do Norte e em Pernambuco 127 5.1.10 Paternalismo

A carcinicultura é beneficiada pelo câmbio desvalorizado, assim como a maioria dos produtos que necessitam do comércio exterior. Como a participação do Brasil na oferta mundial de camarão é marginal, cerca de 1%211, o camarão congelado é um produto homogêneo, de forma a

impossibilitar a diferenciação, e a demanda interna é insuficiente. Essa proteção está garantindo a sobrevivência da atividade, pois o preço internacional caiu cerca de 30% nos últimos anos.212 Outra barreira imposta

pelo governo e que serve de proteção à atividade é o impedimento de importação de camarão de outros países. Essa proibição é fundamentada no receio de contrair vírus e outras infecções, tais como o vírus da mancha branca.

Gráfico 5.4

Totais de créditos concedidos à carcinicultura no período de 1999-2001

Fonte: Banco do Nordeste do Brasil.

Nos últimos três anos, como se observa no gráfico 5.4, a carcinicultura recebeu cerca de R$ 15,5 milhões das agências de crédito (BN, BNDES e BB), o que corresponde à capacidade de implantação de aproximadamente 400 ha. No mesmo período, pelas informações da ABCC, a quantidade de hectares implantados foi de 3.750, ou seja, 10,7% do total. A atividade ainda foi beneficiada com recurso do FINOR213 na ordem de 53 milhões, destinados à

implantação da empresas, o que representa cerca de 1.300 ha de viveiros, 15,58% do total implantado até 2001. Não foi possível o levantamento detalhado das informações de créditos para o período anterior a 1999, tornando impossível saber o valor total dos recursos recebidos pela atividade e, também, dos benefícios fiscais, como isenção do imposto de renda. Mesmo

211 Ver Capítulo IV.

212 Fonte: FAO, comentado no Capítulo IV. 213 Fonte: SUDENE/Sistema Finor

assim, conclui-se que pelo menos 25% de toda a atividade dependeu de recursos públicos ou de taxas de juros subsidiadas. Logo, o grau de paternalismo ainda pode ser considerado grande na atividade. No entanto, não é condição impeditiva para o desenvolvimento, pois a maior parte é financiada com recursos próprios e formam excedentes para o re-investimento.

5.1.15 Defensividade

Não foi observado o sentimento de defensividade nas conversas com os diversos agentes envolvidos na atividade. De forma geral, a atividade assume os problemas oriundos da carcinicultura e procura enfrentá-los, se empenhando no raciocínio produtivo. No entanto, encontram-se queixas relativas a infra-estrutura e em relação à regulamentação ambiental, que não se pode considerar como defensividade.

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5.2 O cluster de carcinicultura em Pernambuco 5.2.1 Histórico

A carcinicultura em Pernambuco se inicia em 1978 com a introdução do “gigante da Malásia” (Macrobrachium rosenbergii), por intermédio do departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco. Em 1982, a Empresa de Pesquisa Agropecuária – IPA, constrói um laboratório no litoral sul para o desenvolvimento de pós-larvas em laboratório. Com o desenvolvimento dessa técnica, o Estado proporcionou a difusão e a produção em cativeiro do camarão de água doce, muito semelhante ao pitu. A pesquisa incorporou muito da tecnologia até então desenvolvida pelos países asiáticos principalmente nos trabalhos de SHAO-WEN LING, na Malásia, e do surgimento da produção de pós-larvas, descoberto por TAKUJI FUJIMURA.214

O laboratório de pesquisa, hoje desativado, foi implantado na praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca, distante 50 km do Recife. Apesar de passar a maior parte de sua vida em águas de pouca salinidade, o “gigante da Malásia” procria em estuários e depois migra rio acima. Por isso, o laboratório para a produção de larvas e pós-larvas se encontra no litoral. Uma característica importante do camarão de água doce é que sua maturação, desde larva até serem transportados para os tanques de engorda, consome três vezes mais tempo que o camarão marinho. Esse aspecto, somado a oferta insuficiente de ração, quase toda importada, contribuiu para o desinteresse da classe empresarial pela cultura do “gigante da Malásia”.

No início dos anos 90, a carcinicultura ressurge com a introdução da espécie P. vannamei no cultivo em cativeiro. Apesar do desenvolvimento da tecnologia para a produção de camarão de água doce, pouco dessa experiência adquirida contribuiu para o desenvolvimento da carcinicultura marinha, pois tanto o habitat quanto a forma de produção e comercialização são distintos.

214 CAVALCANTI, Lourivaldo Barreto. Etti al. Manual de cultivo do Macrobrachium rosembergii (pitu

5.2.2 Aspectos Sócio-Econômicos

O Estado de Pernambuco possui uma das mais diversificadas economias do Nordeste, produzindo e exportando produtos primários, como granito, até produtos de alta tecnologia, como baterias e software. Apesar disso, o Estado necessita de diversos insumos e matérias-primas, além de ter um nível de consumo de produtos estrangeiros alto, o que acarreta um déficit contínuo na balança comercial, como se pode observar no Gráfico 5.5.

Gráfico 5.5

Balança Comercial de Pernambuco – 1991 – 2002 (524.521) (694.834) (553.763) 99.781 0 200.000 400.000 600.000 800.000 1.000.000 1.200.000 19 91 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 U S $ 1. 00 0 FO B -800.000 -700.000 -600.000 -500.000 -400.000 -300.000 -200.000 -100.000 0 100.000 200.000 U S $ 1. 00 0 FO B

Exportação Importação Saldo Fonte: MDIC – Secex – Montagem do autor.

Nos últimos dez anos, a balança comercial de Pernambuco foi deficitária mesmo com o crescimento das exportações de açúcar e seus derivados. A inclusão na pauta de exportações do Estado de novos produtos competitivos pode, no médio prazo, promover a reversão da situação atual. Entretanto, a participação do Estado nas atividades fora do eixo fruticultura irrigada – açúcar é ainda pequena, retardando dessa forma o aproveitamento de outras atividades. A carcinicultura marinha desponta como uma delas, o que pode ser observado na evolução da exportação mostrada no Gráfico 5.6. A atividade no Estado chegou ao 2º produto mais exportado, superando produtos tradicionais da agricultura irrigada.

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Gráfico 5.6

Evolução das Exportações Totais de PE (US$ Milhões FOB)

137,10 154,14 131,77 120,07 13,39 13,49 17,48 22,70 13,29 18,39 23,46 38,90 16,79 21,55 56,99 64,81 56,91 113,18 52,13 11,46 5,65 11,74 12,38 1,71 15,31 10,37 3,27 17,20 8,84 4,29 2,03 13,78 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1999 2000 2001 2002

Todos os outros LAGOSTAS CONGELADAS

GOIABAS,MANGAS E MANGOSTOES CAMAROES CONGELADOS

OUTS.ACUCARES DE CANA ACUCAR DE CANA

CANHOES ELETRONICOS P/TUBOS CATODICOS UVAS FRESCAS

Fonte: MDIC – Secex – Montagem do autor.

A carcinicultura, em termos de mercado internacional, está no mesmo nível de competitividade de produtos primários, como goiabas (8,54%), e produtos industriais, como canhões eletrônicos p/ tubos catódicos (6,47%). Todavia, a pauta de produtos exportados é de sorte tão diversificada que quase metade da pauta é composta por mais de cem produtos diferenciados.

Apesar do número pequeno de produtores, Pernambuco é responsável por cerca de 11% da produção nacional, com 6.792 t em 2002.215 A distribuição das áreas utilizadas para a carcinicultura, como mostrado na Tabela 5.5, está concentrada em três grandes empresas, sendo duas delas, Netuno e Atlântis, os maiores produtores, com quase 83,16% do total da produção e 83,28% da área. Essa enorme concentração impede que outras empresas possam promover a cooperação entre elas, uma vez que a produção da grande maioria dos pequenos e médios produtores é comprada por essas duas empresas.

215 ABCC. Planilhas de Pesquisa. Ver anexo I. Segundo informações da ABCC, o número de

pequenos produtores é aproximado, uma vez que não é possível o levantamento preciso desses produtores, porém, por representar pouco no total da produção, essa aproximação não afetará a análise.

Tabela 5.5

Distribuição das unidades produtoras de camarão em PE por tamanho do produtor em 2002

Quant. Part. % Área (ha) Part. %

Pequenos 27 77,14 31,9 3,36

Médios 5 14,29 75 7,89

Grandes 3 8,57 844 88,75

Fonte: ABCC, com adaptações.

5.2.3 Localização

Localizado no centro-leste da Região Nordeste do Brasil, Pernambuco faz fronteira ao norte com a Paraíba; a oeste com o Piauí; ao sul com Alagoas e Bahia e a Leste com Oceano Atlântico. Possui 98,9 mil km², distribuídos entre seus 184 municípios e o território de Fernando de Noronha. A população, em 2000, era de 7,9 milhões de habitantes, concentrados em áreas urbanas (76,5%) e nas grandes cidades (39,2%) - Recife, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Caruaru e Petrolina. Com 187 quilômetros de litoral, o Estado de Pernambuco possui 14 zonas estuarinas216 formadas pela desembocadura de 27 rios, em quinze municípios, abrangendo uma área de 27.374 hectares. Desse total, 4,36% estavam sendo utilizados, em 2002, para a carcinicultura.

A maior parte da produção está concentrada na parte norte do Estado, Zona da Mata Norte, com 90,57% de toda a área produtiva, sendo que Goiana detém 57,9% da área produtiva e Itapissuma 27,84%, como se pode observar através na Tabela 5.6. Essa concentração se justifica devido à formação dos estuários daquela área, com grandes áreas de mangues e salobros, favorecendo sobremaneira a atividade. Com relação aos pequenos produtores, estes estão concentrados, também, no litoral norte, e possuem uma área de produção de 1,2 ha, em média e baixa produtividade por não utilização de tecnologias de alimentação e aeração. Pode-se entender melhor essa concentração se for observado o Mapa 5.2. Esse mapa mostra os estuários onde há produção ou possibilidade de expansão da atividade. O lado sul incorpora 8,35% da área em produção concentrada nos municípios de Rio Formoso (32,25%) e Serinhaém com 65,1%. Existem ainda diversas áreas propícias para a ampliação da cultura do camarão, porém sem a participação

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efetiva do Estado e a demarcação dessas áreas, dificilmente será possível ampliar da produção de camarão. As instituições responsáveis pela atividade no Estado não estão integradas, de forma que não nos é possível definir exatamente que áreas podem ou não ser utilizadas para a atividade.

Tabela 5.6

Distribuição das fazendas produtoras de camarão em PE - 2002 Nome da Fazenda Município Tamanho

Sem identificação Itamaracá 12,00 Aquacultura Campo Novo Rio Formoso 16,00

Atlântis Aquacultura Goiana 530,00

Costa Dourada Serinhaém 52,00

Maricultura Netuno S/A Itapissuma 262,00 Tabatinga Aquacultura Ltda Goiana 20,00

Tinoco Serinhaém 12,00

Viveiro São José Rio Formoso 15,00

TOTAL GRANDES E MÉDIAS 8 919,00

Pequenos Produtores Itamaracá (08) 10,20 Pequenos Produtores Itapissuma (01) 2,70 Pequenos Produtores Jaboatão dos Guararapes (04) 2,60 Pequenos Produtores Recife (12) 15,70 Pequenos Produtores Rio Formoso (02) 0,70

TOTAL PEQUENOS 27 31,90

TOTAL GERAL 35 950,90

Fonte: ABCC.

A ampliação da carcinicultura poderia utilizar as áreas do litoral sul, principalmente os estuários do rio Formoso e de Guadalupe, no município de Serinhaém. A iniciativa do Estado e de instituições governamentais ou não- governamentais poderá promover a inserção dos pequenos produtores na atividade, criando condições sustentáveis de emprego e renda para uma das regiões mais problemáticas de Pernambuco. O maior entrave da expansão da produção nessa região se deve ao fato de a maior parte da área estar reservada à ampliação do turismo por meio do programa Costa Dourada, vinculado ao Prodetur.

Ao contrário das fazendas, os laboratórios estão concentrados no litoral sul, englobando os municípios de Ipojuca e Serinhaém. Por serem em menor número e menos agressivos ao meio ambiente, sua instalação é mais simples em termos burocráticos. Contudo, carecem de tecnologias e processos singulares, necessitando de algum conhecimento para sua instalação, além de grande soma de capital. A capacidade de produção de larvas e pós-larvas das unidades existentes é suficiente para a atual produção.

Mapa 5.2

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5.2.4 Demanda

A demanda pelo camarão produzido no Estado se destina principalmente ao mercado externo (4/5), Tabela 5.7, como todo camarão produzido em cativeiro no Brasil. Esse fator, como comentado acima, representa um ponto crucial para a evolução da tecnologia e dos processos de produção, pois a demanda externa é composta de agentes com alto nível de renda e com alto grau de exigência. De forma geral, os demandantes externos são formados por grandes atacadistas que exigem padronização do produto e alto padrão de qualidade. Internamente, a demanda é feita por poucos agentes, compostos de grandes supermercados (p.e., Carrefour e Grupo Bompreço), que não são tão exigentes em relação à padronização do produto, pois os demandantes finais estão mais preocupados com o preço do que com as demais características do produto217. Dessa forma, a pressão desses agentes

força os preços para baixo, tendo como conseqüência pouco ou nenhum incentivo para os produtores desenvolverem novas técnicas e aperfeiçoamentos dos produtos.

Uma outra característica advinda das exportações refere-se ao aumento de receita, como foi visto no subitem 5.1.4, pois os ganhos são expressivos para essas empresas. De fato, os ganhos são concentrados nas mãos de um pequeno grupo de empresas que possuem a capacidade de exportar. Os pequenos e médios produtores repassam sua produção para as grandes empresas, no entanto se beneficiam do processo por ter a garantia de venda de toda sua produção, geralmente, com preço maior que o conseguido com a venda interna para as grandes redes de supermercados.

Tabela 5.7

Participação da demanda interna na produção total de camarão de PE em 2002 Produção (t) 6.792,00 100,00%

Exportação (t) 5.413,29 79,70% Demanda Interna (t) 1.378,71 20,30% Fonte: MDIC – Secex; ABCC – montagem do autor.

A exportação atualmente que, em 1999, era destinada quase que totalmente para os Estados Unidos (99,4%), está dividida entre a Europa

(51,47%) e os próprios Estados Unidos (48,42%), Gráfico 5.7. Apesar de o Japão ser um dos maiores importadores mundiais de camarão, as empresas pernambucanas ainda não despertaram para essa realidade. De fato, a Netuno está buscando parcerias para começar a exportar para aquele país. Uma das maiores dificuldades encontradas está relacionada com a forma de acondicionamento e de padronização do produto.

Gráfico 5.7

Composição da exportação de camarão de PE por local de destino entre os anos de 1999 - 2002 0,60% 77,73% 54,45% 51,47% 99,40% 22,27% 45,54% 48,42% 0,00% 0,00% 0,10% 0,11% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1999 2000 2001 2002

Europa EUA Outros

Fonte: Secex – MDIC.

Com a unificação dos países europeus, e como a produção está dividida entre estes e os Estados Unidos, os produtores enfrentam uma certa incerteza quanto ao futuro, pois as barreiras não-tarifárias atribuídas por qualquer um desses destinos resultarão em uma perda de 50% das receitas externas e de pelo menos 33% do total das receitas.

5.2.5 Fatores

A carcinicultura utiliza-se de fatores básicos e superiores, como visto em 5.1.5, de forma que em Pernambuco essa divisão também é bastante evidente. Em relação aos recursos básicos, observa-se que há fartura de sol e de estuários propícios ao desenvolvimento da atividade, carecendo ainda de uma delimitação das áreas adequadas ao cultivo. Um dos pontos altos em relação aos fatores básicos, está relacionado com a ótima infra-estrutura existente.

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Existem dois portos equipados para o transporte, embarque e desembarque da produção; um aeroporto e diversas estradas de excelente qualidade, apesar de pouco seguras. Um outro fator abundante na região é a mão-de-obra barata advinda da decadência do setor canavieiro e conseqüente redução da atividade econômica das cidades.

Em Pernambuco, é comum a utilização de consórcios para a produção de camarão. As empresas maiores que integram a cadeia promovem a produção por meio do fornecimento de pós-larvas, assistência técnica e garantindo a compra da produção. Essa articulação conduz à padronização do produto, garantindo maior preço para o consumidor final. Entretanto, esse tipo de articulação dificulta o desenvolvimento de novas tecnologias de manejo dentro das fazendas, pois os produtores menores se comprometem em manter condições apropriadas para o desenvolvimento da atividade, mas não há, na maioria dos casos, acordos para o desenvolvimento conjunto de novas tecnologias. Nesse ponto, a atuação de agentes externos, principalmente o Estado, se torna importante para propiciar a difusão de novas idéias e possibilitar a cooperação entre os agentes.

Em relação aos fatores superiores, Pernambuco conta com duas universidades com cursos que englobam a atividade: Oceanografia, na UFPE, e Engenharia de Pesca, na UFRPE; além de profissionais especializados na atividade, tendo uma formação de capital humano satisfatória. A cultura referente à atividade ainda está concentrada nas mãos de poucos agentes e não se incorporou como atividade tradicional, devido principalmente à falta de uma legislação que defina onde pode ser exercida a atividade. Nota-se, no Recife e em Jaboatão dos Guararapes, uma grande quantidade de pequenos produtores realizando a atividade sem qualquer controle ou técnica, conduzindo, inevitavelmente, à baixa produtividade e péssima qualidade fitossanitária do produto.218 Por sorte, a produção advinda dessa fonte ainda está destinada aos mercados populares internamente, não prejudicando a imagem do produto externamente. Mas, com o crescimento da atividade, é provável que atinja mercados maiores, inclusive com risco de compor parte da produção dirigida ao exterior.

Fora dos consórcios, não se observa entre os produtores o sentimento de cooperação, devido principalmente ao isolamento característico da atividade. Dificilmente um produtor de uma determinada área é capaz de exercer contatos informais fora da atividade. Logo, a difusão do conhecimento é mais lenta e sem simetria, tendendo a se concentrar nas grandes empresas dominantes na cadeia. Novamente, faz-se necessária a associação de agentes institucionais, que, com exceção da ABCC, não promovem ações que favoreçam a atividade no Estado.

5.2.6 Estratégia, estrutura e rivalidade das empresas

Como foi visto em 5.1.6 a estratégia, estrutura e rivalidade das empresas são de fato um aspecto importante para a averiguação da competitividade das empresas e, conseqüentemente, para o setor como um todo. No Estado de Pernambuco, nota-se que as empresas se comportam de forma semelhante às empresas situadas no Rio Grande do Norte. A principal diferença está relacionada com a transmissão das inovações, uma vez que as empresas em Pernambuco não possuem relação intensa, dificultando a relação entre os diferentes agentes envolvidos na atividade.

As grandes empresas desenvolvem a comercialização de pescados e produtos derivados, não sendo a carcinicultura sua maior atividade, apesar de ser a mais importante. De fato, a maioria dessas empresas já trabalhava com frutos do mar e peixes antes mesmo do desenvolvimento da atividade de carcinicultura na região. Esse conhecimento possibilitou a produção de diversos produtos derivados de pescado, mas no caso do camarão as vendas são concentradas no produto congelado.

Externamente, as empresas produtoras de camarão sofrem com a concorrência de diversos países e as barreiras fitossanitárias e ambientais como no caso potiguar, em que não é possível, por exemplo, a agregação de valor no camarão enviado para a Europa.219

Assim como no Rio Grande do Norte, as empresas de Pernambuco são tomadoras de preços internacionais. Desta maneira, competem em custos, por meio da melhoria de técnicas e processos produtivos, pois o número de

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ofertantes é grande e a entrada no mercado é relativamente simples, mas exige que haja parcerias com laboratórios e domínio de técnicas.220 O mercado

de atuação é composto pelo mercado interno e externo, inclusive com atuação no sul do país, porém o poder de barganha dos demandantes é grande (dominado por grandes redes de supermercados)221. Pernambuco, assim

como a maioria dos Estados do Nordeste, dispõe de excelente qualidade de clima e estuários para a produção de camarão, o que não é encontrado com facilidade em outros países, principalmente os grandes compradores internacionais. Um dos fatores impeditivos da majoração do preço do camarão advém do camarão capturado e da lagosta, substitutos naturais.222

5.2.7 O Cluster

Em Pernambuco, o arranjo produtivo que se formou na carcinicultura ainda não proporcionou laços mais fortes de cooperação. O que se observa é o adensamento da cadeia produtiva em relação às grandes empresas sem, contudo, promover o relacionamento das pequenas e médias empresas223. O cluster ainda não passou de embrionário.

A cadeia produtiva do camarão no Estado é semelhante à encontrada no