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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 GESTÃO PÚBLICA NO BRASIL

2.2.2 Accountability e disponibilização de informações

Campos (1990, p. 09), observando a realidade política brasileira no final da década de 1980, assinala que “a debilidade das instituições, acoplada ao baixo nível de organização da sociedade civil, explica também a má qualidade do processo de partilha de informações entre governo e sociedade”. O lapso informacional, ou as distorções comunicativas entre governo e sociedade, reforçam a indigência política, porque prejudicam o controle da burocracia.

Campos (1990) indica que a partilha de informações do Estado com os cidadãos não constitui uma tradição em qualquer governo autoritário e centralizado apoiado pela tecnocracia. Ao contrário: os regimes totalitários dependem da falta de informação das sociedades. Neles, há a manipulação da opinião pública para atender aos interesses do governo e usar inadequadamente os dinheiros públicos.

Com a institucionalização, no entanto, da Constituição de 1988, o povo brasileiro ganhou expressamente o direito de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que deveriam ser prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo fosse imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (BRASIL, 1988).

A Emenda Constitucional nº 19, de 1998, trouxe reforço a esse tema, afirmando que a lei disciplinaria as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de governo. Conforme afirma a própria Constituição Republicana, a administração pública deve franquear sua documentação a quem dela necessitar (BRASIL, 1988). Porquanto, qualquer indivíduo é parte lícita para demandar informações públicas.

A lei que regula a disponibilização das informações públicas veio a ser sancionada em 2011 e ficou conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI). Esse marco legal visa a garantir o acesso às informações, ficando sujeita a essa determinação não só a União e seus órgãos e entidades (como a UFPE), mas também os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, as Cortes de Contas, o Ministério Público e as instituições privadas sem fins lucrativos que receberem recursos públicos para realização de ações de interesse público (BRASIL, 2011).

A LAI estabelece procedimentos para que a Administração responda a pedidos de informação do cidadão, determinando que o acesso seja regra e o sigilo, exceção, constituindo-se, assim, uma referência para a democratização da informação pública (BRASIL, 2011).

O acesso à informação pode se dar de duas formas: através da transparência ativa (quando a divulgação ocorre de modo espontâneo, por meio das páginas virtuais), ou pela transparência passiva (situação em que a informação é divulgada sob demanda, por solicitação de alguém). Acerca do acesso dito “ativo”, Rocha (2011) apregoa que o Estado dar publicidade às suas ações, ao modo como são executadas, e criar canais de manifestação por

parte da sociedade, são medidas obrigatórias para que se torne fato o controle social. Vale ressaltar que a publicidade é um dos princípios constitucionais da administração pública brasileira (BRASIL, 1988).

Também no universo das diretrizes da LAI, vislumbra-se a promoção do controle social, evidenciando ser a disponibilização de informações instrumento indispensável ao controle da gestão pública por parte da sociedade.

Outra peça, a Lei Complementar nº 131/2009, conhecida como Lei da Transparência, acrescentou dispositivos à Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000, determinando a disponibilização, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Não diz respeito apenas à transparência ativa, uma vez que determina que a transparência deve ser assegurada mediante incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos (BRASIL, 2009).

Um pressuposto da boa prática da disponibilização de informações é a transparência, outro conceito caro ao tema accountability. Sobre ela, Bugarim et al. (2011) asseveram que vem se tornando cada vez mais presente no âmbito da administração pública no Brasil. Com a nova administração, também chamada administração moderna, a qual se baseia nos princípios de eficiência, transparência e responsabilidade, surgiram ideias de participação e controle social, com a possibilidade de os cidadãos interferirem nas tomadas de decisão da gestão pública e controlar as ações do Estado e da administração pública de modo geral. A transparência serve para aproximar o Estado da sociedade, pois amplia o nível de acesso do cidadão às informações referentes à atividade pública.

Segundo O’Donnell (1998), informação confiável e adequada é essencial para que haja accountability. O acesso a diversas fontes de informação possibilita a articulação de reivindicações e mesmo a impetração de denúncias de atos praticados por autoridades públicas.

Roczanski e Tomasi (2010) alertam ainda que a informação disponibilizada precisa ser importante e acessível, além ser inteligível aos diferentes atores e funcionar como um efetivo recurso democrático nos processos de negociação e decisão sobre políticas públicas. Isso implica ser compreensível também para a sociedade. A tecnologia da informação é vista como forte aliada nesse processo, dado que possibilita facilitar o acesso à informação.

É o que pensa Borges (2014, p. 08), para quem se poderia estreitar as relações Estado- sociedade

por meio da disponibilização de informações amigáveis, vistas como inteligíveis, em mídias sociais, pois nem sempre os canais institucionais, representados pela figura dos relatórios de prestações de contas, conseguem realmente se fazer claros para aqueles que precisam estar bem informados acerca de políticas públicas que afetam o seu bem-estar.

Keunecke, Teles e Flach (2011, p. 159) reforçam esse discurso, afirmando que “a forma com que o conteúdo é divulgado influencia diretamente na existência da transparência”. Ademais, o CLAD (2006, p. 32) reitera que “os avanços na informática têm permitido estabelecer formas mais transparentes de transmissão da informação à população, tornando mais efetivo o processo de responsabilização pública”.

A disponibilização de informações referentes à administração pública é algo imprescindível para que se efetive o controle social, o qual pode ser considerado outra boa prática pertinente a um cenário de accountability. Grau (2006) afirma que, sem a disponibilidade de informações, a institucionalização do controle social pode ficar impossibilitada, e que a América Latina apresenta vários exemplos de iniciativas de controle social, destacando-se, a despeito de outras regiões do globo, a institucionalização desse tipo de controle, a partir do Estado. Tal organicismo propicia uma maior responsabilização da Administração Pública.