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O gasto público, como instrumento de que se utiliza o governo para satisfazer as necessidades dos cidadãos, precisa ser evidenciado pela contabilidade como forma de demonstrar o efeito de sua atuação nas obras públicas, transferências de recursos ou serviços de interesse da sociedade, que, por sua vez, tem interesse em controlar os recursos entregues para a administração do governo e em receber a prestação de contas dessa responsabilidade que lhe foi conferida.

Sobre o assunto, Pederiva (1998) defende que da mesma forma que o governo precisa de informações para controlar os burocratas, ele deve prestar informações úteis e necessárias para o exercício da accountability pelos cidadãos. O governo democrático, portanto, deve ser passível de fiscalização, de modo a assegurar integridade, demonstrar o seu desempenho e representatividade e informar à sociedade onde e como são gastos os recursos.

Nesse contexto, destaca-se o conceito de accountability que, segundo Nakagawa (1995), é a obrigação de se prestar contas dos resultados obtidos, considerando-se as responsabilidades surgidas em decorrência de uma delegação de poder do povo ao Estado.

Para Lima (2003) a accountability faz parte de um sistema bem mais amplo, cujo objetivo principal é garantir a soberania popular, o poder que emana do povo, e se estrutura,

basicamente, por meio das eleições, o controle vertical da população sobre os governantes, que ocorre de tempos em tempos e é uma forma que se tem mostrado mais adequada para a escolha dos representantes do povo perante o Estado moderno.

Marques e Almeida (2004) tratam da accountability como uma nova filosofia de responsabilidade na gestão, afirmando a importância de sua contribuição para a avaliação da eficiência no setor público.

A importância desse assunto no contexto da administração pública pode ser definida pela implantação do Programa Whole of Government Accounts (WGA), na Inglaterra, que proporciona a consolidação das informações governamentais por meio da apresentação das informações financeiras (www.wga.gov.uk), que, segundo Chow, Humphrey e Moll (2007) tem quatro principais objetivos:

a) ajudar no ajuste e monitoração da política fiscal, melhorando a qualidade da informação usada para a tomada de decisão macroeconômica;

b) promover a consistência nas demonstrações contábeis do governo e assessorar as decisões de financiamento de longo prazo;

c) ajudar o planejamento de capital, fornecendo informações detalhadas sobre a propriedade dos ativos do governo;

d) fornecer aos parlamentares e outros usuários uma visão geral do desempenho das finanças do governo.

Para Chow, Humphrey e Moll (2007) o governo tem dado a entender que a melhor tomada de decisão levará a um aperfeiçoamento da performance econômica, o que, por sua vez, beneficiará o contribuinte. Isso também pretende fazer com que a publicação da posição financeira do governo e de indicadores como “valor líquido” conduza a um maior interesse público e amplie o debate em torno da política econômica do governo, com a conseqüente melhoria da transparência e accountability. Os autores destacam que o Comitê de Contabilidade Pública Britânico (Public Accounts Committee) defende que a consolidação contábil proporciona accountability e simplifica a complexidade da contabilidade governamental.

Enfatizando a deficiência da accountability no Brasil, Ribeiro (2004) afirma que a existência e o grau de intensidade com que se apresenta em determinadas sociedades são conseqüências diretas do nível de cultura política de um povo, do estágio de desenvolvimento de suas instituições, de sua estrutura econômica e do nível de organização da sociedade, o que ainda é incipiente entre nós.

As definições, o estudo e a importância da accountability são fundamentais para que seja possível referir-se à participação social nas políticas e controles governamentais e para a responsabilização dos gestores públicos, apesar de o próprio significado do termo ainda não ter sido traduzido para a língua portuguesa, conforme destaca Sacramento (2004).

A indefinição acerca do correto significado de accountability também pode ser verificada na literatura internacional. Licht (2002), do Interdisciplinary Center Herzliya (Israel) destaca que o cientista político Robert Behn, discute o assunto nos Estados Unidos, questionando sobre o entendimento das pessoas a respeito do termo.

Analisando os questionamentos de Robert Benh, Licht (2002) enfatiza a dificuldade para o estabelecimento de uma definição conclusiva do termo accountability:

As retóricas questões de Behn soam com um notável sentimento de frustração. Behn reconhece sua incapacidade para oferecer uma boa definição e conjetura que nenhum dos que devem garantir accountability - políticos, acionistas, auditores, estudantes, advogados, ou jornalistas - conhecem exatamente o que isso significa. Behn conclui que accountability permanece como um conceito indefinível. Por outo lado, ele argumenta que para as pessoas que devem assegurá-la, accountability significa punição. Assim, na ocasião dos escândalos Enron-WorldCom, o Presidente George W. Bush prometeu que haveria conseqüências para os envolvidos nas irregularidades.

Considerada essa discussão, julgou-se relevante investigá-lo junto à Entidade de Fiscalização Superior dos Estados Unidos, onde a palavra faz parte do próprio nome do órgão. O U.S. Government Accountability Office (GAO), Washington D.C., esclarece o significado da accountability no contexto da sua função específica, conforme o seguinte:

O GAO existe para dar suporte ao Congresso em estabelecer suas responsabilidades constitucionais e ajudar a implementar sua performance e assegurar accountability do governo federal em benefício do povo americano. Accountability descreve a natureza do próprio trabalho do GAO. Os analistas, auditores, advogados, economistas, especialistas em tecnologia da informação, investigadores e outros profissionais multidisciplinares do GAO buscam assegurar a economicidade, eficiência, efetividade e credibilidade do governo federal, como os olhos do povo americano.

Chow, Humphrey e Moll (2007) destacam que o programa de consolidação das demonstrações contábeis do setor público na Inglaterra (WGA) proporciona uma melhoria da qualidade das informações sobre os balanços do setor público, enfatizando-se, assim, a relevância da evidenciação da informação contábil para a accountability.

Pode-se estabelecer, então, que accountability no setor público relaciona-se com a melhoria da gestão e, conseqüentemente, com a busca de uma maior eficiência na aplicação dos recursos disponibilizados à administração dos governos pela sociedade e em benefício desta, seja relacionada com a maior representatividade das prestações de contas ou na responsabilização dos condutores das políticas e programas de governo.

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