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A transparência e o dever de prestar contas adquirem força motriz para auxiliar e comprovar a eficiência e a efetividade da accountability (ABRUCIO e LOUREIRO, 2004), contribuindo na gestão dos recursos dos Entes públicos.

Assim, os elementos chaves da accountability para este estudo são evidenciados nos fenômenos da transparência e do dever de prestar contas. Afinal, não há dúvida quanto ao termo impor o dever de observância desses mecanismos aos quais está vinculado o gestor público na execução do orçamento público (CENEVIVA, 2007; SLOMSKI, 2010).

Tendo por base normativa o princípio da publicidade constante do caput do artigo 37 da CF/88 e sendo também atividade intrínseca e inerente à responsabilidade fiscal, conforme artigo 1º, §1º da Lei Complementar nº 101/2000, a transparência é dever de todo gestor público (BRASIL, 1988; 2000). A normatividade da transparência também é perceptível no artigo 37, inciso XXXIII da CF/88, na Lei 12.527/11 e na Lei 12528/11.

A transparência também é elemento edificador das bases da accountability para Koppell (2005) e Rocha (2009) que a destacam nas tipologias e abordagens acerca do fenômeno, o que comprova ser esse elemento um ponto de comum consenso entre os estudiosos quanto à sua identificação como mecanismo inerente à accountability.

Para Ceneviva (2006), a transparência é condição fundamental para o êxito da accountability, destacando que esta promove a visibilidade da gestão governamental. Afinal, sem transparência e fidedignidade das informações públicas, o desempenho dos programas governamentais fica sem elementos de avaliação. No entanto, destaca o autor que a formulação e a implementação da accountability devem ser orientadas pelas demandas da população e pela sinalização de prioridades e comprometimento dos governantes.

Rocha (2012) destaca a existência de transparência ativa promovida pela espontaneidade dos gestores públicos e da transparência passiva que decorre de solicitação externa, alertando ainda haver distinção entre direito à informação e transparência, sendo esta muito mais que a mera divulgação de informações, englobando também a promoção da participação popular, o debate e a accountability democrática. Para a autora, concretizar a transparência e a

accountability é um desafio da comunidade política, já que, como atributo de gestão pública democrática, a transparência impõe o rompimento com práticas obsoletas.

Ao analisar a transparência, Haswani (2006) afirma que o termo tem o mesmo significado intrínseco na gestão pública, de forma que um governo deve expor suas ações, tornando-as acessíveis aos interessados para se mostrar translúcido. Assim, a transparência alia-se à participação, eficiência e eficácia como palavras de ordem que conduzem a um relacionamento ativo com a coletividade, gerando um processo de comunicação de massa conhecido como postulado de Lasswell, conforme se vê abaixo:

 Quem? a comunicação da instituição pública é aquela realizada pela administração pública; esta atribuição deve poder ser operada por qualquer um, mediante a presença, explícita e clara, da assinatura da fonte.

 Diz o quê? Divulga a produção normativa, as atividades, a identidade e o ponto de vista da administração;

Por meio de quais canais? Utiliza, possivelmente de maneira integrada, todas as mídias disponíveis;

 A quem? Aos cidadãos ou às organizações, quando se apresenta como comunicação externa direta; aos meios de comunicação de massa, quando quer atingir os cidadãos e as organizações que constituem a audiência destes meios; a quem atua, como público interno, nas instituições públicas, quando se apresenta como comunicação interna;

 Com que efeito? Garantir aos cidadãos o direito de informação (principalmente aquele direito de se informarem e de serem informados); construir e promover a identidade do ente público para reforçar as relações entre os subordinados e a administração, de um lado, e entre os cidadãos e seus semelhantes, de outro; oferecer aos cidadãos a possibilidade de exprimir de maneira ativa e substancial o direito de cidadania, a fim de tornarem co-responsáveis pela solução dos problemas de interesse geral; produzir uma mudança radical de mentalidade interna da administração pública, que deverá ter a comunicação como recurso estratégico para a definição das relações com os cidadãos (GRANDI, 2002, p. 55, apud HASWANI, 2006).

Quanto ao reconhecimento da transparência do orçamento, Silva e Gomes (2011), interpretando vários estudos sobre o tema, demonstram a sua importância na execução orçamentária ao vincular o grau de abertura orçamentária (transparência) a um maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

Bem por isso, Platt e Neto et al. (2007) estabeleceram os elementos que caracterizam a transparência das contas públicas, arguindo que estas devem

pressupor o fornecimento de informações confiáveis e relevantes aos interesses dos usuários, conforme figura abaixo:

Figura 2 - Elementos da transparência das contas públicas

Fonte: Platt e Neto et al. (2007, p. 85).

A prestação de contas é também elemento que dá sentido ao conceito de accountability conforme se vê em Prado e Pó (2007), para os quais o aperfeiçoamento da democracia se dá pela prestação de contas (accountability). Por meio de Prado (2004), pode-se entender a accountability como um princípio que deve guiar os governos democráticos em busca da prestação de contas à sociedade.

No mesmo sentido, Schedler (1999) destaca o dever de prestar contas sob o prisma da accountability já que preconiza o dever do agente público relacionado à obrigação de responder e informar (answerability) e de fazer cumprir a lei e aplicar sanções (enforcement).

Silva Neto et al. (2015) acrescenta que o não cumprimento do dever de prestar contas conduz os gestores governamentais a punições, sendo a Lei de Responsabilidade Fiscal um instrumento válido para orientar esse dever que é elevado por Paludo a elemento vinculado à accountability de forma que o sistema político passa a garantir a prestação de contas das promessas feitas aos cidadãos, devendo demonstrar por meio de resultados o bom uso de recursos públicos.

No mesmo sentido, Xavier (2011) afirma que o dever de prestar contas é tanto observado no aspecto político quanto no aspecto legal, de forma que os servidores públicos devem obediência a esse dever na esfera horizontal, porque está em

posição de igualdade e, na esfera vertical, entre atores que ocupam posições de desigualdades, entre superiores e subordinados, entre principais e agentes.