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1.5. Barreiras à implementação de entomofagia

1.5.3. Aceitação do consumidor

A aceitação ou rejeição de um alimento é influenciada pelas características do alimento (nomeadamente as suas propriedades sensoriais), o ambiente onde o consumidor está inserido (influências culturais, contacto com o alimento, etc) e características próprias do consumidor (traços de personalidade, estados psicológicos, etc) [115]. Sendo os insetos uma fonte alimentar desconhecida para a maioria dos consumidores Ocidentais é provável que sejam atrativos para consumidores que constantemente procuram novas aventuras alimentares, mas que sejam rejeitados por consumidores mais conservadores nas suas escolhas alimentares [115]. Esta rejeição por novas fontes alimentares (ou fontes desconhecidas para o consumidor) é definida como neofobia alimentar [116], que pode ser influenciada por vários fatores: noção que o alimento apresenta riscos de segurança alimentar ou que pode levar a más experiencias sensoriais [117] ou incerteza quanto à origem do produto [118].

De acordo com estudos feitos anteriormente, a vontade de consumidores de países Ocidentais comerem insetos é bastante baixa [119-121], e uma das principais reações que estes apresentam à ideia de consumir insetos é repugnância, que é dos principais previsores da vontade de consumir insetos [33]. Este comportamento está associado à ingestão de substâncias que possam potencialmente colocar em perigo a saúde do consumidor [122] e os insetos são várias vezes associados a contaminações [33, 123]. Em vez de considerarem os insetos como sendo uma valiosa fonte nutricional, os consumidores tratam os insetos como sendo potencialmente inseguros [33] e culturalmente inapropriados [124]. Assim, informar os consumidores sobre as vantagens nutricionais e ambientais dos insetos tem-se revelado insuficiente em convencê-los a aceitarem os insetos como fonte alimentar [119, 121]. Este tipo de discurso racional não se tem revelado uma tática efetiva para causar grandes mudanças nos hábitos alimentares dos consumidores [125], e seria apenas efetiva em consumidores que já

tivessem predispostos a fazer mudanças nas suas dietas considerando os impactos ambientais e de saúde das suas escolhas alimentares [126]. Não é então surpreendente que num estudo [127] feito com consumidores que adquiriram produtos com incorporação de insetos, a maioria deles partilhava algumas características: preferência por comida orgânica, escolhas alimentares baseadas no impacto na sua saúde e nas consequências éticas (como impacto ambiental e sofrimento animal).

Outra possível tática para aumentar a vontade de consumir insetos pode ser dar um foco ao consumo tradicional de insetos em várias partes do mundo, mas é bastante improvável que mude a perceção dos consumidores relativamente à entomofagia pois os hábitos alimentares são vistos de forma muito relativista: um produto que seja delicioso numa região não significa obrigatoriamente que será vista do mesmo modo por consumidores noutra região ou cultura. No entanto informar os consumidores da enorme variedade de insetos que é consumida a nível mundial pode ajudar a que os consumidores entendam que existe uma enorme variedade sensorial entre os insetos [125].

Outra das grandes barreiras à aceitação dos consumidores é que estes têm uma expectativa negativa quanto às propriedades sensoriais dos insetos [121], associando o consumo destes a uma série de emoções negativas [128]. Existem várias alternativas que visam tornar o consumo de insetos apelativo: apresenta-los de forma processada de forma a não estarem visíveis no produto final [119, 128, 129], incorporá-los em produtos associados à cozinha gourmet [125] ou associá-los a sabores [130] e pratos [131] familiares. No entanto, é preciso ter especial atenção ao tipo de produto que é elaborado, pois é necessário que este seja apropriado para a incorporação da nova fonte alimentar, caso contrário será rejeitado pelos consumidores [132, 133]. Estudos já realizado com insetos [128, 134] demonstraram que os consumidores tendem a avaliar mais positivamente produtos que achem apropriados, mas que apenas produtos que sejam apropriados e apresentem boas características sensoriais serão consumidos regularmente. Atualmente, uma das estratégias implementadas é categorizar os insetos como fonte proteica animal, tentando classificá-los como substituto de carne algo que pode induzir os consumidores em erro pois esperam que este tipo de produtos tenha características idênticas à carne [135], algo que pode ser impossível de alcançar com os insetos [136].

Uma expectativa de sabor desagradável desempenha um grande papel na rejeição de novas fontes alimentares [137], e é essencial que as primeiras experiências que os consumidores tenham com insetos sejam positivas do ponto de vista sensorial,

pois se os produtos que inicialmente consumirem não tiverem um bom sabor é bastante provável que os consumidores assumam que todos os insetos irão ter um sabor igualmente desagradável [115]. É também essencial que os produtos com incorporação de insetos tenham um sabor agradável, pois este é um dos fatores-chave nas escolhas alimentares de consumidores [138], e a maioria destes não estão dispostos a abdicar de produtos que considerem saborosos por outros produtos que apresentem vantagens nutricionais ou ambientais [139, 140]. É evidente que para além de mitigar muitas das emoções negativas associadas ao consumo de insetos (repugnância, medo, insegurança, etc.) é necessário que os consumidores associem o consumo de insetos a emoções positivas (como boa experiência sensorial) de modo a aumentar a vontade de comer e introduzir os insetos na dieta regular [128].

Experiência prévia com consumo de insetos (mesmo que seja só conhecimento de entomofagia) influencia positivamente o consumo de produtos com insetos [115, 119, 129], assim como o consumo de insetos processados resulta num aumento da vontade de comer insetos inteiros [115]. Esta relação positiva entre contacto com entomofagia e vontade de comer insetos suporta a teoria que a atitude dos consumidores perante os insetos é uma questão de aversão adquirida que pode ser ultrapassado com constante exposição às propriedades alimentares (sabor, textura, aparência, aroma) dos insetos [125]. É preciso também ter em consideração que vontade de experimentar consumir insetos não se traduz necessariamente em disponibilidade para comprá-los [141] ou introduzi-los na dieta habitual [121, 142], devido ao consumo regular ser controlado por aspetos mais práticos como preço ou sabor do produto e não apenas vontade de experimentar um alimento incomum [127].

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