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A B.R 101 e a aceleração da urbanização de Balneário Camboriú No mesmo ano de fundação do município de Balneário Camboriú,

2 O OBJETO DE ESTUDO

2.4 HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO TERRITORIAL DA ORLA DE BALNEÁRIO CAMBORIÚ ATÉ OS PRESENTES DIAS

2.4.4 A B.R 101 e a aceleração da urbanização de Balneário Camboriú No mesmo ano de fundação do município de Balneário Camboriú,

com os polos produtivos do país estabelecidos na porção costeira do território nacional, tornou-se essencial uma maior integração entre esses polos e aprovou-se a lei 4.592/1964, a qual dá origem à B.R. 101 (BRASIL, 1964). Em 1971, a rodovia é inaugurada em Santa Catarina, cortando longitudinalmente o litoral catarinense e fortalecendo as relações econômicas do estado. No mesmo ano, priorizando-se o transporte rodoviário, a Estrada de Ferro Santa Catarina (EFSC) foi desativada. Ainda que o acesso à foz do Itajaí fosse feito pela EFSC e pela Rodovia Jorge Lacerda, a supressão do transporte ferroviário não deteve o turismo e a ocupação da cidade, que aceleraram com a implantação da BR-101, conectando Balneário Camboriú ao resto do país. A BR 101 estimulou o processo de urbanização em seu eixo de conexão, sendo, portanto, forte condicionante para o desenvolvimento de Balneário Camboriú, já que seu curso de ligação entre Joinville, foz do Itajaí (conectando-se com o final da SC-470) e Florianópolis, se deu paralelo à orla da cidade, facilitando seu acesso e fomentando ainda mais sua ocupação.

Em um processo de ocupação e verticalização ainda mais acelerado, o município demandava políticas de ordenamento e planejamento territorial, resultando em sua primeira lei urbanística: a Lei Municipal n°128/1970, que “Institui o Plano de Urbanização de Balneário Camboriú e suas normas ordenadoras e disciplinadoras”, cujos anexos estabeleciam o zoneamento da cidade e os mapas dos arruamentos e das áreas públicas de lazer. Em sua maior parte, devido às necessidades da época, esta lei regulava os loteamentos e a urbanização de antigos lotes rurais, ambos ainda em expansão. Quanto às edificações, exigiam-se pela municipalidade taxas de ocupação mínimas e os recuos frontais (4 metros) e laterais (1,5 ou

2,5 metros), regras que se modificarão nos códigos mais atuais, que permitem 100% de ocupação do térreo e andares de garagem, sem quaisquer afastamentos. Pela primeira vez é definida a obrigatoriedade de estacionamento para os edifícios residenciais, o que muitas edificações multifamiliares não possuíam até o momento. No entanto, não foram exigidos os números mínimos de vagas por unidade habitacional, deixando a cargo das construtoras defini-los, geralmente pela área de sobra da projeção do prédio, sob pilotis. Muitas das edificações desta época seguem em plena utilização em Balneário Camboriú, demandando estacionamento particulares, aluguéis de vagas em edifícios vizinhos ou sobrecarregamento da infraestrutura viária, ao se manterem veículos estacionados em vias públicas. Esta lei já não aplicava limites de gabarito para as edificações (como nos dias atuais), e a verticalidade era liberada em qualquer zona do município.

Em seu artigo 47, já havia a previsão de permissão para o aterramento de qualquer curso d’água, desde que aprovado pela municipalidade. Este foi, provavelmente, o embasamento legal para o aterramento de lagoas e rios, especialmente ao norte da orla, onde estes eram em maior número e de proporções menores. Sem um planejamento de drenagem, preservação dos antigos cursos d’água, e devido à superexploração do espaço e à pouca distância entre as edificações e o mar, a cidade sofre, até os presentes dias, um grave problema de impermeabilidade, especialmente em épocas de intensa chuva e de ressacas marítimas, como pode ser visto nas fotografias a seguir, referente aos períodos de enchentes em Santa Catarina no ano de 2008, e chuvas intensas em 2010, respectivamente:

Figura 31 – Ressaca, Av. Atlântica, 2008. Alagamento, Av. Brasil, 2010

Fonte: CLIC RBS, 2010. Disponível em: <http://wp.clicrbs.com.br/itajai/tag/chuvas /page/29/>. Acesso em: Março, 2015.

Em épocas de “milagre econômico” do Brasil, a Lei Municipal 128/1970 foi revogada pelo primeiro Plano Diretor do Município, Lei nº 299/1974, no contexto desenvolvimentista da ditadura, cuja implantação do Plano Estratégico de Desenvolvimento, que focava no crescimento econômico do país – indústria/infraestrutura, em detrimento de avanços sociais –, estimulou o estabelecimento de políticas de organização territorial em nível municipal.

O Plano Diretor detalha, agora, as dimensões mínimas para lotes e determina especificações especiais para cada zona. Nesta lei foi definida também uma faixa mínima de terras de marinha (33 metros), da qual as edificações deveriam se afastar, pela primeira vez regulando a ocupação na orla da praia. Na Avenida Atlântica eram exigidos recuos frontais, de fundos e laterais, que aumentavam de acordo com o número de pavimentos, chegando até os 30 metros de recuo frontal – para o número máximo de pavimentos autorizado: 20 andares –, sendo 6 metros o afastamento mínimo. Realidade completamente diferente do Plano Diretor atual, com ocupação total das estremas na base da edificação, atendendo exclusivamente aos interesses imobiliários. Ainda assim, o planejamento do território não era uma prioridade, e os investimentos se davam muito mais em pavimentações, redes de água e energia, do que em uma política urbana planificada (DANIELSKI, 2009).

Passadas as instabilidades políticas causadas pelo Golpe Militar de 1964, com as trocas recorrentes de prefeito, a malha viária do município começa a se estruturar (impulsionada pela rodovia federal), prevendo-se, inclusive, a abertura de uma 5ª Avenida, que abasteceria a margem oeste da BR 101, para onde o município se expandia com a ocupação da classe trabalhadora menos favorecida. Nesta época, algumas obras de infraestrutura destacam-se: a Avenida Atlântica tem seu passeio alargado para 6 metros; a cidade recebe seu primeiro hospital (Hospital Santa Inês); e é feita a abertura de uma estrada panorâmica para as praias agrestes do município, ao sul do Rio Camboriú e do Morro do Boi (Idem).

No início da década de 1970, a predominância da ocupação à beira- mar ainda era de residências unifamiliares, mas as edificações multifamiliares cada vez mais verticalizavam-se, indicando uma tendência futura de edifícios de altos gabaritos. Abaixo, podemos perceber a concentração de edificações verticais na ponta norte da baía, a Barra Norte, especialmente em torno da Avenida Central. A ponta sul da baía, Barra Sul, mantém-se pouco ocupada, e o Rio Camboriú ainda não possuía as intervenções de contenção do molhe, aumentando a superfície de área molhada na ponta sul:

Figura 32 – Vista da Barra Norte da orla de Balneário Camboriú, década de 1970.

Fonte: Arquivo Histórico de Balneário Camboriú. Adaptações pela autora Figura 33 – Vista da Barra Sul de Balneário Camboriú.

Fonte: Arquivo Histórico de Balneário Camboriú. Adaptações pela autora.

Barra Sul Barra Norte Hotel Marambaia Av. Central RIO CAMBORIÚ Mar