2. No Terreno Das Reuniões
2.1 Acerca do Método
Para realizar esta pesquisa, como mencionado no aporte do capítulo introdutório,
dedicaremos tempo e esforço teórico na leitura e análise das atas das Reuniões Especializadas,
REJ e REAF. No entanto, foi extremamente necessário conhecer o panorama geral de
desenvolvimento político institucional do MERCOSUL, que o levou a construção de um
modelo institucional híbrido
12, inserindo novos atores e novos temas, mas mantendo
fortemente o caráter comercial, intergovernamental em termos de gestão e modo de tomada de
decisões (FERREIRA, 2017, p. 38), contudo, aberto à participação destes atores, os marcos
conceituais acerca das categorias sociais aqui investigadas e a complexidade de quadro
institucional nada rígido quanto ao método burocrático-administrativo no qual estão inseridas
desde meados dos anos 2000. Assim seguiremos alguns passos procedimentais de ordem
metodológica.
1) Realizar um detalhamento descritivo sobre os atores sociais que estão presentes
nestes espaços, quem são, quais entidades representam, período de permanência em reuniões
ou intermitência na participação, países de origem, quantidade de registros de falas (não há
registros como falas) e temas que propõe ao debate nas reuniões.
a) Essas observações podem esclarecer fatores importantes para esta pesquisa, com ele
pretendemos perceber principalmente se há divergências, e quais seriam entre a agenda dos
representantes da sociedade civil e dos governos e, ainda, se há divergência na agenda das
categorias em questão, tanto internamente, no âmbito das Reuniões Especializadas, quanto na
agenda histórica própria dessas categorias. Também nessa leitura pretendemos observar a
capacidade de incidência de cada categoria sobre as decisões.
2) Em segunda ação a análise se dedicará à leitura detalhada dos documentos no
intento de observar padrões a título de formato de registros, continuidade e descontinuidades
de agenda.
12
Termo usado com frequência na literatura sobre o MERCOSUL para tratar da pluralidade de atores inseridos
no contexto e a complexidade institucional que além dos países membros e associados, organismos
internacionais, Bancos, se inserem os atores dos movimentos sociais, ONG’s centrais sindicais, micro e grandes
empresas.
b) Tal procedimento pode nos trazer à luz o quanto o modelo de reunião, sua agenda e
resultados podem ser (ou não) variáveis de acordo com o Estado Parte que está na PPT, e por
assim na coordenação dos trabalhos da Reunião Especializada em questão.
3) Em seguida cabe a esta pesquisa atentar para os registros nas atas acerca das
tomadas de decisões e encaminhamentos internos, às instâncias superiores e ainda a
instituições fora do escopo institucional do bloco.
c) Procedimento no qual se analisará a capacidade de tomada de decisões, os níveis de
fortalecimento institucional de cada Reunião Especializada, os atores sociais de maior
incidência nas tomadas de decisão, verificar a construção de vínculos, parcerias e apoio de
outros organismos para além do bloco.
O aporte teórico-metodológico que nos possibilitará percorrer este caminho será
necessariamente os estudos já mencionados relacionados especialmente a análise do
desenvolvimento da institucionalidade do MERCOSUL como Federico Gomensoro (2011),
Maria Julia Aguerre (2009) e Gerardo Caetano (2011), ainda voltado a institucionalidade,
porém mais dedicado às questões de procedimento e tomadas de decisões e o extenso estudo
de Lorena Granja (2011), ainda neste escopo, mas com uma investigação mais próxima de
nossa pesquisa Guilherme Ferreira (2017) que desenvolve uma análise no âmbito das relações
internacionais com um foco analítico nas dinâmicas de interação entre os governos e as
organizações do campo na REAF. Mas, todas essas produções também pode ser
complementadas pelas diversas análises que encontramos nos anais do último Congresso
FoMerco (2017), coordenado por José Renato Vieira Martins, tendo em vista a larga produção
encontrada que foi produzida por pesquisadores de várias áreas de investigação, mas
especialmente dos que perceberam a singularidade institucional do bloco ao inserir novos
atores nos espaços de negociação.
Como resultado, para o capítulo seguinte, teremos os parâmetros que nos condicionará
ao debate acerca das teorias dos movimentos sociais, sobre o paradigma entre os movimentos
sociais “clássicos” e os novos movimentos sociais, a relação entre esse paradigma, identidade
de classe e reconhecimento. O que em temos de hipótese pode ser determinante nos resultados
no fortalecimento institucional de cada uma dessas reuniões de maneira distinta.
Mas, nesta pesquisa se faz, ainda, necessária a inserção, entre os conceitos
epistemológicos e metodológicos; ao vincular teoria com estratégias de pesquisa próximas do
objeto, com foco, sobretudo,na natureza das estruturas e processos encontrados no âmbito das
reuniões estudadas. Desta forma, o uso de métodos mistos, ou não muito ortodoxos em se
tratando de sociologia, não se estabelece necessariamente em observações epistemológicas
sobre os conteúdos imprescindíveis para determinada investigação, e, também não se
apresenta sobre a validade e autenticidade dos resultados. Porque depende necessariamente
da natureza dos fenômenos em questão e do grau de aproximação e de conhecimentos que o
pesquisador tem em relação com o objeto (KELLE, 2001).
Desta forma, consideramos aqui que toda abordagem de fenômenos sociais devem
estar impreterivelmente relacionadas à natureza dos fenômenos em análise, pois, os conceitos
metodológicos isoladamente não dão conta de responder qual método específico deve ser
utilizado para investigar determinado fenômeno social, e, no caso desta pesquisa, ainda mais
evidente por conta da excepcionalidade dos fenômenos inseridos em uma institucionalidade
complexa, recente e em fase de incertezas quanto a sua consolidação. Assim, este estudo se
ancora nas concepções de Kelle(2001) quanto ao tratamento de complementariedade entre
técnicas de investigação qualitativas e quantitativas considerando as características objetivas e
subjetivas do objeto em questão.
Como material central desta pesquisa tomaremos as atas das duas Reuniões
Especializadas em questão referentes aos anos de 2007 a 2015 considerando que este período
compreende a primeira ata da REJ, 2007 é o limite de um novo e complexo período de
dificuldades políticas no âmbito do MERCOSUL que se inaugura na perda do Mandato de
Fernando Lugo no Paraguai em 2012 e se estabelece com a instauração do Golpe que retira o
mandato de Dilma Rouseff no Brasil, em 2015, a eleição de Maurício Macri, na Argentina,
com um programa distante de uma agenda pró Integração Regional e a crescenteposição
contrária à participação da Venezuela, potencializada pelo Governo que sucedeu Dilma
Rouseff e apoiada pelos Governos da Argentina e Paraguai.
Consideremos então os seguintes quadros de atas para fins desta pesquisa. Tendo em
conta que as atas referentes à Reunião Especializada de Juventude foram cedidas ao
pesquisador (desde a investigação monográfica) pela então Secretaria Nacional de Juventude
da Presidência da República do Brasil por solicitação via e-mail e que elas estão disponíveis
no site do bloco ou em qualquer meio público de ordem digital. Quanto às atas da REAF se
pode ter acesso irrestrito no endereço da reunião na internet em uma galeria específica.
QUADRO 02. Atas analisadas da REJ.
ATA PPT CIDADE DATA
Sesión2 Uruguay Montevidéu 16/11/2007
Sesión3 Argentina Buenos Aires 23/06/2008
Sessão 4 Brasil Salvador 14-16/12/2008
MERCOSUL - IX REJ / Acta
Nº 01/12 Brasil Brasília 2-3/12/2012
MERSOCUR / X REJ / Acta
Nº 01/13 Uruguai Montevidéu 29/05/2013
MERCOSUL/PPTB/REJ/ATA
N
O02/2015 (XII-REJ) Brasil Brasília 13-14/07/2015
Fonte: (FIRMINO, Matheus. 2015).
QUADRO 03. Atas analisadas da REAF.
ATA PPT CIDADE DATA
VIII REAF – ACTA Nº 02/07 Uruguai Montevidéu 25/10/2007
IV REAF – ACTA Nº 01/08 Argentina Buenos Aires 01-02/07/2008
XREAF – ATA Nº 02/08 Brasil Rio de Janeiro 26-27/11/2008
XI REAF – ACTA Nº 01/09 Assunção Paraguai 04/06/2009
XII REAF – ACTA Nº 02/09 Montevidéu Uruguai 04/12/2009
XIII REAF – ACTA Nº01/10 Mar del Plata Argentina 04/06/2010
XIV REAF – ATA Nº 02/10 Brasília Brasil 19/11/2010
XV REAF– ACTA Nº 01/11 Assunção Paraguai 03/06/2011
XVI REAF – ACTA Nº 02/11
Não disponível
XVII REAF – ACTA Nº
01/12 Buenos Aires Argentina 04-07/06/2012
XVIII REAF – ATA Nº 02/12 Caxias do Sul Brasil 15/11/2012
XX REAF – ACTA º 02/13 Caracas Venezuela 26-28/11/2013
XXI RAFA – ACTA Nº 01/14 Posadas Argentina 24-27/05/2014
XXII – ACTA Nº 02/14 Montevidéu Uruguai 03-05/12/2014
XXIII REAF –ATA Nº 01/15 Brasília Brasil 18/05/2015
XXIV REAF – ACTA Nº
02/15 Assunção Paraguai 27-27/11/2015
(Disponíveis em http://www.reafmercosul.org/biblioteca/actas)
No documento
INTEGRAÇÃO REGIONAL E PARTICIPAÇÃO SOCIAL UM ESTUDO SOBRE AS REUNIÕES ESPECIALIZADAS DO MERCOSUL
(páginas 45-49)