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Estimativas de 2006 mostram números impressionantes para a produção audiovisual nos próximos anos: 1 a 2 exabytes (milhões de terabytes) de novas informações serão produzidas anualmente em todo o mundo; 80 bilhões de imagens digitais serão feitas todo ano; mais de 1 bilhão de imagens relacionadas a transações comerciais estão disponíveis e devem aumentar 10 vezes nos próximos 2 anos; 4.000 novos filmes produzidos a cada ano; 300.000 disponíveis em todo o globo; 33.000 estações de televisão e 43.000 de rádio; 100 bilhões de horas de material audiovisual (KOMPATSIARIS, 2006, p. 3). Somente o arquivo da Rede Globo guarda 300.000 fitas magnéticas desde os anos 1980. Como lidar com tal quantidade de documentos e metadados, e que já é assustadoramente denominado sobrecarga (overload) informacional? Que ferramentas podem viabilizar a organização de tal produção? Nesse contexto, como encontrar a informação necessária, no momento preciso?

A rápida transformação tecnológica dos materiais e métodos de reprodução audiovisual tem por conseqüência a grande variedade de formatos e suportes comerciais que tentam oferecer so- luções de compromisso entre custo e qualidade, nem sempre bem sucedidas. No entanto, alguns fundamentos básicos da Fotografia ainda prevalecem nos sistemas audiovisuais. O design e a construção óptica da imagem na camara obscura persistem em qualquer aparelho moderno, em- bora o processo eletrônico já dispense o uso da prata e de reações químicas. Por outro lado, a conservação de documentos baseados em prata, como filmes e fotografias, embora seja delicada, é conhecida e eficiente, obtendo-se documentos que podem se manter inalterados por mais de um século. Tais produtos presumidamente terão uma vida útil mais longa que os documentos guar- dados, em formato analógico ou digital, em meio magnético, e mesmo em dispositivos óticos, sobretudo quando dependem de software e hardware específicos para serem lidos.

Algumas pesquisas de ponta buscam por novos dispositivos de armazenagem e prometem mídias mais duráveis, como, por exemplo, um sistema de registro holográfico em cristais fotor- refrativos15, e a obtenção de um quarto material semicondutor, o memristor, componente ativo com memória permanente, que permitirá a computação analógica. Tais preocupações para com o futuro tem ensejado pesquisas por parâmetros mais duradouros para a conservação da infor- mação em formatos digitais, como por exemplo nas definições propostas pela British Library

em Beagrie e Greenstein (1998). Nesta perspectiva, é particularmente interessante a proposta de preservação de um referencial físico mais tradicional para documentos não-textuais, como a descrição completa de imagens e sons de conteúdos audiovisuais.

A preservação de todo tipo de documento garante a análise histórica e é fundamental como política de consolidação de uma identidade nacional e planetária, mas, diante da crescente massa documental, muitas dificuldades se apresentam. A tecnologia digital pode nos ajudar a resolvê- los, porém, as soluções não são triviais e exigem ainda muitos anos de pesquisa e desenvol- vimento. A fragilidade dos meios e a inovação contínua de processos e padrões são grandes desafios que devem ser encarados por políticas integradoras de longo prazo, que garantam a conservação e o acesso futuro ao que estamos produzindo hoje.

No Brasil do século XXI surgem novas iniciativas preservacionistas, como por exemplo a do CRAv16 - Centro de Referência Audiovisual, que é a primeira instituição do estado de Minas Gerais a ter uma reserva técnica climatizada para a guarda de acervos audiovisuais, e abrigará originais de produções mineiras que, anteriormente, diz o coordenador do centro Neander de Oli- veira, “pela carência de local adequado, eram encaminhadas para cinematecas do Rio de Janeiro e São Paulo (ou, muitas vezes, ficavam alojados na casas ou empresas dos realizadores) [...] a implantação de um espaço que impede os filmes de adoecerem e morrer não é conquista só nossa, mas de todo o setor audiovisual". O CRAv tem uma parceria com a Cinemateca Brasileira para a implantação do projeto da midiateca e dos processos de catalogação do acervo. A Cinemateca Brasileira17, além de possuir um acervo de imagens em movimento (cerca de 30 mil títulos) e um centro de documentação, é um pólo de informações, de conservação e de difusão da cultura cinematográfica.

Outro passo importante foi a implantação do CECOR - Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes, da UFMG, onde um sistema de recuperação de informação multimídia está sendo desenvolvido por Nunes et al. (2002).

Entre 12 e 17 de junho de 2008 Ouro Preto acolheu sua 3ª Mostra de Cinema e também o 3º Encontro Nacional de Arquivos de Imagens em Movimento, que congregou 76 representantes de 54 arquivos presentes em 15 estados do país, onde foi assinada a ata de fundação da Associação

16http://www.pbh.gov.br/cultura/crav/ 17http://www.cinematecabrasileira.org.br

Brasileira de Preservação Audiovisual para representar e legitimar as instituições de preserva- ção audiovisual espalhadas pelo país. “A ABPA surge com o compromisso de salvaguarda do patrimônio audiovisual nacional, instrumento essencial e estratégico do desenvolvimento da so- ciedade e da cultura brasileira”, afirmou Hernani Heffner, conservador-chefe da Cinemateca do MAM-RJ, que também divulgou a informação de que aproximadamente 35% dos filmes já pro- duzidos no país estão irremediavelmente perdidos18.

Auspiciosa iniciativa na área foi a criação do RECINE - Festival Internacional de Cinema de Arquivo, evento anual que acontece desde 2002 nas instalações do Arquivo Nacional, na cidade do Rio de Janeiro. Tem como objetivo oferecer ao público imagens raras, debater as dificuldades na guarda e preservação dos registros filmográficos e tornar os acervos de audiovisuais mais acessíveis19.

Como mais uma forma de enfatizar a importância da documentação audiovisual e a neces- sidade da tomada de medidas urgentes para a sua preservação, o Arquivo Nacional, em uma iniciativa conjunta com a UNESCO, e apoiada pela FIAF (Federação Internacional de Arquivos de Filmes), propôs para o dia 27 de outubro de 2009 o “Dia Mundial da Preservação da Herança Audiovisual”. A data é uma homenagem a um dos pioneiros do cinema brasileiro, o cineasta Humberto Mauro (b1897 - d1983), e ao diretor e produtor de cinema Jurandyr Noronha (b1916 - ), o pesquisador brasileiro com mais tempo de atuação nessa área.

A conservação de um acervo é uma etapa do esforço necessário à preservação do conhe- cimento contido em qualquer documento, que se completa com a facilitação do acesso a este conhecimento, que demanda um processo de análise indexadora. Claramente a classificação e indexação de audiovisuais não pode ser uma simples transposição de métodos aplicados ao texto, no entanto só recentemente o filme perdeu a condição de similar ou anexo de documentos bibliográficos, passando a ser alvo de estudos específicos. Logo se verificou a necessidade de extrapolar os limites do objeto fílmico e recorrer a fontes externas, principalmente relativas às condições de produção do filme para se chegar à uma identificação consistente do seu sentido. Para Cordeiro (2000, p. 17): “A análise do filme como objeto indexacional deve ser abordado como processo de produção de sentido (narrativa e montagem) e não partir de uma única lingua-

18http://www.dzai.com.br/gustavodourado/blog/gustavodourado?tv_pos_id=16321, acesso em 18 de julho de 2009

gem (imagem-sons-palavras) ou único suporte documentário (roteiro)”

A próxima seção procura por indícios de conexão entre as diversas visões críticas e analíticas tradicionais no Cinema e os novos paradigmas para uma análise indexadora trazidos pela CI.