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5.2 Depois da primeira consulta ginecológica

5.2.2 Acesso à consulta ginecológica

Como o lugar onde a mulher faz a consulta influencia na mesma? Faz diferença para a paciente se ela é atendida pelo SUS ou por plano de saúde/consulta particular? A literatura indica que mulheres com plano de saúde têm maior acesso às consultas ginecológicas do que aquelas que não possuem plano de saúde. No entanto, há diferença neste acesso?

Foi praticamente consenso entre as entrevistadas que há diferenças entre as consultas de plano de saúde/ particular e as consultas do SUS. É importante ressaltar que as diferenças apontadas estão no nível do imaginário, uma vez que as que se consultam no SUS nunca foram a uma consulta particular ou de convênio e vice versa.

Algumas entrevistadas pontuaram que, se a consulta fosse particular, o atendimento seria diferente. Estas mulheres indicaram que, na consulta particular,

o atendimento é melhor, pois pelo SUS o médico trata a paciente de “qualquer jeito”. As entrevistadas indicaram, ainda, que a consulta particular apresenta mais recursos/equipamentos do que aquela consulta feita pelo SUS.

E: A senhora acha que seria diferente o atendimento que recebeu lá no ginecologista se ele tivesse sido uma consulta particular?

Carmem: A[*] seria diferente.

E: Me explica. Por que a senhora acha que seria diferente?

Carmem: Ah, eu acho assim [**] ia ver que que eu tinha, fazer tratamento bem...

E: Hum hum, mas por que a senhora acha que o Médico ia te tratar diferente?

Carmem: Olha, eu acho, tendo dinheiro qualquer pessoa trata a outra diferente (...)

E: É?

Carmem: qualquer pessoa, como a gente num tenha, a gente é humilde

então trata a gente de qualquer jeito.

(0 a 3 anos de estudo, 50 anos) E: A senhora acha que seria diferente se a senhora fosse numa consulta com ginecologista particular?

Jussara: Ah, se eu tivesse condição e dinheiro acho que era melhor, né?

E:A senhora acha que o atendimento que a senhora recebeu seria diferente se fosse num particular?

Jussara:Não, que particular acho que eles olham mais direito, né? Aí eu não sei, né?

E: A senhora acha que seria melhor examinada?

Jussara: Eu acho que sim.

(0 a 3 anos de estudo, 49 anos)

E: Seria diferente se você fosse numa consulta particular?

Juliana: Faria.

E: Faria diferença?

Juliana: Acho que o médico teria muito mais possibilidade de tá te

atendendo melhor. Mais recursos! Porque ele, por exemplo, do posto, esse doutor mesmo, a gente tava conversando, ele falou que trabalha num centro geral de medicina, e é particular e diz ele assim que tem mais atenção. Ele mesmo falou que tem muito mais atenção com o paciente... tem muito mais coisa, hum, é... materiais específicos pra ele tá trabalhando...

E: Se você tivesse sido atendida por um médico de plano de saúde, você acha que teria sido diferente?

Flávia: Seria, seria, porque o médico de plano de saúde não é um médico que você tem que enfrentar fila, num é um médico que você precisa tá indo todo dia pra encontrar ele, pra ver se consegue ou não a consulta com ele porque você tendo o plano tudo facilita mais, até pelo telefone você consegue marcar uma consulta tendo plano de saúde, basicamente seria necessário, a gente tendo condições, ter um plano de saúde.

(4 a 7 anos de estudo, 43 anos)

As mulheres que vão a consultas particulares ou através de plano de saúde/convênio também acreditam que haja diferenças entre a consulta particular/ plano de saúde e as consultas realizadas pelo SUS. Para estas mulheres, a consulta pelo SUS é mais rápida do que a consulta particular, além de que o ginecologista, na consulta particular, é muito mais meticuloso.

E: Agora, se você fosse atendida no posto de saúde ou no hospital a consulta seria diferente?

Izabel: Acho que seria. [Acho que no consultório a consulta demora mais tempo] que no hospital. A pessoa não tem aquele cuidado com a gente, vai lá e faz o exame rapidinho, machuca, acho que é bem diferenciado do consultório.

(8 a 11 anos de estudo, 30 anos)

E: Você acha que a consulta que você recebeu dessa última vez, ela teria sido diferente se tivesse sido feita num posto de saúde do SUS, por exemplo?

Tereza: Eu acho que teria.

E: Em que você acha que teria essa diferença?

Tereza: Em tempo. O tempo que é [suficiente] pra consulta, tá? [Na

consulta particular] Ele tem mais tempo de tá conversando, tem mais tempo de tá ficando, né? A diferença maior pode ser essa também. Porque às vezes... A delicadeza nem tanto, porque eu acho que a pessoa que me atendeu, atenderia delicadamente em qualquer lugar, mas eu acho que ela teria que atender com mais rapidez, com mais agilidade, com menos explicações pro paciente...

E: E se você fosse atendida num posto de saúde, você acha que faria diferença? Porque você falou que foi no consultório, né?

Silvia: Haham.

E: Caso você fosse no posto você acha que faria diferença?

Silvia: No posto de saúde não é tão [meticuloso] assim. Você não é... Não tem uma atenção. Então assim, não é dedicada uma atenção. Porque é... Linha de montagem, né? Então você senta ali, despeja o básico. Eu acho que é diferente sim.

(12 anos ou mais de estudo, 35 anos)

Das participantes entrevistadas, apenas algumas, e todas com escolaridade entre 8 e 11 anos de estudo, não acharam que, necessariamente, há diferenças entre as duas consultas. Para estas mulheres, isto depende de cada profissional.

E: Você acha que existe diferença no tratamento de um ginecologista, por exemplo: no posto de saúde e num clínico particular?

Nádia: Acho que depende do profissional. Tem uns que deve ter alguma diferença sim, mas aí vai da ética de cada um.

(8 a 11 anos de estudo, 23 anos)

Percebe-se que, apesar do quase consenso quanto à superioridade das consultas ginecológicas realizadas por plano de saúde/particular em relação ao SUS, há uma divisão na caracterização destas diferenças. Uma parte das mulheres atribui esta pior qualidade da consulta ao atendimento médico em si, ou seja, estas mulheres acreditam que, numa consulta particular, o médico atende as pacientes melhor do que numa consulta realizada pelo SUS. Assim, esta diferença se dá devido à conduta do médico ginecologista.

Já outra parte das mulheres, principalmente as de alta escolaridade, acreditam que a consulta realizada pelo SUS seria pior porque é mais rápida, ou seja, o médico tem menos tempo para atender a paciente e, assim, ele é menos meticuloso e tem menos tempo pra explicações. Neste caso, não necessariamente o culpado por esta diferença é o médico, já que este atende rapidamente porque a demanda pelos serviços do SUS é maior do que a oferta, e isto não é culpa dele.

Como as entrevistadas agiriam se fossem elas as ginecologistas? Estas falas são apresentadas a seguir.

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