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Acesso à informação sob a perspectiva da transparência, democracia e controle social

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.3 Acesso à informação

2.3.2 Acesso à informação sob a perspectiva da transparência, democracia e controle social

O acesso à informação tem se posicionado como um dos elementos essenciais para a transparência, a cidadania, a democracia, o controle social e até mesmo o combate a corrupção (CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO, 2011; MEDEIROS; MAGALHÃES; PEREIRA, 2014; ANDRADE; CARDOSO, 2014; FROTA, 2014; BERNARDES; SANTOS, ROVER, 2015).

Como observado, as principais discussões sobre o acesso à informação são recentes, em que pese a busca para se obter acesso a informações públicas, remonte aos tempos antigos. No século XVIII, o acesso a informações públicas, ganhou status de princípio com a Revolução Francesa, porém, no século seguinte seu avanço foi limitado, ganhando maior ênfase apenas a partir do século XX, após a segunda guerra mundial, quando organismos internacionais e sociedade civil passaram a lhe atribuir maior importância (BATISTA, 2012; FERREIRA; SANTOS; MACHADO, 2012; MARTINS; REIS, 2014; LIMA; CORDEIRO; GOMES, 2014).

Além disso, o fim da Guerra Fria, aliado à democratização de países do terceiro mundo, bem como colapsos em economias centralizadas, pressionaram para que fossem instituídas legislações que garantissem o acesso à informação pública (LIMA; CORDEIRO; GOMES, 2014). Atualmente, o acesso à informação é objeto de debate tanto no âmbito do próprio governo como também na sociedade. A UNESCO, o Banco Mundial, a Organização para a cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento -

PNUD (LIMA; CORDEIRO; GOMES, 2014), Fundo Monetário Internacional (LOPES, 2007), além da Controladoria Geral da União (2010) tem demonstrado preocupação com o livre acesso à informação.

Além disso, Transparência Brasil, Artigo 19, Conectas Direitos Humanos são exemplos de organizações não governamentais que têm direcionado ações no sentido de cobrar para que as informações públicas estejam acessíveis aos cidadãos.

Nessa direção, na academia também se observa um interesse pelo tema, o qual tem sido discutido em eventos (ENCONTRO NACIONAL..., 2012; ENCONTRO LATINO..., 2013; SEMINÁRIO..., 2014) e abordado em vários trabalhos, sob diferentes enfoques, como o da Ciência da informação, do Direito, da Arquivologia, da História, da Sociologia, da Gestão Pública, dentre outros (LOPES, 2007; REYES OLMEDO, 2009; BATISTA, 2010; BACELLAR, 2012; BATISTA, 2012; FERREIRA; SANTOS; MACHADO, 2012; JARDIM, 2012; INDOLFO, 2013; MOURA, 2014; MEDEIROS; MAGALHÃES; PEREIRA 2014).

Nessa perspectiva, em 2012, a biblioteca da Escola Nacional de Administração Pública, lançou boletim com mais de cinquenta publicações nacionais e estrangeiras, pertencentes ao seu acervo, que versam sobre o tema do acesso à informação pública (ENAP, 2012).

Acesso à informação é também um tema transversal e se relaciona com vários outros que estão presentes no contexto das organizações públicas, como: transparência, accountability, democracia, cidadania e controle social. Transparência e acesso à informação guardam estreita relação, uma vez que este é quem proporciona aquela. Por meio das definições de transparência propostas por Tristão (2002) e Braga (2011) é possível observar essa relação.

Tristão (2002, p.1) afirma que a transparência na Administração Pública é a “democratização do acesso às informações, em contraposição ao sigilo das mesmas”. Braga (2011, p.4), por sua vez, reforça essa compreensão ao definir “transparência como a atuação do órgão público no sentido de tornar sua conduta cotidiana, e os dados dela decorrentes, acessíveis ao público em geral”. Desse modo, compreende-se o acesso à informação como um mecanismo para assegurar maior transparência das ações executadas pelos órgãos públicos.

Nesse contexto, Pires Júnior (2014) chama a atenção para a necessidade da prestação de contas pelo agente público, quando no exercício de sua função. Isso

remete a outro tema com o qual o acesso à informação também está relacionado: accountability, representada pela obrigação da organização em prestar contas, em razão das responsabilidades que decorrem de uma delegação de poder.

Schedler (1999, apud PINHO; SACRAMENTO, 2009), destaca que um dos quesitos necessários para ocorrer a accountability é a informação, que faz referência a obrigação dos detentores de mandatos públicos informarem, explicarem e responderem pelos seus atos. Przeworski (1998), por sua vez, entende que os governos são accountable se os cidadãos puderem saber se o Estado atua ou não em defesa dos interesses públicos.

Outro conceito que também se relaciona com o acesso à informação é a democracia. Nessa perspectiva, a partir do Iluminismo, o acesso às informações governamentais, tem sido considerado como um dos valores para a consolidação de instituições democráticas (MATHIAS; ANDRADE, 2012). Pires Júnior (2014), reforça essa compreensão, pois entende ser o acesso à informação um princípio ético que deve nortear Estados Democráticos de Direito.

Atualmente, há uma busca por uma nova identidade nacional, na qual a transparência e por conseguinte, o acesso à informação se estabeleçam como valores fundamentais da sociedade democrática (PIRES JÚNIOR, 2014). Lima, Cordeiro e Gomes (2014), reforçam que tanto a partir de uma perspectiva econômica, quanto política, o acesso à informação pode ser observado como uma condição para a democracia. Além disso, acessar informações públicas é um direito fundamental em Estados Democráticos de Direito, no qual reza o princípio pelo qual o poder emana do povo, que por sua vez, para exercê-lo, necessita estar informado quanto as ações do Estado, o que só é possível por meio de acesso as informações públicas.

Desse modo, entende-se que em ambientes nos quais os cidadãos não possuem acesso a informações públicas, a democracia é inexistente (PIRES JÚNIOR, 2014). Nessa direção, Medeiros, Magalhães e Pereira (2014), concluíram que o acesso à informação figura ao lado de outros aspectos essenciais na construção de uma verdadeira democracia.

A cidadania também é influenciada pelo acesso às informações públicas. Bacellar (2012) entende que este contribui para a afirmação daquela. Para Figueiredo e Santos (2013), a cidadania é consolidada também pelo direito ao acesso e pelo acompanhamento da administração pública.

Sob essa perspectiva, Indolfo (2013) destaca que as sociedades em geral, têm lutado pelo fortalecimento da cidadania, por meio do acesso e utilização da informação e do conhecimento. Nestes termos, estes se apresentam como requisitos fundamentais para se chegar a uma cidadania integral.

Conforme o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD (2004), a cidadania integral é o resultado da articulação dos direitos cívicos, sociais, econômicos e culturais em perfeita harmonia, ou ainda “o pleno reconhecimento da cidadania política, da cidadania civil e da cidadania social” (p.26).

O acesso à informação contribui também para um maior controle social. Segundo a Controladoria Geral da União (2011), o controle social corresponde à participação do cidadão na Gestão pública, por meio da fiscalização da Administração, atuando assim, para a eficiência no uso dos recursos públicos e a prevenção da corrupção. O termo pode ser entendido ainda como o direito do cidadão em participar da Administração Pública, fiscalizando-a (ARTIGO 19, 2009).

Nesse sentido, por meio do conhecimento das informações públicas, é possível o monitoramento das ações dos governantes, dificultando o abuso de poder e a implementação de políticas que visem interesses diferentes do público (ARTIGO 19, 2009).

No contexto brasileiro, a regulamentação do acesso à informação é recente e ocorreu após pressões por parte da sociedade e de organismos nacionais e estrangeiros. O acesso à informação no Brasil será abordado na próxima seção.