• Nenhum resultado encontrado

3. MERCOSUL E O CONTEXTO SOCIOPOLÍTICO, ECONÔMICO E EDUCACIONAL

3.4. BRASIL

3.4.5. Modelo da formação inicial do professor: instituições formadoras, acesso à

3.4.5.2. Acesso aos programas de formação inicial

Para ter acesso a algum dos programas de formação inicial ofertados nas IES, o candidato necessita trilhar alguns possíveis caminhos: (a) vestibular; (b) Enem; (c) Avaliação Seriada; (d) Entrevista; (e) Análise do histórico escolar; (f) Prova agendada; (g) Prova eletrônica; (h) Prova de habilidade específica; e (i) Portadores de diploma.

Por meio de uma lei que foi promulgada em 1971, o vestibular precede a admissão a determinados cursos superiores, mediante classificação em ordem decrescente dos resultados obtidos no concurso. Este processo limita-se a preencher as vagas que forem fixadas em edital anteriormente divulgado e, geralmente, ocorre por meio de provas para as quais são pagas taxas financeiras (BRASIL, 1971b). Nos últimos anos, o vestibular tem sido, gradativamente, substituído pelo Enem, em especial, nas instituições públicas, como as universidades federais.

Criado no ano de 1998, o Enem era, originalmente, um método de o governo aferir o desempenho dos estudantes ao fim da escolaridade básica (BRASIL, 2018d). Atualmente, como forma de propiciar o acesso ao ensino superior, é utilizado pelo governo para ceder bolsas parciais ou integrais no Programa Universidade para Todos (ProUni) em instituições privadas, ou para o aporte financeiro na modalidade de empréstimo financeiro aos cursos não gratuitos por meio do Programa de Financiamento Estudantil (Fies). As universidades públicas também recorrem ao Enem para realizarem seus processos seletivos, por meio do Sistema de Seleção Unificada (SiSU). A prova, pautada nos conteúdos da educação básica, ocorre em todos os estados brasileiros e pode ser realizada por qualquer pessoa, ocorrendo uma vez por ano (BRASIL, 2018e).

Para atender a portaria normativa nº 18, de 2012 – posteriormente atualizada por meio da portaria normativa nº 9, de 2017 –, as instituições vinculadas ao Estado passaram a ofertar uma

avaliação denominada por seriada, onde os alunos do EM, oriundos das escolas públicas, pudessem ser avaliadas em três momentos, ao final de cada ano letivo, ou seja, por série (BRASIL, 2012b, 2017e). O intuito é que os estudantes realizem provas respectivas ao 1º, 2º e 3º anos do EM, de forma gratuita, apesar de algumas universidades utilizarem na última etapa a nota referente ao Enem (UFLA, 2018).

Algumas instituições também realizam entrevistas presenciais com os ingressantes, em seu processo seletivo para o ensino superior. A ideia é analisar capacidades comportamentais, além dos conteúdos específicos, que geralmente ficam para o vestibular; também são avaliados pontos que dizem respeito à comunicação, empatia, pensamento crítico ou mesmo ao conhecimento dos alunos quanto à instituição e ao curso (PEREIRA, 2017).

Outra maneira possível de cursar o ensino superior, é por meio de um processo em que as instituições realizam uma análise do histórico escolar referente ao EM, apresentado pelo aluno. Geralmente, este meio de acesso também se utiliza de outros métodos seletivos, como a produção de uma redação, por exemplo (UNICA, 2018).

Também é possível ingressar no ensino superior por meio de uma prova que pode ser agendada em dia e horário que seja mais propício ao candidato; esse processo pode ocorrer na própria instituição ou à distância, por meio eletrônico (FUMEC, 2018).

Bastante semelhante ao processo da prova agendada, a prova eletrônica é um método de acesso ao ensino superior que ocorre por meio de uma avaliação disponibilizada de forma eletrônica e, geralmente, é realizada em um espaço físico da instituição (USF, 2018).

Em alguns cursos de ensino superior, são necessárias determinadas habilidades específicas que o candidato necessita ter prévio conhecimento, além dos conhecimentos usualmente cobrados nas provas e nos vestibulares. Dizem respeito a essa categoria os processos seletivos que são realizados de maneira paralela, em cursos como: música, arquitetura, design, artes, entre outros (VELLEI, 2017).

Por fim, ressalta-se que também é possível concorrer a uma vaga em instituições de ensino superior ao apresentar o diploma de outro curso realizado. Geralmente, esse processo ocorre para preencher vagas remanescentes, entretanto, também ocorre de o (re) ingressante participar de novos processos seletivos (BRASIL, 2018f).

118

3.4.5.3. Complementação da formação inicial do professor

Além dos cursos que as instituições fornecem para a formação de professores da Educação Básica, os discentes também podem fazer complementações por meio dos programas e projetos que são oferecidos, são eles:(a) Programa de Educação Tutorial (PET); (b) Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID); (c) Programa de Residência Pedagógica (RP); (d) Programa de Monitoria; (e) Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI); (f) Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (Pibic) e Projetos de Pesquisa de Iniciação Científica Voluntária (Pivic); (g) Universidade Aberta do Brasil (UAB); (h) Programa de Apoio à Formação Superior em Licenciatura em Educação do Campo (Procampo); (i) Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais Indígenas (Prolind); e (j) Programa de Formação Inicial e Continuada para Professores da Educação Básica (Profic) (RAMOS, 2018; MARIM, MANSO, 2018).

Aliando à indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão, o PET foi criado pela portaria de número 976, em 2010. O programa é desenvolvido em grupos organizados a partir de cursos de graduação das instituições de ensino superior (BRASIL, 2013c). Atualmente, há 842 grupos, com até doze alunos, em 123 universidades, totalizando a concessão de 10.104 bolsas mensais para os estudantes e 842 para professores tutores, que recebem R$ 400,00 e R$ 2.200,00 respectivamente, ou, em dólares, 96,38 e 530,12; considerando o dólar à R$ 4,15 (SIGPET, 2018).

Com objetivo de melhorar a qualificação profissional docente, bem como, de antecipar o vínculo entre os futuros professores e as salas de aula da rede pública, perfazendo uma articulação entre as licenciaturas, a escola e os sistemas estaduais e municipais, o PIBID oferece bolsas mensais de R$ 400,00 (US$ 96, 38) aos licenciandos, R$ 1.400,00 (US$ 337, 34) aos coordenadores de cada subprojeto e R$ 765,00 (US$ 184, 33) aos supervisores, que são os professores das respectivas disciplinas nas escolas parceiras (CAPES, 2018a). De acordo com o último relatório de pagamentos publicado pelo governo, em março de 2018, foram realizadas a concessão de mais de 69 mil bolsas entre os mais de 2.700 grupos (CAPES, 2018b). Apesar do sucesso que o programa obteve, em um processo de reformulação, o MEC-BR realizou uma alteração que passou a permitir apenas licenciandos matriculados na primeira metade de seus respectivos cursos.

Como uma das maneiras de atender os alunos de licenciatura, o governo criou o Programa de Residência Pedagógica, direcionado aos alunos matriculados nos dois últimos anos da graduação, permitindo-os promover a adequação dos currículos e propostas pedagógicas dos

cursos de formação inicial de professores da educação básica às orientações da BNCC (CAPES, 2018c). Este modelo foi implementado nas instituições de ensino superior, por meio de edital.

Os licenciandos, que tenham cursado o mínimo de 50% do curso ou que estejam cursando a partir do 5º período, podem participar do Programa de Residência Pedagógica, que visa aperfeiçoar a formação por meio da prática profissional, induzir a reformulação do estágio supervisionado, fortalecer a relação entre as instituições de ensino superior com as escolas e promover a adequação dos currículos dos cursos de formação inicial de professores às orientações da BNCC (CAPES, 2018d). Assim, como ocorre com o PIBID, as bolsas são destinadas aos cerca de 45 mil residentes, de R$ 400,00 (US$ 96, 38); coordenadores institucionais, de R$ 1.500,00 (US$ 361, 44); aos docentes orientadores, de R$ 1.400,00 (US$ 337, 34), e aos preceptores, de R$ 765,00 (US$ 184, 33) (CAPES, 2018e).

Para atender o artigo 84 da LDBEN, as instituições de ensino superior desenvolveram programas de monitorias, em que os discentes podem ser aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa, exercendo funções de monitor em alguma disciplina específica, desde que atenda seu rendimento e seu plano de estudos (BRASIL, 1996b). Como os órgãos de fomento oficiais não definem valores para essa modalidade, as universidades podem ofertar bolsas entre R$ 240,00 e R$ 400,00 (US$ 57, 83 e US$ 96, 38); o MEC-BR não divulga a quantidade de alunos inscritos nesse programa.

Já o PLI consiste em uma parceria universitária realizada entre instituições de ensino superior brasileiras com a França e Portugal. O intuito é propiciar aos alunos dos cursos de licenciatura a diversificação curricular, tendo como prioridade o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica, com possibilidade de adquirir, além do diploma brasileiro, também o francês ou o português (CAPES, 2017a; 2017b).

Primeiramente, o coordenador do projeto, juntamente com outros docentes doutores que sejam membros da equipe, têm como missão de trabalho ir a um dos dois países – França ou Portugal – com duração mínima de sete e máxima de vinte dias; em seguida, o estudante, na modalidade graduação-sanduíche, fica um período de doze meses, podendo ser concedida prorrogação de até dez meses em caso de dupla-titulação. O governo oferta uma bolsa mensal de, aproximadamente, 870 euros para cobrir custos de moradia e 90 euros para saúde, além de ceder as passagens aéreas de ida e volta (CAPES, 2014a).

O Pibic é um programa governamental com intuito de apoiar a iniciação científica por meio de bolsas aos estudantes de graduação, no valor de R$ 400,00; as instituições pleiteiam a concessão e, posteriormente, realizam a seleção dos projetos dos pesquisadores orientadores, que são responsáveis por indicar os graduandos (CNPq, 2018). Algumas universidades

120

permitem aos alunos que participem de maneira voluntária, onde é necessário cumprir com as obrigações e há a emissão de certificado ao final do trabalho, assim como no Pibic, entretanto, não há, neste caso, a concessão de bolsa, portanto, essa modalidade é chamada de Pivic. Os órgãos de fomento oficiais não indicam qual a quantidade de alunos cadastrados.

Por meio do Decreto 5.800, de 2006, o governo sancionou a UAB com o objetivo de oferecer cursos de licenciatura para a formação inicial e continuada de docentes, dirigentes, gestores e trabalhadores da educação básica, por meio de metodologias inovadoras de ensino, apoiadas em tecnologias de informação e comunicação (BRASIL, 2006a). Os denominados polos de ensino representam as localidades em que as 105 instituições fizeram parceria com o programa para integrarem uma rede acadêmica de graduação e pós-graduação, na modalidade à distância (CAPES, 2017c). Os interessados em algum curso devem procurar os editais que estiverem abertos, em cada um dos polos.

Com mais de trinta instituições de ensino superior cadastradas, o Procampo é um programa do governo federal semelhante à UAB, mas intenciona combater as desvantagens educacionais históricas sofridas pelas populações rurais e tem o objetivo de apoiar a implementação de cursos de licenciatura em educação do campo, voltados para a formação de educadores para a docência nos anos finais do EF e EM, nas escolas rurais (BRASIL, 2018g). Da mesma maneira que ocorre à UAB, os interessados em algum curso do Procampo necessitam procurar os editais que estiverem disponíveis em cada instituição.

Criado em 2005, para estar em consonância com um parecer do CNE (BRASIL, 1999c), o Prolind apoia a oferta de cursos de formação para educadores indígenas que possam permitir o ensino de temas como as línguas maternas, a gestão e a sustentabilidade dos territórios e a cultura dos povos. Neste programa, as instituições de ensino superior necessitam realizar contato com as comunidades, submeter um projeto aos editais do MEC-BR e, posteriormente, ser a responsável por todos os licenciandos (BRASIL, 2013d).

Com esse documento supracitado, o CNE pretendeu propor que a formação do professor índio que contemplasse certos aspectos, tais como, a capacitação para: (a) elaborar currículos e programas de ensino específicos; (b) produzir material didático-científico; (c) um ensino bilíngue, ou seja, a língua portuguesa e a língua indígena; (d) sociolinguística para o entendimento dos processos históricos de perda linguística; (e) linguística específica; e (f) a condução de pesquisas de cunho linguístico e antropológico, para que o professor índio seja capaz de realizar levantamentos da literatura indígena tradicional e atual, realizar levantamentos étnico-científicos, lidar com o acervo histórico do respectivo povo indígena e realizar levantamento sociodemográfico de sua comunidade.

Por fim, o Profic, anteriormente, denominado por Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor), destina-se à formação de professores nas modalidades licenciatura, segunda licenciatura e formação pedagógica; igualmente a outros programas citados. Também é necessário que as instituições de ensino superior pleiteiem as vagas disponíveis por meio de uma plataforma digital, a Plataforma Freire (CAPES, 2017d). Mesmo com a opção de matrícula nas modalidades à distância ou presencial, o MEC-BR indica que, em 2016, foram implantadas 2.890 turmas, em 509 municípios, tendo atendido, desde o início, mais de cinquenta mil professores oriundos de 28.925 escolas.

3.4.6. Ingresso dos docentes à profissão

A profissão docente no Brasil, oficialmente, teve início no ano de 1827, em 15 de outubro17, quando, Dom Pedro I, imperador naquele momento, promulgou uma lei em que todas as cidades, vilas e lugares, com maior índice populacional, deveriam ter as primeiras escolas do país; nessa lei, os que tivessem a pretensão de ser professor deveriam se submeter a exames públicos, perante um conselho que aprovava os que fossem mais dignos para que o governo os nomeassem (BRASIL, 1987).

Atualmente, a condição necessária para que um docente ingresse à profissão, no Brasil, conforme o artigo 62 da lei de número 9.394, atualizado em 2017 pela lei de número 13.415, é a formação em nível superior, em curso de licenciatura plena, para atuar na educação básica; no magistério superior é necessário preparação em cursos de pós-graduação, sendo prioridade o mestrado e o doutorado (BRASIL, 1996b; 2017c).

A lei supracitada, de 1996, pressupõe que os sistemas de ensino devem promover a valorização dos profissionais da educação por meio de:

(a) ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; (b) aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim; (c) piso salarial profissional; (d) progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho; (e) período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho; (f) condições adequadas de trabalho (BRASIL, 1996b, ARTIGO 67).

Também propõe a lei 9.394 que, para o exercício profissional em outras funções de magistério, é pré-requisito que haja experiência docente. Outras funções podem

17 A data 15 de outubro é quando se comemora o dia do professor, no Brasil; a justificativa, é a criação da lei, por D. Pedro I (BRASIL, 1963).

122

exemplificativamente significar a direção de unidade escolar e as de coordenação e assessoramento pedagógico (BRASIL, 2006c).

Ressalta-se que para atender o currículo inferido pela BNCC, especificamente, do que diz respeito à formação técnica e profissional, é possível que o professor apenas tenha notório saber, de acordo com sua formação ou experiência (BRASIL, 2017c).

Dessa maneira, entende-se que os docentes podem ingressar no mercado de trabalho, para atuarem como professores da Educação Básica nas escolas públicas brasileiras, por meio de concursos públicos efetuados pelo Estado, Município ou Federação. Na ausência do candidato com titulação específica, o governo permite que outrem pleiteie a vaga disponível em caráter temporário. Já as escolas particulares determinam suas próprias regras de seleção, desde que respeite as leis trabalhistas e a LDB.