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PARTE II: A TRAVESSIA – A ROTA DA PESQUISADORA EM

2. A REALIDADE DOS CURSOS DE SERVIÇO SOCIAL NO CONTEXTO

2.3 ACHADOS REFERENTES À CATEGORIA DEMANDAS E

Ao serem indagados acerca dos rebatimentos desse contexto, dessa

proposta de Reforma e do papel do mercado no cotidiano da sua UESS, os

pesquisados revelam que:

“A grande parte dos alunos apresentam dificuldades financeiras para manterem-se num curso Superior, assim demandando maior tempo para concluir o Curso, sem contar a evasão. Nossa UESS está localizada numa região agro-industrial, esta é dificultada principalmente pelas condições econômicas locais (a exemplo da seca deste ano) que refletem na absorção da mão de obra e na permanência dos alunos na Universidade (neste semestre algumas turmas foram suspensas por falta de alunos.). Por outro lado a própria Universidade impõe maiores níveis de exigência para as UESS, para que busquem formas de enfrentar a concorrência no mercado” (Docente).

“O contexto do ensino superior hoje implica um alto grau de exigência em resultados imediatos, diferenciados, de excelência e enxutos” (Docente).

Para o primeiro docente, os rebatimentos são percebidos, exclusivamente, nos aspectos financeiros dos alunos, ou seja, na dificuldade dos mesmos em pagarem seus estudos e, também, em manterem-se no espaço acadêmico. Para o segundo, os rebatimentos traduzem-se nas alterações no processo de trabalho docente e nas exigências de uma docência de resultados.

Ao buscarmos estabelecer uma relação entre as diretrizes curriculares da

área do S.S com o atual contexto universitário e com o mercado de trabalho, os

pesquisados refletem:

“Creio que as diretrizes curriculares do Serviço Social traduzem de forma incipiente a inserção real que os assistentes sociais

têm realizado no mercado de trabalho, ainda são discussões utópicas que dificilmente são materializadas no dia-a-dia de uma prefeitura, por exemplo. Há elementos das diretrizes que não conseguem ser materializados no contexto atual da universidade, como a pesquisa: o investimento da universidade é baixo e para buscar recursos fora há restrições (qualificação...). Em contrapartida elementos que se referem à pluralidade vêm justamente ao encontro das necessidades do mercado de trabalho, no entanto a Universidade tem demonstrado, em algumas áreas, todo o seu conservadorismo. Portanto percebo que não há um alinhamento entre os três âmbitos, acredito que há uma sobreposição do mercado de trabalho sobre as diretrizes curriculares (que propõem uma graduação mais ampla, com discussões mais filosóficas e gerais, diferentemente do que o mercado de trabalho tem acolhido), assim como das universidades sobre as diretrizes, que operam de forma mercantilista: vendendo o que o mercado deseja comprar” (Gestor).

“Penso que temos que melhor conhecer o mercado de trabalho (no âmbito regional, mais precisamente falando) onde a UESS está inserida (faltam pesquisas com este propósito, não acha?...) Neste sentido a formação generalista prevista nas diretrizes, com os professores fragmentados em horas e as exigências da Universidade em garantir alunos“ (Docente).

As respostas dos pesquisados apontam para uma dicotomia entre as diretrizes e a realidade da prática profissional, denominando as primeiras de utópicas e difíceis de serem garantidas pelas universidades. A discussão acerca da formação generalista e intelectual é dificultada pelo atual momento da universidade e do mercado que “tendem” a reduzir essa formação intelectual e potencializar ações de formação mais adequadas às demandas do mercado de trabalho.

Um outro docente se posiciona da seguinte forma:

“Acho que as diretrizes resultam de um novo contexto, uma nova proposta para as universidades (reforma), que têm sintonia com o movimento do mercado de trabalho. No entanto, acho que por conta da autonomia universitária, cabe à UESS atender as diretrizes curriculares sem comprometer princípios

ético-políticos da área na medida em que cria uma proposta pedagógica coerente com o projeto profissional” (Gestor).

Essa resposta evidencia que as diretrizes curriculares da área explicitam uma preocupação com o mercado de trabalho, mas a sua garantia somente será dada pelo projeto que as universidades/cursos possuem e na forma como estabelecem as relações entre a sua proposta de formação e as diretrizes de cada área do saber.

Quanto ao trato das questões da formação universitária, por parte das

organizações representativas da categoria profissional (ABEPSS, CFESS e

CRESS), os pesquisados as vêem da seguinte forma:

“No meu ponto de vista estas organizações representativas têm se ocupado, muito mais, com o debate do ponto de vista dos impactos gerados pelos governos nas escolas públicas de Serviço Social e muito menos com a formação universitária em si. Há algumas discussões sobre a formação, mas muito mais num âmbito privado (o autor ou a autora tal) do que da organização como um todo. Vejo um investimento de energia na necessidade de afirmação ideológica, que para mim não faz sentido visto que nossas diretrizes propõem o pluralismo e não mais uma cultura de culto ao marxismo. Em nosso estado percebo que o CRESS preocupa-se com a formação de uma forma diferenciada, acompanhando (não só fiscalizando) este trabalho desenvolvido pelas universidades. Ainda assim o trato é um tanto inconsistente, diante da complexidade que é o desafio da formação universitária” (Gestor).

“Naturalmente este papel está mais afeto à ABEPSS e acho que tem respondido, dentro do possível. Sua estrutura administrativa vem garantindo uma melhor participação da UESS nas questões relativas à formação. Não vejo o CFESS e os CRESS participando nestas de forma mais efetiva. Talvez, faltem canais?! Não sei.... mas temos experiências positivas em relação ao CRESS, quanto à abertura dos campos de estágio e ao suporte técnico recebido pelo mesmo, aqui na UESS” (Docente).

“Acho que CFESS e CRESS não conseguem acompanhar e compreender a formação universitária no atual contexto.

Agregam um discurso político próprio para as questões do exercício profissional, pouco pertinente para a formação profissional. Suas atribuições são de garantia e fiscalização do exercício profissional e este exercício implicado com a formação profissional. A ABEPSS tem a atribuição de garantir discussão e definição de diretrizes e propostas pedagógicas coerentes com o projeto ético-político da profissão, objetivando uma formação de qualidade e, portanto, o exercício profissional competente. Contudo deve propiciar permanente discussão com as UESS, visto que tem representação junto ao MEC” (Docente).

Nessa última questão, os pesquisados não apontam para um consenso nas suas respostas, já que o primeiro afirma que o papel dessas organizações é muito mais político e ideológico do que acadêmico; o segundo afirma que as respostas dessas organizações têm sido dadas dentro das suas possibilidades e que algumas organizações não o fazem de forma efetiva. E o terceiro exemplifica o descompasso entre a compreensão do exercício profissional e a formação profissional, mas sublinha o protagonismo dessas organizações e o fato de que uma delas possui uma aproximação maior com o órgão regulador oficial.

Ao retomarmos nosso problema de pesquisa: Quais são as demandas e os desafios postos à formação em Serviço Social no contexto da universidade em crise neste início de século XXI? e com base nos dados coletados e interpretados, podemos sinalizar as seguintes demandas e desafios para a formação em Serviço Social em face da universidade em crise:

Quadro nº 13: Síntese da categoria demandas e desafios para a formação em Serviço Social

Fonte: Sistematização elaborada pela autora

DEMANDAS - abarcam as exigências postas no

que se refere à: necessidade de oposição e/ou resistência frente DESAFIOS - abarcam as provocações e a à:

Compreensão do novo padrão de gestão e organização do trabalho e, conseqüentemente,

do perfil de Assistente Social que passa a ser requerido pelo mercado de trabalho. Nessa

compreensão é fundamental que sejam identificadas características e competências essenciais para o exercício profissional em um

contexto de reestruturação produtiva.

Tensão entre uma formação generalista e intelectual (expressa no projeto de formação

profissional de 1996) X uma formação especialista e operacional (presente na proposta

de reforma universitária).

Compreensão das novas configurações da universidade brasileira e, conseqüentemente, das alterações no modelo de gestão acadêmica

das universidades. Nessa compreensão, torna- se premente recuperar a leitura crítica do paradigma orientador dessas alterações – o

neoliberalismo.

Tensão entre o projeto de formação da profissão, as diretrizes curriculares da área, o projeto de

reforma universitária e a prática profissional (mediações e contradições presentes no modelo

ideal x real da formação em Serviço Social)

Compreensão da proposta de reforma universitária em curso no país como estratégia econômica, política e social dos agentes sociais

favoráveis ao atual padrão de regulação social. Exige especial atenção, também, para a concepção de educação superior que se encontra em disputa na sociedade nacional e

internacional.

Garantia do projeto de formação da área que supõe um movimento das próprias UESS (nos

seus projetos pedagógicos e nos seus posicionamentos políticos), da categoria como

um todo, através das suas organizações de representação profissional, mas, também, individualmente por parte dos profissionais. Compreensão dos impactos do modelo de

gestão universitária na perspectiva da reestruturação produtiva e, conseqüentemente,

das alterações no processo de trabalho nos âmbitos da docência (docentes multifuncionais e

polivalentes), da pesquisa (de resultados) e da extensão (como prestação de serviços).

Organização da categoria profissional que se encontra desafiada a dar respostas às demandas

que se colocam para a formação profissional de forma coesa e articulada. Para tanto, torna-se

imprescindível descortinar concepções profissionais presentes no debate acerca do

futuro da formação em Serviço Social. Compreensão do perfil do aluno de Serviço

Social em face da massificação da oferta do curso, em instituições públicas e privadas, bem

como das suas aspirações e motivações para esse curso/profissão.

Concepção da Educação, exclusivamente, como produto de consumo (ou seja, como bem privado

e particular) X Educação como patrimônio da nação (ou seja, como bem público e coletivo). Compreensão das novas modalidades de ensino

superior e das possibilidades de adotá-las na área do Serviço Social (cursos tecnológicos, seqüenciais, educação à distância, formação

modular, etc).

Defesa da educação superior como direito universal X mercantilização e privatização da educação superior, como forma de explicitar a defesa do projeto ético-político do Serviço Social

Diante do elenco dessas demandas e desafios postos à formação em Serviço Social, coloca-se uma questão fundamental: Qual será o futuro da universidade?

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