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C) Achas que na linha do que estamos a falar – nessa ligação público-banda,

indústria musical independente e alternativa, confere à fundadora do projeto empresarial as

P.1. C) Achas que na linha do que estamos a falar – nessa ligação público-banda,

portanto, procura-oferta – é importante a proximidade muito grande dos artistas com o público, que quase lhes permite entrar na esfera pessoal e privada? Sim, quando um artista deixa de ser uma pessoa que tu idolatras, mas ao mesmo tempo podias ser tu e que faz coisas que tu fazes e tu consegues rever nos comportamentos sabes bastante sobre ela, é claro que o nível de proximidade e apego é muito maior porque tu acabas por quase confundir um artista com um amigo que te diz coisas e que te conta coisas. Com as redes sociais sabes diariamente e às vezes várias coisas ao longo do dia. Isto é só uma forma diferente de fazer o que já se fazia nos anos 70 quando a NEW MUSICAL

EXPRESS fazia um artigo sobre os Led Zepplin e a forma como eles estavam em casa e a forma como viviam com as mulheres. É essa mesma ideia transposta para uma tecnologia de hoje, em que é muito mais imediato, esse acesso é muito mais imediato e as pessoas contarem-te as histórias delas ou tu saberes o que elas andam a fazer diariamente e à distância de um telemóvel ou de um site da net faz com que essa proximidade aumenta. Parece que é um amigo teu que te está a contar coisas e que te está a dizer o que está a fazer e a acontecer. E dessa forma claro que se estreitam laços e tu sentes muito mais proximidade com a pessoa e é muito mais difícil para ti olhares para a pessoa e veres como algo inacessível.

XVII P.2) Falando de uma perspetiva dos artistas, achas que existe hoje em dia uma tendência para suprir os intermediários com a democratização das tecnologias e das plataformas? Achas que os artistas têm cada vez mais tendência em assumir todos os papéis da cadeia? Sim. Depende também do nível – do nível não de importância, mas do nível de trabalho – que o artista acaba por ter. Ou seja, numa fase inicial é muito mais fácil (e ainda bem que existem estas ferramentas) de um artista ter um conjunto de canções, rapidamente consegue arranjar um estúdio e coloca as canções na internet e tem as músicas dele expostas a uma quantidade bastante grande de gente. Ou seja, o processo para tu colocares música cá fora, para tu arranjares concertos, para conseguires enviar algum material para imprensa – principalmente para um nível inicial – tornou-se muito mais fácil de fazer pelo próprio artista e o grau de impacto é bastante bom para estares a fazer algo por ti. Mas o que acontece sempre nestes casos é que quando o volume de trabalho passa a ser muito grande – só me lembro dos

Deerhoof, como sendo a banda (que é uma banda importantíssima) em que são eles que fazem quase tudo, mas continuam a ter um agente, têm uma editora. Ainda têm intermediários, o trabalho não é todo feito por eles porque chega a uma altura em que quando tu és artista e tu queres é tocar e tens de estar preocupado com isso que é uma parte super importante do trabalho. Portanto, para algumas questões precisas de ter alguém que te apoie e que te ajude. Ou seja, podes cortar alguns

intermediários mas quando chegas a uma altura na tua carreira vais sempre precisar de alguém que te ajude com a parte chata e com a parte logística, para tu te conseguires focar no que realmente

interessa. Porque se de repente tens uma banda e passas maior parte do teu tempo a marcar uma tour ou a enviar coisas para imprensa, vais ter pouco tempo para ensaiar e pouco tempo para tocar e para gravar e tu vives se tiveres disco, se tiveres música e se continuares a produzir. Portanto, acho que é bastante importante essa autonomia, mas é sempre uma autonomia que depois, há medida que os artistas vão crescendo e vão tendo mais trabalho e uma agenda mais preenchida e mais questões por responder, acabam sempre por incluir mais pessoas, mas também não de uma forma como era feita anteriormente. E aqui também acho que é mais o papel do manager, que é importante. Porque da forma clássica tinhas uma manager que basicamente ditava a tua carreira e as decisões passavam todas por ele e chegavas ao fim e um artista quase nem sabia quanto recebia: recebia um cheque no final do mês, ficava contente com aquilo e nem sabia quanto dinheiro ele estava a gerar e qual é que era a realidade dos números. Hoje em dia, se calhar esse papel do manager é que saiu um pouco e os artistas já fazem um pouco um deal directamente com os agentes, fazem um deal directamente com as pessoas que lhes vão fazer a promoção, ou seja, já não têm aquela figura que dita toda a carreira e que mexe todos os cordelinhos para as coisas acontecerem.

XVIII P.2.A) Então achas que se pode falar que hoje em dia há um equilíbrio entre essa

autonomia DIY e alguns dos agentes clássicos da cadeia? Achas que este é o caminho a seguir para o sucesso dos novos projetos? Sim. Chegas a um nível stadium-rock e se calhar já tens um agente igual aos anos 70 que só lhe falta andar de arma no bolso para receber os cachets. Depende muito dos níveis em que estás a trabalhar – e, pelo menos com a minha perspetiva – quanto maior uma banda é a nível de quantidade de discos que vende e de quantidade de público que chega e de números de tours e concertos que dá, mais gente acaba por entrar sempre no processo e menos autónomo tu acabas por ser, por tens mais gente. Há um interesse maior da editora, um interesse maior da agência, há um interesse maior das empresas de publishing. Acabas por ter sempre muito mais gente a ser adicionada à estrutura. Tu não vês uma banda que, sei lá, vai tocar ao Estádio do Dragão, a chegar lá numa carrinha de 9 lugares e com mais ninguém. São sempre estruturas gigantes e existe sempre um conjunto de interesses por trás e cada vez mais gente também a ditar regras e a direccionar a banda pelos caminhos que eles acham mais certos.

P.2.B) A nível de lançamento de novos artistas no mercado – tanto eles num primeiro

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