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ANEXOS 209 4 RESULTADOS

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 ACIDENTES DE TRABALHO

Os acidentes de trabalho geralmente são resultantes das condições ambientais, de vida e de trabalho das pessoas, sendo que quanto maior a exposição às situações de riscos, maiores são as probabilidades de ocorrência de acidentes de trabalho (THEODORO et al., 2009).

Nesse contexto, cerca de 180 mil trabalhadores morrem a cada ano e outros 110 milhões desenvolvem lesões por causa dos acidentes de trabalho (SOROCK; SMITH, 1993), o que de acordo com Salinas et al. (2004) e Hämäläinen, Takala e Saarela (2006), caracteriza um problema de saúde pública em todos os países.

No entanto, segundo a Organização Internacional do Trabalho apenas 3,9% dos acidentes de trabalho são realmente notificados (HÄMÄLÄINEN; TAKALA; SAARELA, 2006), colaborando com as afirmações de García e Gadea (2008), Rosenman et al. (2006), Salinas- Tovar et al. (2004) e Benavides (2003) que são unânimes em afirmar que a subnotificação dos acidentes de trabalho permite apenas uma identificação parcial dos resultados, pois subdimensiona o problema.

No Brasil, aproximadamente 80% dos acidentes de trabalho não são informados aos órgãos responsáveis (CORDEIRO, 2002), sendo que em média, os países da América do sul notificam em torno de 7,6% do total de seus acidentes de trabalho (ALMEIDA; BARBOSA-BRANCO, 2011). Nos Estado Unidos, entre 33% e 69% das informações de todos os acidentes de trabalho que geram lesões são perdidas (LEIGH et al., 2004).

De acordo com Hämäläinen, Takala e Saarela (2006), durante 2001-2002 a China notificou para a Organização Internacional do Trabalhado apenas 1% do total dos acidentes de trabalho que ocorreram no país, enquanto que países desenvolvidos como a maioria dos países Europeus, Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia notificam cerca de 62% (ALMEIDA; BARBOSA-BRANCO, 2011).

Nesse contexto, são considerados acidentes de trabalho certos acidentes sofridos no horário e local de trabalho; a doença proveniente de contaminação acidental no exercício da atividade laboral e o acidente sofrido à serviço da empresa ou no trajeto entre a residência e local de trabalho e vice-versa, sendo dessa forma divididos em três categorias: acidentes típicos, acidentes de trajeto e doença dos trabalho (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2007).

Sendo assim, os dados oficiais brasileiros sobre acidentes de trabalho são oriundos do Sistema Único de Benefícios e do Sistema de Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), desenvolvido pelo DATAPREV (Empresa de Tecnologia e Informação da Previdência Social). De acordo com o artigo 22 da Lei nº 8.213/91 todo acidente do trabalho ou doença profissional deve ser comunicado pela empresa ao INSS sob a forma de CAT, em no máximo 48 horas, sob pena de multa em caso de omissão (BRASIL, 1991b). No entanto, muitos acidentes não são divulgados, colaborando com os casos de subnotificação.

Nesse cenário, o estudo de Santana et al. (2007), analisando a mortalidade por acidentes de trabalho, os anos potenciais de vida perdidos, e também a incidência dos acidentes graves com base em dados do Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), na Bahia, relativos aos benefícios acidentários para acidentes de trabalho, concedidos em 2000, identificou que 61,7% não tiveram CAT emitida. Também, Martins Júnior e Saldanha (2009), analisando a ocorrência de distúrbio osteomusculares relacionados ao trabalho - DORT em operadores de caixa em um banco, identificaram que os casos relatados pelos trabalhadores avaliados não haviam sido informados para a Previdência Social por meio de CAT.

Visando identificar um maior número de acidentes, a concessão de benefícios por acidentes de trabalho no Brasil passou por uma mudança a partir de abril de 2007, na qual o INSS, instituiu o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário – NTEP, que surgiu como um instrumento auxiliar na análise e conclusão acerca da incapacidade laboral pela perícia médica (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2008).

Com a implantação do NTEP, a perícia médica passou a adotar três etapas de identificação da incapacidade para determinar a natureza acidentária, do contrário, caso não se estabeleça a relação com o trabalho, o benefício é classificado como previdenciário (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2007). A primeira etapa é a verificação da existência da relação “agravo – exposição” ou “exposição – agravo” por meio do Nexo Técnico Profissional/Trabalho – NTP/T. A segunda

consiste na averiguação do cruzamento do código da Classificação Nacional de Atividade Econômica - CNAE com o código da Classificação Internacional de Doenças - CID-10 pelo Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário – NTEP. Por fim, a terceira consiste no Nexo Técnico por Doença Equiparada a Acidente do Trabalho - NTDEAT que implica na análise individual do caso, mediante o cruzamento de todos os elementos levados ao conhecimento do médico- perito da situação geradora da incapacidade (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2008).

A adoção dessa nova sistemática desencadeou alterações nas estatísticas, pois se passou a ter um conjunto de benefícios causados por acidentes de trabalho para os quais não houve o registro da CAT, sendo que a quantidade total de acidentes passou a ser obtida pela soma dos acidentes registrados pela CAT e o conjunto de acidentes estabelecidos pelos benefícios acidentários, para o quais não houve CAT informada (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2008).

Essas mudanças apontaram um aumento em 27,5% na identificação no número de acidentes de trabalho entre 2006 e 2007, sendo que 98,6% desse aumento foi oriundo dos acidentes sem CAT (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2007). No entanto, analisando os dados de 2010, foi possível observar uma queda de 4,3% das notificações de acidentes de trabalho em relação a 2009 (DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2010).

Dessa forma, no ano de 2009 a prevalência de acidentes de trabalho foi de 16,23 para cada 1000 trabalhadores empregados e em 2010 foi de 14,4 (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2010). Para Alves (2010), a diminuição na quantidade de acidentes de trabalho no Brasil, pode estar diretamente associado a subnotificação dos dados.

De acordo com Hämäläinen (2009), em média, o número de acidentes de trabalho diminui 12% na Europa entre 1998 e 2001, o que pode estar relacionada ao fato de países da Europa Ocidental e do Norte terem adotado programas de prevenção de acidentes, dos quais a legislação leva em consideração a gestão e a segurança no ambiente laboral.

As prevalências de acidentes de trabalho variam entre os diferentes países. No México a prevalência nacional de acidentes de trabalho foi de 2,7% em 2001 (SALINAS et al., 2004). Em países da Ásia e África subsaarianas as taxas de acidentes de trabalho chegam a 16%, enquanto na América Latina e Caribe podem atingir 15% dos trabalhadores (HÄMÄLÄINEN, TAKALA E SAARELA, 2006).

maioria dos estudos que existem se concentram em analisar a situação do sudeste e do sul (SANTANA; NOBRE; WALDVOGEL, 2005), o que não permite ter uma dimensão real do problema.

Nesse contexto, a região sul foi a que apresentou maiores índices de acidentes entre os anos de 2004 e 2007, seguida da região sudeste, no estudo de Alves (2010). No entanto, entre os anos de 1996 e 2004 as maiores quantidade de acidentes foram encontradas na região sudeste (ANSILIERO, 2006).

No entanto, para se analisar os acidentes de trabalho é necessário cautela, pois o contexto em que os mesmo acontecem precisam ser considerados e no caso do Brasil existe dificuldade no processo de diagnóstico-tratamento-reabilitação de trabalhadores, bem como nas ações de vigilância das condições de trabalho (LIMA et al.. 2010). Sendo assim, não é possível descartar o fato de que a diminuição nos valores de acidentes de trabalho e até mesmo de doenças do trabalho seja relativo aos elevados casos de subnotificação e não apenas as melhorias no ambiente laboral.