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5. Material e Métodos

5.2 Acompanhamento dos casos

Devido ao cariz retrospetivo do estudo proposto, não foi possível o acompanhamento de todos os casos nele referidos. No entanto, foi possível a assistência das sessões de radioterapia dos cães tratados entre Outubro e Dezembro de 2015.

A maioria dos cães apresentava-se no hospital VRCC, já com diagnóstico presuntivo, obtido através da realização prévia de TC ou de RM, proveniente de outro centro. A primeira consulta do doente era preparada, a partir do estudo da história médica pregressa e dos resultados obtidos nos exames complementares e de diagnóstico, enviados pelo médico veterinário, que acompanhava o animal. À chegada, a especialista em oncologia avaliava o animal e discutia com os tutores, as várias opções terapêuticas possíveis e, sendo a radioterapia a modalidade selecionada, qual o protocolo a adoptar. Neste primeiro contacto, eram também feitas várias considerações relativas ao tratamento a que o animal iria ser sujeito, tal como as reações adversas que poderia experienciar, assim como as expectativas que existiam a curto, médio e longo prazo. Após decisão conjunta, entre a médica

veterinária e os tutores, era delineado um esquema de tratamento, segundo o qual se iria estabelecer o protocolo.

Para planeamento das sessões de radioterapia, era sempre realizado um exame de TC, onde se procurava observar o tumor cerebral e avaliar a extensão do mesmo. Esta modalidade de imagem permitia determinar a localização tumoral exata, sendo esta marcada na pele do animal, após tricotomia, através de linhas desenhadas com canetas destinadas para o efeito. Esta marcação permitia que, em cada sessão de tratamento, fosse possível ajustar o feixe para que incidisse nesta região. Desta forma, os tutores eram aconselhados a ter atenção à manutenção desta área livre de sujidades, que pudessem impossibilitar a subsequente leitura da marcação. A partir das imagens de TC, era delineado, posteriormente, o esquema de tratamento através de várias medições, que permitam estabelecer o número de campos necessários e as doses de radiação a serem distribuídas.

Estes animais eram submetidos a um de dois tipos de protocolo: definitivo ou hipofracionado. Na primeira forma, o esquema de tratamento consistia, geralmente, em submeter o doente a uma sessão diária de segunda a sexta-feira, pelo que, durante a semana, o animal permanecia internado no hospital. No segundo protocolo, como o esquema adotado era frequentemente do tipo semanal, o animal era admitido apenas no dia da sessão.

O fornecimento da radiação ao longo do protocolo foi assegurado por um acelerador linear de 6 MV (LINAC) (Figura 1). Cada sessão de radioterapia tinha uma duração média de 10 a 15 minutos. O animal era transportado à trela até á sala de radioterapia, onde era dada a pré-medicação (butorfanol 0.1-0.2 mg/kg IV) e a indução (propofol 2-4 mg/kg IV). O cão era posteriormente entubado, colocado na mesa de tratamento e ligado a um circuito anestésico, sendo a anestesia geral mantida através do isoflurano. Uma vez colocado na mesa, o animal era posicionado de acordo com o plano definido logo na primeira sessão, sendo esta de grande importância, uma vez que era nessa fase que se realizavam as radiografias portais e se definia o posicionamento a repetir nas frações seguintes. Este posicionamento podia exigir a utilização de materiais como fios para melhor colocação dos membros, placas para elevação da cabeça, sacos de areia para manter o corpo em determinada orientação, entre outros (Figura 2). Depois, eram colocados os vários valores, que permitiam o movimento da peça superior do LINAC (gantry) no sentido de ajustar a direcção do feixe, sendo repetido, este procedimento, a cada campo de tratamento (Figura 3). Após o correto posicionamento do animal e do aparelho, todo o pessoal médico envolvido retirava-se para uma sala anexa, protegida da radiação, onde se encontrava um sistema informático, no qual eram colocados os valores relativos à dose que seria ministrada

(Figura 4). Quando tudo estava preparado, o aparelho era ativado e o feixe de radiação era emitido. Durante todo este processo, o animal continuava a ser monitorizado através da existência de dois ecrãs: um que exibia o que se passava dentro da sala e outro com os dados relativos ao pulsioxímetro, capnógrafo e ECG. No fim deste processo, e sendo de novo segura a entrada na sala, o aparelho era colocado na sua posição normal, sendo retirado todo equipamento utilizado e acordando, assim, o animal.

Depois da última fração, findo o protocolo de radioterapia, os tutores eram instruídos relativamente a vários cuidados a ter a posteriori. Nos animais que se encontravam a realizar corticoterapia era, geralmente, aconselhado manter a mesma dose por mais 2 semanas e depois procurar descontinuar lentamente a mesma, ao longo das 6 a 8 semanas seguintes. Em relação, aos doentes medicados com fenobarbital, não era usual a sua descontinuação, como com a prednisolona, sendo mantida a sua utilização indefinidamente, mas com o cuidado de regularmente monitorizar os seus níveis sanguíneos (intervalo de referência: 40 - 160 mol/l), bem como a avaliação bioquímica dos valores referentes às enzimas hepáticas. Os tutores eram encorajados a trazer o seu animal para reavaliações periódicas, sendo que a primeira deveria ser realizada nas 2 a 4 semanas que sucediam o fim da terapia. Depois, o acompanhamento do doente deveria ser feito numa base regular (a cada 3 meses, por exemplo), sendo possível que o mesmo fosse feito no veterinário que referiu o caso. Em relação a controlos imagiológicos (TC ou RM), aconselhava-se que o primeiro tivesse lugar 2 a 3 meses após o tratamento, de modo a servir de ponto de referência para posteriores avaliações. Este procedimento deveria ser repetido a cada 6 a 12 meses para monitorização tumoral.

Para a obtenção de informações determinantes para este estudo, nomeadamente no que diz respeito ao curso de vida pós-tratamento, procedeu-se ao contacto telefónico com os médicos veterinários das instituições que referiram estes doentes para o VRCC. Definiu- se a data de 31 de Agosto de 2016 como o final do período de estudo, de forma a averiguar o estado (morto vs vivo) dos doentes até esse momento.

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